Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de carta dirigida por S.Exa. ao coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stedile, em que sugere a adoção de formas pacíficas de luta pela reforma agrária.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • Leitura de carta dirigida por S.Exa. ao coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stedile, em que sugere a adoção de formas pacíficas de luta pela reforma agrária.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2006 - Página 7864
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, SOLIDARIEDADE, REFORMA AGRARIA, JUSTIÇA SOCIAL, APRESENTAÇÃO, CARTA ABERTA, DESTINATARIO, LIDER, SEM-TERRA, CONCLAMAÇÃO, PACIFICAÇÃO, ATUAÇÃO, AUSENCIA, VIOLENCIA, OBJETIVO, APOIO, POPULAÇÃO.
  • COMENTARIO, DESTRUIÇÃO, PESQUISA, GENETICA, HORTO FLORESTAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), OBJETIVO, GRUPO, SEM-TERRA, PROTESTO, MODELO, FLORESTA, EUCALIPTO, PRODUÇÃO, CELULOSE, PREJUIZO, BIODIVERSIDADE, SOLIDARIEDADE, TRIBO, GUARANI (MG), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), VITIMA, EMPRESA, REPUDIO, ORADOR, VIOLENCIA.
  • CITAÇÃO PESSOAL, TEXTO, MARTIN LUTHER KING, VULTO HISTORICO, REPUDIO, VIOLENCIA, ATIVIDADE POLITICA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Romeu Tuma, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, venho publicamente transmitir uma carta ao meu caro João Pedro Stedile, da Coordenação Nacional do MST.

Venho transmitir-lhe, com o sentimento de quem tem sido solidário ao MST desde a sua fundação algo que é para lhes dar apoio como amigo da causa da reforma agrária e da realização de maior justiça em nosso País.

O apoio, desta vez, é para lhes transmitir publicamente uma opinião sincera: o MST consegue obter muito maior apoio do povo brasileiro para sua causa sempre que utilizar meios pacíficos, não violentos, e de respeito aos seres humanos e ao que tiver sido construído honestamente por outros.

Falo isso em função do episódio ocorrido na semana passada, quando as companheiras da Via Campesina destruíram as mudas de eucaliptos e as instalações do laboratório da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul.

Bem sei que elas desejavam protestar contra o símbolo de um modelo de agronegócio que o MST tem criticado, uma vez que as florestas homogêneas de eucaliptos para a produção de celulose, na visão de vocês, muitas vezes prejudicam a biodiversidade, e sobretudo o fizeram em reação ao episódio em que os tratores da Aracruz destruíram a aldeia indígena dos guaranis, no Espírito Santo. Que agiram elas em solidariedade aos índios guaranis.

Quero, entretanto, reiterar a recomendação que fiz quando fui convidado pelo MST, em 10 de julho de 1999, para dar uma aula a mais de mil jovens de quase todos os Estado brasileiros pertencentes ao MST na Unicamp. Naquela ocasião, dei de presente aos jovens do MST a tradução, feita por mim mesmo, de uma das mais belas orações da história da humanidade “I have a dream”, ou seja, Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King Jr., feita em 28 de agosto de 1963, em Washington D.C., diante do Memorial de Abraham Lincoln, justamente no dia em que se comemoravam os 100 anos de abolição da escravidão nos Estados Unidos.

Naquela época, Luther King Jr. preocupava-se com a necessidade de urgentemente se aprovar a Lei dos Direitos Civis e a Lei dos Direitos Iguais de Votação, uma vez que, em muitos estados do sul, aos negros não se permitia freqüentar as mesmas escolas, hotéis, restaurantes, banheiros, espaços de ônibus, que aos brancos. Também os negros não podiam votar em diversos Estados. Surgiram movimentos de revolta, quebra-quebras, incêndios em inúmeras cidades. Foi, então, que Martin Luther King Jr. conclamou seus compatriotas a seguirem os exemplos históricos de Mahatma Gandhi e outros de realizar movimentos assertivos não violentos para alcançar objetivos importantes e difíceis, como a Independência da Índia em 1947.

Naquele dia, perante mais de 200 mil pessoas, disse Martin Luher King Jr.: Nós também viemos a esse lugar sagrado para recordar a América da intensa urgência do momento. Esse não é o tempo de nos darmos ao luxo de nos acalmar ou de tomarmos a droga tranqüilizadora do gradualismo. Agora é a hora de tornarmos reais as promessas da democracia; agora é a hora de nos levantarmos do vale escuro e desolado da segregação para o caminho iluminado de sol da justiça racial; agora é o momento de levantar nossa nação das areias movediças da injustiça social para a rocha sólida da fraternidade; agora é o momento de fazer da justiça uma realidade para todas as crianças de Deus. Seria fatal para a nação não perceber a urgência do momento. O verão abrasador do legítimo descontentamento do negro não passará até que haja um outono revigorante de liberdade e igualdade.1963 não é um fim, mas um começo. E aqueles que esperam que os negros precisem expelir a sua energia e agora ficarão contentes vão ter um rude despertar, se a nação voltar à sua rotina habitual.

Não haverá descanso nem tranqüilidade na América até que o negro consiga garantir seus direitos à cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações de nossa nação até que surja o dia brilhante da justiça.

Mas há algo que eu preciso falar para o meu povo que está no limiar caloroso que nos leva para o palácio da justiça. No processo de ganhar nosso lugar de direito, nós não podemos ser culpados de ações erradas.

Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio. Precisamos sempre conduzir nossa luta no plano alto da dignidade e da disciplina. Nós não podemos deixar nosso protesto criativo degenerar em violência física. Todas as vezes e a cada vez nós precisamos alcançar as alturas majestosas de confrontar a força física com a força da alma.

Pouco tempo depois desse pronunciamento, o Congresso norte-americano aprovou, e os Presidentes dos Estados Unidos - primeiro, John Kennedy e, depois, Lyndon Johnson - sancionaram a Lei dos Direitos Civis e a Lei dos Direitos Iguais de Votação, respectivamente.

O MST tem sido, muitas vezes, criativo e granjeou forte apoio do povo para a causa justa da reforma agrária, quando, por exemplo, organizou as marchas pacíficas para Brasília, em memória do massacre de Eldorado dos Carajás, ou nas manifestações em memória da irmã Dorothy Stang, morta pelos interesses de proteger o latifúndio.

Para mostrar a sua solidariedade aos índios guaranis, tenho a convicção de que as mulheres da Via Campesina poderiam, e podem ainda fazê-lo, de forma pacífica, criativa, utilizando muito mais a força da alma do que a força física.

De outra forma, estaremos dando razão aos que, em pleno século XXI, preferem utilizar os instrumentos bélicos em vez dos instrumentos civilizatórios do bom senso e da inteligência.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Eduardo Suplicy, essa é uma carta que V. Exª enviou ao MST? Apenas para que a sociedade tome conhecimento claro do destino dela.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu a estou enviando a um dos Coordenadores Nacionais do MST, o Sr. João Pedro Stédile, para que possa o MST seguir muito mais os métodos da não-violência do que protestos de forma destrutiva, seja contra pessoas ou instalações, e assim por diante.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2006 - Página 7864