Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos a respeito de versões conflitantes com relação ao pagamento de dívida do Presidente Lula com o PT pelo Sr. Paulo Okamotto. Mentiras do Presidente Lula sobre a criação da Controladoria Geral da União, os afastamentos dos ex-Ministros José Dirceu e Antonio Palocci e durante o programa eleitoral, exibido ontem. (como Líder)

Autor
Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Questionamentos a respeito de versões conflitantes com relação ao pagamento de dívida do Presidente Lula com o PT pelo Sr. Paulo Okamotto. Mentiras do Presidente Lula sobre a criação da Controladoria Geral da União, os afastamentos dos ex-Ministros José Dirceu e Antonio Palocci e durante o programa eleitoral, exibido ontem. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, César Borges, Heráclito Fortes, José Jorge, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 17/08/2006 - Página 26980
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, DEPOIMENTO, PRESIDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), DESCONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAGAMENTO, DIVIDA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONTRADIÇÃO, DECLARAÇÃO, CHEFE DE ESTADO, AUSENCIA, DEBITOS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, AUTORIA, ORADOR, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), ENDEREÇAMENTO, MINISTERIO PUBLICO, SOLICITAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, CHEFE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), AUSENCIA, VERACIDADE, DEPOIMENTO.
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, SOLICITAÇÃO, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO JUSTIÇA E CIDADANIA, ESCLARECIMENTOS, PRESIDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE).
  • CRITICA, AUSENCIA, VERACIDADE, PROPAGANDA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO (CGU), CONSTRUÇÃO, REFINARIA, USINA HIDROELETRICA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), METRO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DO CEARA (CE), AFASTAMENTO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), CHEFE, CASA CIVIL, ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, CONTRADIÇÃO, DECLARAÇÃO, EX MINISTRO, SOLICITAÇÃO, EXONERAÇÃO, CARGO PUBLICO.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou falar hoje um pouco sobre a mentira.

Nos Estados Unidos da América do Norte, é reconhecido o princípio de que o homem público portador de mandato popular ou candidato pode cometer muitos pecados, pode cometer muitas falhas, mas, com certeza, é considerado imperdoável que o homem público americano minta para seu povo. Vários casos de conseqüências graves foram registrados. O Presidente Nixon caiu não por causa do Watergate em si, mas porque mentiu ao dizer que desconhecia as fitas e seu conteúdo; todo o processo em cima do Presidente Nixon foi em função da mentira que ele cometeu ao afirmar o desconhecimento das fitas.

Agora me fugiu o nome de um candidato à Presidência dos Estados Unidos que ia muito nas pesquisas, mas foi acusado de determinada atitude pouco conveniente na vida pessoal. Essa atitude não foi, por si só, capaz de lhe tirar a popularidade e o direito de pleitear a sua candidatura. No entanto, quando ele negou o fato e logo após apareceu uma foto sua em uma situação, vamos dizer, comprometedora, ele perdeu o direito de disputar a Presidência da República porque mentiu ao eleitor e ao povo americano.

O Presidente Clinton, em escândalo mais recente, ao ser acusado de ter um comportamento inadequado na vida pessoal, ousou contar uma mentira e quase teve de enfrentar um processo de impeachment, mas ele escapou porque, imediatamente, confessou publicamente o seu ato inconveniente. Essa atitude fez com que ele ficasse na Presidência da República e até terminasse o seu mandato como um dos mais populares presidentes americanos da história recente, o que seria absolutamente inviável e impensável se ele tivesse mentido sobre o caso.

Isso é normal, é natural. Esse é um valor fundamental. O Presidente da República, o homem público tem na credibilidade a sua ferramenta principal de legitimidade. Se ele não tem credibilidade, se ele é um falso, se é um mentiroso contumaz, se costuma enganar o eleitor e a nação a que serve, perde a sua ferramenta fundamental de legitimidade.

O que tem acontecido no Brasil ultimamente é um festival de mentiras absolutamente inacreditáveis e de uma desfaçatez absoluta. Não podemos viver em um país que vive sob a égide da mentira.

Portanto, queria começar falando sobre isso e explicar por que razão eu, em nome do PSDB, como Presidente do PSDB nacional, o Presidente do Partido da Frente Liberal, Senador Jorge Bornhausen, e o Presidente do Partido Popular Socialista, Deputado Roberto Freire, vamos levar ao Ministério Público uma representação de perjúrio contra o Sr. Paulo Okamotto. Ao prestar depoimento na CPI dos Bingos, nesta Casa, e ao responder a uma interpelação do Senador Antonio Carlos Magalhães, o Sr. Paulo Okamotto negou peremptoriamente que o Presidente da República soubesse que ele pagou um débito de sua Excelência para com o PT.

Vou ler aqui a íntegra da resposta do Sr. Paulo Okamotto a uma interpelação do Senador Antonio Carlos Magalhães: “O Sr. Jacques Wagner negou porque eu, durante a tratativa que fiz junto com o Partido, com o Delúbio Soares, jamais comentei com o Presidente que esses débitos se encontravam em aberto”.

Na CPI, sob juramento perante esta Casa, o Sr. Okamotto declarou isso, o que é gravíssimo. Infelizmente, estamos vivendo num mundo em que não se valorizando devidamente o escândalo. Isso é gravíssimo.

Em seguida - vou repetir aqui -, nesse mesmo dia ou na mesma época, o Sr. Okamotto, que é dado como homem de confiança do Presidente da República, deu uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

A Folha de S.Paulo perguntou: “Na época o senhor contou ao Presidente, seu amigo?”. Okamotto: “Não contei. Não comentei nada com ele. Primeiro, você imagina, em 2003, o seguinte cenário: você assumindo o Governo. Eu via pouco o Presidente, não ia ficar enchendo o saco dele com uma coisa como essa”.

Na semana passada, o Sr. Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao Jornal Nacional, declarou ao repórter da Globo que, na verdade, ele não pagou ao PT porque não devia nada ao PT. Ele não devia nada, absolutamente, ao PT e, portanto, por isso, não pagaria. Aqui vou também repetir textualmente a frase do Presidente da República do Brasil, em que desmente depoimento do Sr. Okamotto prestado sob juramento à CPI sobre seu débito.

Disse Lula: “Falei pro Okamotto: cê quer pagar, que pague!. Eu não tenho nada com isso e não vou pagar”.

Essas palavras foram copiadas integralmente da entrevista dada ao Jornal Nacional, Senador César Borges.

Ora, uma das duas aconteceu: ou o Sr. Okamotto cometeu perjúrio nesta Casa, ou o Presidente da República mentiu. Acho que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania deveria convocar o Sr. Okamotto imediatamente para, na próxima reunião, para explicar isso.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Ou os dois.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Ou os dois, porque, se o Presidente da República não mentiu, ele viu o seu amigo Okamotto cometendo perjúrio, nesta Casa, em nome dele, e isso é absolutamente inaceitável. Repito: isso, nos Estados Unidos da América do Norte, seria imediatamente considerado razão para impeachment.

Quero isso muito bem explicado. Vou pedir ao Senador Antonio Carlos Magalhães que convoque o Sr. Okamotto para a próxima reunião.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me concede um aparte? ...

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Pois não, mas primeiro vou ouvir o Senador César Borges. Em seguida, concederei os outros apartes.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Tasso, V. Exª faz muito bem ao chamar a atenção sobre esse trecho da lamentável entrevista dada pelo Presidente Lula ao Jornal Nacional. Entre tantos outros despautérios, ele trouxe esse fato assombroso, desmentindo a afirmação na CPI do Sr. Okamotto. Podemos constatar que existe um verdadeiro mar de mentiras. Primeiro houve o escândalo envolvendo o Sr. Waldomrio Diniz, depois a CPI dos Correios e a CPI dos Bingos, Desde então temos assistido, nesta Casa e o Brasil tem visto pela televisão, a uma avalanche de mentiras e desmentidos e versões sobre versões. Lamentavelmente isso tem ocorrido.

Veja bem V. Exª: somos levados a concluir que foi montada uma versão para o Sr. Paulo Okamotto. Ele veio aqui e apresentou a sua versão que, claro, é mentirosa, é perjúrio porque foi uma versão montada dentro do gabinete do Palácio do Planalto. Eles efetivamente conversaram, mas, como a situação foi resolvida na CPI dos Bingos, com a ajuda do Judiciário, que impediu a quebra do sigilo bancário do Sr. Okamotto, o Presidente Lula se sentiu tranqüilo para se abrir um pouco mais ou, como é primário, esqueceu a versão montada e, agora, veio dizer o que talvez seja a verdade. Eles conversaram e ele, então, mandou pagar. Ou todas as duas são meio mentirosas. A verdade é esta: V. Exª mostra que o Presidente da República está mentindo, forjando versões. Embora soubesse de tudo - Correios, mensalão, valerioduto, sanguessugas -, se escuda dizendo que não sabia de nada. A população brasileira já não aceita isso. Assim, precisamos levar às barras dos tribunais aqueles que cometem perjúrio - um crime grave -, para serem responsabilizados. Age muito bem V. Exª ao trazer este assunto. Acho que todos nós Senadores temos de procurar responsabilizar o Sr. Okamotto ou o Presidente Lula. Não podemos ficar como aqueles que aceitam essas versões doidivanas do Presidente Lula que aparecem a cada dia. Muito obrigado.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador César Borges por sua contribuição. É isso mesmo que está acontecendo. As mentiras se tornaram tão banais neste Governo que esquecem as versões anteriores e dizem outras com toda a tranqüilidade. Só que, neste caso, estamos falando de perjúrio grave cometido diante desta Casa.

Com a palavra, o Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Tasso, quero também me solidarizar com V. Exª. Foram duas versões completamente diferentes. Provavelmente, as duas devem estar erradas. O Sr. Paulo Okamotto pagou realmente essa dívida do PT. Ninguém sabe de onde veio esse dinheiro. Hoje, o Sr. Paulo Okamotto tem um belo salário, mas, na época, ele não tinha esse salário todo para pagar essa dívida. Pagou também a dívida da filha do Presidente Lula. É uma espécie de pagador geral do Brasil. Então, V. Exª está dizendo uma coisa muito grave: que este Governo se contradiz. É aquela história: mentira tem perna curta. Então, quando você não diz a verdade, daqui a pouco você esquece e gera uma nova versão. Foi o que aconteceu. Eles agora não sabem mais o que disseram, não conseguem fechar essa questão do pagamento desse recurso. Acho que temos que recorrer aos tribunais porque, no programa eleitoral de ontem, além da mentira específica, nós tivemos uma série de obras virtuais, como V. Exª citou. No meu Estado de Pernambuco, particularmente, apareceu essa tal refinaria na qual não foi colocado nenhum tijolo ainda. Então, é um programa virtual, porque apareceu até fotografia da refinaria. É uma coisa grave botar uma fotografia de uma obra que não existe. O Presidente Lula não tem obras nesses locais. Essas hidroelétricas que ele citou também são obras de governos anteriores às ampliações. Essas obras de hidroelétricas, como, aliás, o Senador Sibá Machado disse muito bem, demoram quatro, cinco anos. Ele vem fazendo, mas ele mesmo não começou nenhuma obra nova no setor elétrico, o que é uma coisa gravíssima, porque o setor elétrico repercute cinco anos depois. Então, se durante três anos não forem feitas obras, daqui a cinco anos essas obras vão fazer falta. Por isso V. Exª tem razão. Temos de estar atentos na campanha eleitoral, para que se comece a dizer a verdade e o povo possa decidir com isenção, porque é muito difícil enganar todo mundo ao mesmo tempo, como estão tentando fazer. Muito obrigado.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador José Jorge.

Ouço o Senador Heráclito. Em seguida, passo a palavra a V. Exª, Senador Sibá Machado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Tasso, V. Exª traz a esta tribuna um tema que, além de oportuno, não pode se encerrar nas suas palavras. Ele tem de ter continuidade pela gravidade do que está sendo dito. E nós começamos a ver, Senador Sibá Machado, no primeiro dia de programa do Presidente Lula, que a coragem do Chefe da Nação e de sua equipe em enganar o brasileiro está passando das medidas. Um programa plasticamente bem feito, mostrando que atrás das cenas está o Duda Mendonça, aquele mesmo criador do fura-fila do Celso Pitta, que impressionou e encantou os paulistas, continua na prancheta e agora volta com outra roupagem, porque vários fura-filas apareceram no programa. Mas, Senador Tasso, o Brasil hoje sabe por que o Presidente Lula foge de entrevistas coletivas com a imprensa. Não resiste. O Presidente Lula não resiste abordar temas em que tenha que falar a verdade. Vamos nos lembrar daquela entrevista que ele deu em Paris, desrespeitando a imprensa brasileira e escolhendo uma correspondente estrangeira, quando achou que era normal, que era comum a existência do caixa 2. Grave para um Presidente da República. Mas o mais grave de tudo isso - e sugiro que também seja encaminhado ao Ministério Público - foi o depoimento, ontem, no programa eleitoral, do ex-Deputado Valdemar Costa Neto. O Deputado Valdemar Costa Neto, de São Paulo, renunciou a seu mandato para não ser cassado. Pois bem, ontem, ele fez um mea-culpa e disse que errou, porque recebeu dinheiro do caixa 2 para pagar contas da campanha do Presidente da República, em 2002, colocando por terra tudo o que foi dito na CPI. De forma que acho que devemos encaminhar também ao Ministério Público, que tem uma lista com 40 responsáveis, o nome e esse fato, para que providências, Senador Tasso, sejam tomadas. O que disse o Sr. Valdemar Costa Neto é um desrespeito ao instituto das CPIs e um desrespeito a esta Casa. A verdade é preciso que prevaleça, a de agora ou a dita na CPI. Mas acho que esse é um fato gravíssimo, Senador Tasso, e que deve ser apurado. Graças a Deus, chegamos a um momento em que, apesar das limitações, o PT, aos pouquinhos, começa a mostrar a sua verdade. Muito obrigado.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Heráclito Fortes. Passo a palavra ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Tasso Jereissati, é um direito que assiste a V. Exª, ao PSDB e aos demais partidos que subscrevem um pedido de verificação judicial sobre o fato. Isso é indiscutível, um direito constitucional. Sem problemas. Insistimos em fazer aqui o debate político em defesa do Presidente Lula, porque confiamos nele absoluta e incondicionalmente, na sua imagem, no seu Governo, na sua história e em tudo mais. Ontem, participei de um debate parecido com este, tratando do mesmo assunto, e vou reiterar aqui o que disse não só ontem, mas em todas as vezes que vim à tribuna desta Casa para falar desta matéria. Em todos os momentos, o Presidente Lula não reconheceu aquele tipo de despesa porque era uma despesa partidária, no pleno exercício de uma missão partidária. Convocado que foi, aceitou a missão e a cumpriu. Portanto, não pode ser atribuída a ele qualquer tipo de responsabilidade sobre a matéria. Não se pode aqui colocar qualquer dúvida sobre a palavra do Presidente da República, porque ele, jamais, disse qualquer versão que não seja a única e verdadeira. Ele não conhece aquele tipo de conta. É um problema - e já foi dito várias vezes - de contabilidade do PT, cujo tesoureiro poderia ter feito a retificação de conta, que não fez. É um erro que está vivo até hoje. Conversei com o tesoureiro da época, Deputado José Pimentel. Falamos sobre o assunto, indaguei por que não fez a retificação de contabilidade, por que fez uma apresentação de contabilidade ao TSE, dizendo que aquilo era uma dívida do caixa do partido, quando não era. Então não há, no meu entendimento, nada que impeça novamente um esclarecimento sobre o assunto, se tantas vezes necessário for falar sobre ele. Mas volto a dizer a V. Exª que é um direito legal que deve ser considerado. Nós respeitamos. Não há problema algum quanto a continuar explicando esse fato.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Tasso...

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Um minuto. Depois passo, com prazer, a palavra a V. Exª.

Senador Sibá, parece-me que há um equívoco de V. Exª, ou não há um entendimento aqui. O Presidente Lula reconheceu que não tinha dívida com o PT, que não reconhecia a sua dívida com o PT. No entanto - e é esta a questão do perjúrio do Sr. Okamotto -, ele disse claramente - e vou repetir aqui as palavras do Presidente Lula na televisão, em cadeia nacional, em que 80 milhões de brasileiros assistiram, está gravado: “Se você quiser pagar, que pague, porque eu não devo nada!”, dirigindo-se ao Sr. Okamotto. Ora, se o Sr. Okamotto disse aqui na CPI dos Bingos, sob juramento, a uma interpelação do Senador Antonio Carlos Magalhães, que nunca comentou esse assunto com o Presidente Lula, que fez o pagamento sem que o Presidente Lula soubesse e à revelia deste, ele, naquele instante, cometeu perjúrio. E acho que foi isso que V. Exª está nos confirmando aqui. Ora, se V. Exª diz que não coloca, em nenhum minuto, a palavra do Presidente em dúvida, V. Exª está dizendo para nós todos aqui que o Sr. Paulo Okamotto cometeu perjúrio nesta Casa. Portanto, eu pediria ao Senador Antonio Carlos Magalhães, Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que acaba de chegar a esta Casa, que fizesse imediatamente uma convocação para que ele viesse a nossa Comissão de Justiça para prestar esclarecimentos. Perjúrio, Presidente Antonio Carlos! V. Exª sabe muito mais do que eu até, é impeachment imediato nos Estados Unidos. É a única coisa que um Presidente, um homem público, não pode fazer. No caso, perjúrio, como V. Exª acaba de confirmar, do Sr. Okamotto, se não coloca em dúvida a palavra do Senhor Presidente.

Senador Antonio Carlos.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª tem absoluta razão. Nos Estados Unidos tem o caso Nixon, que é bem esclarecedor sobre isso. E mais ainda, o próprio Governo deu oficialmente uma nota, há mais tempo, assinada pelo Sr. Jaques Wagner, de que o Presidente da República não tinha débito nenhum com o partido. Okamotto veio aqui e disse que tinha débito e que ele fazia o sacrifício - veja que estranho - de pagar em quatro prestações o débito do Presidente de R$29.600,00. O Presidente da República vem à televisão para milhões de brasileiros num dia até desastroso - por isso mesmo ele falou a verdade; ele estava realmente em um dia infeliz para mentir; então falou a verdade. Disse que não, que nunca tomou dinheiro lá, que não pagava, que se ele quisesse pagar que pagasse. Evidentemente que V. Exª tem toda razão quando pede a convocação do Sr. Okamotto, coisa que vou fazer imediatamente para os dias que nós teremos sessões em setembro. Acho que V. Exª tem razão. Esse assunto é grave demais para passar despercebido. Deveremos logo requisitar a gravação do Presidente da República e a gravação de Okamotto na CPI, e colocarmos para que toda a Comissão ouça e tome as providências indispensáveis. Mais uma vez V. Exª vem, com propriedade, trazer um assunto que não pode ficar sem ser tratado com firmeza, a fim de que o próprio Supremo Tribunal veja que é necessário abrir o sigilo de Paulo Okamotto, porque aí é que V. Exª vai ver quanta coisa vai aparecer.

O SR. TASSO JEREISSATTI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Tasso...

O SR. TASSO JEREISSATTI (PSDB - CE) - Obrigado, Senador Antonio Carlos Magalhães, pela compreensão da profundidade do problema.

E eu passo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu queria lembrar ao Senador Sibá Machado e à Nação o fato como aconteceu, para refrescar a memória de alguns. Esse episódio (a despesa feita) envolvia o Presidente de Honra do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, um acompanhante e o Sr. Aloizio Mercadante, assessor internacional do PT. O Sr. Aloizio Mercadante pagou; o Presidente Lula, não. Quem está certo ou quem está errado? Se não havia o débito, por que Mercadante pagou? Por que o partido recebeu? Senador Antonio Carlos, esta estória está mal contada e mal explicada. Lembra-se, Senador Sibá, de que o Senador Mercadante foi companheiro na mesma viagem e fez o pagamento? V. Exª não vai condenar o seu ex-Líder e candidato ao Governo de São Paulo! Quem está errado nessa estória toda? Louvo a V. Exª a iniciativa de solicitar à Comissão de Constituição e Justiça que apure esses fatos. Muito obrigado.

O SR. TASSO JEREISSATTI (PSDB - CE) - Obrigado, mais uma vez, Senador Heráclito. Mas eu queria, antes de encerrar, listar aqui, em um mesmo pronunciamento, ilustres Senadores - ainda no mesmo pronunciamento -, outras mentiras que foram colocadas. O Presidente da República, Senador Antonio Carlos, fora essa mentira que é extremamente grave - ou a mentira de Okamotto, pois implica perjúrio -, mentiu ao dizer que foi ele quem fez a Controladoria-Geral da União. Mentiu aí! Tranqüilamente, com a maior desfaçatez, para o País inteiro em cadeia nacional. Todos sabem que a Controladoria foi criada no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e que teve como titular a Srª Anadir - até sua amiga e por quem V. Exª tinha muita admiração.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - A CPI, aliás, foi criada por causa de uma interpelação minha.

O SR. TASSO JEREISSATTI (PSDB - CE) - Exatamente. E o Presidente Lula mentiu quando disse que afastou os Ministros José Dirceu e Palocci.

A imprensa brasileira está farta de documentação de entrevistas do Presidente da República. Numa delas, eu me lembro até que ele dizia: “Se o Palocci pedir para sair, eu não deixo”. E, depois, na despedida do Ministro Palocci, ele dizia que o Palocci era mais do que um amigo, um companheiro, que era um irmão e que lamentava muito o pedido de exoneração do Ministro Palocci. O mesmo aconteceu na saída do Ministro José Dirceu, quando ele lamentava... Existe até uma carta muito bonita, emocionada, do Ministro José Dirceu pedindo a exoneração. Mentiu ou não mentiu - aí fiquei em dúvida, Senador César Borges - ao dizer que afastou os envolvidos? Quer dizer que ele agora acusa os dois ministros de estarem envolvidos naqueles escândalos. Aí fiquei em dúvida - e o Senador Sibá Machado até podia esclarecer - se é uma mentira ou não, porque ele disse que o Senador, o Ministro Palocci e o Ministro José Dirceu eram envolvidos nos escândalos. Eu não sei se aí ele mentiu ou se não mentiu. Se não mentiu, é uma acusação muito grave aos seus ex-ministros que ele está fazendo. E, finalmente, mentiu aí nessa questão grave do perjúrio do seu companheiro, amigo, irmão que toma conta das suas contas particulares, o Paulo Okamotto. Essa do perjúrio é gravíssima.

Agora a banalização da mentira, neste País, a partir do Presidente da República, é absolutamente inaceitável, absolutamente inaceitável! Com fatos como este, a credibilidade e até a legitimidade do Presidente da República entram em jogo.

Fiquei abismado com o fato. Pensava que o Presidente Lula estivesse mentindo por estar sem produção, sem assessores e em face de perguntas que não se preparou para responder. Mas, quando eu o vi mentindo ontem, num programa de televisão produzido, editado e gravado, constatei que a mentira passou a ser, na sua cultura, normal. Desfaz versões com a maior calma, pensando ele, talvez em virtude das pesquisas, que pode, tranqüilamente, com a força de sua popularidade, enganar a população brasileira, especialmente a mais pobre, que é a que continua, de alguma maneira, acreditando nele, por falta de conhecimento e de acesso aos estudos. Assim, crê que pode fazê-lo sem nenhuma conotação mais grave.

E nós não podemos deixar que isso aconteça. Temos que reagir nesta Casa, principalmente porque houve perjúrio. Quando um Presidente aparece produzido pelo seu produtor, pelo seu partido e mostra a fotografia de uma refinaria em Pernambuco, de hidroelétricas que inexistem, filme do metrô de Salvador - como eu falava com o ilustre Senador César Borges - e de Fortaleza, com os trens correndo para lá e para cá, concluímos que ultrapassaram todos os limites da desfaçatez de um homem público e um Presidente da República!

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Linhas férreas do tempo de D. Pedro II!

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Do tempo de D. Pedro II. É muito sério! Essa questão do perjúrio devemos tratá-la, porque aconteceu exatamente o suficiente para reagirmos e dizermos: O Senado Federal não pode admitir ser um centro de ilusionismo para a população brasileira, sem nenhum tipo de reação a isso que está ocorrendo.

Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/08/2006 - Página 26980