Discurso durante a 204ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da filiação do Senador Augusto Botelho ao PT. Reflexão a respeito de declarações do presidente Lula na cerimônia em que foi saudado como personalidade do ano pela Editora Três.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Registro da filiação do Senador Augusto Botelho ao PT. Reflexão a respeito de declarações do presidente Lula na cerimônia em que foi saudado como personalidade do ano pela Editora Três.
Aparteantes
Almeida Lima, Heráclito Fortes, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/2006 - Página 38369
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ALVARO DIAS, SENADOR, FILIAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, POLITICA PARTIDARIA, ELOGIO, ORADOR, ATUAÇÃO, CHEFE DE ESTADO, EFICACIA, TENTATIVA, CUMPRIMENTO, PROMESSA, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, POPULAÇÃO, DEFESA, DEMOCRACIA, IGUALDADE, LIBERDADE, CIDADÃO.
  • HISTORIA, FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, PARCERIA, CHEFE DE ESTADO, ANTONIO DELFIM NETTO, DEPUTADO FEDERAL, EFICACIA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, ECONOMIA NACIONAL, REGISTRO, ANTERIORIDADE, RECEBIMENTO, APOIO, EX MINISTRO, APROVAÇÃO, RENDA MINIMA.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, OPOSIÇÃO, RESPEITO, POLITICA, ANTONIO DELFIM NETTO, DEPUTADO FEDERAL, REGISTRO, ATUALIDADE, NECESSIDADE, DIALOGO, CONGRESSISTA, DEBATE, TAXAS, JUROS, MELHORIA, POLITICA MONETARIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, em primeiro lugar, quero transmitir as minhas boas-vindas por uma informação positiva do ponto de vista do Partido dos Trabalhadores, uma vez que, dentro de alguns instantes, no gabinete da Liderança do PT, o Senador Augusto Botelho vai assinar sua filiação. Ao longo do período em que convivemos com S. Exª, pudemos perceber uma afinidade crescente. Falo de suas preocupações em defesa da ética, da justiça, da democracia e de procedimentos que fazem com que o Senador Augusto Botelho honre seu mandato e o povo de seu Estado. Quero saudar S. Exª por essa decisão.

Quero, Sr. Presidente, fazer uma observação a respeito das palavras do Presidente, no dia de ontem, na cerimônia em que foi saudado como personalidade do ano pela Editora Três. Quero cumprimentar o Sr. Domingo Alzugaray e a todos aqueles que contribuíram para que houvesse essa homenagem a diversas pessoas que receberam prêmios nas mais diversas áreas.

Eu gostaria de fazer uma reflexão amiga e construtiva com respeito às declarações do Presidente Lula, o grande homenageado da noite. Após um comentário sobre as altas taxas de crescimento de Governos anteriores ao dele, ele evocou a sua amizade com o ex-Ministro Delfim Netto e pronunciou algumas palavras. Estavam lá a nossa Líder, a Senadora Ideli Salvatti, e o Senador Romeu Tuma, que se encontra aqui. S. Exªs puderam ouvir estas palavras, quando o Presidente disse, de acordo com o que registra a imprensa hoje:

         Eu agora sou amigo de Delfim Netto [...] Porque eu acho que é a evolução da espécie humana, quem é mais de direita vai ficando mais de esquerda, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, e as coisas vão fluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Daqui a instantes, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - É porque é sobre esse assunto aí.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu sei, mas V. Exª vai poder...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas aí o povo não vai entender, e V. Exª...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Claro que ele vai entender. Para que...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - É da esquerda? V. Exª me permite, com todo respeito a V. Exª e ao Presidente da República, mas, hoje, o maior símbolo da esquerda, da inteligência...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço se V. Exª puder aguardar, para que, então, a sua reflexão seja mais completa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Não, aí o povo pegou o negócio e tem que ser, porque o Presidente, com todo o respeito...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Peço a gentileza de V. Exª aguardar, pelo menos. Eu trouxe o tema para reflexão, inclusive de V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas eu queria facilitar o momento do raciocínio.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Mas V. Exª não vai perder a oportunidade. Deixe-me retomar, por favor, para que...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Não entendi, porque o Niemeyer é o maior símbolo de inteligência e de maturidade e ele é da esquerda.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Mas V. Exª pode fazer a gentileza de aguardar?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Então, o Lula destratou o Niemeyer. Estou num debate qualificado e pela verdade.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - V. Exª tenha a gentileza de aguardar o momento certo, porque, inclusive, vou fazer referência a Oscar Niemeyer que, na próxima sexta-feira, completará 99 anos. E era minha intenção fazê-lo.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI.Fora do microfone.) - ... a afirmativa do Presidente...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, vou pedir a V. Exª a gentileza de aguardar o momento certo.

Agora terei que ler novamente o trecho, para que não se perca o fio da meada.

Disse o Presidente:

Porque eu acho que é a evolução da espécie humana, quem é mais de direita vai ficando mais de esquerda, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, e as coisas vão fluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito, se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também tem problemas. Então, quando a gente está com 60 anos, Dr. [Antonio] Ermírio, é a idade do ponto de equilíbrio em que a gente não é nem um nem outro. A gente se transforma no caminho do meio, aquele caminho que precisa ser seguido pela sociedade.

Ora, Lula completou 61 anos no último dia 27 de outubro. Pois bem, seria muito importante que pudéssemos aqui refletir sobre o que, afinal, o Presidente Lula desejou expressar. É claro que toda pessoa, seja de esquerda, seja de direita, obviamente vai amadurecer com tudo aquilo que observa na vida. Mas ressalto aqui que eu próprio, que hoje tenho meus cabelos brancos e que tenho já uma boa experiência, com aqueles ideais que, na minha mocidade, me levaram, por exemplo, a estudar Economia, a escrever, a ser professor, a ser um investigador de formas para se criar justiça neste País, considero-me uma pessoa de esquerda.

            O que é uma pessoa de esquerda, Senador Alberto Silva, na minha concepção? É aquela pessoa que está sempre lutando para que, em nosso mundo, em nosso meio, em nossa terra, haja a realização da justiça, haja a liberdade efetiva para todos, haja a maneira de todos poderem viver com dignidade, com liberdade, com condições que não sejam jamais as de escravidão nem de qualquer forma de humilhação.

Tenho a convicção de que o Presidente Lula, ao formar o Partido dos Trabalhadores, ao se tornar a principal liderança do Partido dos Trabalhadores, ao se tornar o Presidente de Honra do Partido dos Trabalhadores, ao ser eleito pela primeira vez em 2002 e novamente em 2006, proclamou anseios que são da sociedade brasileira, tais como o de assegurar a toda e qualquer pessoa neste País o direito de se alimentar, de ter três refeições ao dia, de ter uma renda suficiente para a sua sobrevivência, de ter educação, de ter os serviços de saúde pública, de conviver de uma forma democrática, fraterna e, portanto, seguindo os grandes anseios de liberdade, igualdade e fraternidade. São esses ideais que inclusive se constituíram a origem das expressões “esquerda” e “direita”, afinal de contas, era na Assembléia Nacional francesa onde se sentavam à esquerda aqueles que eram favoráveis a formas progressistas de se atingir os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, em contraposição àqueles que se sentavam à direita, que eram mais conservadores.

É verdade sim que na próxima sexta-feira, dia 15, Oscar Niemeyer, que certamente tem todo o respeito do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, completará 99 anos e é considerado de esquerda. Se há problemas para Oscar Niemeyer, na vida, hoje, como um homem com idade acima de sessenta anos... Os problemas que teve Oscar Niemeyer ao longo de sua vida foram os provocados por pessoas como o Gen. Augusto Pinochet. Problemas todos nós temos na vida, problemas tais como aqueles que nos impediram de avançar muito mais na direção daquilo que gostaria o arquiteto deste Congresso Nacional e a quem todos nós aprendemos a respeitar, a admirar pela sua genialidade.

O próprio Presidente Lula teve muita alegria e felicidade quando, na fundação do Partido dos Trabalhadores, teve a companhia de pessoas como Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros, que estavam já com idade além dos setenta anos e eram considerados, na sociedade brasileira, como de esquerda. Assim como Florestan Fernandes, Hélio Bicudo e pessoas que, mesmo não sendo do Partido dos Trabalhadores, têm tido grande afinidade conosco. Por exemplo, o Professor Dalmo Dallari, que hoje, aos seus 75 anos, se pronuncia sempre como uma pessoa que, na avaliação, acredito, da sociedade brasileira, dos órgãos de imprensa, é tipicamente progressista, de esquerda, e que está sempre lutando e expondo a importância de assegurarmos o direito à vida, os direitos humanos para todas as pessoas.

Então, Presidente, Senador Mão Santa, que tenha dito o Presidente Lula que se sente agora mais amadurecido no sentido de que agora tem um diálogo muito construtivo com uma pessoa de quem se tornou amigo, como o ex-Ministro Antônio Delfim Netto, isso eu considero perfeitamente normal. Considero que, por exemplo, os artigos do ex-Ministro e atual Deputado Antônio Delfim Netto, como o que hoje S. Exª publica no jornal Valor Econômico, constituem uma contribuição muito relevante. Que o Presidente da República tenha expressado em algumas oportunidades que tem até a vontade e a disposição de aproveitar o Deputado Antônio Delfim Netto no seu Governo, eu também considero isso perfeitamente plausível.

Eu não me surpreenderia se o Presidente convidasse Antônio Delfim Neto, por exemplo, para colaborar no Banco Central do Brasil, porque, dada a sua experiência e aquilo que tem refletido, penso que ele poderia trazer uma contribuição positiva.

Certamente, Antônio Delfim Netto tem uma visão crítica de tudo aquilo que se passou ao longo dos anos da ditadura militar. Obviamente, no âmbito de um governo como o do Presidente Lula, que é um amante da democracia, jamais estaria Antônio Delfim Netto considerando sugerir medidas que não fossem de pleno respeito às formas democráticas.

Tenho a impressão hoje de que aquilo que aconteceu nas Américas, o próprio episódio, nesta semana, da morte do General Augusto Pinochet é um momento de reflexão em que todos, sobretudo os amantes da democracia, estão a dizer que jamais desejariam criar novamente situações, em qualquer dos países da América Latina, para que haja o retrocesso político, para que haja regimes tais como os que caracterizaram o regime militar brasileiro, o argentino, o uruguaio, o paraguaio ou, em especial, o chileno, que foi dos mais repressivos e retrógrados.

Desta maneira, se de fato o Presidente Lula tiver como colaborador Antônio Delfim Netto, é importante que Antônio Delfim Netto exponha seu conhecimento, para que sejam realizados os caminhos do progresso, não apenas no âmbito econômico, mas o progresso social efetivo, a melhoria da distribuição da renda e da riqueza.

Inúmeras vezes, eu próprio, nestes anos no Congresso Nacional, dialoguei com o ex-Ministro Antônio Delfim Netto. Quando, por exemplo, foi apreciado e votado, na Câmara dos Deputados, o projeto que institui a renda básica de cidadania, o ex-Ministro foi um dos que apoiaram que o instrumento fosse objeto de lei tal como aprovado. Tenho certeza de que inclusive ele estaria colaborando para que isso viesse a se tornar uma realidade o quanto antes.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador, V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concedo um aparte ao Senador Almeida Lima com muita honra.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Suplicy, V. Exª me concede um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Também vou conceder um aparte aos Senadores Heráclito Fortes e Romeu Tuma, com muita honra.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Confesso que, embora V. Exª seja um professor, um didata, não tenho alcançado, atingido, compreendido até onde V. Exª deseja chegar ou está chegando com o pronunciamento. Vejo de forma contrária, se é que entendi. A declaração do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi triste, própria de quem passou a vida ou viu a vida passar sem convicções! Ele afirmou que não concebe, não enxerga um jovem de direita e um homem maduro de esquerda. Esta é uma contradição terrível, é uma demonstração de falta de convicção, de que viveu sem convicção, fazendo as coisas de forma errada. Temos aí um cidadão com quase 100 anos, Oscar Niemeyer, com as mesmas convicções da juventude. E ninguém vai me dizer que Oscar Niemeyer não é uma pessoa extremamente respeitável, um patrimônio nacional. Portanto, lamento! Quanto à questão do Delfim, na verdade o tema vem na mesma trilha, porque, como é que se pode imaginar que o sindicalista, hoje Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, compreenda a doutrina e o proceder de Antônio Delfim Netto? Acho isso uma coisa fora de propósito! A mudança é muito grande. Não estou aqui a dizer, e a combater, e a criticar Delfim Netto. Não. Quero combater e criticar Lula, exatamente por essa concepção de última hora. Não sei exatamente aonde quer chegar. Se ele apareceu, em dado momento, como homem de esquerda e hoje descamba para a direita, lamento, e acho que a Nação brasileira também lamenta. E apenas um toquezinho final para concluir e agradecer a V. Exª: quanto ao Pinochet, na verdade ele já se foi muito tarde! Já deveria ter ido há bem mais tempo, de tão miserável que foi para o povo chileno, para a humanidade e para a América Latina em especial. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Almeida Lima, estou fazendo aqui uma reflexão como companheiro do Presidente Lula, como alguém que gosta dele, que o considera um homem de esquerda e que acredita nos anseios e ideais que fizeram com que ele construísse tudo o que conquistou na vida, o próprio Partido dos Trabalhadores, que, no meu entender, é um Partido de esquerda, democrático, que defende a construção de formas de organização social que leve a mais igualdade, fraternidade e solidariedade com liberdade e com democracia.

Porém, no mundo em que vivemos, segundo um estudo recém-publicado pela Universidade das Nações Unidas, em que 1% das pessoas mais ricas do Planeta possui 40% da riqueza global, enquanto a metade mais...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Suplicy, invocamos a sua competência sintética, uma vez que há vários oradores inscritos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado. ...Enquanto a metade mais pobre é dona de apenas 1%, é natural que haja muitas pessoas que tenham propostas e procedimentos de Esquerda no mundo e em nosso País.

Concederei um aparte ao Senador Heráclito Fortes e, em seguida, ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Suplicy, V. Exª faz um discurso hoje brilhante, profundo, Senador Tasso. Quero convidá-lo a assistir àquela série que a Globo apresenta: Vale a pena ver de novo. O que o Senador Suplicy está fazendo hoje é nada mais, nada menos que a preparação para que a Nação aceite, sem traumas, a presença de Delfim Netto no Governo renovador de Lula. É evidente que, para nós outros, brasileiros, que nunca o condenamos...

 (Interrupção do som.)

 (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ...de maneira prática, mas, sim, de maneira pontual, nada acrescenta, mas para o Partido de V. Exª, que foi um algoz combatente de Delfim Netto ao longo de toda a sua história, sim. V. Exª conviveu com o ex-Ministro num Ministério, dando conselhos e ordens aos seus subalternos - e sabemos como Delfim, além de saber mandar, gosta de mandar. Por isso, evidentemente esta é uma nova vida, para a qual V. Exª, com toda a competência que Deus lhe deu, prepara seu Partido. Foi o mesmo que aconteceu há quatro anos, Senadora Lúcia Vânia, no episódio do Henrique Meirelles. Parecia que o mundo vinha abaixo! Milhões e milhões de brasileiros acreditaram na promessa de campanha, inclusive com relação à mudança na política econômica, e o continuísmo da linhagem econômica do Partido que estava no Poder, presidido hoje pelo Senador Tasso Jereissati, que era exatamente colocar o Henrique Meirelles para administrar o Banco Central. Porém, o único momento em que acho que o Presidente Lula errou ontem foi ao agredir gratuitamente o Sr. Antônio Ermírio de Moraes. Evidentemente que aquelas afirmações foram para contrapor-se ao posicionamento do Sr. Ermírio. Senador Suplicy, o Brasil todo o ouve e o adora. V. Exª está mais à esquerda ou mais à direita do Presidente Lula? V. Exª concorda com essa decisão do Presidente Lula? V. Exª, por exemplo, vai retirar tudo o que disse do Delfim Netto ao longo da vida ou, em obediência ao seu chefe, vai dizer amém? A sua Economia, todo o seu preparo, todos aqueles anos perdidos, combatendo de maneira forte o Ministro Delfim Netto, vai ser coisa do passado? Porque, se V. Exª esquecer tudo o que fez, não vai poder condenar a mudança de pensamento do Lula. V. Exª sabe que Lula é uma biruta louca! Nunca acreditei que ele fosse direita ou esquerda. Ele é homem do momento e da oportunidade e está exatamente do lado em que os ventos sopram. V. Exª, não. V. Exª tem coerência, V. Exª tem história, V. Exª tem uma vida toda voltada para um projeto político, consagrado agora com o Renda Mínima - para o qual, aliás, o Presidente não deu muita bola, o que é uma pena! Se tivesse dado atenção ao projeto Renda Mínima, se tivesse aplicado o Renda Mínima no Brasil, teria produzido frutos mais positivos que o Bolsa-Família do jeito que está. De forma que eu o parabenizo pela coragem de abordar esse tema. Que o Presidente Lula foi infeliz, foi! Felizmente, para V. Exª e para todos, isso ocorreu antes do jantar, porque ele ainda não estava cansado! O Presidente Lula quando cansa, após esses jantares, é mais violento nas suas afirmativas, mas foi no começo. Mas me responda: V. Exª retira...

 

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ...Fico muito satisfeito em ouvir, porque V. Exª não pode usar o nome do Dr. Dalmo Dallari em vão. Ele foi citado como exemplo.Foram citados Niemayer e todos esses homens que, por acreditarem num posicionamento do Presidente Lula à esquerda, deram a ele apoio ao longo da vida. Só V. Exª poderia cumprir a missão de anunciar, de maneira cautelosa, à Nação o “habemus Delfim”, mesmo que mostrando decepção. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Tuma, vou lhe conceder o aparte em seguida. Antes, porém, permita-me apenas responder ao Senador Heráclito Fortes.

Com respeito à formulação de críticas que fiz ao então Ministro da Fazenda e Ministro do Planejamento Antônio Delfim Netto, sempre as fiz da forma mais respeitosa possível e de maneira contundente.

Por exemplo, eu era Deputado Federal e argüi o então Ministro Antônio Delfim Netto sobre a forma como os índices de preços estavam sendo diminuídos em relação àquilo que normalmente iria acontecer pela desconsideração de certos tipos de produtos, dentre outros fatos. Assim também aconteceu no caso do episódio Coroa-Brastel, em 1984, quando passei quase um ano estudando o assunto, questionando, demandando explicações a respeito e sempre mantive as críticas que ali formulei.

Por outro lado, durante o meu tempo como Senador, sempre tive uma relação de respeito e de diálogo com o Deputado Antônio Delfim Netto. Quando, por exemplo, tramitava aqui o Projeto de Garantia de Renda Mínima, eu o visitei, como a muitos outros Parlamentares, até por considerá-lo um economista sério, e tive um longo diálogo com ele em seu gabinete. Ele, inclusive, na ocasião, entre 1991 e 1992, deu-me um artigo importante sobre como Lady Rhys Williams, no Reino Unido, havia proposto, nos anos 40, uma renda básica de cidadania, que, inclusive, depois de estudar mais e mais este tema, acabou se tornando o projeto de lei aprovado no Congresso Nacional, ou seja, de instituição de uma renda básica de cidadania.

Avalio que seria perfeitamente possível que Antônio Delfim Netto estivesse interagindo com os diretores do Banco Central e, inclusive...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Sinto informar que tanto a direita como a esquerda são obedientes ao Regimento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou concluir, dando a palavra ao Senador Romeu Tuma, como último aparteante.

Só quero dizer que avalio que as reflexões de Delfim Netto junto ao Copom seriam adequadas e interessantes, porque é necessário que ali pessoas venham a refletir com maior profundidade sobre os efeitos da taxa de juros, da taxa de câmbio para melhorar a política monetária e econômica.

Concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Desculpe, Presidente, é só um segundo. A sabedoria nos faz perceber que, quanto mais próximos estamos da verdade, maior é a convergência entre o nosso pensamento e o dos nossos opositores.

Acho que essa...

(Interrupção do som.)

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Suplicy, V. Exª, no seu pronunciamento, acabou convergindo para a relação do Presidente Lula com o Deputado Delfim Netto. Convivi muito tempo com o Deputado Delfim Netto em épocas passadas e só conhece a história quem ela viveu. V. Exª viveu vários capítulos, eu também, inclusive com o Presidente Lula. Há um fato que ficou na minha memória: Almir Pazzianotto era advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, antes de ser Ministro, em um período difícil, quando havia a ameaça de uma grande greve do ABC. Quando ele foi ao aeroporto esperar o Almino Affonso, que estava voltando do exílio, ele conversou comigo sobre a possibilidade de o Delfim estudar um aumento real...

(Interrupção do som.)

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - ... os metalúrgicos e a indústria automobilística. Eu falei com o Delfim, que concordou e marcou uma reunião na casa dele. O Almir Pazzianotto convidou o Lula para estarmos juntos. Eu me apresentei e quis sair da reunião, mas ele disse “não, você é testemunha, tem de ficar”. Fiquei na primeira reunião, depois foi convidado o Presidente do Dieese à época, que depois foi Secretário do Governo do Estado, e, posteriormente, o então Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Cubatão, que era do Partido Comunista. Nessas reuniões, procurou-se definir um acordo que desse um aumento real para evitar a grande greve. Infelizmente, um jornal fez uma crítica e então se desmarcaram os encontros. Veja, então, V. Exª que já havia uma linha de possibilidade de convergência dentro de uma honestidade que buscava a realidade do que estava acontecendo à época. São fatos que não podemos esquecer. Provavelmente, esse passado também está na memória do Presidente Lula. Não havia, assim, o objetivo de fazer a greve pela greve. Havia a busca pelo interesse do trabalhador e a tentativa de amenizar algo que foi terrível, como V. Exª sabe. Agradeço o aparte.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço o testemunho de V. Exª.

Ontem, estando presente, pude perceber que não houve qualquer referência crítica ao Sr. Antônio Ermírio de Moraes por parte do Presidente Lula. Houve uma observação amistosa, até uma referência carinhosa, eu diria, ao importante empresário brasileiro que foi um dos homenageados pela revista IstoÉ.

O testemunho de V. Exª é importante como um registro histórico. É fato que o Presidente Lula, muitas vezes, tentou diálogos, naquela época, para evitar problemas maiores e, se possível, até a greve, se houvesse possibilidade de aumento.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2006 - Página 38369