Discurso durante a 188ª Sessão Especial, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2006 - Página 34834
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, SENADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, INTERESSE, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), CONTRIBUIÇÃO, ELABORAÇÃO, LEGISLAÇÃO, COMBATE, TRAFICO, DROGA, PUNIÇÃO, CRIME ORGANIZADO.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este é um momento significativo, importante, embora seja também um momento duro, de muita emoção para o Senado da República, para nós, companheiros, irmãos de Ramez Tebet. A motivação que nos traz à tribuna, sem dúvida alguma, é homenageá-lo e lembrar alguns episódios que marcaram uma vida tão significativa, contundente e importante, para a família, para os amigos e para a Nação brasileira.

Ali está o jovem Deputado Federal, Felipe Maia, a cara do pai. Fiz questão de sentá-lo na cadeira do Senador Ramez Tebet. Ele, que já tem uma boa escola em casa, se um dia vier para esta Casa e somar 70% do pai com 30%, pelo menos, do Ramez, será um Senador 100%. E já posso antever isso, com a história política da família, com a votação que teve, com menos de oitenta dias de campanha - e conheço tudo porque fui cabo eleitoral dele, os meus amigos de Natal, da Adhonep, votaram nele a meu pedido.

Senador Agripino, eu fui à capital do Estado de V. Exª fazer um trabalho de prevenção às drogas, na praia. Bati em todas as portas, quer dizer, bateram primeiro aqueles que estavam promovendo e depois eu fui. O Felipe abriu as portas da televisão e do rádio para que fizéssemos, nas praias de Natal, um trabalho de prevenção às drogas, dizendo: “Drogas, simplesmente diga não!”, com um evento no final de semana. E eu me vi na obrigação, nesse pleito eleitoral, de pedir aos meus amigos, que não são exageradamente muitos, mas também não são exageradamente poucos, que tivessem o prazer de votar não somente no filho de José Agripino, mas em Felipe Maia, que tem vôo próprio, porque, por melhor que seja o pai, ninguém tem 124 mil votos em um Estado tão pequeno, com apenas oitenta dias de campanha.

Por isso, caro Felipe, fiz questão de fazê-lo sentar na cadeira que foi do Senador Ramez Tebet, em um dia que é doloroso para nós, porque, certamente, este será um caminho natural: um dia chegar ao Senado da República. Somando a história da família, nunca mais você se esquecerá de que, em uma sessão solene, você sentou-se na cadeira que foi de Ramez Tebet. Isso vai para sua história e lhe acrescentará de forma muito útil e importante, e eu estou muito feliz em vê-lo aqui.

Sr. Presidente, hoje, pela manhã, eu falava ao telefone com a viúva e com a filha de Ramez Tebet. Assim como chorei quando recebi a notícia do passamento de Ramez, pude chorar também com elas.

Eu não sei por que o Ramez não me chamava de Senador e, sim, de “meu filho”. Sempre que se dirigia a mim, dizia: “Meu filho, faça dessa forma”; “Meu filho, eu gostaria que você me ajudasse nessa votação” - eu era Deputado Federal.

O Senador Arthur Virgílio, desta tribuna, começou a contar um pouco da história de Ramez quando ele assumiu a Presidência e do tumulto ocorrido na Câmara Federal quando era preciso vencer um impasse sobre a Presidência do Congresso Nacional. Eu era Deputado Federal, juntamente com o Senador Arthur Virgílio, e estava naquele tumulto, naquele dia, e naquele corredor por onde o Senador Ramez passou.

Eu havia sido acometido de uma enfermidade, uma lesão na medula; fiquei paralítico. Fui para casa. Na coluna, um enxerto. Eu estava paralítico. E aconteceu, Sr. Presidente, a morte do prefeito Celso Daniel. O assassinato de Celso Daniel em Santo André.

O Presidente da Câmara, Senador José Agripino, era o nosso querido Governador de Minas Gerais, Aécio Neves; e, aqui, o Senador Ramez Tebet. Os dois rapidamente se juntaram para fazer uma Comissão Mista de Segurança Pública, para que, em noventa dias, Senador Geraldo Mesquita, fosse condensado tudo o que havia na Câmara e no Senado que tratava do assunto segurança pública, para oferecer um instrumento ao País.

Eu havia encerrado a CPI do Narcotráfico e recebi um chamado do Presidente, em casa. Vim para cá sem andar, paralítico. E recebi do Senador Ramez, aqui, a incumbência de relatar a nova lei de narcotráfico e crime organizado. Ramez Tebet me disse: “Meu filho, obrigado pelo esforço, mas eu precisava de você aqui”. Trabalhei com ele e, a partir dali, não perdi mais essa relação com ele. E a relação de afetividade cresceu, até porque, de fato, Ramez tinha idade para ser meu pai.

Eu não entendia, no princípio, por que ele não me chamava nem pelo nome, nem de Senador. Todas as vezes que se referia a mim, chamava-me de “meu filho”. E hoje, pela manhã, chorei muito, porque, por telefone, sua esposa me disse: “Senador, o Ramez amava o senhor”. A filha dele, que é Prefeita, me disse: “Meu pai amava o senhor. Meu pai lhe tinha muito respeito - respeito pela sua história e pelo seu trabalho”. A recíproca é verdadeira, até porque quem teve a oportunidade de conviver com a independência de Ramez Tebet certamente absorveu alguma coisa. Ramez Tebet, nesta Casa, portava-se criticamente. Estando seu Partido na Base do Governo, votava a favor do que era bom para a Nação. Não entendendo que era bom para a Nação, mesmo estando na Base do Governo e ainda que se tratasse de um projeto de Governo, Ramez votava contra.

Lembrou o Senador Arthur Virgílio que o viu, nos últimos dias, nesta tribuna, defender um empréstimo para seu Estado, embora adversário do Governador Zeca do PT, mesmo porque entendia que isso não significava ser adversário de seu Estado e do povo de seu Estado.

Essas coisas todas pautaram a vida de Ramez. Ouvimos o Senador Marco Maciel, o Senador Arthur Virgílio, o Senador Edison Lobão e, certamente, daqui a pouco, ouviremos o Senador José Agripino, que muito mais sabe sobre a história dele e sobre episódios que enriquecerão a vida de pessoas que sonham com a vida pública neste País e que vêem a TV Senado.

Certamente, Ramez será um exemplo. Aliás, nem gosto dessa expressão. Eu disse à sua esposa pela manhã que Ramez não foi exemplo para nada, nem para ninguém, porque os maus, Deputado Felipe Maia, é que servem de exemplo; os bons servem para ser copiados.

Ramez viveu para ser copiado.

Eu jamais subiria à tribuna para fazer homenagem a uma pessoa tão-somente pelo fato de haver convivido com ela e de ela haver passado. Nós não podemos nos valer de comportamentos hipócritas tão-somente pelo advento da morte, que todos nós viveremos e pelo qual passaremos. Mas é tão salutar, embora seja triste e duro, fazer uso da palavra e homenagear alguém que viveu como Ramez Tebet.

Todos nós passaremos. A morte é um mistério, e nenhum de nós nos livraremos dele. Um dia o experimentaremos. Uns mais jovens, outros mais velhos; alguns com poucos dias de vida, outros com muitos dias de vida; alguns passam de cem anos; outros nem lá chegam. Mas todos experimentaremos o mistério da morte. Todos passaremos por ele. E é necessário que vivamos de maneira a sermos copiados. A Bíblia diz que a nossa vida deve ser como um livro aberto, para que as pessoas tenham a possibilidade de fazer uma boa leitura em um bom livro, ou seja, o da nossa vida.

A vida de Ramez foi um bom livro, de boa leitura. E as pessoas que com ele conviveram fizeram uma boa leitura. E aqueles que conviverão com a história, certamente, farão uma boa leitura da história da vida de Ramez Tebet. E aí, hoje, nós choramos e sofremos por ele. E é necessário que vivamos tão dignamente, que amanhã, quando passarmos, alguém chore por nós. Agora, fica a saudade, a tristeza. É como se fosse carne da nossa carne e sangue do nosso sangue.

É um momento em que não sabemos dizer alguma coisa à família, porque este é um momento de chorar; é o momento de a família prantear. Dura coisa, Senador Geraldo Mesquita Júnior, é perder sangue do sangue e carne da carne! Como gostaria de abraçar a esposa e os filhos enlutados e dizer: “Chorem mesmo; chorem muito! Dura coisa é perder sangue do nosso sangue e carne da nossa carne”.

Neste momento, para a família enlutada, nenhum consolo serve, senão o que vem de Deus. É Deus que consola; é Deus que conforta. O conforto e o consolo do Alto, sem dúvida, são os que valem neste momento e para este momento. É esse o consolo que rogo a Deus para essa família, neste momento de dor e de luto.

No entanto, essa é uma família que vai viver sem ter do que se desculpar ou do que se envergonhar. Certamente, os filhos, os netos e aqueles que acompanham e compõem a vida pública e a vida diária desse nobre homem, do nobre Senador Ramez Tebet, terão orgulho. Certamente, a cada pleito eleitoral e também fora dele, as praças públicas do seu Estado, as escolas, as ruas ouvirão a respeito de alguém que não serviu de exemplo, Senador José Agripino - porque os maus servem de exemplo -, mas que viveu para ser copiado.

Essa foi a figura desse nobre Senador, por quem devotei carinho.

Nos últimos dias de sua vida, pude orar com ele quase todos os dias. V. Exªs sabem a fé que professo. Eu ligava para o gabinete dele e orava com ele ao telefone. Minha mãe foi acometia de um câncer aos 57 anos de idade - três tumores no cérebro. Aprouve a Deus tirar minha mãe aos 57 anos de idade, mas lá, do alto da sua dor, ela não perdeu a sua alegria; não perdeu, em nenhum momento da sua vida, a oportunidade de falar, de aconselhar, de fazer com que nós, os seus filhos, e aqueles que compunham o seu dia-a-dia, soubéssemos da mais importante missão que temos neste mundo: a de investir, Senador Geraldo Mesquita, a nossa vida na vida dos outros. O resto é fútil, ligeiro, passageiro; é fugaz e desaparece. Não há nada, nem dinheiro, nem fama, nem reconhecimento público, que valha tanto quanto investir a vida na vida dos outros.

Assim, muito me orgulho de ter sido chamado de filho por Ramez Tebet enquanto ele viveu; de ter ouvido da esposa, hoje pela manhã, enlutada e sofrida, “Meu marido amava muito o senhor”; e, da filha “Meu pai amava muito o senhor”, porque a recíproca era verdadeira. Eu, em lágrimas, orava por Ramez nos últimos dias dele, pedindo a Deus, tantas vezes, que prolongasse os seus dias. Mas Deus é que nos conhece e que comanda a história, a vida e a morte; tudo está debaixo de suas mãos. Deus sabe a hora para cada um de nós. E aprouve a Deus que aos 70 anos fosse essa a hora do Ramez.

Deus conforte a família e a todos nós, que também sentimos a sua falta e que também somos família de Ramez Tebet.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2006 - Página 34834