Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração, ontem, do Dia Mundial do Meio Ambiente.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Comemoração, ontem, do Dia Mundial do Meio Ambiente.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2006 - Página 19158
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, INFERIORIDADE, MOBILIZAÇÃO, PAIS, DIA INTERNACIONAL, MEIO AMBIENTE.
  • REGISTRO, DIVULGAÇÃO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), PESQUISA, AUMENTO, CONSCIENTIZAÇÃO, BRASILEIROS, MEIO AMBIENTE.
  • ANALISE, DESTRUIÇÃO, RECURSOS NATURAIS, AMBITO, CAPITALISMO, FALTA, FISCALIZAÇÃO, NEGLIGENCIA, AUTORIDADE, PREVISÃO, AUMENTO, REGIÃO ARIDA, BRASIL, ALTERAÇÃO, CLIMA, PLANETA TERRA, REGISTRO, DADOS, AMPLIAÇÃO, AREA, SECA, DESMATAMENTO, MINERAÇÃO, AGROPECUARIA, AUSENCIA, PROTEÇÃO, BIODIVERSIDADE, FLORESTA, CERRADO, RISCOS, RECURSOS HIDRICOS, IMPORTANCIA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, dia 5 de junho, pudemos constatar a precária mobilização do País diante de uma data tão importante como o Dia Mundial do Meio Ambiente. A ocasião praticamente passou em branco, carente de agenda mais consistente, que nos despertasse para um amplo debate sobre tema tão vital para todos nós.

Um alívio: o Ministério do Meio Ambiente divulgou pesquisa segundo a qual o Instituto Vox Populi conclui que a consciência do brasileiro sobre as questões ambientais aumentou. Mas a atenção da sociedade continua pequena, Senador Papaléo Paes.

O levantamento revela que o número de pessoas que não acreditava que o Brasil tivesse problemas ambientais caiu de 47%, em 1992, para 14%, em 2006. A degradação do ambiente foi identificada como um problema a ser solucionado, mas apenas 6% dos consultados a colocam diante de dilemas considerados mais agudos, como o desemprego, a violência, a saúde e, até, a “falta de fé” de tantos, o que intensifica ainda mais os nossos males.

Será mesmo a questão ambiental menos importante?

Se analisarmos pragmaticamente, a fome provocada pelo desemprego falará mais alto que a preocupação com a desertificação - tema deste Dia Mundial do Meio Ambiente. Só que as questões se entrelaçam: são parte das anomalias de um sistema econômico denominado “capitalismo” - caracterizado pela ânsia e sede de acumular riquezas em poucas mãos, mesmo que seja preciso destruir os bens mais preciosos...

            A destruição exaustiva de nossos recursos naturais é uma atividade criminosa, comandada por poderosos que matam o verde sem incômodos da fiscalização, movimentam vultosas somas, deixando como legado a morte de nosso futuro. E as autoridades estão tão pouco conscientizadas disso que realmente nos causa muita preocupação.

Nós nos damos conta da gravidade da degradação apenas quando a TV exibe reportagens com toneladas de madeira tombadas à custa da derrubada de regiões inteiras de florestas. Então, vêm as queimadas, depois, as pastagens - prenúncio da desertificação. Esse mecanismo econômico executa - prestem atenção - a catástrofe ambiental sem se importar com leis, nem conseqüências. No entanto, eis apenas uma: o aquecimento global, de que tanto se fala, que já nos assusta com incríveis variações climáticas, indicando mais dor, porque a natureza responde no mesmo tom em que é agredida!

Estudos do pesquisador americano William Laurance e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia indicam que a destruição da Amazônia atingiu níveis alarmantes! Entre 1995 e 2000, a média foi de 1,9 milhão de hectares por ano - o equivalente a sete campos de futebol por minuto. A área de floresta danificada então detectada estava entre 60% e 128%, maior que a constatada entre 1999 e 2002. Pior: a destruição já avança rumo a Mato Grosso e a Rondônia.

Mais grave: ainda ontem, o jornal O Estado de S. Paulo, em sua versão on-line, denunciou que, no Nordeste, a desertificação já ameaça 30 milhões de pessoas em quase 1.500 municípios! O desmatamento, a mineração e a agropecuária, muitas vezes inadequados à região, já comprometeram, nas estimativas da Fundação Esquel, 300 mil quilômetros quadrados do solo do semi-árido.

Em meu Estado, outro terrível drama: o cerrado, apesar da rica biodiversidade, agoniza e pode desaparecer até 2030 se não forem tomadas enérgicas providências. Em Goiás, restam apenas 35% da vegetação nativa. Isso num bioma que conta com pelo menos 161 espécies de mamíferos, 837 de aves, 157 de anfíbios, 120 de répteis e 10 mil espécies de plantas!

O mais desesperador ainda é que a Comissão Especial da Câmara Federal presidida pela Deputada goiana Neyde Aparecida não consegue atingir o quorum necessário à aprovação da PEC que inclui o cerrado e a caatinga na relação dos biomas integrantes do patrimônio nacional, o que criaria condições para a execução de programas conservacionistas. Se a medida não for votada agora, tudo estará perdido, um verdadeiro desastre para aquelas regiões.

A relatora da matéria alerta que, se foram necessários 500 anos para reduzir a Mata Atlântica a 7% da sua cobertura original, no cerrado, bastaram 40 anos, desde a criação de Brasília, para destruir 80% de sua extensão, originalmente de dois milhões de quilômetros quadrados. Importante lembrar que, nos chapadões, estão 30% da biodiversidade nacional e 5% da mundial!!

Como pode o País que detém o “pulmão verde” do mundo simplesmente permitir a continuação do desmatamento incontrolável, sem que as autoridades, de maneira efetiva e vigorosa, tomem a decisão política de intervir, brecando as motosserras da morte e nos restituindo a fé num futuro de respeito à natureza?

A poluição do ar, das águas, do solo; a emissão de resíduos sólidos, líquidos e gasosos em quantidade acima da capacidade humana de absorção; as indústrias químicas e siderúrgicas lançando na atmosfera óxidos sulfúricos e nitrogenados e enxofre; o esgoto que suja rios, lagos e mananciais; o acúmulo de lixo sólido, como embalagens de plástico, papel e metal: eis um retrato da realidade que, muitas vezes, não queremos enxergar.

Pede-se atenção máxima! Para a ONU, dois terços da humanidade podem passar sede em menos de 30 anos, e o desmatamento, em grande escala, já chega a 46% das matas primitivas de toda a Terra.

Para reverter a terrível realidade, aí está o Protocolo de Kyoto, obrigando que, de 2008 a 2012, 39 países desenvolvidos reduzam em 5,2% o índice global da emissão de dióxido de carbono e outros gases nocivos registrado em 1990. Esperemos que o Brasil faça sua parte, inclusive para produzir créditos de carbono - certificados que nações em desenvolvimento podem emitir a cada tonelada de gases nocivos evitada.

Precisamos atuar para difundir o conceito vital de sustentabilidade, porque é o que nos garante o sagrado direito à vida. Lester Brown, do Instituto WordWatch, já definiu: “Sociedade sustentável é aquela que satisfaz as suas necessidades sem diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazerem as delas.”

Assim, baseando-me em conceitos do físico Fritjof Capra e do teórico de sistemas ambientalista Ernest Callenbach, lembro que, nas sociedades sustentáveis:

- os sistemas de transportes são mais coletivos e menos individuais - portanto, menos esbanjadores e poluentes;

- o uso da terra segue princípios da estabilidade biológica - como a retenção de nutrientes, o equilíbrio de carbono, a proteção do solo, a conservação da água e a preservação da diversidade de espécies;

- nunca se desperdiçam colheitas;

            - os bosques são conservados; não há desmatamento para a obtenção de madeira, pois faz-se uso do replantio;

- as áreas degradadas dão lugar a terrenos produtivos; a utilização indiscriminada de pastagens é regulada, e a cadeia alimentar valoriza grãos e vegetais.

Numa sociedade sustentável, Sr. Presidente, o sistema de valores que enfatiza a quantidade, a competição e a dominação dá lugar à qualidade, à conservação, à cooperação e à solidariedade.

De tudo isso, entenda-se o princípio vital: todos compartilhamos esta Terra, e é desta consciência única que há de surgir uma nova ética, na qual a acumulação de riqueza material perderá a sua fatigante importância, reduzindo-se a atual enorme distância entre ricos e pobres, para, portanto, eliminarem-se as tensões sociais. Só assim, Sr. Presidente, abriremos o caminho para a paz entre os homens, em plena comunhão com a natureza.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2006 - Página 19158