Discurso durante a 168ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de Nota da Polícia Federal, buscando o esclarecimento sobre dura matéria publicada pela revista Veja desta semana, intitulada "Um enigma chamado Freud".

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. IMPRENSA.:
  • Leitura de Nota da Polícia Federal, buscando o esclarecimento sobre dura matéria publicada pela revista Veja desta semana, intitulada "Um enigma chamado Freud".
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2006 - Página 31173
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. IMPRENSA.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, NOTA OFICIAL, AUTORIA, POLICIA FEDERAL, ESCLARECIMENTOS, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, CRITICA, ATUAÇÃO, SUPERINTENDENCIA REGIONAL, POLICIA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIZAÇÃO, REUNIÃO, PARTICIPAÇÃO, PRESO, ACUSADO, AQUISIÇÃO, IRREGULARIDADE, DOCUMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • CRITICA, SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, ORGÃO PUBLICO.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMBATE, CORRUPÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, REFORÇO, DEMOCRACIA, PAIS, REGISTRO, NECESSIDADE, RETRATAÇÃO, ORGÃO DE PUBLICAÇÃO, POLICIA FEDERAL, OBJETIVO, CONTINUAÇÃO, RESPEITO, IMPRENSA.
  • REGISTRO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, ORIGEM, DINHEIRO, AQUISIÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, NECESSIDADE, IMPARCIALIDADE, IMPRENSA, INVESTIGAÇÃO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO.

            O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, caro Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, trago à tribuna do Senado Federal uma manifestação, que é um dever da Bancada do Partido dos Trabalhadores, buscando o esclarecimento. É sobre uma dura matéria feita pela revista Veja, no último final de semana, dando conta de um tal dossiê envolvendo a candidatura do candidato José Serra, envolvendo supostamente a eleição em São Paulo com repercussões, além de São Paulo, tentando com isso, que possa haver envolvimento da campanha majoritária. A Polícia Federal diz o seguinte em sua nota:

Em referência à matéria publicada pela Revista Veja na edição de 18 de outubro de 2006, intitulada “Um enigma chamado Freud”, a Polícia Federal em SP vem a público dizer serem levianas e fantasiosas as informações que acusam a instituição da prática de graves ilegalidades, autorizando o encontro entre os personagens citados na matéria com o Sr. Gedimar Passos, custodiado, à época dos fatos, na carceragem da Superintendência Regional da PF em SP.

O texto da página 49 da citada revista apresenta relatos inverídicos e imprecisos e se baseia em manifestação anônima, supostamente escrita por “três delegados de polícia federal” conduta que, se verdadeira, se mostra incompatível com o exercício da função policial.

Os presos Gedimar e Valdebran, foram retirados da custódia por volta de 20 horas do dia 18 de setembro com destino à cidade de Cuiabá/MT. Antes, o Sr. Gedimar havia saído da cela unicamente para a realização da acareação, retornando às 17 horas. Tudo registrado em livro a que a citada revista teve amplo acesso.

Além disso, o Agente Federal Herculano não realiza plantão na carceragem da PF em SP, mas sim, chefia o referido núcleo, encerrando seu expediente diariamente às 18 horas. Não era, pois, o plantonista no dia 18.

Ressalte-se que o Sr. Freud Godoy apresentou-se espontaneamente na tarde do dia 18.09 (14 horas e 30 minutos), foi acareado com o Sr. Gedimar Passos por volta de 16 horas e 30 minutos e após deixou as dependências da PF em SP, sob a cobertura da imprensa nacional, não mais retornando ao prédio.

Igualmente mentirosa é a versão que o Superintendente da PF em SP, Delegado Geraldo José de Araújo, teria recebido telefonema do Exmº Sr. Ministro da Justiça, indagando-o sobre eventual “respingo no presidente”. Tal fato nunca ocorreu.

Observe-se que o APF Herculano realmente foi procurado por uma repórter da revista, contudo em todo o diálogo desmentiu categoricamente as afirmações da jornalista. Apresenta-se leviana, pois, a ilação da reportagem que assevera não ter o interlocutor confirmado nem desmentido os fatos.

Apesar de alertada sobre a total improcedência das ilações, inclusive diante de provas documentais, a revista Veja optou por tentar criar fatos para sustentar sua versão fantasiosa.

O Departamento de Polícia Federal não pratica e não admite a prática de ilegalidade, constituindo-se em “Polícia de Estado”, voltada unicamente ao combate à criminalidade e à garantia da ordem pública e da segurança da sociedade brasileira e atua com o firme propósito de esclarecimento de todos os fatos apurados no desdobramento das ações relacionadas à Operação Sanguessuga.

            É responsável pela nota a Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo.

            O que lamento de tudo isso, Sr. Presidente, é que uma instituição com a grandeza e com a contribuição à democracia e ao Estado brasileiro que tem tido a Polícia Federal seja alvo de suspeitas, de fragilidade de sua imagem, uma “Polícia de Estado”, como é dito na nota, que tanto serviço tem prestado à sociedade brasileira. São mais de 280 operações de combate efetivo à corrupção. Isso nos orgulha a todos os brasileiros, esta luta incansável, noite e dia, da Polícia Federal, com prisões todos os dias.

            Hoje, ao ligar o rádio, mais uma vez, ouvi a notícia de uma operação pegando pessoas envolvidas com corrupção neste País. Aí, em uma hora de uma disputa política de tanta intensidade, como nós estamos vivendo, começa a haver um processo de suspeição de uma atitude imparcial e independente da Polícia Federal do Brasil.

            Eu lamento muito. Penso que a revista Veja, que tem uma enorme contribuição à história da democracia brasileira, tem o dever de fazer uma revisão de sua linha editorial quanto à matéria que foi desenvolvida. Hoje mesmo, ouvi, nos corredores do Senado, inúmeras críticas de jornalistas à fragilidade profissional com que essa matéria foi apresentada. A revista tem um papel fundamental no combate à corrupção. Ela tem de continuar respeitada por todos. Mas penso que o excesso, o lado passional do jornalismo fere aquilo que é a essência de uma atividade que tem como responsabilidade o envolvimento com a realidade, com as virtudes e com os defeitos daqueles que representam a sociedade.

            Senador Antonio Carlos Magalhães, ouço V. Exª, com muito prazer. Em seguida, o Senador Roberto Saturnino.

            O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Em primeiro lugar, quero dizer a V. Exª que essa matéria que V. Exª acaba de ler, essa nota, não inocenta o Sr. Freud.

            O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC) - Exatamente. Em nenhum momento ela faz isso. Ela desmente a insinuação de que teria havido a reunião em suas dependências.

            O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Mas, anteriormente, ela procurou inocentar. De maneira que ela foi contraditória, porque aí ela já tem receio de inocentar o Sr. Freud. A Veja é uma revista, como V. Exª salientou, da maior importância na vida jornalística brasileira. Talvez seja a melhor revista da América do Sul. Portanto, temos de dar um crédito à Veja. Vamos esperar o que ela fará, em razão da nota que V. Exª leu: se ela apresentará novas provas ou se ela se renderá aos argumentos da nota da Superintendência da Polícia Federal. Ainda bem que não foi o Delegado Paulo Lacerda, foi um superintendente que tratou da matéria. De modo que respeito a posição de V. Exª, a leitura da matéria, mas vamos respeitar também a posição da Veja, até que os fatos sejam esclarecidos.

            O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC) - Tenho absoluta certeza de que esse tem de ser o caminho de nós, Parlamentares, que temos o dever de fiscalizar e de acompanhar um assunto dessa natureza. Para nós, do Partido dos Trabalhadores, tem a mesma importância que para a Oposição o amplo esclarecimento dessa dúvida que ficou da origem do dossiê e do dinheiro. Que isso seja esclarecido, que culpados sejam punidos. Agora, creio não ser justo que possa haver uma fragilidade da imagem da autoridade moral que tem a Polícia Federal do Brasil perante a Nação e a sociedade. Por isso, a matéria trouxe incômodo a minha pessoa.

            Concedo um aparte ao Senador Roberto Saturnino.

            O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Tião Viana, quero cumprimentar V. Exª pela oportunidade de seu pronunciamento. Era importante esse esclarecimento. A palavra da Polícia Federal sobre esse assunto é uma palavra que merece fé pelo que a instituição representa, pela forma como se tem comportado em um momento difícil, com missões difíceis a desempenhar, como essa da apuração da origem do dossiê e do dinheiro respectivo. Não é fácil rastrear tudo isso sem usar métodos que não podem ser usados. Mas a Polícia Federal tem se comportado com uma sobriedade e com uma consciência dos seus deveres e das suas responsabilidades que merece - aliás, tem merecido - o reconhecimento de todos na Casa pela seriedade da Instituição. Mas é muito oportuno que V. Exª use a tribuna para dar essa resposta e, ao mesmo tempo, dando a resposta, induzir a revista a rever a sua matéria na próxima edição, dando as explicações. Qualquer ser humano está sujeito a erros, e pode, enfim, um jornalista, uma reportagem ter sido induzida ao erro. Mas cabe à revista, no seu papel de órgão de informação, ter a seriedade correspondente para restabelecer a verdade dos fatos. Cumprimento V. Exª. Considero o seu pronunciamento extremamente, profundamente importante neste momento.

            O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC) - Agradeço a V. Exª, que tem contribuído muito com o debate no Senado Federal. Acrescento, ainda, Senador Saturnino, dois artigos que pude ler no fim de semana. Um do Luiz Carlos Azedo, do Correio Braziliense, que expõe a necessidade de o impasse da investigação sobre o dossiê ser colocado no seu devido lugar, com a devida imparcialidade profissional da imprensa brasileira; e outro de Jânio de Freitas, na edição de ontem da Folha de S.Paulo, em que ele alerta que as instituições têm os seus deveres de correção e de uma ação completamente desarmada para que a vida institucional do País e a democracia possam estar presentes em momentos de impasse como este. É uma matéria sobre a crise que explodiu, focada exatamente na campanha de São Paulo, afetando a campanha nacional, e que precisa de um rápido esclarecimento para a tranqüilidade das instituições envolvidas e da disputa política que ora envolve Lula e Alckmin.

            Muito obrigado, Sr. Presidente Mão Santa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2006 - Página 31173