Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registra preocupação com investigação de denuncias de corrupção no governo.

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Registra preocupação com investigação de denuncias de corrupção no governo.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Leonel Pavan, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 20/01/2006 - Página 1149
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, REUNIÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), SENADO, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, INTERFERENCIA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • APREENSÃO, NECESSIDADE, RESPONSABILIDADE, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, COMENTARIO, INEXATIDÃO, DENUNCIA, ITAIPU BINACIONAL (ITAIPU).
  • COMENTARIO, UNANIMIDADE, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), APROVAÇÃO, PARECER, ISENÇÃO, ATUALIDADE, DIRETORIA, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), CORRUPÇÃO, CONTRATO, LOTERIA.
  • SOLICITAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, AMPLIAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, JOGO DE AZAR, COMENTARIO, VETO (VET), GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PROJETO, PROIBIÇÃO, FUNCIONAMENTO, AMBITO, RESTAURANTE, FAVORECIMENTO, CRIME ORGANIZADO, LAVAGEM DE DINHEIRO.
  • CRITICA, GERALDO ALCKMIN, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CAMPANHA, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AUTORITARISMO, GOVERNO ESTADUAL, REGISTRO, ANAIS DO SENADO, LEITURA, CARTA, AUTORIA, DEPUTADO ESTADUAL, DELEGADO, POLICIA CIVIL, QUESTIONAMENTO, VETO (VET).
  • ELOGIO, GOVERNO, PAGAMENTO, PARTE, DIVIDA EXTERNA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), EXPECTATIVA, EVOLUÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Agradeço ao Senador ACM e ao Senador Pavan, que tem sido tão aguerrido no plenário. Peço desculpas, portanto, pela inversão. Tentarei ser o mais breve possível.

Quero comentar alguns fatos que considero bastantes relevantes e pediria a reflexão das Srªs e dos Srs. Senadores aqui presentes e dos que não estão.

Em primeiro lugar, assisti ao debate hoje sobre o jantar do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, com a Bancada do PMDB no Senado Federal. Já tivemos outros eventos dessa natureza, e considero muito oportuno, eu diria indispensável, que o Executivo faça com a Base Parlamentar no Congresso Nacional um diálogo transparente, aberto, que tenha como perspectiva a governabilidade, que permita ao Presidente ouvir ponderações, reflexões, críticas, sugestões, agenda, e sempre tem sido esta a natureza do relacionamento com a Bancada do PMDB.

Não é verdade, não é procedente - todos que o conhecem sabem disso - que o Senador Renan Calheiros sempre se posicionou no sentido de que o PMDB poderá ter uma candidatura própria a Presidente da República e que pode ser esse o caminho do Partido. Eu assisti inúmeras vezes ao diálogo, e o Presidente Lula sempre disse que jamais interferirá nessa decisão do Partido. Mesmo porque o PT sempre optou por esse caminho e respeitará, do ponto de vista democrático e partidário, a escolha de cada partido, a vida interna democrática de seus militantes e de suas lideranças. Mas o compromisso do PMDB com a governabilidade tem sido muito importante, particularmente no Senado, e esse é o espírito desse diálogo.

É evidente que, da minha parte, sempre defendi uma aliança estratégica com o PMDB. Acredito que ambos os Partidos e o País ganhariam muito, pela trajetória de luta democrática, pelo compromisso desenvolvimentista, pelos quadros, pela experiência partidária. O PMDB enriqueceria não apenas uma chapa, mas, sobretudo, um compromisso, um bloco, uma coalizão de Governo.

Isso é parte do debate político público, mas esse jantar é para discutir agenda política, perspectivas do Brasil e, mais do que isso, penso que é um gesto absolutamente indispensável pela atitude séria, pela construção que o PMDB vem ajudando o País a fazer, particularmente nesta Casa, pelas atitudes responsáveis e de interesse público com que vem atuando a sua Bancada.

Queria igualmente mencionar, mais uma vez, a preocupação que tenho em relação à investigação que é indispensável aos fatos, às denúncias, aos indícios, mas isso tem que ser feito com muita responsabilidade. Algumas vezes essa responsabilidade não tem estado presente em algumas atitudes, seja do ponto de vista da imprensa, seja de alguns Parlamentares.

Portanto, sem nominar, quero apenas relatar alguns fatos e ponderar aos Senadores e às Senadoras o papel que temos nesses episódios. Estive agora com o Presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek, que me trouxe toda uma documentação. Vou apresentar um requerimento convidando o presidente da Itaipu e todos os ex-presidentes da Itaipu Nacional, o Scalco, o Gomide, para virem numa audiência pública a fim de discutirmos a denúncia, por exemplo, feita em relação à Itaipu Binacional.

Um indivíduo que está sendo processado por falsidade de documentação, que tem um processo de investigação policial, faz uma denúncia que poderia existir um Caixa 2 de US$2 bilhões. Ora, Itaipu não tem esse orçamento! Setenta por cento do orçamento de Itaipu são para pagar dívida, 17% são para pagar royalties e depois os recursos dos custeios da empresa. Não é possível! Matematicamente, não existem sequer esses recursos em Itaipu. A diretoria de Itaipu não administra, é feito diretamente pelo Tesouro o pagamento com os credores e o pagamento de royalties. Isso sequer entra no caixa da empresa.

Como é possível o País assistir a esse tipo de coisa sem a reação das pessoas? Colocam sob suspeição todas as diretorias de Itaipu sem uma análise técnica minimamente cuidadosa do que isso representa.

Quero ponderar também, disse isso pessoalmente ao Senador Garibaldi Alves Filho, que acho que a investigação sobre o caso da GTech é o objeto fundamental daquela CPI e que ela deve ser feita com todo o rigor. No entanto, a CPI encaminhou um questionamento ao Tribunal de Contas da União com uma série de perguntas para que o Tribunal se manifestasse. Foi um questionário com argüições técnicas fundamentadas, aprofundando uma análise sobre o comportamento da atual diretoria da Caixa Econômica Federal.

O TCU aprovou esse parecer por unanimidade, sem nenhuma ressalva, repito, sem nenhuma ressalva de todos os Ministros do TCU. Todos sabem que o TCU é um órgão plural, de representantes com origens as mais diversas. Aprovou o parecer por unanimidade, isentando a atual diretoria de qualquer responsabilidade, o que mostra o comportamento correto que ela teve em todo esse episódio.

Se houve tentativa de lobby, de intervenção indevida, é muito bom que a CPI identifique e responsabilize quem o fez, mas sustente seu parecer com fatos, com provas e com tecnicalidade mínima de rigor. Penso que isso não vale apenas para a atual diretoria. Foram enquadrados outros dirigentes do passado que tiveram também um compromisso correto na sua gestão e estão indevidamente citados.

Penso que esse debate deve ser feito não no sentido de uma disputa político-partidária, mas visando realmente identificar a responsabilidade de seja qual for o governo, o período, o momento, a instituição, sustentando a posição com firmeza e de forma técnica e cuidadosa, o que penso não haver ocorrido.

Quero aproveitar esta oportunidade para pedir que a CPI dos Bingos investigue mais a questão do jogo no Brasil, não apenas o capítulo da Gtech, que é muito relevante, muito importante, porque é uma empresa que tem todos os indícios de ter tido uma interferência absolutamente descabida junto à Caixa Econômica Federal e uma intervenção que tem que ser apurada com todo rigor e profundidade. Todo e qualquer funcionário que esteja envolvido, inclusive do atual Governo, tem que ser identificado, desde que não se cometam arbitrariedade e improcedência. Que os fatos sejam relatados e que haja o mínimo de sustentação técnica para as acusações que se fazem. E nós voltaremos a esse debate de forma técnica, sustentada e aprofundada, para que se faça justiça.

Na mesma linha, quero aqui registrar - e comuniquei ao Senador Romeu Tuma que o faria do plenário - uma carta que eu recebi, que diz o seguinte:

A quem interessa a manutenção dos caça-níqueis? O Governador de São Paulo e pré-candidato a Presidente, Geraldo Alckmin (PSDB), vetou o projeto - já aprovado pela Assembléia Legislativa - que proibia as máquinas de caça-níqueis em bares e restaurantes de todo o Estado. O veto pode parecer estranho, já que tal medida iria bater de frente com o crime organizado. Afinal, não é novidade para ninguém que a contravenção é responsável por essas maquininhas que aliciam jovens para o mundo da criminalidade. Mas justifica-se pelo jeito totalitário de governar de Alckmin. Nada que não sai do Palácio vai em frente. Nada que contraria os interesses do empresariado é aprovado pelo Governador, que começa a viajar pelo País em campanha eleitoral. Foi assim que ele agiu, por exemplo, quando extinguiu o Decon - Delegacia de Defesa do Consumidor - para atender à vontade das grandes redes de hipermercados, que não queriam um órgão com poder de polícia para coibir abusos contra o consumidor. Ao dizer não ao projeto que proíbe o caça-níqueis, Alckmin volta a dar carta branca para os empresários do jogo, os contraventores, tradicionais financiadores de campanhas eleitorais. O argumento de que se trata de uma legislação federal é pífio. O Estado tem sim poderes para combater essa forma barata da contravenção, que tira do bolso da população valiosas moedas. Está mais do que provada a íntima relação entre os caça-níqueis, o alcoolismo e a prática de crimes. Até nas portas de escolas eles estão, livres e prontos para aliciar estudantes que começam cedo nesse vício maldito.

Alckmin, ao vetar o projeto, perdeu uma grande chance de dar um basta a essa porta de entrada no mundo do crime. Preferiu satisfazer aos lobbies de todos os interessados em explorar economicamente essas maquininhas. E esqueceu de que, do outro lado, existe uma população ávida em ver a proibição das máquinas de caça-níqueis.

Alckmin prova que não tem compromissos com combate à corrupção, à degradação familiar, nem com a violência doméstica e segurança pública. Azar do Brasil. Essas pessoas, que são vítimas da contravenção, com certeza não pensarão duas vezes na hora de decidir em quem votar.

Quem assina é Romeu Tuma, Delegado de Classe Especial da Polícia Civil, Deputado Estadual (PMDB), ex-Presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e Corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Portanto, é um parlamentar que está à frente da Comissão de Segurança Pública do Estado, que é o Corregedor da Assembléia, que tem formação policial nessa área, que investigou esse problema e que está defendendo uma política no sentido do que eu esperava que estivéssemos fazendo em relação a essa prática.

Quero registrar nos Anais da Casa esta carta.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Pois não, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Eu gostaria que V.Exª procurasse saber os motivos do veto. Se forem, por exemplo, de Constituição, de pontos importantes de legalidade, V. Exª tem que justificar o veto, e não atacar o Governador Alckmin - perdoe que eu assim fale. Além do mais, se tem validade a carta desse Delegado Romeu Tuma, V. Exª deve dar validade também às acusações que o Romeu Tuma daqui faz ao seu Partido - inclusive esse delegado fez -, no caso Celso Daniel.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Em primeiro lugar, Senador Antonio Carlos Magalhães, não fiz nenhum ataque, só li a carta. V. Exª está transferindo à minha pessoa o que não fiz. Eu li a carta do delegado e policial Romeu Tuma.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) - No instante em que V. Exª lê a carta, está endossando-a. Não é de graça que V. Exª vai ler a carta.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Então, em primeiro lugar, eu apenas li a carta. Em segundo lugar, ele está fazendo a advertência não só como Delegado Especial, mas como Deputado Estadual, Presidente da Comissão de Segurança Pública, da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e Corregedor da Assembléia Legislativa.

Creio ser indispensável que a CPI se debruce sobre esse tema. É indispensável! Quando houve a proibição do bingo, a argumentação de alguns Estados foi que a União não poderia interferir no pacto federativo. Portanto, os Estados mantiveram o funcionamento, inclusive amparados em decisão judicial, pela natureza do pacto federativo. Quando agora se trata da proibição do caça-níquel, o projeto é vetado sob argumentação de que isso só pode ser feito por legislação federal.

Ora, se é para ser feito por legislação federal, está aí um grande tema sobre o qual a CPI dos Bingos deve se debruçar. Será que devemos permitir essas máquinas avançarem como estão avançando na juventude, inclusive na porta das escolas? Será que não temos que investigar o problema da lavagem de dinheiro no crime organizado, que está presente na atividade do bingo? Não em qualquer atividade, mas pelo menos construir políticas de controle, de fiscalização, de acompanhamento, para que isso não continue acontecendo no Brasil. Não seria esse um objeto central da investigação dessa CPI?

A advertência e o desafio que faço - e não fiz nenhum prejulgamento até o momento - é que a CPI deveria se debruçar sobre esse assunto e realmente buscar soluções.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Pois não, Senador Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Aloizio Mercadante, V. Exª acabou dizendo o motivo do veto, que não tinha dito antes.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Eu não. É que ele menciona na carta...

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - O argumento é que cabe uma lei federal. Então, acabou dizendo o motivo do veto. Ele vetou por isso. Só após a intervenção do Senador Antonio Carlos Magalhães, V. Exª disse o motivo. E depois, Senador Aloizio Mercadante, se formos ler aqui as cartas e os e-mails que recebemos referentes ao envolvimento de pessoas integrantes do Governo em diversas áreas, só estaremos lendo cartas, e contra o Lula. E nunca lemos aqui uma carta ou algum ofício de alguma entidade que viesse denegrir a imagem do Presidente Lula ou da ex-prefeita Marta Suplicy, que foram inúmeras, até porque temos que manter aqui certa distância entre o que algumas pessoas pensam e o que o Congresso pensa.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Senador Leonel Pavan, não é do meu feitio ler carta para atacar quem quer que seja. Estou lendo a carta de um Delegado Especial, Presidente da Comissão de Segurança Pública do meu Estado, ex-Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor do meu Estado e Corregedor da Assembléia Legislativa, fazendo uma advertência em relação a um projeto de interesse público, de uma matéria que diz respeito a uma CPI que deveria estar se debruçando sobre o tema do jogo, sobre os bingos, sobre a lavagem de dinheiro nesse tipo de atividade. E peço que essa reflexão seja posta no âmbito da CPI, que não pode apenas discutir temas que tenham interesse político-partidário. Ela tem, na GTech, o objeto da sua investigação. Que vá a fundo, com todo rigor, nesse episódio, porque é do objeto constitucional da CPI.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Agora entendo.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Da mesma forma que o caça-níquel é do objeto da CPI. Esse é um fato relevante. O próprio Deputado Estadual e Delegado Romeu Tuma menciona que o argumento do veto, do ponto de vista dele, é pífio, o de que o Estado não teria competência, por exemplo, para proibir esse tipo de atividade. O argumento dele é pífio. Só estou mostrando que esse argumento do pacto federativo foi utilizado para manter o bingo quando foi proibido por legislação federal, e agora é utilizado, para manter o bingo, o argumento contrário.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - E qual é a tese de V. Exª, que para mim é muito valiosa? V. Exª acha que deve ser uma lei nacional ou deve ser dada aos Estados a faculdade de dizer se deve haver ou não?

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Senador Antonio Carlos Magalhães, considero esse um belo debate para a CPI: chamar os Governadores, discutir do ponto de vista jurídico, ou tomar uma medida, fazer uma lei complementar ou um projeto nacional, ou delegar essa responsabilidade aos Estados.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Logo, V. Exª dá razão ao Governador.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Não, não dou nenhuma razão ao Governador. Estou dizendo que é inaceitável e penso que não há amparo jurídico ao veto. Acho que há um pretexto jurídico para um veto que é político, porque uma parte da classe política deste País pensa que caça-níquel e bingo devem continuar sem nenhum controle, fiscalização ou transparência. E infelizmente eu esperava - penso que muitos aqui também - que essa CPI, sobretudo seu proponente, o Senador Magno Malta, se debruçasse sobre o tema do bingo, do jogo, do crime organizado, da lavagem de dinheiro nessas atividades, como é a discussão da GTech, que é procedente na Constituição, e não sobre outros temas. E eu diria que estamos nos desviando do foco fundamental, que pode ser investigado junto com outras instâncias para estabelecermos políticas públicas.

Esse é um grande tema da democracia brasileira, do Estado brasileiro, das famílias brasileiras, e penso ser essa uma grande questão da discussão da CPI. Quantas denúncias surgiram das máfias que estão organizadas por esse tipo de atividade, e máfias internacionais, que operam em vários países e estão operando hoje sem nenhum controle e fiscalização?

(Interrupção do som.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Gostaria de concluir, Sr. Presidente.

Portanto, faço essa advertência. Quero registrar o parecer do TCU e esta carta que eu recebi desse Deputado Estadual. Eu disse ao Senador Tuma que viria à tribuna para mencioná-la e registrá-la. Ele me agradeceu que eu o fizesse. Quero aqui também fazer a deferência ao Senador. E espero que realmente seja objeto de reflexão por parte da CPI.

Por último, quero só fazer meu comentário final de que considero que tivemos um avanço muito importante na política econômica do Brasil ao ter pré-pago a dívida do Fundo Monetário Internacional de US$21 bilhões, recompondo as reservas, mantendo um superávit de US$42 bilhões, uma inflação de 5,5%. Mas é evidente que a política monetária, do meu ponto de vista, tem espaço para cair mais expressivamente, sustentadamente. E não vejo por que essa trajetória, eu diria, marcada por uma visão extremamente conservadora do Banco Central, que evidentemente precisa ter bastante cautela num País que tem a cultura inflacionária, a cultura da indexação, mas que poderia neste momento ter uma visão mais adequada à tendência da inflação. Com a estabilização da taxa de câmbio, praticamente não temos incidência de índice de custo de vida sobre os preços dos serviços públicos, de concessão dos serviços públicos. A cesta básica teve deflação durante cinco meses. A inflação está no terceiro menor nível do pós-guerra. Portanto, há espaço para cair mais a taxa de juros. É muito positivo que ela continue em uma trajetória de queda, mas seria muito oportuno que acelerássemos essa trajetória, ao longo das próximas reuniões do Copom, porque, como as reuniões serão realizadas a cada 45 dias, o índice de 0,75% mantém o ritmo de apenas 0,5% ao ano. Peço que isso seja feito com mais agilidade, com mais rapidez, porque há espaço na política econômica...

(Interrupção do som.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - V. Exª deseja fazer um aparte?

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Sim, quero fazer um aparte.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Pois não, Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Eu estava em meu gabinete e fiquei perplexo quando assisti a V. Exª fazendo aqui a leitura de uma carta. Felizmente, o Senador Antonio Carlos Magalhães, oportunamente, pediu a V. Exª que tentasse esclarecer os motivos da leitura de uma carta na qual V. Exª insinuava, de uma maneira leviana, que o Governador Geraldo Alckmin tinha vetado uma lei que favorecia os jogadores de caça-níqueis no Estado de São Paulo. Imediatamente, liguei para o Governador Geraldo Alckmin, e S. Exª me informou que esse veto foi feito em função da inconstitucionalidade da lei; disse que era uma legislação federal e que esse veto tinha sido feito por essa razão. Eu não poderia deixar de vir e de manifestar minha perplexidade, Senador Mercadante, diante da insinuação que V. Exª quis fazer aqui, principalmente sendo representante de um Partido que tinha, no alto comando, no Planalto, no terceiro andar, um cidadão chamado Waldomiro, que estava sentado ao lado do Presidente da República, representando esses jogadores clandestinos do bingo, fazendo e ganhando propina deles, descaradamente, e que até hoje está sendo, apesar de aparentemente ter sido defenestrado do Governo, protegido por esse mesmo Governo. Lamento a leviandade e a insinuação maldosa que V. Exª quis fazer aqui, a qual, graças à interferência do Senador Antonio Carlos Magalhães, não foi bem sucedida.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Senador Tasso Jereissati, primeiro, não é do meu feitio, da minha história nem do meu procedimento fazer insinuação e muito menos leviandade. Li uma carta...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - V. Exª fez uma insinuação e foi maldosa.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - V. Exª agora vai me ouvir. Eu o ouvi com toda a atenção. Concedi-lhe o aparte, agora V. Exª vai respeitar a minha palavra e vai permitir que eu fale, porque não é com esse tom que vou mudar o que penso.

Li uma carta do Presidente da Comissão de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Corregedor-Geral da Assembléia Legislativa, Delegado Especial de Polícia do Estado e filho do Senador Romeu Tuma. Uma carta dura sim. Não fiz qualquer adjetivação. Peço a V. Exª que ouça, porque, no tempo em que vinha para o plenário, V. Exª não acompanhou o debate. Não fiz qualquer adjetivação. Não fiz insinuação nem acusação leviana alguma. Li a carta e disse que essa era uma advertência de um debate necessário à CPI dos Bingos.

Por que é um debate necessário? Porque diz a carta que o Presidente da Comissão de Segurança Pública considerava pífio o argumento do Pacto Federativo e que essa deveria ser uma legislação federal. Mas diz que, quando foi proibido o bingo, o argumento que se utilizou para mantê-lo em alguns Estados - inclusive a Justiça estava amparada nessa concepção do Pacto Federativo - era de que se tratava de uma decisão que competia a cada Estado da Federação e não à União. Ora, se esse argumento valia para manter o bingo, vale também para acabar com o caça-níquel.

A discussão jurídica nós a resolveremos pela União ou pelo Estado. A discussão política de fundo é se o Congresso Nacional, o Senado Federal e os Governadores querem ou não manter os caça-níqueis. Essa é a discussão substantiva, Senador Tasso Jereissati. Foi isso que propus. Não há leviandade ou acusação alguma, muito menos qualifiquei quem quer que seja. Li a carta e falei: Esse debate que o Presidente dessa Comissão está propondo, a CPI dos Bingos deve fazer. Queremos ou não manter o caça-níquel? Queremos ou não regulamentar, fiscalizar e dar transparência aos bingos? Esse é um debate necessário ou não?

Além disso, o fato de haver um sujeito desqualificado como o Waldomiro, que tentou fazer lobby dentro ou fora do Governo junto a esse setor, não muda a minha atitude nem a minha visão sobre o problema.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA. Fora do microfone.) - Lobby, não; propina.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Se recebeu propina, está sendo processado, foi afastado, está sendo investigado, e quero que pague por tudo o que fez. Não muda a minha posição. Estou entre aqueles que defende que deveríamos acabar com o caça-níquel; estou entre aqueles que defende que, se não acabarmos com o bingo, pelo menos vamos criar mecanismos de controle, de fiscalização, de transparência...

(Interrupção do som.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - ...para que - vou concluir, Sr. Presidente - não haja lavagem de dinheiro ou crime organizado nessas atividades.

Portanto, a advertência que faz esse delegado especial experimentado, Presidente da Comissão de Segurança Pública, é um tema de debate da CPI. Propus ao Senador Antonio Carlos Magalhães que levássemos esse tema à CPI, porque esse é o objetivo fundamental, assim como a investigação da GTech. Esse, sim, é o objeto da CPI, e esse debate não está sendo feito pelo Congresso ou pela CPI.

A CPI pode chegar à conclusão de que deve manter o caça-níquel ou de que ele deve acabar; pode chegar à conclusão de que deve ser uma legislação federal ou estadual, ou que se deve regulamentar; pode chegar a conclusões em relação às políticas públicas dos bingos, mas essa é a sua função essencial, esse é o debate fundamental da CPI.

Portanto, essa carta é uma advertência a quem possa interessar. A mim interessou esse debate. E penso que os argumentos apresentados nela - de não permitir caça-níquel na porta das escolas, que está se proliferando nos bares das periferias, porque não há controle algum, que gera um vício maldito na juventude e que, por isso, não deveríamos permitir esse tipo de atividade - são um alerta necessário, e espero que a CPI faça o debate.

(Interrupção do som.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Termino, Sr. Presidente.

Portanto, Senador Tasso Jereissati, talvez, se V. Exª tivesse acompanhado o debate, as intervenções dos Senadores Leonel Pavan e Antonio Carlos Magalhães, não faria a intervenção que fez, porque não fiz adjetivação alguma, insinuação alguma, muito menos acusação leviana. Disse que esse é um debate fundamental à CPI e que espero que ela o faça para definir se queremos ou não o caça-níquel, se queremos ou não o bingo. Se o queremos, em que condições? Se não o queremos, quais são os instrumentos para proibi-lo? O que não devemos é fugir desse debate. Essa prática desregulamentada que está espalhada pela periferia, por cidades, em frente às escolas em vários Estados do Brasil é, de fato, uma matéria relevante a este Congresso. A minha expectativa era de que a CPI dos Bingos o fizesse, mas não está fazendo. Portanto, essa é uma advertência que a alguns pode incomodar, mas ela é importante, relevante e deve ser debatida por esta Casa.

Entre outros fatores, trata-se de um projeto aprovado praticamente por unanimidade na Assembléia Legislativa do meu Estado; é a vontade do Poder Legislativo do meu Estado. Portanto, como representante de São Paulo, trago esse debate, sim, ao Congresso Nacional, de forma transparente, cuidadosa, sem qualquer tipo de insinuação ou leviandade, mas com...

(Interrupção do som.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - ...o espírito público de quem quer construir políticas públicas que preservem os valores mais fundamentais da nossa juventude e da sociedade.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“A quem interessa a manutenção dos caça-níqueis?”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/01/2006 - Página 1149