Discurso durante a 51ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da solenidade de concessão do Prêmio Comunicação de 2006, ao jornalista Otávio Frias, realizada em São Paulo.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA.:
  • Registro da solenidade de concessão do Prêmio Comunicação de 2006, ao jornalista Otávio Frias, realizada em São Paulo.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2006 - Página 15241
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, JORNALISTA, EMPRESARIO, RECEBIMENTO, PREMIO, CONGRESSO BRASILEIRO, IMPRENSA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, EDIÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, DISCURSO, SOLENIDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR MARCO MACIEL NA SESSÃO DO DIA 4 DE MAIO, DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Com a palavra o Senador Marco Maciel.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente nobre Senador Edison Lobão, Srªs e Srs. Senadores, desejo registrar evento ocorrido ontem à noite em São Paulo. Tratou-se da concessão do Prêmio Personalidade de Comunicação 2006 ao empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de S.Paulo, durante o 9º Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, evento organizado pela Mega Brasil e apoiado pelos Srs.Fernando Xavier e Franklin Lee Feder, respectivamente presidentes da Telefônica de São Paulo e da Alcoa.

À referida solenidade compareceram, entre outras autoridades, o Governador Cláudio Lembo, o Prefeito Gilberto Kassab, o pré-candidato a Presidente da República Geraldo Alckmin, o ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o ex-Prefeito José Serra, o Deputado Delfim Netto e o ex-Governador Orestes Quércia. Observaria, por relevante, a presença de toda a família do Sr. Octavio Frias de Oliveira, à frente a Sra. Dagmar, sua companheira de todos os momentos.

Na ocasião, o Governador Cláudio Lembo disse apreciar o que chamou de coragem de Frias de Oliveira. E observou: “Ele transformou a Folha, dando essa característica de coragem que às vezes a gente lê e fica um pouco chateado, mas compreende que é a Folha. Ele atrapalha as nossas manhãs, mas isso faz parte da vida. Ele nos deixa pela manhã um pouco tristes, mas, durante o dia, a gente vê que a Folha estava certa”.

            Não foi diferente a manifestação de Gilberto Kassab: “a premiação é uma homenagem a um empresário ‘que ajudou a construir a democracia”. O Presidente Fernando Henrique Cardoso também proferiu palavras muito oportunas sobre a figura de Octavio Frias de Oliveira, destacando admirar nele a capacidade de aliar o sucesso empresarial à defesa de suas crenças. Citou como exemplo a mudança da Folha em 1975, quando o jornal começou a dar voz a críticos dos militares ao mesmo tempo em que mantinha o espaço para aqueles que apoiavam o regime. É bom lembrar que o “Seu” Frias, como costumam chamá-lo, completará 94 anos no próximo dia 5 de agosto, e o prêmio que lhe foi conferido é o coroamento de uma vida dedicada como empresário,...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Presidente Marco Maciel, me permite um aparte?

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Concederei logo em seguida.

....um empreendedor na área da imprensa e, sobretudo um cidadão de excelente visão do mundo. A ele se poderia aplicar a frase de Drumonnd de Andrade: ele tem duas mãos e o sentimento do mundo. Ou a expressão de Machado de Assis: ele tem instinto de nacionalidade.

            Ouço o nobre Líder do PSDB, o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Presidente Marco Maciel, o Sr. Frias, figura pública do melhor calibre, de quem hoje me considero amigo, é um marco na imprensa brasileira, com seu jornal independente, irreverente, com uma enorme liberdade para cada articulista colocar livremente a sua opinião, com enorme capacidade de aceitar críticas à própria Folha de S.Paulo. É uma figura realmente admirável! Certa vez, eu - não sei se certo ou errado - fiz duras críticas ao jornal Folha de S.Paulo. O que aconteceu? Essa coisa provinciana, rastaquera, de proibir a citação do meu nome ou ainda, supostamente, campanha sistemática contra o atacante, não, ao contrário; manteve a mesma cobertura que sempre tive e me ouviu sobre o tema, me dando ampla liberdade para que eu aumentasse as críticas que havia feito ao jornal. Aquilo me impressionou muito. Nas vezes em que estou com ele, nas poucas vezes em que tenho tido a felicidade de estar com ele, procuro beber os seus ensinamentos, procuro ouvi-lo, procuro sentir nele o pulso do País. Propus, em nome da Bancada do PSDB, um voto de aplauso à vida do Seu Frias, com elogios à entidade que o homenageou, mas sobretudo entendendo que o fulcro era fazer o registro da vida de alguém que se dedicou à causa da liberdade de imprensa. Não há nenhum governo que diga: a Folha é dócil. Não há nenhum. Nenhum governo vai dizer: faz o que eu quero. Não faz. Nenhum governo vai estar jamais livre de ser vergastado por um jornal realmente independente e que, a meu ver, nos dá uma enorme lição. Eu, Líder de governo, Ministro e figura ligada ao Governo do Presidente Fernando Henrique e de V. Exª por oito anos, muitas vezes dizia: Puxa vida, como pegam pesado com a gente! Líder de um partido de Oposição como agora, em alguns momentos eu dizia: Graças a Deus temos esse jornal funcionando! Graças a Deus que nós temos esse jornal fazendo críticas; críticas ao Presidente da República, críticas ao Governo e críticas a nós outros da Oposição, toda vez que o jornal entende, equivocada ou corretamente, que nós outros da Oposição estamos laborando em equívoco. Então tenho muito respeito por tudo que a Folha de S.Paulo representa e por tudo que representa a vida do Seu Frias. Realmente um homem que merece ser homenageado o tempo inteiro e ao qual nós desejamos muitos e muitos anos de vida produtiva, para que o Brasil continue usufruindo da sabedoria e da coragem desse democrata.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Nobre Líder Arthur Virgílio, o aparte de V. Exª me fez lembrar uma expressão usada por Ortega y Gasset. O Sr. Frias, usando a expressão de Ortega, é uma praça intelectual. Toda vez que o procuro, dele ouço lições extremamente ricas, densas, nas mais variadas questões nacionais e internacionais. E o seu jornal, a Folha de S.Paulo, reflete isso. Esse espírito ele transmitiu a outras instituições que ajudou a criar, como o jornal Valor. O mesmo se aplica ao UOL, por ele implantado. pioneiramente e também ao instituto de pesquisas Data Folha de credibilidade indiscutida. É um homem que perpassou o Século XX e vive a nova centúria sabendo que o País contém uma grande provisão de energia e tende a ser uma Nação da qual crescentemente mais nos orgulharemos.

            Sem querer me alongar em considerações, lerei apenas um pequeno trecho do brevíssimo discurso de Octavio Frias ao receber das mãos de Fernando Xavier, o prêmio que merecidamente lhe foi outorgado, no qual deu mostra de sua verve:

           “Tive algum êxito como empresário. Consegui dar minha modesta contribuição no grande trabalho coletivo de criar riquezas, gerar empregos, fortalecer empresas e lançar novos produtos. Atribuo esse êxito ao perseverante e a alguma sorte.

Procuro ter em mente aquele verso de Kipling no qual o escritor inglês fala do sucesso e do fracasso como dois grandes impostores. De minha parte, experimentei ambos. Acima dessas vicissitudes, penso que o mais importante é trabalhar com afinco naquilo que se gosta”.

Sr. Presidente, vou conceder aparte ao Senador Eduardo Suplicy, colaborador da Folha de S.Paulo há tempos, desde o século passado. Ouvirei S. Exª com atenção.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Agradeço a oportunidade, Senador Marco Maciel. Em virtude de ter voltado ontem de uma viagem de dois dias - dois dias de ida, dois dias de volta e 24 horas em Colombro, no Sri Lanka -, a convite da Unesco, ficou muito difícil comparecer à homenagem ao Sr. Otávio Frias de Oliveira, que merece o cumprimento de todos os brasileiros por ter tido a coragem, a iniciativa, a capacidade empresarial de fazer da Folha de S.Paulo um extraordinário jornal, conforme V. Exª e todos os que ontem compareceram à solenidade de entrega do prêmio, tão merecidamente recebido, puderam testemunhar. É fato que de 1976 a 1980 trabalhei, inclusive em adição ao meu trabalho como professor na AGV e antes mesmo de ser Parlamentar, na Folha de S. Paulo, veículo para o qual eu escrevia três ou quatro artigos por semana. Colaborava, trocando idéias, com o editorial e assim por diante. Pude, naquele período, conviver com o Sr. Octavio Frias de Oliveira, bem como com seu filho Otavio Frias Filho, e admirar a extraordinária capacidade e também ser parte daquilo que o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso testemunhou - ontem li no seu depoimento - que ele também participou, a partir de 1975, daquela fase de abertura em que a Folha de S.Paulo abria suas páginas para que os mais destacados brasileiros pudessem fazer avaliações críticas daquilo que se passava no Brasil. Estávamos vivendo sob o regime militar. O próprio Fernando Henrique disse que foi testemunha e participante daquele momento em que a Folha resolveu abrir suas páginas, não apenas para os que eram críticos, mas também, num espírito aberto, para os que defendiam um ponto de vista de defesa do Governo. E aí a Folha passou a ser respeitada cada vez mais. Foi Cláudio Abramo, naquela fase, um extraordinário jornalista, que já havia sido secretário de redação de um dos principais jornais do País, que era o Estado de S.Paulo, então trabalhando na Folha - a pessoa que, inclusive, me convidou e foi muito responsável por aquela abertura, da qual V. Exª vem participando até hoje, porque é também um dos colaboradores assíduos. V. Exª volta e meia publica seus artigos com idéias, testemunhos e depoimentos muito importantes na pág. 3 da Folha de S.Paulo. Portanto, quero comungar com o sentimento de homenagem que V. Exª faz à Folha de S.Paulo, em especial a Octavio Frias de Oliveira, pela maneira com que fez a Folha de S.Paulo um dos maiores jornais da história do Brasil, sendo cada vez um melhor jornal.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Nobre Senador Eduardo Suplicy, acolho e agradeço seu aparte.

Sr. Presidente, o Sr. Frias é um homem que os romanos designariam ser um vir bonus, um cidadão forte que encarna bem as chamadas virtudes republicanas. Por isso, a homenagem que lhe foi prestada é testemunho de sua enorme contribuição à imprensa brasileira e, assim, ao amadurecimento institucional do País, pois seus veículos têm essa preocupação. Aliás muito legítima, de ajudar a fazer com que o País consolide o sistema democrático e conviva com o contraditório e o dissenso.

            Sr. Presidente, gostaria de solicitar a V. Exª que fossem apensados ao meu discurso o pequeno texto que o Sr. Frias leu na ocasião e também as palavras de Fernando Xavier, ex-Presidente da Telebrás e atual Presidente da Telefônica de São Paulo, contendo considerações sobre a vida do homenageado, desde que, saindo do Rio de Janeiro, foi para São Paulo, iniciando suas atividades como office boy, depois ascendendo na vida empresarial e conseguindo construir veículos de comunicação tão importantes como a Folha de S.Paulo, que ajudam a inventar o futuro do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MARCO MACIEL EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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           Matéria referida:

           “Discurso do Sr. Octavio Oliveira Frias.”

DISCURSO DO SR. OCTAVIO DE OLIVEIRA FRIAS:

Caro Governador Claudio Lembo,

Prezado Prefeito Gilberto Kassab,

Prezado Presidente Fernando Henrique,

Prezado Senador Marco Maciel,

Prezados Fernando Xavier,

Franklin Feder,

Eduardo Ribeiro e

Marco Antonio Rossi.

Meus amigos:

A idade nos concede uma série de direitos. Deveria conceder também o direito de evitar uma cerimônia como esta. Não me considero merecedor desta homenagem. Mas aqui estou, atendendo à insistência de meus filhos e à gentileza de tantos amigos aqui presentes.

Cabe-me agradecer, aos organizadores deste Congresso, pela homenagem ainda que indevida. Prefiro ver, nesta homenagem, o reconhecimento pelo trabalho dos muitos amigos e companheiros que vêm me ajudando ao longo da vida.

Tive algum êxito como empresário. Consegui dar minha modesta contribuição no grande trabalho coletivo de criar riquezas, gerar empregos, fortalecer empresas e lançar novos produtos. Atribuo esse êxito ao trabalho perseverante e a alguma sorte.

Procuro ter em mente aquele verso de Kipling no qual o escritor inglês fala do sucesso e do fracasso como dois impostores. De minha parte, experimentei ambos. Acima dessas vicissitudes, penso que o mais importante é trabalhar com afinco naquilo de que se gosta.

Há quatro décadas o acaso me levou ao ramo das comunicações. De jornalista só tenho, talvez, a curiosidade de aprender coisas novas.

Sou um otimista sem ilusões. Vejo com interesse as mudanças que continuam a ocorrer nas comunicações e no mundo como um todo. Acho que nosso país ainda enfrenta problemas tremendos, mas é hoje melhor do que era quando comecei minha vida profissional. O jornalismo e as comunicações também evoluíram muito.

Não tenho outro testemunho a oferecer, exceto a crença no trabalho, o gosto pela inovação e a confiança no futuro. Que sempre haverá de ser melhor do que o presente.

Muito obrigado.

DISCURSO DO SR.FERNANDO XAVIER;

Meu caro Octávio Frias de Oliveira:

Srªs e Srs. jornalistas e demais profissionais de comunicação participantes deste congresso e convidados:

Minhas senhoras, meus senhores, estou extremamente feliz por participar da cerimônia de abertura do 9º Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas. Faço votos de que os quatro dias deste encontro se convertam em sucesso em todos os temas e áreas que participantes e convidados debatam.

Alegra-me, particularmente, prestigiar nesta solenidade a entrega do prêmio Personalidade da Comunicação 2006 ao empresário e publisher Octavio Frias de Oliveira. Julgo mais do que justa esta homenagem, a qual, destaque-se, foi feita por indicação de profissionais de comunicação corporativa de todo o Brasil.

Acompanho, de longa data, o trabalho desenvolvido por “Seu” Frias --como costumam chamá-lo os que com ele convivem-- à frente de seu conglomerado jornalístico. Sinto-me, assim, seguro de que homenageamos nesta noite um notável empreendedor. Um empresário arrojado que, tanto pelas características e princípios que lhe são inatos, quanto pela atividade específica que desenvolve e o meio em que atua, contribui de forma decisiva para o desenvolvimento da imprensa no Brasil.

Meus amigos:

Seu Frias é hoje um dos mais conceituados dirigentes brasileiros do segmento de mídia. Foi o principal fiador e incentivador da série de reformas empreendidas há cerca de três décadas e que transformou a Folha de S.Paulo num dos maiores e mais importantes jornais do País.

            Também apoiou decisivamente os filhos Otávio Frias Filho e Luís Frias na mobilização de recursos e energia para a construção do UOL, uma das primeiras operações da internet brasileira e até hoje entre as maiores do setor.

Por esse trabalho à frente da Folha de S.Paulo, pela criação do UOL, pela parceria com O Globo no Valor Econômico, e por editar, também, o mais popular dos jornais paulistas, o Agora São Paulo, não erro ao reconhecer que, com este prêmio, nos congratulamos com um homem que é essencialmente um empresário de comunicação.

Seu Frias, sras. e srs., começou a lutar cedo. Exerceu as mais diversas atividades e profissões, desde as mais simples, como office-boy de uma companhia de gás, como também foi funcionário público e combatente na Revolução Constitucionalista de 32, ao lado das tropas paulistas.

Mas já na década de 1940 aflorava o seu espírito empreendedor. Foi a partir dali que passou a se dedicar à atividade empresarial, primeiro como acionista de uma instituição financeira e, depois, ao fundar, em 1953, sua primeira empresa, a Transações Comerciais (Transaco), que atuava no mercado acionário e em outras atividades. Vem daí sua primeira ligação com a imprensa: a Transaco prestou serviços à Tribuna da Imprensa, o jornal de Carlos Lacerda, e à Folha da Manhã, então dirigida pelo advogado José Nabantino Ramos.

A disposição de Seu Frias para desafios fica ainda mais evidente se lembrarmos que ele já tinha 50 anos quando, em 13 de agosto de 1962, associado a Carlos Caldeira Filho, adquiriu o controle acionário da empresa Folha da Manhã, que já editava a Folha de S.Paulo. O interesse pelo jornal veio também do fato dos dois empresários já serem donos de uma das gráficas mais modernas de São Paulo, a Lythographica Ypiranga.

Em 1962, quando Seu Frias adquiriu o controle da empresa Folha da Manhã, a empresa já editava outros jornais, como a Folha da Noite, que começou a circular na década de 1920, e a Folha da Tarde. Antes, o mesmo grupo editara o jornal Folha da Manhã, onde pontificaram colaboradores como Sérgio Buarque de Hollanda, Antonio Candido e Florestan Fernandes.

A partir de então, ou seja, desde 1962, seu Frias faz história na nossa imprensa. O processo de modernização que levaria a Folha de S.Paulo a tornar-se um dos maiores e mais respeitados veículos de comunicação do Brasil iniciou-se em 1975 e sua liderança foi entregue ao jornalista Cláudio Abramo.

Seu Frias optou por fazer um veículo apartidário, plural e que buscasse a isenção. A primeira mudança, naqueles anos de chumbo em que a reforma se iniciava: o jornal voltava a expressar sua opinião e patrocinar amplo debate dentro de suas páginas. A Folha ganhou, então, uma página específica para artigos opinativos, à página 2, e a seção "Tendências/Debates", na página 3, que se mantêm até hoje. Simultaneamente ao seu processo de mudanças, a Folha, enquanto empresa e veículo de comunicação, apostou na redemocratização. Abriu espaço para que lideranças da sociedade civil escrevessem sobre política, economia e questões sociais. A regra era uma só: a do pluralismo político. Não se aceitavam apenas artigos de oposição ou exclusivamente favoráveis ao regime vigente. Todas as idéias e pensamentos eram bem-vindos às páginas de opinião da Folha.

            Pessoas como Fernando Henrique Cardoso e João Amazonas passaram a escrever regularmente para o jornal, ao lado de Jarbas Passarinho, ao lado de Mário Henrique Simonsen e outros defensores do então governo militar. Em 1978, por exemplo, um dos principais editorialistas de economia, Eduardo Suplicy, eleito deputado pelo MDB, foi substituído por José Serra, que voltava do exílio.

Em 1984, A Folha mostrou mais uma grande sintonia com a sociedade ao ser o primeiro grande veículo de comunicação a apoiar a campanha das “Diretas Já”. Tornou-se o porta-voz, ou melhor, a voz dos brasileiros, de quantos não tinham voz, mas queriam eleger, pelo voto direto, seu presidente. Ao se converter naturalmente num dos sustentáculos daquele movimento e contribuir para que milhões de pessoas ocupassem as ruas em manifestações pacíficas pelas diretas, a Folha de S.Paulo contribuiu para que aquela campanha se tornasse a maior movimento cívico da história do país. As diretas não vieram naquele 1984, mas aquela campanha tornou inviável a continuidade, além de 1985, do Colégio Eleitoral, que escolhia os presidentes da República, e, como conseqüência, apressou o fim do regime militar.

Nos anos seguintes, vieram novas reformas complementares, o jornal viveu e vive um processo de permanentes mudanças. A principal delas ficou conhecida como Projeto Folha, desenvolvido a partir de 1985 e cujo objetivo era aprimorar as conquistas anteriores e sistematizar práticas que contribuíssem para que fosse alcançada a meta de se fazer um jornalismo crítico e apartidário. A direção do Projeto Folha foi compartilhada por Seu Frias e pelo seu filho, Otávio. A partir de então, o jornal nunca mais perderia a liderança do mercado brasileiro de jornais diários, consolidando-se com uma das mais críticas e respeitadas publicações do País.

Srs. Jornalistas e demais profissionais de comunicação, meus amigos, autoridades aqui presentes:

Quarenta e quatro anos depois de haver adquirido com o sócio o controle acionário da Folha de S.Paulo, Seu Frias, com quase 94 anos, que fará no dia 5 de gosto, ainda comparece ao expediente diário na sede do jornal dando uma significativa parcela de contribuição para o sucesso do seu grupo empresarial.

Sua vitalidade extraordinária continua sendo exemplo para quem trabalha e convive com ele. E, para todos nós e para o Brasil, sua maior contribuição foi estabelecer, para a imprensa brasileira, um patamar inédito em termos de independência frente ao poder político e econômico, de profissionalismo, pluralismo democrático e espírito público na comunicação. Por tudo isso, Seu Frias, nós lhe somos gratos e reconhecidos.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2006 - Página 15241