Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o pronunciamento do Senador Paulo Paim, a respeito do racismo. Registro da fatalidade que vitimou um jovem torcedor, na cidade de Joinville, que morreu, em razão de uma pedrada. Lamento pelo péssimo estado das rodovias de Santa Catarina, que vêm provocando inúmeros acidentes com vítimas.

Autor
Leonel Pavan (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Leonel Arcangelo Pavan
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DISCRIMINAÇÃO RACIAL. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Manifestação sobre o pronunciamento do Senador Paulo Paim, a respeito do racismo. Registro da fatalidade que vitimou um jovem torcedor, na cidade de Joinville, que morreu, em razão de uma pedrada. Lamento pelo péssimo estado das rodovias de Santa Catarina, que vêm provocando inúmeros acidentes com vítimas.
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2006 - Página 7082
Assunto
Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, SENADOR, DENUNCIA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, ATLETA PROFISSIONAL, FUTEBOL, DEFESA, PUNIÇÃO, CRIME.
  • GRAVIDADE, OCORRENCIA, MORTE, MENOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), TORCEDOR, FUTEBOL, VITIMA, VIOLENCIA, EXPECTATIVA, PUNIÇÃO, HOMICIDIO.
  • CONTESTAÇÃO, DISCURSO, SENADOR, ALEGAÇÕES, INVESTIMENTO, GOVERNO FEDERAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), INEXATIDÃO, DADOS, PROVIDENCIA, MELHORIA, RODOVIA, GRAVIDADE, NUMERO, MORTE, ACIDENTE DE TRANSITO.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu teria hoje inúmeros assuntos a tratar, mas, primeiro, quero falar sobre o pronunciamento do Senador Paulo Paim, que se referiu ao comportamento de alguns atletas do futebol brasileiro em relação ao racismo. São atletas que, dentro de seus clubes, são companheiros, amigos de jogadores de cor negra. No entanto, alguns jogadores procuram levar para dentro do campo, na hora da disputa, as diferenças raciais. Isso não é bom.

O futebol brasileiro, que é exemplo para o mundo, passa por um momento delicado. Enquanto, em alguns países, times de futebol e torcidas organizadas nos decepcionam por causa de manifestações racistas, o Brasil, que deveria dar exemplo, acaba entrando nessa mesma linha, envergonhando ainda mais nossa Pátria. Nós não somos racistas. O Brasil não pode mais suportar que companheiros, parceiros, por questões pessoais, às vezes por disputas internas no futebol, acabem tomando uma posição dura em relação aos homens de cor, que todos devemos respeitar. O racismo tem de ser banido, e as pessoas que o praticam têm de ser punidas.

Concedo o aparte, com muito prazer, ao nobre companheiro Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Hoje, estou com espírito de Mão Santa, aparteando todo mundo. Senador Leonel Pavan, quero parabenizá-lo pela referência ao tema. Quero juntar-me a V. Exª e expressar à Nação a minha tristeza, o meu descontentamento, a minha decepção com o zagueiro Antônio Carlos, que tem um futebol admirável, que é uma pessoa que sempre respeitei em suas atuações em grandes e em pequenos clubes e na Seleção Brasileira. A atitude racista dele, nesse último jogo, mostrando a pele branca dele como se a pele negra do outro fosse uma coisa nojenta ou uma doença incurável, é lamentável. E me fez lembrar um episódio, Senador Leonel Pavan. Sou de uma cidade pequena do interior da Bahia. Cheguei perto de uma agência de ônibus e vi um rapaz loiro, alto, ironizando um cidadão pequenininho, de cor, que estava acompanhado de uma moça branca. Ele achava aquilo o fim do mundo, um absurdo. E começou a ironizar tão alto, que o cidadão de cor se aproximou dele, e ele abriu os braços, muito grande, forte, e disse: “Vai encarar?”. Foi a primeira vez que ouvi essa colocação, eu ainda era adolescente. Ele disse: “Só queria dizer a você que, quando dois corpos se unem e duas mãos se encontram, refletem no chão a sombra da mesma cor”. Eu queria que Antônio Carlos soubesse disso. A Nação brasileira, nós, o povo brasileiro, a sociedade brasileira, precisamos ter orgulho da mistura que temos, da força, do trabalho, da capacidade e da inteligência da raça negra brasileira, que tanto orgulha todos nós. Portanto, nota zero para Antônio Carlos!

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Agradeço o aparte de V. Exª. Acho que todos pensam dessa forma. Penso que é unanimidade no Congresso Nacional.

Fiz referência a esse tema, porque a guerra continua também fora do campo. E aí não é uma questão de cor, mas de rivalidade entre torcidas.

Recentemente, em 1º de março, o menino Júlio César, de 17 anos, saudável, saiu de casa para prestigiar o time de futebol de sua cidade, o Joinville Esporte Clube, da cidade de Joinville. Esse menino, começando sua vida, cheio de sonhos, esperanças, comemorou o empate do Joinville contra o Avaí, dois grandes clubes do nosso Estado, duas torcidas maravilhosas, dois times que orgulham nosso Estado. Mas Júlio não voltou para casa. A fatalidade mudou o curso de sua vida: atingido no rosto por uma pedra de três quilos, não resistiu aos ferimentos e nos deixou.

Também estou experimentando o sentimento de perda e de dor que os pais estão tendo, sem demagogia e sem falsidade, pois tenho filhos. Em especial, meu filho Leonel Junior Pavan se identifica muito bem com ele já que, como ele, gosta de futebol. Essa tragédia poderia ter acontecido com qualquer um, mas ela é uma selvageria inaceitável.

Insisto que essa barbárie deve ser tipificada como assassinato premeditado. Que tipo de pessoa sai de casa, prepara emboscada e agride com tanta ferocidade uma pessoa? Só podem ser assassinos. Por mais que a psicologia e os advogados de defesa tentem argumentar que se trata do “inconsciente coletivo” ou qualquer outra baboseira de desculpas, não é aceitável. O futebol é saúde, é arte, é diversão, e os jogadores são os artistas; os clubes devem ser paixões, mas nunca doentias, como alguns interpretam. Qualquer pessoa que saiba quem praticou esse assassinato - ou desconfie - deve informar às autoridades policiais. Não podemos permitir que esses animais saiam ilesos, que não sofram pelo que fizeram, que não paguem por esse erro, que não olhem nos olhos dos pais do garoto. Que a justiça seja feita!

Estou-me referindo a esse menino Júlio César Ganzer da Cruz, 17 anos, de Joinville, porque todo o Estado de Santa Catarina ficou comovido com a morte prematura desse torcedor do Joinville. O ônibus em que ele estava andava pela BR-101 quando sofreu uma emboscada: interceptado por dois outros veículos, sofreu o ataque de jovens que se encontravam nesses carros e atiravam pedras. Uma pedra de quase 3kg pegou em cheio o rosto do jovem Júlio César, que veio a falecer.

Deixo registrado, Sr. Presidente, esse triste episódio, que abala toda a torcida brasileira, as pessoas que simpatizam com o futebol. São barbáries que acontecem na agressão pessoal, como essa questão do Antônio Carlos com o jogador do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, que devemos reprimir e buscar a justiça com toda força, tanto para aqueles que agridem, que assassinam, como para aqueles também que usam meios que repudiamos, principalmente o racismo.

Sr. Presidente, registro também que estamos ouvindo aqui, seguidamente, pessoas do Governo falarem em investimentos por parte do Governo Federal. O que estamos vendo não é aquilo que comentam no Senado. O Presidente Lula viaja pelo Brasil, faz campanha política, tenta promover-se até para buscar aumentar o seu prestígio perante a opinião pública, visando às próximas eleições. Por mais que o Presidente da República diga que não está fazendo política, que não é candidato, tem dito - ao contrário do que diz uma hora a um órgão da imprensa outra hora a outro - que faz política 24 horas por dia. Mas repudiamos a forma como ele faz política, usando dinheiro público.

Deveria o Presidente da República criar mecanismos e investir em rodovias para diminuir o índice de acidentes e mortes que estão ocorrendo em Santa Catarina e no Brasil inteiro. Só neste período de veraneio, nas rodovias de Santa Catarina, tivemos a perda de 137 pessoas.

Eu gostaria que representantes do Governo, Sr. Presidente, viessem à tribuna e falassem de resultados positivos, de coisas concretas, que viessem trazer soluções ao nosso Brasil, principalmente na questão de investimentos na infra-estrutura do nosso País, e não que viessem aqui comemorar coisas pífias, que não merecem um mínimo de comemoração. Repito, Sr. Presidente, as 137 mortes que ocorreram nas rodovias de Santa Catarina devem ser apenas um percentual mínimo das mortes que ocorrem em todo o Brasil. Claro que a responsabilidade também é dos motoristas, mas a responsabilidade maior é do Governo Federal, que não faz o mínimo de esforço para melhorar as rodovias do Brasil, exceto esses tapa-buracos, que são obras politiqueiras, que não vão trazer resultados nem garantias para o futuro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2006 - Página 7082