Discurso durante a 129ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Encaminha documentos à CPMI dos Sanguessugas, para comprovação de sua inocência.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Encaminha documentos à CPMI dos Sanguessugas, para comprovação de sua inocência.
Aparteantes
Romeu Tuma, Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2006 - Página 26508
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • REGISTRO, ENCAMINHAMENTO, DOCUMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA, LEITURA, ESCLARECIMENTOS, COMPROVAÇÃO, INOCENCIA, ORADOR.
  • COMENTARIO, OBRIGATORIEDADE, DESTINAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, FAVORECIMENTO, SAUDE, DESCONHECIMENTO, ORADOR, PROPRIETARIO, EMPRESA, VENDA, AMBULANCIA.
  • DENUNCIA, FALSIFICAÇÃO, ASSINATURA, ORADOR, AUTORIA, ASSESSOR PARLAMENTAR, PEDIDO, REMESSA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), VIABILIDADE, PAGAMENTO, AMBULANCIA, MUNICIPIOS, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AUSENCIA, LEITURA, MATERIA, REGISTRO, DEMISSÃO, ASSESSOR, GABINETE.
  • CRITICA, PRAZO, DEFESA, DESCONHECIMENTO, MOTIVO, ACUSAÇÃO, LEITURA, INQUERITO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, DEPOIMENTO, ASSESSOR PARLAMENTAR, SUSPEITO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, COMENTARIO, DIFICULDADE, ORADOR, ACESSO, INFORMAÇÕES.
  • CRITICA, INEXATIDÃO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CONHECIMENTO, ORADOR, ATUAÇÃO, ASSESSOR PARLAMENTAR, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, ACUSAÇÃO, PERTURBAÇÃO, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
  • JUSTIFICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA, DISPONIBILIDADE, ORADOR, INVESTIGAÇÃO, GARANTIA, JUSTIÇA.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já falei por duas vezes sobre o assunto que hoje me traz aqui. Todavia, hoje encaminhei a cada membro da CPMI um documento que lerei para V. Exªs.

No meu primeiro mandato (1995), doei do meu próprio bolso - do meu próprio bolso - 82 ambulâncias para os Municípios mais carentes da Paraíba. (doei novas e/ou reformei antigas). Pegava as antigas, reformava-as e as devolvia.

Nos dois últimos Orçamentos, fomos obrigados a destinar 30% das emendas individuais para a área de saúde, por força da Emenda Constitucional nº 20, de 1998 - que obriga o Ministério da Saúde ter mais recursos.

Consegui 29 ambulâncias em 2 anos. Só 14 foram compradas da Planam. Dessas 14, 11 destinei a cidades cujos Prefeitos são meus adversários políticos. Por quê? Porque acho que o povo não pode ser penalizado por essa razão.

Não conheço ninguém da Planam, nenhum Vedoin, seja pai ou filho.

Nunca falei com nenhum deles por telefone ou pessoalmente, sequer sabia das suas existências.

Não conheço a Srª Maria da Penha Lino; nunca tive contato com ela.

Jamais fiz emendas para o Ippes. Não conheço ninguém desse instituto, aliás, só agora descobri, depois de muita pesquisa, que se trata de uma Ocips, e a assinatura que lá está não é minha, foi falsificada - e enviei o laudo para cada um dos Parlamentares.

O mesmo ocorre com os pedidos de pagamento de emendas para o Mato Grosso - eu queria muito que a Senadora Serys estivesse aqui. Eu não conheço as cidades, nem os Prefeitos, nem ninguém. Igualmente, as assinaturas são falsas.

E não se trata de emendas. Apesar de ser falso, o que há é um pedido para o Ministro, diante das normas regulamentares, ver se pode pagar para Parlamentares, que diz assim:

Com os meus cordiais cumprimentos, venho pelo presente solicitar, dentro das normas regulamentares e atendendo a pedidos de Parlamentares do nosso Partido, a possibilidade de viabilizar pagamento referentes aos Municípios abaixo:

Santa Rita do Trivelato;

Jaciara;

Santo Afonso.

Agradecendo antecipadamente o que puder dispensar o pleito ora encaminhado, renovo ao eminente Ministro os meus protestos de consideração e apreço.

Agora, veja só, Sr. Presidente, não fui eu também que assinei.

Acredito que os Vedoin pudessem ter pensado que eu sabia do que estava acontecendo em função desses ofícios falsos e da possível desenvoltura com que o meu assessor teria usado o meu nome. Nesse caso, teriam sido também ludibriados ou se trata de malandragem mesmo para a “fabricação” de documentos com o fito de dar uma pseudocredibilidade a essa armação criminosa. Não sei.

Caso a CPMI julgue isso conveniente ou necessário, tenho pessoas no meu gabinete que se dispõem a depor e confirmar a veracidade das minhas alegações quanto às falsificações das assinaturas.

É muito importante que analisemos também o lado do assessor, porque há muitas incoerências nos seus depoimentos - são muitas.

Em suma, não conheço os investigados, à exceção dos dois assessores, que mandei demitir imediatamente. Eles não me conhecem; nunca soube da existência deles; nunca pedi ou recebi deles nada, nem de nenhuma pessoa ligada a eles ou que falasse em nome deles.

Não apresentei emendas para Mato Grosso, tampouco para o Ministério das Comunicações. Tive alguns ofícios falsificados (há testemunhas e um laudo pericial para comprová-lo).

Não recebi valores em espécie, bens ou depósitos em minhas contas correntes ou de meus familiares. Não faço parte de quadrilhas. Honro o meu mandato.

Sinto-me, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, injustiçado e, aparentemente, envolvido numa situação kafkiana, só que ainda é mais dramática e dolorosa porque escapa da literatura e acontece na minha vida real.

Então, Sr. Presidente, mandei isso para cada membro da CPMI. Mas também mandei uma segunda carta, dizendo que recebi uma carta da Srª Angélica Soares, funcionária do meu gabinete, em que cita fatos importantes e estarrecedores.

Ela diz que foi trabalhar lá por indicação do meu assessor. E diz ainda que ela bateu o ofício e alguns documentos desses que foram falsificados. Ela bateu e levou para alguém assinar. E mais: que isso foi feito porque era urgente, e eu sequer estava na cidade. E ela diz, inclusive, que está à disposição para depor e até para, se precisar, a coletiva de imprensa. Diz também que não dorme há dias e que, desde que o Senador Romeu Tuma disse que iria chamar outras pessoas do meu gabinete, ela ficou preocupada e tratou de informar isso.

Aqui está a carta dela, Senador Tuma, dizendo que está à disposição para ser entrevistada e até para coletiva, se precisar, dizendo o que fez.

Sr. Presidente, fico muito impressionado, pois mandei os depoimentos para cada um também. As pessoas devem prestar atenção no que recebem e devem ler. Esse é o grande problema que eu vejo, Senador Romeu Tuma.

No primeiro dia, mandei demitir o Sr. Marcelo. E mais ainda, Sr. Presidente: fiz um ofício a V. Exª, Senador Romeu Tuma, pedindo para depor no dia 5 de junho. Faz dois meses e pouco.

Mas, veja V. Exª, Senador - eu também comuniquei à CPMI que eu havia demitido os dois -, três meses depois, chega um ofício ao meu gabinete convocando o Sr. Marcelo para depor. Então, se chegou ao meu gabinete, três meses depois que eu o tirei de lá, foi porque não leram o documento, o ofício que eu mandei dizendo que eu o havia demitido e processado. Então o grande problema que vejo é este: não estão lendo as matérias. Isso é muito perigoso.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Pois não, Senador Romeu Tuma. Ouço o aparte de V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Nobre Senador, com todo o respeito que tenho por V. Exª e a amizade de todos estes anos em que não houve negativa. A pressão de V. Exª para ser ouvido inverte a ordem de investigação. Se há uma acusação contra V. Exª, não se pode dar crédito imediato àqueles que tentaram, por outros meios, envolvê-lo no procedimento e chamar V. Exª para depor por antecipação. Por isso, V. Exª deve ser o último a ser ouvido, porque lerá tudo o que foi dito e contestará ou não.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Concordo com V. Exª. Não estou discordando de V. Exª, não.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Agora, se eu ouvir V. Exª, como é que vou ouvir as outras pessoas? Vou desacreditar do que V. Exª me falar? Eu não posso.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - O que falo em referência a V. Exª...

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Pedi à Mesa, que já me mandou, os depoimentos que V. Exª tem feito. Mas queria - e é importante - que a CPI me mandasse a conclusão de alguns fatos, porque ela pode quebrar sigilo, pode tudo.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Concordo com V. Exª também. Não estou discordando, não. Apenas estou afirmando e peço que V. Exª confirme ou não que, no dia 5, apresentei um ofício.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - É verdade; estão lá os documentos protocolados e já estão anexados à pasta...

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Eu não estou fazendo críticas a V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - ...porque eu não abri nenhum procedimento investigatório.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Eu não estou fazendo nenhuma crítica a V. Exª. Estou dizendo que, no âmbito da CPMI, se tivessem lido o documento que enviei dizendo que eu o tinha demitido, não teriam mandado, três meses depois, convocar o cidadão no meu gabinete.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Provavelmente era o único endereço que possuía a CPI que faria chegar às mãos...

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Senador, uma CPMI tem inúmeros assessores. Uma CPMI, com certeza, encontraria esse cidadão facilmente. Não precisava ter feito isso. A minha preocupação é exatamente com o fato de não se ler os documentos.

Quanto a V. Exª, entendo, e a ordem está correta. Apenas estou querendo informar que a minha ansiedade em informar foi tão grande que fiz isso.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Concordo com a aflição de V. Exª, como a do Senador Magno Malta e a de outros que estão aqui. Eu concordo. Há a própria preocupação do Presidente Renan em não trazer o procedimento investigatório da CPI para dentro do plenário do Senado. Essa é a discussão. É claro que se terá que ler toda a documentação que V. Exª mandou. Terá que se ouvir a secretária que teria falsificado ou não a sua assinatura. Isso tudo tem que ser praticamente destroçado.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Senador, desarme-me porque não estou fazendo carga nenhuma contra V. Exª. Estou apenas dizendo a verdade.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Eu também não estou me defendendo de nada, não. Estou só explicando.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - V. Exª está falando sobre o roteiro, com o que já concordei. O roteiro de V. Exª está certo. Estou preocupado em apresentar mais uns dados para que V. Exª entenda essa minha posição. Ouça só.

Pelejei para conseguir, Senador - e V. Exª também; eu sei disso -, vários documentos que não me foram confiados.

Recebi um ofício dizendo o seguinte: o senhor tem 5 dias para se defender do processo tal que está sob segredo de Justiça.

Como é que eu iria me defender sem saber de que, se está em segredo de Justiça? Aí eu digo: como é que eu consigo isso? “Não pode; está em segredo de Justiça”. Então, como é que eu vou esclarecer alguma coisa sobre a qual não sei, não tenho conhecimento?

Esse foi o primeiro ofício; aliás, o segundo, porque o primeiro foi esse caso de terem procurado o Marcelo no meu gabinete.

A terceira coisa que me preocupou foi que eu não consegui depoimento de ninguém; tive que sair catando, pedindo por favor, pois precisava saber o que estava sendo dito. Não tinha acesso. Para se ter uma idéia, V. Exª foi extremamente leal na hora em que disse para mim que eu poderia pegar cópia do depoimento prestado. Mas o depoimento dado lá na CPMI eu só consegui hoje. Sai amanhã o relatório, e eu só o consegui hoje, Sr. Presidente. Está aqui. Consegui hoje! E fiquei pasmo quando vi as perguntas, que poderiam ter me ajudado na formulação da documentação que mandei fazer para cada um do Parlamentares.

Olhe só, Sr. Presidente, que coisa incrível. O Deputado Carlos Aleluia pergunta para o cidadão:

- O senhor declarou, no Imposto de Renda de 2004, a casa que o senhor possui e que consta que o senhor possui em Brasília, no Condomínio Ville de Montagne, Quadra 11, que vale R$ 500 mil?

- Essa avaliação eu desconheço. A casa é num condomínio irregular e, quando é irregular, não tem escritura. Eu não declarei.

- O senhor cometeu um crime - mais um, porque não há necessidade de escritura para declarar o que o senhor comprou, mas o senhor recebeu o dinheiro e o senhor tem que declarar.

- Essa casa inclusive já foi vendida.

- O senhor declarou a venda?

- Como eu não tinha escritura, não declarei a casa.

- O dinheiro foi depositado na conta?

- O dinheiro serviu para me ajudar a fazer reforma numa outra casa.

- Ah, o senhor tem outra casa?

- Tenho.

- Por quanto a casa foi vendida?

- Não, a casa não vale R$ 500 mil.

- E por quanto foi vendida?

- Não me recordo.

- Para quem vendeu?

- Não recordo.

- O senhor vendeu e não tem documento de venda?

- Não.

- O senhor não passou recibo?

- Não.

            E isso ocorre com barcos, com carros. É muita incoerência!

            Eu, se tivesse tido acesso a esses documentos, poderia ter melhorado ainda mais a minha defesa. Não estou fazendo carga contra o Sr. Marcelo. Estou dizendo que há muitas incoerências.

Sr. Presidente, vou encerrar porque não quero me prolongar, até porque V. Exª me deu a palavra por menos tempo.

Mas vejam as perguntas com as quais não me conformo:

- O senhor conhecia os Vedoin?

- Não.

- O senhor conhecia D. Maria da Penha?

- Não.

- O senhor mandou Marcelo pedir algo em seu nome?

- Não.

- Marcelo repassou algo para o senhor?

- Não.

            Isso tudo está nos depoimentos dados. Todos. O depoimento de cada um deles. De cada um deles. Ou as interpelações que fiz.

- O senhor sabia o que era o Ippes ou Fundação Hipólito?

- Não.

- O senhor mandou emendas para o Mato Grosso?

- Não.

            Há um pedido de ajuda ao Ministro, mas não fui eu que fiz. Está aqui a assinatura; basta conferir.

- Quantas ambulâncias a Planam vendeu na Paraíba?

- Quatorze.

- Para quantas Prefeituras aliadas?

- Para três Prefeituras aliadas; o resto são adversárias.

- Por que os Vedoin acham que o senhor sabia?

- Porque havia emendas assinadas falsamente - que eles pediram e receberam -, então eles achavam que eu tinha alguma ligação.

- Algum Vedoin tem dúvida a esse respeito de que o senhor sabia?

Tem. Em dois depoimentos, eles dizem que não tinham certeza, mas isso não saiu em nenhum lugar na imprensa. Só saiu dizendo que eu era culpado; nunca saiu dizendo que eles tinham dúvida. Está na página quatro do depoimento do Sr. Vedoin, no penúltimo parágrafo. E o que é mais incrível ainda: um jornal colocou que eu tinha genro recebendo propina. Eu só tenho filhos; não tenho nenhuma filha. E todos são solteiros. É um negócio incrível isso!

- Quanto os Vedoin disseram que pagaram?

- R$ 200 mil.

Isso em dois anos.

- O senhor alguma vez esteve com eles ou com a senhora Maria da Penha?

- Não, eu nunca estive.

- Por que o Marcelo disse que o Senador tinha conhecimento das emendas?

Das emendas feitas normalmente, sem assinatura falsa, eu tenho conhecimento de todas. Das outras, claro que não; não fui eu que as assinei. E as outras são quais? Uma e um pedido de pagamento para membros do Partido, que eu também não assinei.

São essas coisas que estão há três meses, Sr. Presidente, rolando, rolando, rolando, e estamos em período eleitoral na Paraíba. Não temos culpa absolutamente de nada, mas ficamos nessa trituração.

Não temos culpa absolutamente de nada, mas ficamos nessa trituração. Não sei qual é o objetivo, Senadora Serys.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Linchamento.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Mas linchamento, por quê? Por que sou o Líder do PMDB? Sou o Líder da Maioria? Qual a razão? Não consigo entender. Entreguei a cada membro da CPMI o laudo pericial mostrando que a assinatura é falsa e todos esses documentos de que acabei de falar. O meu medo é de que não se tenha lido e que se venha com uma solução que não seja justa. Não quero favor de ninguém. Falei com cinco pessoas dessa CPMI. Ao Deputado Fernando Gabeira, eu disse que não queria pedir nada, apenas que se investigasse e se fizesse justiça. Ao Deputado Raul Jungmann e ao Deputado Antonio Carlos Biscaia, eu disse a mesma coisa. Com o Senador Amir Lando, encontrei-me uma única vez depois que S. Exª se tornou Relator, há três semanas, e disse-lhe que não queria pedir favor nenhum, só que se investigasse e se fizesse justiça. E todo o dia leio no jornal: “Senador Ney está fazendo a maior pressão”. Não estou fazendo pressão nenhuma sobre ninguém, tudo o que fiz foi mandar essa documentação que acabei de ler aqui.

O SR. PRESIDENTE (Marcos Guerra. PSDB - ES) - Senador, V. Exª tem o tempo necessário para a sua explanação.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Agradeço muito a V. Exª, mas, praticamente, já encerrei, ao dizer que tudo o que fiz foi exatamente isto: mandar para cada membro da CPMI os documentos.

Mas, já que V. Exª me concedeu mais tempo, deixe-me ler o que fiz para facilitar:

Depoimento prestado pelo Sr. Luiz Vedoin, que nunca esteve comigo: “Nunca estive pessoalmente com o parlamentar. (...) Que todos os assuntos eram tratados diretamente com o assessor, que o interrogado iria pagar ao assessor 10% sobre o valor de cada licitação, mas que ele não tinha certeza se o Senador ia receber essa comissão.”

Outra coisa incrível! Ele disse: “O Ippes quem inventou fui eu, e quem redigiu a emenda foi o assessor.” A mesma coisa que a moça já disse: “Que o interrogado nunca se reuniu com o Senador.”

Depoimento da D. Maria da Penha: “Nunca estive com o Senador, não conheço o Senador, nunca falei com o Senador.”

Interpelação judicial que eu fiz ao Sr. Marcelo: “Alguma vez o interpelado recebeu ordem do interpelante para solicitar, ou pedir, o que é que fosse para uma empresa? Não - resposta dele -, jamais recebeu ordem ilegal do interpelante. E conhecendo a formação moral deste, ele não seria capaz de fazê-lo.

Se alguma vez o interpelante recebeu ou pediu ao interpelado que recebesse alguém da família Vedoin ou a Srª Maria da Penha Lino. “Não, o Senador nunca fez”.

Se o interpelado pediu alguma vantagem ou ouviu o interpelante pedir para que algum prefeito comprasse na firma A ou B? “Não, nunca vi”.

Se o interpelado alguma vez repassou valor referente a esse chamado esquema para o interpelante. “Não. Embora já tenha respondido na pergunta anterior, reitero que o interpelado jamais recebeu qualquer valor de quem quer que seja para repasse ao interpelante ou familiar deste.”

O Sr. Marcelo disse que eu nunca tive nenhuma atitude ilegal e nunca recebi coisa alguma.

Palavras do Sr. Marcelo no depoimento perante o Senador Tuma:

O Senador Tuma pergunta-lhe: “Alguma vez o Senador pediu que o senhor solicitasse algum tipo de benefício?”

Ele disse: “Que eu saiba, não.” 

- “O Senador tinha conhecimento desse esquema? Ele alguma vez se encontrou com alguém da família Vedoin?”

- “Não.”

- “Ele queria que a Planan participasse de alguma licitação, o senhor sabe?”

- “Não. Que eu saiba, nem dessa empresa nem de outras. Nunca vi o Senador pedir para convencer ninguém.”

Pergunta o Senador Romeu Tuma: “Parece que foi declarado pelo Vedoin que ele apresentou, para três cidades do Mato Grosso, uma emenda. O senhor elaborou as emendas?”

- “Não, não fiz. Não tem emenda. Tem um pedido para um pagamento, mas não fui eu que assinei.

- “O Sr. Darci disse que ele mesmo sugeriu a solução do Ippes. É algum instituto ou algo assim?”

- “ Desconheço.”

- “Ele disse que o senhor redigiu o ofício pessoalmente. O senhor confirma?”

- “ Não.”

- “ O Senador sabia da existência do Ippes?”

- “ Não. Inclusive está no meu interrogatório no depoimento à Polícia Federal” - quando ele estava preso, incomunicável ainda.

- “O senhor sabe afirmar se o Senador mantinha algum relacionamento com esse instituto?”

- “Não. Nós sempre fizemos emenda para município. Nós nunca fizemos emenda para qualquer Oscip.”

- “O senhor conhecia o Vedoin de onde?”

- “ Ah, eu conheci lá na Comissão Mista de Orçamento.”

- “No gabinete do Senador Ney Suassuna ele nunca foi?”, perguntou o Senador Romeu Tuma.

Ele disse: “Nunca.”

O Corregedor pergunta: “Nem ele nem o Luiz?”

- “Não.”

- “Ninguém em nome dele?”

- “Não.”

Esse foi o questionamento feito pelo Senador Romeu Tuma. Então, não sei por que saiu de modo diferenciado na imprensa. Fico impressionado, Sr. Presidente, porque há coisas tão importantes e tão conflitantes. Aqui, nos depoimentos, há um depoimento de que o cidadão vendeu um carro, mas não entregou; vendeu uma lancha, mas não entregou; vendeu uma casa, mas não sabe a quem nem o preço. No final, vem a imprensa e diz assim: “Mas o Senador sabia de tudo”.

Por que em uma hora ele é tão firme e se acredita na palavra dele e na outra hora não? São coisas que ...

Amanhã, sai o relatório da CPMI. Espero que faça justiça. Provavelmente, quando chegar aqui, vamos analisá-lo.

É uma coisa draconiana: a palavra do marginal que fez todo esse esquema vale mais do que a de qualquer parlamentar. Se um marginal disser alguma coisa contra um cidadão comum neste País, talvez se rivalizem. Mas se ele disser algo contra um parlamentar, vale a palavra do marginal, mesmo que ela não seja comprovável. Isso não está certo.

Estou aqui há 14 anos, tenho agido com a maior correção, tenho buscado a maior lealdade com os companheiros e vejo, nesta hora, todo esse clima. É um clima que não estou entendendo, porque sequer fui recebido - recebido! - pelo Relator para entregar esses documentos. Mandei por portador, porque os telefonemas que dei para dizer que ia entregar os documentos não tiveram resposta. Mas quando pego o jornal, está lá: “Está fazendo pressão sobre o Relator”.

Não estou. Não fiz e não farei.

Concedo um aparte ao Senador Valdir Raupp.

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Nobre Senador Ney Suassuna, sou membro da CPMI; logo, não posso adiantar aqui meu voto. Mas, se V. Exª pudesse fazer essa defesa, que fez agora da tribuna, lá na Comissão, tenho certeza de que seria muito difícil votar contra V. Exª.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - No primeiro dia da CPMI, eu fui e disse: estou à disposição. Depois disso, a CPMI só se reuniu um dia; só houve votação um dia. Nunca mais houve reunião. Quando ela se reuniu novamente, na semana passada, lá estive e disse que comparecia para dar informações. O Deputado José Carlos Aleluia, muito gentilmente, disse: “Senador, não posso ouvi-lo, porque só tenho autoridade para ouvir assessores. Seu assessor vai depor hoje. Se o senhor quiser assistir, não há problema”.

Está aqui. E disse mais: “Podemos fazer duas reuniões: uma com o senhor presente e outra sem o senhor presente”, quando um outro levantou e disse: “Não, não acho que esteja certo”.

Se V. Exªs me permitirem, vou ler um pedacinho para que vejam como distorcem as coisas.

- “O Sr. Luiz Antonio era o chefe de uma poderosa empresa.”

Ele disse:

- “Eu não sei. Não estou sabendo disso.”

- “Qual a sua relação com Roberto Arruda de Miranda?”

- “Ele foi colega de gabinete. Trabalhava comigo no gabinete.”

- “O senhor conheceu ele aqui?”

- “Não. Conheci ele no Ministério da Integração Nacional e, por coincidência, viemos trabalhar juntos aqui no gabinete.”

- “O senhor Roberto Arruda de Miranda também recebeu dinheiro?”

- “Não sei. Não sei se ele recebeu dinheiro” - ora, ele pediu a conta do outro emprestada para poder depositar o dinheiro.

- “O senhor ainda é assessor do Senado?”

- “Não. Fui demitido no mesmo dia em que fui preso pela Polícia Federal.”

- “O senhor sabe por que foi exonerado?”

- “Não sei, não, porque não perguntei. Não fui atrás para saber. Simplesmente fui demitido.”

- “O senhor não tem nenhuma informação por que foi demitido?”

- “Fui demitido através da imprensa. Eu estava preso.”

- “O senhor acha que foi preso por quê?”

(Silêncio)

- “O senhor não me respondeu. Eu perguntei se o senhor sabia por que é que o senhor foi preso.”

- “Eu estava aguardando o senhor. As razões devem estar no meu inquérito policial.”

- “O senhor não tomou conhecimento do inquérito policial?”

“Anteriormente, não.”

- “O senhor não sabia de nada?”

- “Não. Os motivos estão arrolados na Justiça. Os meus advogados é que estão tomando conta.”

- “O senhor poderia consultar o seu advogado para dizer por que é que foi?”

- “Aí o advogado disse: “Olha, foi instaurado o procedimento... (e tal).”

- “Com a palavra o Deputado.”

Um orador não identificado.

Aí eu entro:

- “Permite, Sr. Presidente?

- “Pois não, Senador Suassuna.”

            Aí digo eu. Vejam os senhores, veja, Senador Raupp, o que eu disse:

“V. Exª está coberto de razão.”

Não. Perdão. Aí eu estava presente nisso. Aí chegou o Deputado e disse o seguinte:

- “Eu não queria de maneira nenhuma atrapalhar, mas eu acho que o Senador Suassuna não devia estar aqui, porque os outros Deputados também gostariam de estar na hora em que seus assessores estivessem sendo interpelados. Assim eu acho que isso é uma coisa que não devia acontecer. Isto não é uma acareação. Eu sei que o Senador não veio aqui para fazer nenhum tipo de pressão nem nada, ele está no legítimo de acompanhar.”

Aí eu disse a ele: “Permite, Sr. Presidente?”

Aleluia disse: “Pois não.”

Aí eu disse:

- “V. Exª está coberto de razão, mas eu não vim sem pedir o consentimento do Presidente. Hoje de manhã, quando vim aqui, eu disse, no início desta tarde, que era a segunda vez que eu vinha à Comissão para me oferecer para ser entrevistado. No primeiro dia de Comissão, eu vim aqui e disse exatamente isto: eu estou à disposição para dar todas as informações. E vejo, com muita surpresa, que cada dia vaza um documento. Eu, para conseguir os documentos que tenho hoje, tive dificuldades enormes, mas alguns eu consegui depois de ter recebido a negativa daqui da Comissão. Teve um que não consegui, consegui no blog do Noblat; não, não, num blog, consegui num blog; eu não tinha, nem a Comissão dava, mas estava no blog.

E veja só, a cada dia sai uma versão diferenciada: diferenciada acusando o Marcelo, acusando a mim, acusando assim, acusando assado, o fulano disse... E sempre na imprensa.

            E o mais interessante é que os membros da Comissão, Sr. Presidente, a cada momento, vão à imprensa para brilhar um pouco mais, e sempre mudando as versões. É um mexido, é um moído que não acaba mais.

Eu vim e disse: “Mais uma vez estou aqui à disposição, podem me perguntar.” E pedi para ser ouvido”.

O Presidente, muito gentilmente, disse: “Não tenho autoridade para ouvir o senhor, porque hoje é dia dos assessores. Mas quem sabe na terça-feira! Vou levar o seu pedido”.

- “Estou fazendo esse pedido por escrito, para ser ouvido na terça-feira”.

- “Dou o parecer favorável”, disse o Presidente.

O Senador Ney Suassuna disse:

- “Muito bem! Então, eu acho que até que a colocação que está me fazendo não cria problema nenhum, apenas acabei de ouvir esse pedacinho do depoimento do Sr. Marcelo, e a imprensa vai colocar tudo que eu duvido que ele tenha dito. Mas estou consigo, eu me retiro, não me cria problema absolutamente nenhum”.

“Tem o depoimento dele na Justiça, tem o depoimento na Polícia Federal, e eu queria que você visse apenas o que é, porque eu também tenho uma interpelação judicial que fiz a ele, porque, além disso, ainda processei e pedi informações”.

Muito bem, aí eu disse: “Mas o senhor está certo”.

O Aleluia disse o seguinte: “Não, o senhor fica, nós fazemos duas. Fazemos uma com o senhor e outra sem o senhor”.

O Aleluia era o Presidente.

Eu disse: “Não! Não podemos criar constrangimento, ele tem razão. Não estou aqui para criar constrangimento. O que eu quero é a verdade e só”.

E me retirei. Sabe como saiu na imprensa?

            “O Senador Ney foi lá fazer constrangimento e saiu zangado!”

Esse é o diálogo. Essa é a distorção.

São essas coisas que eu não concebo. Eu quero só uma coisa: a justiça e a verdade.

O que eu pedi aos membros dessa CPMI foi uma coisa só, o tempo todo:

- “Investiguem. Investiguem que vocês vão encontrar. Tem muita coisa mal explicada, tem muita coisa que não foi sequer lida. Como eu disse, esse depoimento, este último aqui, eu recebi há meia hora. Ele foi feito quando somente dois parlamentares estavam presentes: o Aleluia e o Redecker. Depois disso, ele foi passado para MD - uma nova modo de gravação - e ficou guardado no cofre até ontem. Só ontem mandaram abrir. Como é que os outros membros da Comissão vão tomar conhecimento? Como é que tomaram conhecimento desse depoimento se somente ontem foi aberto o cofre? E a tradução foi feita hoje? Só recebi hoje porque fui procurar. E os membros da Comissão? Como é que vai sair um relatório, se esse depoimento não constou sequer constou do relatório? São coisas como essas que fazem com que eu queira estar presente para poder me defender. Não é pressão, mas acho que tenho o direito de defesa. Lamentavelmente, estou achando que não está sendo como devia, mas não há problema nenhum. Sou uma pessoa que cumpre a lei.”

Agradeço a V. Exª o tempo que me concedeu e vamos aguardar para tomar as providências devidas.

Muito obrigado.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2006 - Página 26508