Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise sobre dados publicados pelo jornal Correio Braziliense, sobre a crescente saída de oficiais das Forças Armadas.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FORÇAS ARMADAS.:
  • Análise sobre dados publicados pelo jornal Correio Braziliense, sobre a crescente saída de oficiais das Forças Armadas.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2006 - Página 10501
Assunto
Outros > FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), SAIDA, OFICIAIS, FORÇAS ARMADAS, BUSCA, MELHORIA, REMUNERAÇÃO, APREENSÃO, PREJUIZO, SEGURANÇA NACIONAL, PROTESTO, REDUÇÃO, ORÇAMENTO, SETOR, PRECARIEDADE, CONDIÇÕES DE TRABALHO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente,Srªs. e Srs. Senadores: O jornal Correio Braziliense publicou dia 12 do corrente mês, domingo, ampla matéria sobre o êxodo de oficiais de nossas Forças Armadas para atividades que se afiguram profissionalmente mais atraentes. O números excedem os limites de quaisquer preocupações já presentes no Congresso Nacional. Atingem as raias do absurdo porque refletem algo de há muito sonhado pelos inimigos da Pátria. Isto é: o paulatino enfraquecimento do poderio militar destinado a dissuadir quem pense ser possível afrontar a nossa soberania e se imagine capaz de investir contra o território, o espaço aéreo, o mar territorial, os poderes constitucionais, a lei e a ordem brasileiros. Tais dados refletem a diminuição cada vez maior da capacidade de o Estado defender o seu povo.

           Sob o título “Baixa nos Quartéis”, a matéria assinada pelo jornalista Leonel Rocha aponta como causas principais do abandono da carreira militar o orçamento declinante e mal aplicado, os salários pequenos, a falta de prestígio e a decadência do aparelhamento, que frustram oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Afirma que “as Forças Armadas brasileiras estão enfrentando um inimigo invisível e silencioso: a frustração profissional dos seus oficiais.” Acrescenta que, “nos últimos seis anos, mais de 600 deixaram o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, trocando a farda por uma carreira em outro setor do serviço público ou na iniciativa privada.” E assegura:

           “Somente nos primeiros dois meses deste ano foram cerca de 40 baixas. Quase todos desistiram da profissão antes do que deveriam para complementar a aposentadoria trabalhando em outra área na reserva. Os fatos que levam à decepção com a carreira não são novos. Mas o sentimento se agravou na última década, com a redução continuada do orçamento militar. Para este ano o governo propôs R$ 4,9 bilhões. Menor do que o executado em 2005. Um corte de R$ 1,2 bilhão porque este ano os gastos com a força de paz no Haiti serão menores. Mas cada uma das Forças perde recursos. Além do corte, ainda há R$ 1,4 bilhão de dívidas do ano passado.”

           Lembra aquele jornal que as Forças Armadas gastam cerca de 85% da receita com salários, aposentadorias e pensões. Assim, resta pequena parte dos recursos para investir em tecnologia e treinamento, o que leva oficiais à frustração de não poder aplicar o que aprendem nas academias. Salários muito maiores induzem essa parte do oficialato a utilizar seus conhecimentos para fazer concursos públicos e ingressar no Legislativo, Judiciário e na administração direta da União.

           De acordo com a reportagem, “os destinos mais comuns são Polícia Federal, tribunais e auditorias fiscais. Os salários dos oficiais variam de R$ 3 mil para tenentes a R$ 7 mil para General de quatro estrelas. Deixar a força não é fácil nem barato. Por lei, o oficial que pede demissão antes de três décadas de serviço é obrigado a pagar pelos cursos que fez nos últimos cinco anos. No caso de um oficial engenheiro, por exemplo, o custo pode ultrapassar R$ 100 mil. Mesmo assim, as empresas interessadas nesta mão de obra pagam a multa.”

           A par desse panorama preocupante, a matéria enfatiza a falta de modernização dos equipamentos, apontando-os como “ultrapassados”. Afirma que o soldado empregado nas buscas aos armamentos roubados do Exército no Rio de Janeiro não recebeu colete à prova de balas. E enfatiza: “A arma que utiliza é o Fuzil Automático Leve (FAL), modelo da década de 1960, mais pesado e menos preciso que o HK empunhado pelos traficantes. A última compra de armamento do Exército foi feita há quase 20 anos.”

           Ainda se referindo ao Exército, diz a matéria que essa Força emprega carros de combate utilizados na guerra da Coréia, ocorrida na década de 1950, além Urutus e Cascavéis fabricados na década de 1970 e já reformados pela terceira vez.

           Ouvido pelo jornal, o coronel aposentado e professor da Universidade de Campinas, Geraldo Cavagnari, lamentou: "Não temos uma boa força armada e por isto nunca faremos parte do Conselho de Segurança da ONU". Como estudioso das Forças Armadas, o professor “detecta uma revolta surda contra o status quo.” Diz ele que “não há perspectiva profissional, não somente por falta de salário, mas porque o oficialato já descobriu que o Brasil é um país desarmado. O ressentimento está aumentando. Estamos silenciosos, mas atentos".

           Afirma o jornalista que, em dezembro último, durante palestra a 50 capitães-de-mar-e-guerra e almirantes da reserva, o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, traçou um quadro da falência: no ano passado, teve que "desincorporar" nove navios de guerra. Conseguiu repor somente quatro. Este ano, outros cinco navios serão encostados por velhice e não há previsão de reposição.

           Mas, o repórter pondera que, “mesmo com o orçamento curto, as Forças Armadas ainda mantêm ilhas de excelência. A aviação do Exército, por exemplo, é uma delas. Outra é o Centro de Guerra Eletrônica em Brasília. Os comandos pára-quedistas que ficam em Goiânia e as academias de formação de oficiais engrossam as exceções. Uma das prioridades são os quartéis na Amazônia, para onde vão 80% dos oficiais recém-formados pelo Exército.” Diz também que, para não ficarem inteiramente atrasados em comparação com outras forças da América Latina, os militares “priorizam estes setores na pequena fatia do orçamento destinada a investimentos.”

           A parte principal da reportagem termina com a seguinte afirmação: “Apesar de serem considerados em pesquisas de opinião a instituição de maior credibilidade no país, acima da igreja, dos Correios e da mídia, o poder militar, hoje com 350 mil homens - 220 mil só no Exército - é olhado com desconfiança e não consegue definir, junto com o poder civil, que tipo de Força Armada o Brasil precisa.”.

           A profissão militar é um verdadeiro sacerdócio. O militar serve à Pátria. A sociedade precisa considerar melhor essa carreira de Estado. Todos nós, brasileiros, precisamos atentar para esse grave problema. Os altos índices de credibilidade das instituições militares representam o valor que o nosso povo credita às Forças Armadas. Mas, como se vê, a situação é caótica quando se pensa no despertar de futuras vocações. Neste estado de coisas, como criar e manter nos jovens brasileiros - homens e mulheres - a vocação pela profissão militar? O Governo, a sociedade brasileira, todos nós, precisamos pensar nisso com seriedade.

           Muito obrigado.

 

***********************************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ROMEU TUMA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

************************************************************************************************

Matéria referida:

“Baixa nos quartéis”.


Modelo1 4/25/248:34



Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2006 - Página 10501