Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a notícia da saída do País de parentes do ex-prefeito Celso Daniel. Críticas à medida provisória que versa sobre a dedução no imposto de renda, do INSS pago às empregadas domésticas. (como Líder)

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com a notícia da saída do País de parentes do ex-prefeito Celso Daniel. Críticas à medida provisória que versa sobre a dedução no imposto de renda, do INSS pago às empregadas domésticas. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Arthur Virgílio, José Agripino, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2006 - Página 6899
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • NECESSIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, SOLICITAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, POLICIA FEDERAL, NOTICIARIO, IMPRENSA, DECISÃO, FAMILIA, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), VITIMA, HOMICIDIO, EMIGRAÇÃO, EXTERIOR, MOTIVO, AMEAÇA, MORTE.
  • OPINIÃO, ORADOR, DIVERSIDADE, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, INDICIO, EXISTENCIA, MANDANTE, CRIME, COMPROVAÇÃO, CORRUPÇÃO, PREFEITURA MUNICIPAL, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TENTATIVA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPEDIMENTO, INVESTIGAÇÃO, HOMICIDIO.
  • QUESTIONAMENTO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), EXECUTIVO, AUTORIZAÇÃO, EMPREGADOR, DEDUÇÃO, IMPOSTO DE RENDA, DESPESA, EMPREGADO DOMESTICO, OBJETIVO, FAVORECIMENTO, REELEIÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomei à tribuna para falar sobre a questão dos irmãos do ex-Prefeito Celso Daniel. Considero o fato extremamente grave. Nós da CPI, principalmente o Presidente, o Relator e todos nós membros, temos uma responsabilidade com isso. Cabe-nos pedir à Polícia Federal e à Polícia estadual de São Paulo esclarecimentos sobre esse caso, dando aos irmãos de Celso Daniel toda assistência.

Tenho acompanhado horas e horas o depoimento sobre essa questão do Celso Daniel e percebi que já está mais do que comprovado que ali ocorreram três fatos graves: primeiro, foi um crime de mando, que já está mais do que comprovado por todas as pessoas que estiveram lá dando depoimento; segundo, que existia um esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André - os empresários foram lá e o declararam, só não há a fotografia do cara dando o dinheiro, mas, quanto ao resto, há tudo e não há mais o que investigar; em terceiro, há a questão da “operação abafa”, que foi comandada pelo Chefe de Gabinete do Presidente da República, Sr. Gilberto Carvalho, com a participação de outros Parlamentares do PT.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Então, é um assunto de extrema gravidade, um crime de morte de uma pessoa que era amigo e que convivia diariamente com o Presidente Lula. Não estamos acusando o PT de ter mandado matar, mas realmente o PT está envolvido na chamada “operação abafa”, que não permitiu que os criminosos, para os quais já existem diversos indícios, uma quantidade enorme de indícios, fossem presos e punidos.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador José Jorge, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Tive o cuidado de levantar - e nada como se fazer história - que, logo após a morte do Celso Daniel, Senadora Heloísa Helena, se publicaram matérias intituladas “Medo domina PT após onda de crimes”. Outra: “PT orienta prefeitos e lideranças do partido a aumentar segurança”. Outra: “Mortes dos dois prefeitos...” - e as famílias dos dois prefeitos não os suportam - “... não são coincidências, diz o partido”. Eu concordo: não são coincidências. Está provado que não são coincidências as mortes. Outra: “Prefeito era um dos mais importantes dirigentes do PT”, diz a nota. A nota oficial do PT chama as mortes de Toninho do PT e de Celso Daniel de “atentados e ameaças a prefeitos e dirigentes do PT”. E, mais ainda: “Lula diz que assassinato de Celso Daniel foi planejado”. Ele fala isso no dia 22 de janeiro de 2002. Lula declarou que o crime não foi coincidência e que tem gente graúda por trás disso. “E nós vamos descobrir quem é”, diz ele. Lula destacou em seu discurso as qualidades profissionais de Daniel a quem descreveu. Blá-blá-blá, blá-blá-blá,... Então, ele tem razão! O crime foi planejado, e nós estamos ansiosos para descobrir quem foi.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio. Trata-se de um caso grave que nós, da CPI, temos que continuar investigando, apesar de entender que já temos todos os elementos para saber o que aconteceu ali; mais do que o necessário.

Em segundo lugar, Sr. Presidente, gostaria de falar a respeito de uma medida provisória que o Presidente Lula baixou hoje com relação à dedução do Imposto de Renda do INSS da empregada doméstica. É mais uma medida baixada no sentido eleitoral. E por diversas razões. Em primeiro lugar, só vai valer em 2007. Ora, medida provisória é para ser utilizada em questões urgentes e relevantes. Suponhamos que seja assunto relevante diminuir o gasto do empregador com o empregado doméstico, mas urgente não é, se for para ser aplicada em 2007.

Na semana passada, o Presidente Lula declarou que se o Senado demorasse com o Fundeb, ele baixaria uma medida provisória. Ora, o Fundeb é uma emenda constitucional, e para emenda constitucional não existe medida provisória. A medida provisória é para lei. Mas o Presidente Lula disse, está dito. Ele agora baixou uma medida provisória que só valerá em 2007. Assim sendo, está provado que não cumpre a urgência necessária para uma medida provisória.

Essa medida provisória, Senador Antonio Carlos Magalhães, o Senado não devia nem protocolar. Vamos ser claros: o Senado não devia nem protocolar, e no Protocolo mesmo devolver, porque não é urgente. Se só vai valer para o Imposto de Renda de 2007, a matéria pode vir como projeto de lei, e, daqui para lá, certamente o Senado vai aprovar.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª tem razão absoluta. Evidentemente, devia ser um despacho saneador da Mesa nas matérias que ferissem a Constituição. Essa é uma das que ferem no que diz respeito à urgência. Portanto, V. Exª tem razão. A Mesa do Congresso não deveria aceitar medida provisória que não estivesse dentro dos preceitos constitucionais. V. Exª está absolutamente certo.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Com relação a essa, está mais do que provado: só vale em 2007, e ainda estamos em março de 2006. É só mandar um projeto de lei, aprovamos aqui, e valerá para 2007 sem nenhuma dificuldade.

            No que diz respeito à lógica dessa medida, há uma declaração aqui do Sr. Ricardo Pinheiro, Secretário-Adjunto da Receita Federal, que diz: “Deduzir salário de empregada do IR não tem lógica”. Diz também que isso é uma “afronta à matemática”. Deve ser uma afronta à aritmética, para ser mais preciso.

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Vou concluir, Srª Presidente.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - V. Exª me permite um rápido aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Vou dizer duas coisas: primeiro, só pode deduzir de empregada doméstica no Imposto de Renda o salário que for até R$350,00.

            Ora, ao invés de incentivar que se pague mais à empregada doméstica - e a maioria das empregadas domésticas, no Sul e no Sudeste, aqui mesmo em Brasília, não ganha salário mínimo -, dá a entender que o salário mínimo é o salário de classe da empregada doméstica, o que é um absurdo. Se uma empregada ganhasse mais de um salário mínimo, é evidente que o imposto deveria ser descontado da mesma maneira, porque seria um incentivo para que se pagasse mais à empregada doméstica, e não pagar o salário mínimo, que sabemos não ser suficiente para uma pessoa se manter.

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Em segundo lugar, trata-se de apenas um empregado para cada pessoa. Ora, suponhamos que em uma casa haja três, quatro membros. Por exemplo, o Senador José Agripino vai ter um empregado, a tia do Senador Agripino vai ter outro empregado, a avó vai ter outro empregado. Daqui a pouco, as pessoas encontrarão uma fórmula de burlar esse processo.

O Presidente Lula deveria anunciar, já que a questão é eleitoral, no Dia Internacional da Mulher - o que é outro absurdo, porque nem todo empregado doméstico é mulher, a maioria até reconheço que é, mas há homens que são empregados domésticos; e agora, como fica? Só deduz para a mulher? -, dia 8 de março, que vai enviar um projeto para o Congresso. Mas não uma medida provisória que só vai valer em 2007, e muito mal feita, como a que está sendo elaborada. Faz lembrar o projeto do Primeiro Emprego. Quando foi lançado, estava cheio de erros, inclusive dizia coisas absurdas. E fracassou porque estava errado. Esse programa da empregada doméstica, se não for feito corretamente, fracassará também.

Concedo um aparte ao Senador José Agripino. Em seguida, ao Senador Sibá Machado.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador José Jorge, apenas para aduzir meu raciocínio ao discurso de V. Exª, que é muito bem colocado, sempre muito bem construído, com idéias claras e facilmente compreensível pelo Plenário e por quem está ouvindo. Só que quem está ouvindo precisa compreender que o Presidente Lula teve três anos para fazer o que está fazendo. Está fazendo agora, por medida provisória, sem necessidade, para viger a partir do próximo ano. Teve três anos para editar a medida. Há três anos, tem Dia Internacional da Mulher para prestar homenagem. Agora, está anunciando para viger no próximo ano.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - É porque quer os votos das mulheres.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Sabe qual é o objetivo? É um só: tudo pelo eleitoral. O Governo Lula é tudo pelo eleitoral. Sabe para quê? Para produzir estatística. Sabe para quê? Para que a pessoa que tenha empregada doméstica tenha um pequeno incentivo para formalizar o contrato com carteira assinada. Para que, na estatística, no final do mês, apareça o número de empregos crescendo. Cresceu coisa nenhuma. Cresceu a formalização por um incentivo, magro, dado. É o Governo do marketing, que produz geração de emprego para inglês ver. Essa é que é a verdade nua e crua.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Concedo um aparte ao Senador Sibá Machado, para encerrar.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador José Jorge, V. Exª, como já foi dito aqui, é matemático.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Eu era, Senador.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas não perdeu o conhecimento, a fundamentação. Quando V. Exª fala, realmente nos chama a atenção para dizer que, com um cálculo desses, a matéria é um absurdo. Pelo pouco que li da matéria, entendi que a dedução é da parte patronal para incentivar que o empregador assine a Carteira. Dos oito anos que passei em meu primeiro emprego, apenas um ano e sete meses foi com Carteira assinada. Portanto, perdi toda essa parte da minha vida para o serviço previdenciário.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Mas V. Exª não era empregado doméstico!

            O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Não era empregado doméstico, era comerciário, mas estou fazendo uma comparação. Perdi cinco anos e meio da minha vida profissional, da minha vida de trabalhador. Portanto, o desconto de 12% do Imposto de Renda é no sentido de incentivar a Carteira assinada. Por quê? Porque todo empregador que paga hoje o salário mínimo pagará também os encargos trabalhistas, que impõem um preço que ele tem dificuldade de pagar, e retirará o benefício. Existe a previsão de benefício para um milhão e oitocentas mil pessoas. E como eu, com certeza, estão perdendo uma boa oportunidade em sua vida. Gostaria ainda de lembrar que, claro, qualquer governo, do menor Município à Presidência da República, em ano de eleição, tudo que fizer parecerá apelo muito mais eleitoral do que social. Vou aplaudir de pé a matéria, Senador. Se for executada em 2006 ou 2007, ou não, com certeza, é um apelo social de vulto, que, acho, qualquer Governo, mesmo antes de o Presidente da República ser Lula, poderia também já ter sido feito, porque esse fato ocorre no cenário nacional. Então, antes tarde do que nunca. Mas eu quero continuar aplaudindo, pois a medida chegou em boa hora.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Na realidade, é um outro aspecto. A maioria dessas pessoas não é registrada como empregado doméstico porque os empregadores pagam menos do que salário mínimo no Nordeste, no interior.

A própria Senadora Heloísa Helena deve saber que, a maioria das empregadas domésticas no Nordeste, no interior, não tem carteira assinada, porque o empregador paga a elas menos que o salário mínimo. Então, não é só para não pagar a Previdência, e essa medida não faz nada em relação a esse aspecto.

A idéia de formalizar o emprego doméstico é boa. Agora, que o projeto é eleitoreiro e inconstitucional, exatamente feito por medida provisória, que só vai vigorar no ano que vem, é. Então, se tivermos que votar essa medida, vamos votá-la em benefício do empregado doméstico. Estamos aqui para aplaudir, mas vamos fazer corretamente, no momento certo, e de uma forma precisa.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2006 - Página 6899