Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamenta a queda do Ministro Palocci em razão do depoimento do caseiro Francenildo, o que deveria ter acontecido em função do modelo econômico que implementou no País.

Autor
João Batista Motta (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Lamenta a queda do Ministro Palocci em razão do depoimento do caseiro Francenildo, o que deveria ter acontecido em função do modelo econômico que implementou no País.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2006 - Página 9563
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, DEMISSÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), AUSENCIA, IDONEIDADE, CONDUTA, DEFESA, AFASTAMENTO, CARGO PUBLICO, INEFICACIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CONTINUAÇÃO, IDEOLOGIA, LIBERALISMO, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL.
  • IMPUTAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, DESVALORIZAÇÃO, DOLAR, PREJUIZO, EXPORTAÇÃO, AUMENTO, TAXAS, JUROS, NEGLIGENCIA, POLITICA SALARIAL, REFORMA TRIBUTARIA, POLITICA AGRICOLA, DIFICULDADE, SITUAÇÃO, AGROINDUSTRIA, CRITICA, EXCESSO, BUROCRACIA, IMPEDIMENTO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, INTERESSE NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fui procurado há pouco por uma pessoa do meu Estado que trabalha na imprensa para conversar sobre a queda do Ministro Palocci. Em relação ao que vou falar aqui, tenho certeza de que merecerei a solidariedade do Senador Paulo Paim. Vou contrariar o que disse o nosso Líder, Senador Arthur Virgílio, que considerou o Ministro Palocci o melhor Ministro do Governo Lula - e o povo brasileiro que assiste à TV Senado vai entender bem o que vou falar.

Eu não queria ver a demissão do Ministro Palocci por causa da acusação do caseiro, eu não queria ver o Ministro Palocci perder o seu posto de Ministro da Fazenda por uma denúncia de corrupção. Eu queria que o Ministro Palocci já tivesse sido demitido, a um ou dois anos atrás, pelo modelo econômico que implementou no País, quando aprofundou uma política neoliberal que tanto mal fez ao País. Eu queria que o Ministro Palocci estivesse perdendo o cargo porque permitiu que o dólar estivesse sendo vendido por R$2,00, quando, há quatro anos, o dólar esteve beirando a casa dos R$4,00. Queria que o Ministro Palocci estivesse perdendo o mandato porque pratica, neste País, os mais altos juros do Planeta - juros com os quais permite a entrada de dinheiro volátil que derruba o câmbio, prejudica os exportadores e elimina o mercado interno. Queria que o Ministro Palocci estive perdendo o cargo de Ministro da Fazenda por permitir que, num País em que a taxa oficial está em torno de 16%, bancos oficiais, como a Caixa Econômica e Banco do Brasil, cobrem juros acima de 150% ao ano. Queria que o Ministro Palocci estivesse perdendo o cargo por não ter uma política salarial para o País, por não ter feito uma reforma tributária, por não ter mandado para esta Casa uma reforma tributária capaz de tirar da folha de pagamento dos trabalhadores as contribuições, colocando-as em cima do faturamento das empresas e permitindo que, assim, pudéssemos estar praticando hoje um salário mínimo de quinhentos, seiscentos, setecentos, quem sabe até mil reais. Eu queria que o Ministro Palocci estivesse perdendo o cargo hoje, Senador Arthur Virgílio, porque não fez uma política para o homem do campo, porque permitiu denúncias como a do Ministro da Agricultura, que disse em cadeia de rádio e televisão que os recursos obtidos do Governo Federal, que deveriam ter saído em março para financiar a safra, só saíram em novembro - o dinheiro fornecido pelo Governo Federal não chegou às mãos dos produtores brasileiros.

Eu queria que o Ministro Palocci estivesse hoje perdendo o cargo de Ministro da Fazenda porque fez com que este País paralisasse todo o seu interior - todo o campo brasileiro, todo o agronegócio deixou de existir de uma hora para outra. Um Ministro que comemora, junto com o Líder do PT aqui nesta Casa, o preço do arroz a R$12,00, do milho a R$10,00 a saca, não entende que, com isso, o produtor brasileiro deixa de produzir, o produtor brasileiro desanima, abandona o seu posto de trabalho.

Queria, meu Líder Arthur Virgílio, que o Ministro Palocci estivesse deixando o Ministério da Fazenda, juntamente com o Presidente Lula, pela incapacidade administrativa de ambos. Queria que eles tivessem a humildade de entender o mal que fizeram a este País e renunciassem juntos. Já que isso não acontece, Srªs e Srs. Senadores, temos de esperar mais alguns meses para ver o fim daquilo que está acontecendo hoje, ou seja, o nosso País completamente parado, com seus habitantes preocupados com o passar dos sete meses que ainda faltam para que possamos acabar com essa farra do PT.

Concedo um aparte ao Senador Mão Santa com prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Queria que o Espírito Santo iluminasse o povo de Vitória (Espírito Santo) para que o fizesse voltar com o mandato de Senador. V. Exª entrou aqui como suplente, como entrou Fernando Henrique Cardoso, e, sem dúvida, foi um dos mais proeminentes Senadores desta Casa. V. Exª retrata a economia do País muito bem. Eu só acrescentaria, como professor de Biologia que sou, o leite, que é o mais fundamental alimento do ser humano e que custa R$0,35 o litro, enquanto a água Perrier que tomam nas comemorações custa R$6,50. Isso acaba com o campo, contraria Franklin Delano Roosevelt, que fez dos Estados Unidos um país rico e dizia que era importante olhar o campo; que as cidades, mesmo destruídas, ressurgiriam do campo, mas o campo não-apoiado e destruído significaria a destruição das cidades.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Agradeço ao Senador Mão Santa pelo aparte.

Quero acrescentar que estive em Natal no final de semana, onde conversei com vários agricultores e alguns carcinicultores. Cheguei a conversar com um engenheiro, que é gerente de uma grande empresa que cultiva frutas no País, e ele me disse que está com toda a safra de manga perdida, que não pode colher porque não tem preço, não tem quem compre. Com o dólar que estamos praticando, não dá para exportar. Os carcinicultores falavam também a mesma coisa: com o dólar a R$2,00, ninguém pode exportar camarão. E assim estão todos os produtores brasileiros: desiludidos e desesperados.

Não há sensibilidade por parte do Governo para tomar nenhuma providência. Não há sensibilidade, Senador Mão Santa, nem para resolver problemas tais como: no Governo Fernando Henrique, foi repassado dinheiro para centenas de prefeituras que não puderam realizar a obra, porque o pessoal do meio ambiente não deixou; os projetos não foram aprovados por causa da burocracia daqueles que cuidavam da parte ambiental. Vai acabar o Governo Lula, e o dinheiro se encontra parado no Banco, agora com o projeto aprovado pelos ambientalistas, mas sem a ordem do Ministério da Saúde para aplicar o dinheiro naquele esgoto, conforme o projeto. Vou repetir: o dinheiro que foi repassado para a prefeitura no Governo Fernando Henrique Cardoso até hoje está parado por falta de decisão. Ninguém decide! No Governo, ninguém toma providência, ninguém tem coragem para resolver os problemas, a não ser para fazer mal a essa ou àquela categoria.

Dou outro exemplo: quando muitos agricultores, Senador Tasso Jereissati, vão ao Banco pegar um empréstimo - embora tenham uma fazenda que valha, digamos, R$5 milhões - de R$100 mil ou de R$200 mil para comprar um trator, o gerente do Banco pega toda a fazenda como garantia. Depois, não tendo como pagar esse empréstimo, o cidadão fica com toda a fazenda presa, sem poder pegar recursos de custeio, sem poder vender, sem poder trocar, sem poder fazer nada. Ele quer vender um pedaço da fazenda e pagar a dívida, mas não pode fazê-lo, porque a dívida foi securitizada, foi mandada para a Secretaria do Tesouro e agora fica presa, sem nenhuma solução. O agricultor sofre, sem ter como resolver seu problema. E assim acontece com milhares e milhares de pessoas.

Não estou querendo aqui denunciar que meia dúzia ou centenas de agricultores estão sofrendo, estão perdendo o que têm. Não é apenas isso. O que estou querendo dizer é que o Governo não decide, não toma providência, nada faz no sentido de ajudar aqueles que trabalham.

Muito obrigado.

A SRª PRESIDENTE (Ana Júlia Carepa. Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senador João Batista Motta. V. Exª ainda dispõe de três minutos. Se quiser usar desse tempo, V. Exª tem o direito de fazê-lo.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - V. Exª não sabe como lhe agradeço por isso, Senadora Ana Júlia Carepa, que é do Estado do Pará e que sabe como os agricultores...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Este é um novo método de presidir a Casa: quando o orador deixa a tribuna, a Presidente o chama para ocupar o tempo. Agradeço a V. Exª, porque é um precedente muito bom.

A SRª PRESIDENTE (Ana Júlia Carepa. Bloco/PT - PA) - Não, Senador Antonio Carlos Magalhães, não é um precedente. Simplesmente, comuniquei isso a S. Exª, porque a Drª Cláudia colocou mais dois minutos, quando S. Exª teria direito, nessas sessões, a dez minutos, prorrogáveis por mais cinco minutos. S. Exª havia falado apenas dois minutos, e o tempo foi prorrogado por mais dois minutos. Imediatamente, prorroguei por mais três minutos, para fazer justiça. Eu não poderia agir de outra forma para ser justa.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Srª Presidente, quero cumprimentar V. Exª, porque, no momento em que o PT não quer que o caseiro fale, V. Exª quer que o Parlamentar fale. Parabéns!

A SRª PRESIDENTE (Ana Júlia Carepa. Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senador.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Srª Presidente, Senadora Ana Júlia Carepa, agradeço-lhe de coração, até porque V. Exª, tenho certeza, compartilha das mesmas idéias. Conhecemos o sul do Pará e sabemos como aquela gente está sofrendo. Não são apenas os capixabas que sofrem nas garras deste Governo. Quando percorremos o sul do Pará, de onde V. Exª é Senadora, vemos aqueles trabalhadores cansados, exaustos, que foram ao Banco, que conseguiram dinheiro para fazer um financiamento, que tiveram uma despesa de R$200 mil na sua lavoura, que, depois, tiveram de vender a safra por R$50 mil e que perderam R$150 mil. Saíram do ar.

V. Exª sabe que, no Governo passado, uma arroba de boi custava R$45,00. No “Globo Rural” de domingo, Senador Mão Santa, o valor divulgado foi de R$37,00. Naquela época, um rolo de arame de mil metros custava R$45,00 e, hoje, custa R$245,00. Olhem para onde foi a situação do pecuarista brasileiro!

A Senadora Ana Júlia Carepa sabe do que estou falando, porque seus correligionários também estão sofrendo por todos esses desmandos. Queria agradecer-lhe de coração.

Faço um apelo ao povo brasileiro para que pense muito, em 3 de outubro, para escolher um candidato que possa ser um gerente, pois este País precisa, Senador Mão Santa, de alguém que tenha pulso forte e que saiba gerenciar a Nação. Que escolhamos alguém que já trabalhou na vida, que já gerenciou algo na vida, que tenha experiência administrativa, para que, amanhã, neste País, o povo brasileiro tenha condições reais de viver com dignidade!

É o que quero, é o que penso, é o que desejo. Tenho certeza de que todos os Senadores desta Casa desejam o mesmo!

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2006 - Página 9563