Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Observações sobre a postura equilibrada adotada pelo Senador Romeu Tuma, corregedor da Casa, diante das acusações feitas contra parlamentares do Senado Federal. Tristeza e dor ante o desmoronamento do Líbano, devastado pela barbárie dos israelenses.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Observações sobre a postura equilibrada adotada pelo Senador Romeu Tuma, corregedor da Casa, diante das acusações feitas contra parlamentares do Senado Federal. Tristeza e dor ante o desmoronamento do Líbano, devastado pela barbárie dos israelenses.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Ney Suassuna, Romeu Tuma, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2006 - Página 25708
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, DEFESA, SENADOR, ACUSAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA, ELOGIO, ATUAÇÃO, ROMEU TUMA, CORREGEDOR.
  • REPUDIO, VIOLENCIA, VITIMA, POPULAÇÃO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO, ISRAEL, APREENSÃO, AUSENCIA, SOLUÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAZ.
  • COMENTARIO, SUPERIORIDADE, NUMERO, BRASILEIROS, DESCENDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO, REPUDIO, DESTRUIÇÃO, GUERRA.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a sessão de hoje, aqui no Senado da República, eu diria que pode ser considerada um tanto quanto cáustica, mas pudemos presenciar com que firmeza os nossos companheiros que estão sendo acusados, citados ou investigados pela imprensa se pronunciaram, procurando dar as suas devidas explicações, bem como, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma coisa que não escapou à minha observação, qual seja, a firmeza e o senso equilibrado do Corregedor desta Casa, Senador Romeu Tuma.

Acho que V. Exª é Corregedor desta Casa desde que assumimos, juntamente, o mandato.

Durante algum tempo, fui Presidente do Conselho de Ética e pude testemunhar que V. Exª sempre procedeu com todo o equilíbrio e trabalhou de forma silenciosa, sem emitir nenhum juízo de valor até que os fatos fossem devidamente esclarecidos.

Mas a minha fala hoje também é cáustica e parte de uma observação de que quanto mais a civilização avança mais parece que se aproxima da barbárie. É a imagem que tenho ao ver o Líbano, terra dos meus ancestrais, soçobrando, desmoronando, devastado pela barbárie dos ataques israelenses que, antes de ontem, mataram 60 civis, dentre os quais 34 crianças. O total de vítimas já atinge quase duas centenas de pessoas.

Não venho para fazer um julgamento político da guerra, nem atacar ou defender as causas em jogo de um lado e de outro. Venho, com minhas breves palavras, entoar um canto de tristeza e de dor pelo que os nossos sentimentos captam da tragédia que se abate sobre o Líbano e, por que não dizer, também sobre Israel. Um canto de dor e de tristeza por perceber que a Organização das Nações Unidas e as superpotências não conseguem sustar a escalada da guerra nem mesmo fazer cumprir os compromissos de paralisação do conflito por horas, conforme se anunciara. 

Sr. Presidente, o próprio prédio da Organização das Nações Unidas foi destruído pela artilharia ou pelo poderio bélico de Israel.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador, V. Exª permite depois um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Já, já, vou conceder o aparte a V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Também peço um aparte.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Como é triste para um descendente de libaneses como eu, como é triste para os brasileiros e para a própria humanidade que quer paz contemplar a terra dos seus familiares, a terra de irmãos, destruída novamente depois de ter sido recuperada. Faz uma década que o Líbano também se encontrava em situação calamitosa. Era um amontoado de pedras sobre pedras. O país saía de uma interminável guerra, renascendo das cinzas, recuperando o seu vigor, reanimando sua auto-estima.

Um primeiro-ministro empreendedor, Rafik Hariri, realizara a monumental obra de recuperação, deixando um legado de grandeza. O Líbano voltava a ser o espaço do convívio harmonioso de diferentes confissões e credos, um lugar onde o bucolismo da paisagem se confundia com a placidez dos pastores e rebanhos no belo vale do Bekar, onde vivem cerca de 70 mil brasileiros.

É preciso ressaltar que o Brasil possui uma descendência de libaneses superior à própria população do Líbano. Cerca de seis milhões de descendentes de libaneses residem no nosso País e cerca de 70 mil brasileiros ainda estão no Líbano hoje. Podemos imaginar o quanto choram os brasileiros que aqui se encontram, o quanto chora o mundo, porque, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é possível presenciar, no século em que vivemos, tamanho horror, tanta barbaridade como estamos presenciando.

Quer dizer, a grande potência subjuga um país pequenininho, um país que nunca se armou para a guerra, um país cuja história demonstra que sempre viveu pela paz, um país que hoje está sendo atacado violentamente.

Concedo um aparte ao Senador Ney Suassuna e depois ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador Ramez Tebet, V. Exª começava a falar, e eu lembrava da nossa viagem ao Líbano. Lembrava quando estávamos olhando as ruas reconstruídas, prédios novos, prédios confortáveis e o orgulho dos libaneses. Mas, dois ou três quarteirões depois, tinham deixado, como se fosse um testemunho, algum prédio extremamente metralhado, extremamente destruído. V. Exª lembra. Havia os prédios novos, mas havia, de quando em vez, um testemunho do que havia sido o horror da guerra. E agora, quando olhamos os jornais, as revistas, a TV, vemos que não são mais só os testemunhos, aqueles que ficaram da guerra anterior. São ruas inteiras, bairros inteiros, áreas inteiras. E não é mais uma guerra, nobre Senador, de soldado contra soldado, é uma guerra em que a população civil é imiscuída, é misturada, com a morte de crianças e mais crianças. Quero me solidarizar com V. Exª, como descendente de libanês. Hoje, há quase 10 milhões de sírios-libaneses; só de descendentes de libaneses há 6 milhões no Brasil, que ajudaram muito nosso País. É a hora, em solidariedade a eles, de lutarmos para encontramos alguma solução para este conflito que está nos torturando tanto. Parabéns! Minha solidariedade.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Ney Suassuna, agradeço a V. Exª a solidariedade que empresta, não ao orador que fala, mas ao povo que está sofrendo, o povo libanês. V. Exª, com toda certeza, incorpora sua voz às vozes de tantos quantos no mundo não conseguem compreender a atitude, os ataques que são deflagrados contra o Líbano, onde não se está respeitando nem mesmo a palavra empenhada de uma simples trégua. As grandes potências não conseguem uma trégua, por poucos dias que seja, para tentar encontrar uma solução, mesmo que não seja duradoura, mas que permita, pelo menos, que se levem os mantimentos a quem necessita, sem receio algum. E que outros países possam fazer como o Brasil, que está trazendo os nossos concidadãos que lá se encontram, cumprindo o seu dever de defender os brasileiros e aqueles que, de qualquer forma, residem aqui no País. Mas as grandes potências estão torcendo, infelizmente, pela guerra.

Concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Ramez Tebet, V. Exª trata de um assunto sobre o qual até trouxe recortes de jornal. Também gostaria de fazer referência à amargura e à tristeza que toma conta dos descendentes de árabes que lá estão sofrendo. Eu incorporaria também, Senador Ramez Tebet, membros da colônia israelense que convivem pacificamente com os descendentes de árabes. Até união entre famílias há por meio do casamento de seus filhos, que pacificamente vivem no Brasil. Pena que não possamos exportar essa paz e esse amor, o que faz com que o ódio cresça cada vez mais. Se V. Exª vir essas fotos de crianças sendo mortas... Aqui consta que 37 crianças foram mortas e que havia sido suspenso o ataque. Mas não foi correspondida a expectativa daqueles que pretendiam ter, como diz V. Exª, um canal humanitário para que possam chegar remédios, medicamentos e até água. Sentimos de perto, com os noticiários transmitidos pela televisão. Eu duvido, e V. Exª, Senador Ramez Tebet, é altamente sensível a isso, que aqueles que passaram pelo holocausto, remanescentes ou descendentes daqueles que pagaram alto preço pelas loucuras do então ditador Hitler, não estejam chorando pelas mortes de crianças tão terrivelmente massacradas por bombardeios indiscriminados de casas de civis, de gente que não tem como se socorrer. Eu gostaria, se V. Exª me permitir, de abraçar os oficiais da Aeronáutica pela ponte aérea que estão fazendo, utilizando o nosso herói do resgate, o “sucatão”. O jornal O Estado de S. Paulo presta uma homenagem ao “sucatão” pelo trabalho que tem feito. V. Exª falou no vale do Bekar. O Itamaraty está instalando um posto com dois homens para fazer o levantamento e organizar a retirada de brasileiros que lá se encontram.

Eu fui ao Líbano representando o Brasil em uma comissão especial que foi discutir a reconstrução do Líbano, destruído pela guerra que durou vários anos naquele País e vi a destruição, Senador Ney Suassuna. Depois, fui a Beirute, onde tivemos uma reunião com o saudoso e querido Hariri, morto de forma estranha e até hoje inexplicável. O mundo precisa dar um basta a esse tipo de guerra de ódio, indiscriminada, sem respeito à vida humana. Então, a contabilidade que se faz é de quantos morreram de um lado e de outro. Ninguém pensa na solidariedade humana, em realmente fazer algo que dê alegria àquelas famílias. O exército libanês, Senador, tem apenas uma função: trabalho de polícia. Eles não têm armamento ou forma de defesa e de ataque. Nada! É um exército que exerce o papel de polícia. Tive reuniões com nove generais e discutimos sobre segurança. Eles não têm nenhum tipo de armamento para fazer combate na tentativa de manter a soberania do Líbano. Cumprimento V. Exª e digo que as lágrimas de todos aqueles que amam o próximo fogem da nossa colônia israelense, partindo para todo ser humano.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Ramez Tebet, V. Exª me concede um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Em seguida, Senador. Responderei, primeiro, ao Senador Romeu Tuma.

É claro, Senador Romeu Tuma, que o aparte de V. Exª só engrandece o meu pronunciamento, na medida em que todos sabemos que a história do Líbano é uma história de paz, como é a do Brasil. O Líbano não se preparou para a guerra. Ele se preparou para uma convivência pacífica. Tanto é verdade que isso se traduz no próprio sistema político do País. O Líbano é uma república parlamentarista que, em sua Constituição, define que o Presidente seja cristão maronita, o presidente do Parlamento seja muçulmano xiita e o primeiro-ministro, Chefe do Poder Executivo, seja sunita. E assim tem sido, de fato, desde a independência do Líbano, em 1943.

Aqui no Brasil, convivemos harmoniosamente - israelenses e libaneses. E essa convivência deve servir de exemplo para o mundo, deve servir de exemplo para outros povos, deve servir de exemplo para as grandes potências, porque a violência no mundo está sendo praticada, Sr. Presidente, Srs. Senadores, pelas grandes potências, isto é, pelos países que tinham de contribuir para levar a paz ao mundo, para diminuir a fome e a miséria no mundo. São esses países que têm construído, infelizmente, as tragédias que reinam na humanidade.

Senador Tasso Jereissati, ouço V. Exª.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Ramez Tebet, gostaria de juntar-me a V. Exª nesse discurso, que é um verdadeiro lamento ao nosso querido Líbano, pelo massacre que ocorre nas cidades libanesas, cidades históricas importantes para toda a humanidade, cidades que, com certeza, tem a ver com as nossas raízes, as raízes de milhões de brasileiros como V. Exª, Senador Pedro Simon, Senador Romeu Tuma e eu. Essas cidades estão sendo completamente destruídas juntamente com sua população, suas mulheres e suas crianças. É um lamento verdadeiramente oportuno que, há muito tempo, eu tinha vontade de fazer e, hoje, orgulho-me de poder fazê-lo ao lado de V. Exª. Deixo o meu protesto. O mundo não pode assistir a um massacre como o que ocorre no Líbano de braços cruzados. Nós temos o direito de rechaçar e de repudiar o que está-se passando e fazer tudo o que for possível para cessar esse verdadeiro ato de desumanidade contra o nosso Líbano. Parabéns pelo pronunciamento! Penso que nós que temos as nossas raízes naquele país poderíamos tentar fazer alguma coisa mais concreta para que esse grande drama cesse imediatamente.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Tasso Jereissati, vou encerrar, dizendo que o seu aparte enriquece muito, mas muito mesmo, o meu pronunciamento, ainda mais pelo fato de vir de V. Exª.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, infelizmente, o Brasil nada mais pode fazer senão emprestar a sua solidariedade, como está fazendo. O Brasil não tem forças para manter a paz no mundo; o Brasil não tem condições de acabar com a guerra no Oriente Médio; mas, com sua força, tem a responsabilidade, a grandeza de mostrar ao mundo que, apesar de todos os atritos que temos, apesar de todas as tragédias com as quais convivemos, inclusive tragédias morais, o País tem condições, pelo exemplo, de ajudar a promover a paz no mundo, principalmente o fim da atrocidade em andamento no Oriente Médio, agora mais precisamente no Líbano.

Sr. Presidente, não sei se poderia conceder mais apartes ... (Pausa.)

Senador Antero Paes de Barros, faça o favor.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Ramez Tebet, procurarei ser breve. Cumprimento V. Exª por tratar de um tema importantíssimo. É inaceitável essa violência contra o Líbano. Não é possível que o mundo perca a capacidade de indignação, da mesma forma que o mundo sempre repudiou a violência contra qualquer país. Há uma diferença muito grande entre as forças militares de Israel e as forças de defesa do Líbano. Está ocorrendo um massacre da população civil. E o mundo todo tem de exigir da ONU o estabelecimento da paz. O mundo não tem outra saída. Nós precisamos da solidariedade entre os povos. Nós precisamos da paz. Cumprimento V. Exª por trazer este assunto no instante em que temos a convicção de que a diplomacia brasileira, como sempre agindo corretamente, já se solidarizou com a paz no Líbano.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Antero, concluo meu pronunciamento, deixando algumas perguntas para todos nós respondermos. Será que o poder chega a esse ponto?! Será que o poder dos mais fortes chega ao ponto de matar crianças e idosos? Será que tudo isso é por conta do poder? Será que ele sobe tanto à cabeça daqueles que, hoje, governam o mundo, porque têm material bélico à sua disposição e possuem grandes fábricas de armamento? Será que esses recursos em material bélico não deveriam ser aplicados para diminuir a pobreza e a miséria do mundo?

(Interrupção do som.)

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Sr. Presidente, um dia ouvi, nesta Casa, alguém dizer que o poder não sobe à cabeça, o poder revela.

            Acho que o poder está sendo revelado, o poder do mais forte está acabando e destruindo os mais fracos, os miseráveis e os mais necessitados do mundo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2006 - Página 25708