Discurso durante a 181ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de tristeza pela reeleição do presidente Lula e preocupação com os próximos quatro anos. Alerta ao presidente Lula sobre os riscos na composição do próximo governo. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação de tristeza pela reeleição do presidente Lula e preocupação com os próximos quatro anos. Alerta ao presidente Lula sobre os riscos na composição do próximo governo. (como Líder)
Aparteantes
Cristovam Buarque, Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2006 - Página 33946
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, FRUSTRAÇÃO, ORADOR, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, RESPEITO, PREFERENCIA, ELEITOR.
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, PAIS, POSTERIORIDADE, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREVISÃO, RETORNO, SUPERIORIDADE, INFLAÇÃO, REDUÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, REGISTRO, NECESSIDADE, CONCILIAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, OBJETIVO, MELHORIA, ECONOMIA NACIONAL.
  • REGISTRO, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENTENDIMENTO, BANCADA, OPOSIÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, APROVAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, PRORROGAÇÃO, COBRANÇA, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), DESVINCULAÇÃO, RECEITA, UNIÃO FEDERAL, OBJETIVO, MANUTENÇÃO, FLEXIBILIDADE, ORÇAMENTO, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL, VIABILIDADE, GOVERNO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGOCIAÇÃO, CARGO PUBLICO, MINISTERIOS, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, OBJETIVO, APOIO, GOVERNO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pela primeira vez, após as eleições, assomo a esta tribuna para manifestar a minha tristeza pela reeleição do Presidente Lula. Ele não teve meu apoio, não teve meu voto, mas a maioria esmagadora do povo brasileiro preferiu perdoá-lo pelos seus erros e reconduziu-o à Presidência da República. É a vontade da maioria, Senador Tião Viana, e temos que respeitar. Não vou agora espernear, esbravejar contra o Presidente; seria simplesmente um gesto de mau perdedor. Perdi, vou continuar na Oposição, mas não quero o pior para o País.

Estou nesta tribuna para manifestar minha preocupação com os próximos quatro anos, Senador Tião Viana, V. Exª que é do PT, que é da Base Governista. Não quero o pior para o País, mas estou preocupado.

A situação do País não é fácil.

Estou fazendo isso depois de muita reflexão, falando para uma Casa vazia, fazendo um discurso que certamente não será publicado na imprensa amanhã; não sairá uma linha. Mas estou falando sobre um assunto muito sério.

Nós estamos num dilema: ou retomamos o crescimento de 5% ao ano, pelo menos, o que é vital para o País, ou vamos patinar na mediocridade, na semi-estagnação e numa situação socialmente insustentável, porque nem os programas sociais, que são paliativos, vão se sustentar se o País não ganhar dinamismo.

Por outro lado, se vingar o desenvolvimentismo irresponsável, como querem alguns setores do Governo, sem as precondições para a retomada do crescimento, vamos enveredar pela irresponsabilidade fiscal, a inflação voltará e vamos viver uma situação também muito ruim.

Ou seja, Sr. Presidente, o País precisa crescer com estabilidade. O Brasil precisa crescer 5% ao ano, pelo menos, com estabilidade. Isso é possível; há compatibilidade entre as duas coisas, mas não será possível sem a remoção de alguns obstáculos, que o Governo não removerá sem o entendimento de alto nível com os setores responsáveis da Oposição.

Senador Antonio Carlos Magalhães, de saída, já em 2007, o Governo precisará desesperadamente prorrogar a DRU e a CPMF, que vencem em 31 de dezembro. Senador Tião Viana, se a DRU e a CPMF não forem prorrogadas até o fim do próximo ano, o Governo não governa em 2008. Se perder R$35 bilhões da CPMF e a Desvinculação das Receitas da União, que flexibiliza o Orçamento, o Governo fica inteiramente engessado.

Isso exige emendas à Constituição. São duas emendas à Constituição que exigem, Senador Motta, três quintos dos votos no Senado e na Câmara. O Governo não tem três quintos do Senado, nem que apele para o mensalão e para o mensalinho, Senador Tião Viana. Não tem! O Governo não tem aqui 49 votos, se não houver um entendimento com a Oposição. A partir de janeiro de 2008, o Governo vai entrar em crise.

O Presidente Lula precisa de um entendimento de alto nível com a Oposição, repito, em torno de uma agenda mínima para o País. O PDT todo está disposto a sentar, sem participar do Governo, Sr. Tião Viana. Tranqüilizo os Parlamentares dos Partidos governistas: não queremos cargos; podem dar todos para o Partido do Governo. Queremos entender-nos no interesse nacional.

O que está acontecendo me preocupa. Já vejo o Presidente da República diretamente negociando com os Partidos do Governo a formação do ministério. O que está acontecendo é, além de preocupante, vergonhoso, Senador Cristovam Buarque. Os Partidos querem três, quatro, cinco ministérios, simplesmente alguns ministérios de porteira fechada, ou seja, o Ministério da Previdência desde o Ministro até o agente lá no Município. Se o Presidente cair nessa, está perdido. Está perdido, Senador Antonio Carlos Magalhães! Porque a Oposição vai para a oposição mesmo. Ele pode lotear o Ministério como quiser, pode usar mensalinho, mas vai ter oposição para valer nesta Casa, sem entendimento algum. E aí ele não governa!

Preocupo-me muito com isso. Dizem que faz parte da vida política negociar ministério, mas impor isso!?... Como é que é? Eu gostaria de saber como é esse entendimento, Senador Cristovam Buarque. O Presidente tem que me dar dois ou três ministérios, senão... Senão o quê? Se me der, voto tudo que o Governo quiser; se não me der, voto contra o Governo sempre. É isso? Mas isso é profundamente imoral. Se o Presidente quiser cair nessa, vira refém do fisiologismo do Congresso e não vai longe. Ele vai, de concessão em concessão, ficar aprisionado por essa gente. E mesmo com essa gente, repito, ele não aprova o que precisa aprovar no Congresso. Se ele quer se entender com a Oposição em torno de um acordo realmente sério, estamos abertos - pelo menos, falo pelo PDT.

Senador Tião Viana, somos os interlocutores mais baratos para o Governo. Queremos nos entender e não queremos nada em troca. Se o Governo não quer isso, que se entenda com seus mensaleiros, e vamos ver no que vai dar.

Ouço o aparte do Senador Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Jefferson Péres, feliz o Governo que tem uma Oposição que o alerta antes mesmo de os erros acontecerem. Seria bom que o Governo percebesse o que há dentro do seu pronunciamento. E o pronunciamento que V. Exª faz hoje, também já o fez no passado, alertando o Governo, e não o levaram em conta. Alertou para esse problema da composição do Governo e dos seus Ministérios com base apenas em negociações, e deu no que deu: quase se acaba o Governo. Alertou quando defendeu a “consertação” - semanas e meses repetidos aqui - e o Governo não entendeu. Espero que o Governo, que começará dentro de mais algumas semanas, entenda que o que V. Exª está fazendo é algo que ele deve agradecer. É uma Oposição séria, que quer estar presente como crítica, como denúncia, mas também como alerta, como está fazendo hoje.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Sr. Presidente, posso conceder um aparte ainda?

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Solicito objetividade em razão de outros oradores inscritos.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Tenho certeza de que o Senador Tião Viana é um democrata - não interprete como tendência ao masoquismo; S. Exª não gosta de sofrer - e, como Presidente, sabe que a isenção lhe remete a ouvir o que, na realidade, vem acontecendo no Partido. Esse semblante triste dele é a primeira prova concreta de que ele não concorda. Senador Jefferson Péres, V. Exª entra no assunto em momento oportuno, basta ver as pessoas recebidas pelo Presidente Lula na primeira semana - evidentemente, todos foram tratar de assuntos republicanos -, simbolizados por aquela Deputada pé-de-valsa que perdeu a eleição e daí afora. O Presidente da República continua não se preservando. E V. Exª disse exatamente que se começam a discutir Ministérios. Isso é o que sabemos. Ouvi, hoje, de uma maneira irresponsável, um Parlamentar dizer que o seu Partido tinha 15 ou 20 Deputados, mas que, até o dia da posse, com o apoio do Governo, vai chegar a 30. Como?

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Com o apoio do Governo?

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Com o apoio do Governo. Está nos jornais de hoje. Assim é que começa. Nós estamos aqui, Senador Jefferson Péres, imitando a Globo e seu programa “Vale a Pena Ver de Novo”, que passa às duas horas da tarde, em que os sonolentos assistem ao que já viram lá atrás. Estamos começando a ver tudo de novo: vai aparecer o segundo Waldomiro - aquele foi o primeiro -; vão tirar da gaveta os projetos de jogo. Tudo isso vai se repetir, é só uma questão de esperar. Mas, agora, com mais sofisticação. Eles aprenderam e alguns riscos não correm mais, só que, às vezes, não acreditam que a Polícia Federal seja republicana e são surpreendidos nos hotéis com as burras cheias de dinheiro. Muito obrigado.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Obrigado, Senador Heráclito Fortes. Realmente isso tem um cheiro de déjà vu, mas é uma reprise a que eu não gostaria de assistir.

(Interrupção do som.)

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Vou concluir, Senador Tião Viana.

O Presidente Lula tem uma oportunidade de ouro de remir-se dos pecados praticados e dar uma de estadista. Aí este País em quatro anos decola, e a Oposição vai ficar muito feliz, porque, se ganhar em 2010, recebe um País em plena decolagem. Se o Presidente der uma de politiqueiro, se não aprendeu com os erros, ficará prisioneiro do que há de pior no Congresso Nacional. Ele vai ser um administrador de crises, e eu não sei o que será do nosso País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2006 - Página 33946