Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Refutação de denúncia veiculada contra S.Exa. na imprensa. (como Líder)

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Refutação de denúncia veiculada contra S.Exa. na imprensa. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Azeredo, Fátima Cleide, Mão Santa, Paulo Paim, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2006 - Página 7255
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, FALSIDADE, DENUNCIA, AUTORIA, PERIODICO, ACUSAÇÃO, ORADOR, FAVORECIMENTO, INDUSTRIA, MADEIRA, INVESTIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • ACUSAÇÃO, EXISTENCIA, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA, EFEITO, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, REGISTRO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, COMPROVAÇÃO, INOCENCIA, ORADOR.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

Sr. Presidente que neste momento preside a sessão, Senador Flexa Ribeiro, também do meu Estado, meu conterrâneo, Senadoras e Senadores presentes, estava desde ontem tentando falar, apesar de já ter vindo à Tribuna, logo após a semana do carnaval, para falar sobre denúncias caluniosas de que tenho sido vítima já há algum tempo, publicadas num veículo de comunicação. Talvez, quem sabe, continue reiterando essas denúncias, porque eu os processei, e, como todos sabem, quando se processa um órgão de comunicação na Justiça, aí é que a marcação acontece.

Mas, como fui citada e esse veículo foi citado aqui por um Senador da República, que tentava me atingir e, ao se defender, me atacar, quero dizer que todos os Senadores e Senadoras receberam uma nota de esclarecimento que fiz em relação a esta matéria.

Quero dizer também a todos os Senadores e Senadoras que consta do meu site, www.anajulia.com.br, um histórico. A sociedade toda pode ser acesso ao seu conteúdo, se quiser.

Quero lembrar inclusive que, em junho do ano passado, matéria idêntica foi veiculada por esse mesmo veículo de comunicação. Eles sequer citaram o meu nome. Mas estamos num ano eleitoral, e a possibilidade, quem sabe, de eu ser candidata, por ser uma Liderança do PT no meu Estado, faz com que, é claro, as baterias e a matéria se voltem contra o PT e contra mim.

Estou tranqüila, porque as denúncias foram feitas por um grileiro de terra que foi condenado pela Justiça Federal por ter ameaçado o gerente do Ibama. As denúncias que esse grileiro de terra fez contra mim foram todas investigadas na CPI. Deputados, inclusive, que fazem parte dessa CPI da Biopirataria hoje falaram sobre isso. A matéria sequer reflete a realidade do relatório, porque o relatório aprovado não indicia o gerente do Ibama. A CPI quebrou sigilo, investigou contas, simplesmente invadiu a vida privada de uma cidadã brasileira por ela trabalhar comigo, por ser minha assessora. Estão tentando, inclusive, arrasar a vida dessa mulher para poder arrasar com a minha vida, mas quero dizer que fui investigada, e nada encontraram.

Houve denúncia de que havia recurso de empresas madeireiras que participaram do Safra Legal. Algumas empresas realmente contribuíram com a nossa campanha, mas nenhuma das que contribuíram participaram do Safra Legal. Estão todas inscritas no Tribunal Regional Eleitoral.

Diziam que o recurso estava na conta da minha assessora, e ela, de livre e espontânea vontade, mandou inclusive o extrato dela. Mesmo assim, quebraram o seu sigilo bancário; depois, quebraram o sigilo de acordo com o objeto da CPI. Por incrível que pareça, os dados foram cruzados, e não foi achado depósito algum.

Fui investigada, e nada foi achado. Ao contrário, a denúncia feita contra mim é falsa, caluniosa e tenta me atingir politicamente com medo da questão eleitoral. Trata-se de uma denúncia eleitoreira.

A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Ana Julia, concede-me V. Exª um aparte?

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Em breve vou lhe dar o aparte, Senadora Fátima Cleide.

Sei que não sou perdoada pelos grileiros de terra do meu Estado. Sei que não sou perdoada por aqueles que praticam trabalho escravo, de cuja ocorrência, infelizmente, o meu Estado é campeão. Sei que não sou perdoada por aqueles que se dizem produtores rurais, mas não o são, porque mancham o nome dos produtores rurais e participam do consórcio que financia a morte e a violência no campo.

Quando eu rasguei aquele voto em separado, aquela verdadeira ode à violência na CPMI da Terra, realmente acendi mais ainda a ira daqueles que me caluniam.

Então, é exatamente esse o combinado, Senador Sibá Machado e Senadora Fátima Cleide. A diminuição do desmatamento faz com que matérias como essa tentem nos atingir.

Eu quero dizer, com toda tranqüilidade, que permiti a investigação, e, graças a Deus, nada das denúncias se confirmou, porque a matéria é simplesmente uma série de ilações e mentiras inclusive em relação a números de linhas telefônicas, porque aquilo nunca existiu.

Estão quebrando decisão do STF e desrespeitando mais uma vez o Supremo Tribunal Federal, que, no voto do seu Ministro-Relator, Joaquim Barbosa, decreta, em relação aos dados da CPI, “o segredo de justiça nesses autos para proteger o sigilo de documentos de uso reservado anexado às informações”.

Mas não há mais Estado de Direito no País, como disse a Deputada Juíza Denise Frossard hoje. S. Exª lê as matérias em alguns veículos de comunicação com um pé atrás. Por isso, estão cada vez mais perdendo a credibilidade, porque hoje não se respeita mais nada. Mesmo que seja investigado, que se demonstre que não há nada, tentam, de forma transversa, dizer o contrário.

Estou indignada porque mesmo o Supremo Tribunal Federal está sendo desrespeitado. Documentos que deveriam ser sigilosos são utilizados, porque questões ali colocadas não constam do relatório da CPI. A sociedade não sabe disso, mas não constam do relatório da CPI, porque aquilo não existe.

Como é fácil desrespeitar! Hoje, no País, desrespeita-se até o Supremo Tribunal Federal, por meio do voto do Ministro Joaquim Barbosa. Se até isso se desrespeita no País, é fácil qualquer um agora querer atingir alguém eleitoralmente.

Como somos pessoas públicas, estamos sujeitos a isso. Sei que tentam, inclusive, atingir a minha família, tentando usar o fato de um gerente do Ibama ter sido casado comigo um dia, há oito anos, e de termos uma filha. Nem isso nos poupam, a nossa família, uma criança que nada tem a ver com isso.

Mas não vou usar a vitimização, como algumas pessoas gostam de fazer, como rumo do meu mandato. Já estou ficando, como se diz em minha terra, com o couro curtido. Sei que toda pessoa pública, quando incomoda, quando atinge poderosos interesses, é atingida.

Concedo o aparte à Senadora Fátima Cleide, com muito prazer; em seguida, ao Senador Sibá Machado.

A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Ana Júlia Carepa, inicialmente, gostaria de parabenizá-la não apenas porque hoje é o Dia da Mulher, mas pela grande, brilhante e inteligente mulher que V. Exª é. V. Exª - e digo “vossa excelência” com muito orgulho, com muita honra - representa, aqui neste Senado, as grandes guerreiras da Amazônia. Neste momento, o pronunciamento que V. Exª faz da tribuna do Senado Federal me faz lembrar outros momentos que vivemos, nós, mulheres, trabalhadoras, que sonhamos, em primeiro lugar, construir uma sociedade diferente. Enfrentamos na Amazônia os invasores, os grileiros, aqueles malfeitores que apenas querem lucrar com um recurso que é do povo brasileiro: o recurso natural. Sonhamos com essa sociedade, mas, mais do que isso, ousamos estar aqui disputando espaços. Somos poucas, mas V. Exª representa brilhantemente as mulheres que estão aqui nesta Casa e todas as mulheres da Amazônia e do Brasil. Tenho total confiança em sua pessoa, tanto na vida pública quanto na vida privada. Tenho confiança no desempenho de seu mandato, voltado para a inclusão social. Tenho confiança de que todas as injúrias que V. Exª sofre neste momento serão repudiadas pela sociedade brasileira, pela sociedade paraense, pelos homens e mulheres que querem uma sociedade diferente neste País.

(Interrupção do som.)

A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Obrigada, Sr. Presidente. Tenho confiança e expresso a minha solidariedade a V. Exª neste momento, Senadora Ana Júlia. Não são apenas as mulheres comuns que sofrem violência e discriminação. Nós também sofremos. Justamente por ser ousada e disputar com competência e qualidade é que V. Exª está sofrendo. V. Exª já foi a uma CPI, que vasculhou a sua vida. Sei que outras pessoas também vasculharam a sua vida, e sei como a Senadora Ideli Salvatti também sofre essa “vasculhação”, como eu também sofro. Parabéns, Senadora Ana Júlia Carepa. V. Exª representa as mulheres brasileiras com muita dignidade e muita honra. Eu me orgulho por isso e por ser sua companheira neste dia. Deixo aqui o meu abraço solidário.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senadora Fátima Cleide. Nós ousamos, somos mulheres ousadas. Por isso, minha homenagem a todas as mulheres deste País, mulheres anônimas, mas que representam essa luta. E, quando nós ousamos enfrentar esses interesses poderosos, é lógico que recebemos difamações, que hoje são feitas de forma absurda.

Concedo o aparte ao Senador Sibá Machado. Em seguida, ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Ana Júlia, discordo apenas do termo “anônimo”, porque acredito que toda pessoa é líder em seus processos de vida, em qualquer ambiente que viva. Está sempre liderando e sendo espelho para alguém, sendo amado ou odiado por alguém.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - É verdade. Eu disse “anônima” porque não são pessoas públicas, mas todas têm uma importância imensa.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Com certeza. Voltando ao assunto, infelizmente, somente hoje V. Exª vem à tribuna a fim de prestar esclarecimento pessoal sobre o fato. Pude observar que, por mais ou menos culta que seja uma pessoa - não digo “culta” no sentido da cultura, mas da escolaridade -, todos nós, ao olharmos para um veículo de comunicação, damos-lhe alto grau de respeitabilidade e confiança. É comum que as pessoas com pouco acesso à vida pública, como V. Exª está falando, ao terem conhecimento de uma notícia, seja pela televisão, pelo rádio, pelo jornal ou pela revista, confiarão na matéria. Dirão: “Deu no jornal, viu? Ontem, saiu na televisão. Olhe, o rádio falou isso ontem”. É claro que uma revista como a Veja, ao publicar uma matéria, vai sempre induzir muitas pessoas a acreditar que a revista está sendo completamente verdadeira. E fica humanamente impossível desfazer-se o engano. Pois bem, vou dizer que foi engano; não foi bem assim, mas vamos dizer que a matéria foi engano. Como se pode repor, nas mesmas condições, na mesma página, na mesma quantidade de caracteres divulgados, uma versão encontrada? Acabou-se. Não há mais jeito. A V. Exª resta o quê? Os microfones do Senado Federal e as oportunidades que surgirem para V. Exª falar sobre isso quando alguém lhe perguntar, seja em Brasília, seja no Estado do Pará. Quem leu a revista Veja? Parece-me a tiragem da revista Veja é de um 1,5 milhão de exemplares. Além disso, existe o fato da propagação de uma notícia. Segundo um cálculo que aprendi em um curso básico que fiz, chamado Qualidade Total, a notícia boa tem uma propagação de cinco vezes; a notícia ruim, de vinte e cinco vezes. Quer dizer, se alguém dá uma notícia boa, ela chega a cinco pessoas de imediato; se a notícia é ruim, chega a vinte e cinco pessoas. Neste caso, aqui fica uma situação que já vou dizer a V. Exª. Primeiro, impossível repor, para todas as pessoas que tomaram conhecimento daquela matéria, uma versão de V. Exª. Segundo - vou usar aqui a sapiência do povo -, ouvi alguém dizer que, antes de se pensar em cometer uma injustiça, ainda é melhor recebê-la. Então, é melhor receber do que cometer uma injustiça. Se V. Exª recebe uma injusta notícia da revista Veja, ainda assim, é melhor do que cometer essa injustiça, seja da Veja, de qualquer pessoa. Medo de que V. Exª possa vir a ser candidata espero que seja. Torço para isso, porque sei que V. Exª pode realizar um trabalho muito melhor do que o que está sendo realizado, que é o princípio da superação. Se V. Exª, eu e outras pessoas concordássemos com tudo o que está sendo feito, não estaríamos aqui fazendo política. Ficaríamos em casa, assistindo ao que está acontecendo. Portanto, nesse caso, espero que V. Exª contribua novamente conosco, sendo candidata em seu Estado. Também quero dizer que nossa Bancada, todos nós aqui depositamos a mais sincera confiança em V. Exª. É o que minha mãe me dizia: acima de tudo, tenha a sua consciência tranqüila, não se importando com o que estão dizendo sobre você. Se tiver a oportunidade de esclarecer, ótimo; se não tiver, durma bem, dizendo: isso não me pega, porque eu não cometi isso. Portanto, já que V. Exª não vai ter a oportunidade de ver um 1,5 milhão de exemplares da revista Veja dizendo que a Senadora Ana Júlia Carepa é inocente em relação àquilo que foi dito, porque isso não vai acontecer, que fiquemos com essa consciência e essa confiança que todos nós temos na sua seriedade e na sua cumplicidade com a coisa séria e com a vida pública ética e moral que vejo sempre na sua história, no seu currículo, no seu modo de vida e, principalmente, na sua forma de fazer política.

            Assim sendo...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ... fica aqui o abraço fraterno, amigo, companheiro e verdadeiro, não apenas meu, mas de todos da Bancada do Partido dos Trabalhadores, com a confiança que temos em V. Exª.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senador Sibá Machado. Agradeço muito pelas suas palavras.

Tenho recebido solidariedade de Senadoras e Senadores de diversos Partidos - para ser justa, de todos os Partidos.

Concedo um aparte ao Senador Paulo Paim e, depois, ao Senador Eduardo Azeredo.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senadora Ana Júlia Carepa, embora as homenagens do Senado pelo Dia Internacional da Mulher seja amanhã, nada mais justo, nada mais apropriado do que V. Exª assomar à tribuna hoje mesmo, Dia Internacional da Mulher, porque a injustiça que estão fazendo com V. Exª não tem como ser medida. Dentre as pessoas que conheci, V. Exª é a mais avançada, séria, competente e responsável. Foi Deputada junto comigo. Conheço sua vida, sua história e as posições que defende na Câmara e no Senado. Não tenho nenhuma dúvida de que V. Exª vai dormir tranqüila hoje e sempre. Todos nós sabemos que, quando a campanha eleitoral começa, os ataques são muito mais contundentes. Estive lá no Pará, e o Senador Flexa Ribeiro, que ora preside a sessão, viu que, numa plenária estadual, após V. Exª ter feito uso da palavra, fiz uma manifestação sobre V. Exª, ressaltando a forma como aquele povo a aplaudiu. V. Exª conta com o carinho do povo do Pará e do País. Como bem disseram a Senadora Fátima Cleide e o Senador Sibá Machado, V. Exª foi investigada, abriu o livro de sua vida para uma CPI: “Vejam, estudem minha vida”. A CPI foi a fundo e não achou nada. É o melhor atestado que poderia dar ao Senado da República e ao povo brasileiro. Meu aparte, neste encerramento de sessão, é rápido. Dizia ao Senador Simon que hoje falei de Anita Garibaldi, de Ana Amélia, jornalista que todos respeitamos, que falei de lutadoras, negras, brancas, índias, mestiças. V. Exª se inclui no rol desses nomes que citei como uma mulher que para nós é referência. Como há mulheres que são referência, também há homens que são referência. E o contrário também existe. Mas V. Exª é uma referência para o nosso trabalho. Por isso, deixo aqui a minha total solidariedade e apoio, na certeza de que o Brasil ganha muito com a postura de V. Exª, não só o Pará. Parabéns a V. Exª.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Obrigada de coração, Senador. V. Exª, com certeza, também é uma referência. 

Concedo a palavra ao Senador Eduardo Azeredo e, a seguir, ao Senador Mão Santa.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senadora Ana Júlia, logo que cheguei ao Senado, a questão dos royalties do minério nos aproximou. Aliás, é um assunto que nos une e que ainda não foi decidido. 

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Temos que votá-lo rapidamente, não é, Senador?

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Mas pude sentir naquela ocasião a sua dedicação, o seu espírito público, a sua vontade e disposição de defender especialmente as pessoas mais necessitadas, mais humildes do País. Assim tem sido o seu desempenho aqui como Senadora. Há pouco, quando eu fazia um pronunciamento em defesa da aposentadoria para a dona-de-casa, eu quis exatamente personificar na pessoa de V. Exª uma homenagem a todas as Senadoras que estão conosco. Faço isso com muita vontade sim, pois considero seu trabalho realmente digno de louvor. Quanto a essas questões levantadas contra V. Exª - e não estamos todos imunes a elas - devem ser realmente relativizadas. Esperamos pelo amadurecimento do processo político brasileiro, das relações da imprensa, tão importante para a democracia. Exatamente pela importância para a democracia, é que não se pode ter uma “histeria informativa”, como às vezes ocorre no País, em que as informações são transmitidas sem verificação, sem profundidade. Senador Ana Júlia, quero lhe dar um grande abraço neste Dia Internacional da Mulher.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senador.

Ouço o Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora Ana Júlia Carepa, para onde vamos, levamos a nossa formação profissional. Sou médico e isso me fez estudar a psicologia. Embora o Sibá tenha pintado esse quadro, eu vejo as coisas de modo diferente. Penso que a diversidade é uma bênção disfarçada. Quando menino, aprendi no nosso Nordeste a Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias:

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

            Entendo que Ana Júlia Carepa é uma forte, brava e bela mulher do Pará e do Brasil, pelo que observei em mais de três anos aqui. Em uma missão ao Chile, acompanhado por V. Exª e minha mulher, Adalgisa, em um dos momentos mais agradáveis dos nossos 37 anos de casado, pude observar V. Exª e estudá-la como médico e psicólogo. Somos de partidos diferentes, mas V. Exª é de uma pureza ímpar, é uma guerreira, mulher vencedora, bancária, mãe, esposa. Mas, Sibá, eu acho que não é assim, não. Eu nunca me preocupei - já fui governador - em fazer uma imagem de fora para dentro. De nada vale isso. Eu já tive essas posições. Pode-se até contratar a revista Time, a revista Life, mas isso de nada vale. A comunicação é de dentro para fora. Pode vir num Exocet a maldade que não pega. É de dentro para fora que se vê; por meio dos filhos, dos pais, das famílias, dos que estudaram, dos que conheceram, dos que a eram aqui como Senadora da República e de figuras como eu, de partido diferente, que posso atestar, dizer que a conheço de dentro para fora, porque convivemos. V. Exª é uma mulher obstinada, de alto espírito público. O povo do Pará não ia jamais errar em tantas oportunidades - e ele é quem poderia julgá-la, quem a conhece - e trazê-la para cá. Já que estamos no Dia da Internacional da Mulher, quero dizer que sou filho de Terceira franciscana e minha mãe santa dizia: “Dar tempo ao tempo”. Ela também ensinou que a inveja e a mágoa corrompem os corações. V. Exª desperta inveja. V. Exª é mulher admirada por todo mundo, por toda civilização. V. Exª é uma bela mulher e grande líder do Brasil.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Eu quero agradecer a V. Exª Senador Mão Santa, Senador Azeredo, Senadora Fátima Cleide, Paulo Paim, Senador Sibá Machado, agradeço aos Senadores que de forma pessoal já se solidarizaram comigo, já expressaram essa solidariedade, essa confiança. Quero agradecer muito. Quero me solidarizar com o povo do meu Estado que tem se solidarizado comigo de diversas formas em relação a calúnias. Como eu falei, as denúncias foram investigadas e nada foi encontrado. Nem sequer a realidade, nem sequer as questões do relatório da CPI são colocadas; não. São colocadas questões que dizem respeito ao Supremo Tribunal Federal, essa é a realidade.

Mas agradeço aqui manifestações de Senadores de diversos Partidos que, mesmo da Oposição, conhecem a nossa história e por isso mesmo sabem do que estamos nesse momento sendo vítima.

Senador Sibá Machado, em relação a campanha, eu já tinha dito que não seria candidata; não é meu objetivo ser candidata. Mas estou me sentindo tão provocada que, daqui a pouco, vou me aborrecer e vou ser candidata. Não quero isso. Confesso a V. Exª - e já tinha dito a todo mundo - que não quero, não quero ser candidata. Já fui candidata, não posso ter o monopólio da candidatura lá no Estado. Tenho que dar oportunidade a outras lideranças e temos várias.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Ana Júlia, queria fazer só um pedido a V. Exª. Seja candidata por uma necessidade do Pará e de todos nós. Precisamos de V. Exª lá.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Acho que esses ataques vêm muito em função disso. Mas quero dizer que não é minha vontade, não é o que está dentro do meu coração. Quero continuar meu mandato de Senadora, para o qual fui eleita. Já recebi um apelo há dois anos, há pouco mais de um ano aliás, para ser candidata e fui, acatei aquele apelo. Mas este é o momento de continuar meu mandato aqui, defendendo recursos, defendendo os interesses da maioria do povo, mas, defendendo principalmente o povo do meu Estado, defendendo os trabalhadores rurais, defendendo o agricultor, defendendo o produtor rural independentemente de tamanho, aquele que é sério, aquele que gera emprego. Não aqueles que financiam a violência; esses, sim, me perseguem, esses não me perdoam, esses vieram aqui apoiar o depoimento do grileiro de terra, no dia em que ele veio falar calúnias.

A Justiça pode tardar, mas não falha. Durmo tranqüila, sim, Senadores; durmo absolutamente tranqüila. Infelizmente já perdi poucos patrimônios, mas tenho exatamente para continuar dormindo tranqüila no meu travesseiro.

Vejo aqui o Deputado Dr. Rosinha, que faz parte dessa CPI e que ficou muito indignado ao ver uma publicação que distorce os fatos e a realidade; exatamente desinforma a sociedade, usando informações, como eu disse, que dizem respeito ao Supremo Tribunal Federal, questões que nem sequer estão no relatório da CPI; mas, em compensação, deixa de colocar coisas que estão no relatório e exatamente dizem para todo mundo que não existe aquilo do qual fomos acusados, qual seja, recursos na conta de uma mulher que está tendo a vida devassada e sua família atingida. Trata-se de uma pessoa separada que tem três filhos, como eu tenho dois, mas que, como mulher também, como cidadã brasileira, está sendo atingida, está sendo instrumento para tentarem me atingir; atingir a primeira mulher Senadora do meu Estado, que teve a ousadia de combater a violência, a discriminação, de se colocar sempre - há mais de vinte anos na minha vida -, sempre ao lado dos mais pobres, dos excluídos. Essa é a história da nossa vida, Senadora Fátima Cleide, de V. Exª, que muito me orgulha também, representando aqui a força das mulheres da Amazônia.

Eu vou continuar de cabeça erguida, seguindo o meu mandato de Senadora, honrando o povo do Pará e defendendo os interesses da maioria daquele povo e do povo do Brasil.

Muito obrigada.

Agradeço a tolerância, mas é um momento importante. Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2006 - Página 7255