Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 01/02/2006 - Página 2562
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA, EFICACIA, POLITICA DE TRANSPORTES.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSdb - pa. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: É profundamente tocante participar de uma Sessão Solene em homenagem a Juscelino Kubitschek. É notável verificar que esta Casa, na tarde de hoje, dedica-se a refletir sobre o legado deixado pelo diamantinense, que marcou a história deste País.

Não podemos pensar o futuro brasileiro sem formarmos massa crítica sobre o período que vai de 31 de janeiro de 1956 a 30 de janeiro de 1961. A história encarregou-se de tornar o governo de Juscelino, com seu notável desenvolvimento econômico e industrial, verdadeiro paradigma, almejado por todos os governantes e cidadãos brasileiros.

Juscelino tornou-se padrão de excelência, olhado com um quê de nostalgia, em momento em que a economia brasileira patina e gira em falso, se comparada à dos demais países em desenvolvimento.

Sr. Presidente, já manifestei desta tribuna, mais de uma vez, minha preocupação quando percebo que jornais brasileiros e periódicos estrangeiros atentam para o crescimento do País muito aquém das necessidades de justiça social que devemos ao povo brasileiro.

Juscelino, bom mineiro que era, jamais correu o risco de perder o bonde ou o trem da história. Kubitschek sintetizava, em sua figura pública, tanto o sonhador, o visionário que enxerga possibilidades onde os outros só vêem dificuldades, quanto o realizador, capaz de traçar metas, objetivos bem definidos, e não poupar esforços para cumpri-los.

Este pronunciamento não seria capaz de abranger, minimamente, a vastidão da obra de Juscelino. Uma tarde de homenagens tampouco conseguiria fazer jus às contribuições indeléveis do brasileiro que, pelo trabalho infatigável e pelo amor ao país, transformou a economia, a política e, mesmo, a geografia do Brasil.

Reconhecendo as lacunas inevitáveis que haverá ao enumerarmos alguns dos feitos de JK, gostaria de ressaltar, Srªs e Srs. Senadores, algumas das várias contribuições de Juscelino à Região Norte e ao Estado do Pará.

A ênfase na integração rodoviária do Norte - em que a construção da Rodovia Belém-Brasília é exemplo evidente - revela o caráter estratégico que as riquezas e potencialidades da Região possuíam no governo de JK. Lea Sayão, filha do engenheiro Bernardo Sayão, um dos principais responsáveis pela construção da rodovia, disse, certa vez, que o nome Belém-Brasília, e não o contrário, Brasília-Belém, não é acidental: revela a firme intenção de Juscelino de interligar a capital paraense e as demais comunidades amazônicas ao centro-sul do País.

A rodovia BR-010, inaugurada em janeiro de 1960, com 2.080 km, quebrou o secular isolamento físico, exceto por via marítima, de toda a Amazônia com o resto do Brasil. Com a Belém-Brasília, como passou a ser mais conhecida e carinhosamente chamada, iniciou-se a integração da região amazônica ao sistema econômico brasileiro, trazendo-lhe os benefícios advindos do progresso brasileiro.

Além disso, a criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), no ano de 1953 durante o Governo de Getúlio Vargas em Belém do Pará, continuou a dar frutos na gestão de Juscelino Kubitschek.

Várias indústrias foram instaladas durante o mandato de JK. Mas, acredito, que a importante implementação de Juscelino para a Amazônia foi a Rodobras, autarquia responsável pela conclusão da Belém - Brasília e vinculada à SPVEA. Sem dúvida nenhuma, Sr. Presidente, a Rodobras foi a responsável pelo fim do isolamento amazônico.

É certo que o fator decisivo que motivou Juscelino a desbravar o Estado do Pará foi o de resolver, de forma perene, definitiva, as dificuldades de transporte que havia entre a Região Norte e o resto do País. Juscelino buscava inaugurar ciclo virtuoso que abrangesse os Estados e os, então, territórios federais da região amazônica.

Juscelino foi um dos principais pioneiros da história do desenvolvimento paraense e amazônico. Nesse sentido, vale citar o seguinte trecho da obra Cinqüenta Anos em Cinco: Meu Caminho para Brasília, da lavra de nosso homenageado. Dizia Juscelino: “Há quem confunda pioneiro com bandeirante, já que ambos fazem do desbravamento sua atividade habitual. Entretanto, uma diferença enorme os distancia. O bandeirante descobre e passa à frente. Sua sina é avançar. Finca um marco. Poda uma árvore. Faz um monte de pedras. É tudo o que deixa, como sinal de sua passagem, para os que virão depois. Já o pioneiro é influenciado pela atração da terra. Descobre e fica. É um símbolo que se projeta através de um ânimo de permanência. E do seu ânimo brotam valores duradouros (...)”.

É esse espírito, é essa visão de um presente que se projeta para o futuro, que explica, também, a abertura da rodovia federal até o Acre, em busca da fronteira ocidental, ou da Brasília-Fortaleza, cortando o território de forma diagonal no rumo do Nordeste. A criação da Zona Franca de Manaus, em 1957, é outro exemplo eloqüente do tirocínio político de Kubitschek: não é viável conceber desenvolvimento nacional sem a transformação qualitativa da economia e da sociedade dos povos amazônicos.

Em suas memórias, Juscelino demonstra estar ciente da necessidade de executar política de integração nacional que se estenda até a Bacia do Araguaia, até a ilha do Bananal, localizada na foz do velho e caudaloso Araguaia. Foi esse o sentido da “Operação Bananal”, empreendida no último ano de seu governo.

Com JK, mudaram-se os paradigmas e as prioridades. Relegados, até então, a segundo plano, nordestinos e nortistas passaram a fazer parte de uma estratégia nacional de superação dos desníveis gritantes entre o desenvolvimento do Norte e o do Sul do Brasil. Nesse ponto, Brasília sintetiza o enorme esforço - mais atual que nunca - de fazermos convergir, nesse imenso território nacional, os interesses de todas as regiões.

O investimento maciço no setor de transportes do Governo Juscelino, efetuado de forma planejada, sem o açodamento de medidas emergenciais tão comuns hoje em dia, serve para mostrar que o saudoso Presidente não descansava no sonho dourado da integração nacional: buscava efetivá-la com recursos e com medidas arrojadas que faziam empalidecer os detratores.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a homenagem que o Senado faz à memória de Juscelino, justíssima, serve para lembrar a diferença que faz o exercício de liderança política imbuída de um projeto, de uma agenda para o País. O carismático diamantinense, pé-de-valsa e seresteiro, deixou muita saudade.

Mas deixou, também, a belíssima lição de que a esperança na construção de um Brasil mais desenvolvido e socialmente mais justo se faz com planejamento minucioso, muito trabalho e perseverança.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/02/2006 - Página 2562