Discurso durante a 207ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos casos de corrupção atribuídos ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA SALARIAL.:
  • Críticas aos casos de corrupção atribuídos ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2006 - Página 38980
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, ETICA, MORAL, ATENÇÃO, GARANTIA, SEGURANÇA PUBLICA, GRAVIDADE, AUMENTO, INDICE, VIOLENCIA, BRASIL.
  • REPUDIO, HOMICIDIO, MEDICO, ESTADO DO CEARA (CE), PRECARIEDADE, SEGURANÇA PUBLICA, SAUDE, BRASIL.
  • HISTORIA, GOVERNO, TENTATIVA, AUMENTO, SALARIO, CONGRESSISTA, INJUSTIÇA, TRABALHADOR, RECEBIMENTO, SALARIO MINIMO.
  • NECESSIDADE, PARALISAÇÃO, ATIVIDADE, CONGRESSO NACIONAL, INSTALAÇÃO, COMISSÃO, ESTUDO, REAJUSTE, SALARIO.
  • COMENTARIO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO OCTAVIO, SENADOR, IMPOSSIBILIDADE, IMPUTAÇÃO, DEFICIT, PREVIDENCIA SOCIAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vou já explicar. Em 1974 - atentai bem! - Ulysses se lançou anticandidato aqui, com Sobral Pinto, numa eleição indireta. Seu objetivo, Senador Alvaro Dias, era propagar a idéia de democracia e eleições diretas.

No dia da eleição, ele veio. Nem Ulysses conseguiu todos os votos do PMDB como anticandidato. Senador Alvaro Dias, haviam combinado com os autênticos que ele faria a campanha, mas não viria no dia da eleição, para não fazer a festa à ditadura militar. E ele veio. Acho que ele julgou que era uma oportunidade de fazer um grande pronunciamento, e o fez.

Ele e Petrônio, do Piauí, defendendo a candidatura Geisel - dois documentos de grandeza para a história.

Em 1972, nós, no Piauí, com Elias Ximenes do Prado, conquistamos a Prefeitura da maior cidade contra a ditadura.

Senador Alvaro Dias, e por que ganhamos lá, antes de Ulysses ter coragem de ser candidato? Porque o regime militar era melhor do que este, eles eram honestos. Os militares eram honestos. Essa patota que está aí não é honesta. Então, é impossível ganhar uma eleição. É um jogo de futebol em que o juiz está comprado, vale gol de offside, de pênalti, com mão e tudo. Não ganha. Ontem o Internacional ganhou porque o jogo foi apitado, apesar da força do adversário, que - vamos dizer - tinha uma perspectiva de ser o vencedor.

Mas o que eu queria dizer é que o PMDB está aí, lutou muito e teve muitas conquistas.

Mas, Alvaro Dias, o que me prende ao PMDB, mais, são os mortos. Os mortos é que me prendem ao PMDB. Ulysses Guimarães, que lutou aqui e está encantado no fundo do mar. Ele disse: “Ouça a voz rouca das ruas”. E disse algo tão atual: “A corrupção é o cupim que corrói a democracia”. Nunca vi tanto cupim como no momento em que vivemos. Nunca vi tanta corrupção, tanta roubalheira e tanto descaramento. Teotônio, com câncer, se imolou. “A árvore boa dá bons frutos”, deu o filho que vai governar seu Estado, Alagoas.

Tancredo Neves, que também se imolou. Juscelino Kubitschek, cassado naquela cadeira. Ramez Tebet! É esse o PMDB, do qual valem mais pelos mortos do que pelos vivos. Os vivos, Senador Alvaro Dias, são muito vivos, vivos demais, pensando em posições e em cargos. Não ouviram o Rui que ensinou: “Não troco a trouxa das minhas convicções por um Ministério.”

E foi na Oposição que ele fez grandeza e garantiu a República. Mas V. Exª é do PSDB, um grandioso Partido. Eu votei no candidato de V. Exª. Mas o que me traz aqui é o momento. Sexta-feira eu vim à sessão - aliás, só vim eu. Eu vim porque sou do Piauí e nós enfrentamos os portugueses. Esse Brasil não seria grande, Senador Alvaro Dias. Ele ia ser dividido. Dom João VI deu uma parte para o filho e disse: “Fica aí e eu fico com o Norte.” O dono do País seria o Maranhão.

Nós, somente nós, fizemos uma batalha sangrenta para expulsar os portugueses; depois os baianos, em 2 de julho. Mas nós fomos os primeiros. Por isso é que o Brasil é grandão. Só o Piauí se lembra. Nós que enfrentamos os portugueses e os botamos para fora. O nome do País seria Maranhão. Eles eram aliados a Portugal.

Mas estamos aqui, e eu vim com essa coragem dos nossos antepassados para falar desse negócio de salário. Senador Alvaro Dias, V. Exª é testemunha e Quero lhe dizer que V. Exª acabou de perder, porque o Paulo Paim me deu mais chances, e eu concedi mais de 50 apartes a ele. E V. Exª, que estava na frente, era medalha de ouro.

Mas quero dizer o seguinte: sempre falei aqui de salário.

Votei no Presidente Lula da Silva há quatro anos, trabalhei por ele, encantei-me, mas a decepção foi maior, enterrou a esperança, a corrupção venceu o medo, a corrupção venceu a esperança.

Vou dar um aconselhamento ao Presidente Lula, creio que esse é o melhor apoio do PMDB e da governabilidade. Eu sempre o adverti.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lula, permita-me: V. Exª acabou de ser reeleito, mesmo fazendo gol offside, de mão, de todo jeito, mas ganhou! Fez mais gols. Ninguém vai duvidar dos números. Mas Franklin Delano Roosevelt foi eleito quatro vezes Presidente dos Estados Unidos. Quando morto, diziam que seu vice não seria eleito. A mulher de Franklin Delano Roosevelt, Anna Eleanor Roosevelt, saiu pedindo votos, e ele venceu. São, portanto, quase cinco eleições, porque, mesmo morto, ele elegeu o sucessor.

Ele disse: “Toda pessoa que vejo - ô Lula, aprenda! - é superior a mim em determinado assunto”. Atentai bem, Alvaro Dias! E, nesse particular, procure aprender. Sei que Vossa Excelência teve muitos votos, foi muito esperto, venceu as eleições. Mas isso não é tudo. Barrabás ganhou de Jesus em uma confusão que deu.

Então, vou ensinar o seguinte: governei a minha cidade. A maior experiência é ser prefeito. Segundo minha consciência, acho que deveria haver uma hierarquia a seguir, como o fazem os Papas, até se chegar a general.

Senador Alvaro Dias, V. Exª se lembra da inflação? Fui prefeito da minha cidade no tempo da inflação. Anos 80 - 1988 ou 1989. Havia mês que ela chegava a quase 100% - 80% para ser verdadeiro.

Ô Lula, aprenda com o que quero dizer. Falo sobre a gravidade. Estou advertindo o Brasil porque somos do Piauí, que tem salvado este Brasil. O Piauí deu o melhor Ministro ao Supremo Tribunal Federal: Evandro Lins e Silva. Na ditadura, ele libertava os políticos, como o fez com Miguel Arraes, a quem vi chorando, emocionado, porque foi liberto por ele.

O Piauí está agindo aqui como agiu Petrônio Portella, sem um tiro e sem nenhuma truculência. Ele foi um ícone da redemocratização.

Carlos Castello Branco, o maior jornalista deste País, era do Piauí; o melhor planejador, João Paulo dos Reis Velloso, ficou dez anos mandando: nenhum roubo, nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade.

Quanto ensinamento nós, do Piauí, estamos dando! E os darei ao Lula.

Eu era Prefeito, e havia inflação. Senador Alvaro Dias, o Lula, se quiser, pode aprender - se for humilde - com Franklin Delano Roosevelt.

Todo mês havia inflação. Então, eu conversava com um professor de Economia, de Estatística. Eu mandava lhe dizer quanto eu tinha em dinheiro para que ele acompanhasse o desenrolar da inflação. Eu ficava toda noite acordado todos os meses - todos o faziam, não era só eu; faziam-no todos os prefeitos responsáveis - para promover um ajuste salarial, porque todos os meses eu tinha de aumentar o salário mínimo.

Ô Presidente Lula, atente para o que estou dizendo: essa calma é enganosa! Nunca o País esteve numa desgraceira como esta! Veja a violência! Nunca houve isso, não; não existia isso!

Eu estive na Itália, namorando Adalgisa, às três horas da manhã. Vi uns velhinhos bonitos, sentados, com jóias, às quatro horas da manhã. Eu imaginava esse casal de velhos no Brasil, às quatro horas da manhã, cheio de ouro!

Isso nunca houve! É uma violência!

            Fui recentemente ao Ceará para comemorar 40 anos de formado. A cidade estava em convulsão. Todo mundo estava com medo, estarrecido, por causa da violência. Para se ter idéia, entraram no consultório de um médico, bondoso, chamado Dr. Valter, do Instituto dos Cegos, e o mataram. Matam-se médicos no consultório, Lula.

Acorda! Essa violência não existia. Aqui se mata muito, muito, muito mais do que no Iraque! É uma guerra civil que ocorre a cada dia.

Quem é de bem vai andar. Não há lugar mais belo do que o Rio de Janeiro. Assisti ao Gabeira em uma entrevista: “O melhor lugar do mundo é o Rio. O sol é um encanto!

Presidente Lula, pegue sua Marisa e dê uma volta com ela na Cinelândia a uma hora da manhã! Vá sentar-se em um banco da Praça Paris para namorar, vá ao passeio público da Rua do Ouvidor, naquele restaurante famoso. Vá!

(...) Vá ao Rio de Janeiro! Eu já fiz isso, e não sou dos mais velhos - o Alberto Silva tem bem mais idade! Fazia-se isso nos anos 60.

“Criança, não verás nenhum país como este!” - Olavo Bilac. Eu queria ver o Olavo Bilac dizer isso hoje!

Quem é que entende? Quanta violência! O povo está cada vez mais mal educado; saúde só para quem tem dinheiro, para quem tem planos de saúde.

Então, todo mês, fazia-se um ajuste salarial. O País era melhor. Eu o fazia. Ele estudava, e eu pensava durante toda a noite: “Bem; se o motorista tem de ganhar mais que o gari, coloca R$20,00. A professora formada, com curso de longa duração...” Isso tudo para se fazer um equilíbrio.

Então, o que foi que fiz? Ao longo desses anos como Prefeito, fiz o que aprendi com Lucídio Portella, que foi Governador do Piauí: o aumento salarial era concedido para todo mundo de uma vez. Para os que ganhavam mais, concedia-se um aumento menor; para os que ganhavam menos, concedia-se um aumento maior. Era isso. Hoje, não; disparou!

Venho advertindo: em países organizados e civilizados o mínimo é dez vezes menor em relação ao maior.

Ô Presidente Lula, venha aprender com Castello Branco! Ele era um homem honrado - eu o conheci pessoalmente. Ele era do Ceará, e eu me formei lá. Conheci o Geisel. Que homem sério! Com João Baptista Figueiredo, tomei dois porres! Homem bom, honesto e honrado. Ele era militar. Se o mandassem para a guerra, ele ia; mandaram-no governar, e ele governou.

Mas in vino veritas, sabemos disto: a verdade é revelada quando o cara “toma umas”! Ele foi ao Piauí umas duas vezes, mas o nosso Governador de então não bebia de jeito nenhum, mas era sabido. O Governador dava um Chivas para o Presidente Figueiredo e colocava os mais ligados a ele para tomar umas doses com Sua Excelência - e eu também, porque é bom. O Figueiredo se soltava, e eu ria das coisas que ele dizia! Era um homem bom.

Deve-se aprender com Castello Branco. Quando Castello Branco viu a folha de pagamento dos funcionários - o Lula não estuda história, diz que dá canceira ler uma página de um livro; é melhor fazer uma hora de esteira -, Senador Alvaro Dias, ele disse: “Ninguém ganha mais do que o Presidente”. Ele assim o determinou, com o poder revolucionário.

Ele era um estadista. Pode ter sido militar, mas era um homem honrado. Aquele foi um momento da história. Eles foram bem melhores do que o Pinochet, do que Fidel Castro, que matou muita gente. Conheço a história de Cuba. Não venham com drama para cima de mim, porque conheço Cuba! Só em Miami há 800 mil cubanos. E não vão mais porque o mar é bravo e a distância é muita, mas, de vez em quando, os cubanos vão para Miami até nadando - e não é que chegam?

Não conheci o Médici nem o Costa e Silva, mas o meu amigo Figueiredo eu conhecia. Era um homem franco e bom. Às cinco horas, ele pegava o seu cavalo e ia andar. Ele era honrado e honesto, tanto que disse que ia redemocratizar e o fez.

Mas todo mês se fazia um ajuste. Agora, é elementar, Senhor Presidente.

Dona Marisa, a senhora é a única companheira fiel e decente que está ali. Lula está rodeado de ladrões por todos os lados - quem disse foi o Procurador-Geral da República. São quarenta.

Dona Marisa, o valor do salário mínimo é R$350,00. Dez vezes mais são R$3,5 mil; cem vezes mais, R$35 mil.

Senadores Alvaro Dias e Eduardo Suplicy, há muita gente ganhando mais de R$40 mil neste País.

Senador Eduardo Suplicy, Júlio César, antes de morrer, disse: “Até tu, Brutus?” Lula acabou de enrolar-se.

Olha, Lobão, quem será o Brutus de Júlio César? Lobão, eu sempre adverti: temos uma história, cicatrizes do estudo e do trabalho.

Fui prefeitinho. Todo mês aumentava 80%. Todo mês se fazia um ajuste. Era uma oportunidade de justiça, e disparou. Quem foi o responsável? Quem foi o Brutus? Ah, os Deputados e Senadores... Eu não sou favorável.

Sou médico, Senadores Alvaro Dias e Eduardo Suplicy, e nós damos valor à etiologia, à causa. Quem causou essa incongruência, essa indecência, essa imoralidade, essa injustiça de haver gente ganhando mais de cem vezes o que o outro ganha? Não existe isso. Na Itália é no máximo dez vezes.

Castello Branco disse: “Ninguém vai ganhar mais do que eu” - e cortou.

Eu fiz isso, Senador Lobão. Eu fiz. Eu governei o Piauí, e estava a mesma “zorra”. Eu olhei e a História ensina. Sei que era ditadura, mas não dava. Havia no Piauí, em 1995, quando comecei a governar, pessoas ganhando US$27 mil - porque era igual, era casado. Vinte e sete mil dólares. Era um funcionário da Justiça. Depois, um da Fazenda recebia o segundo ordenado, US$24,5 mil. Esse era o salário.

Tem um homem, nessa Justiça, que tem vergonha: Sepúlveda Pertence. Eu vou contar a história.

Ô Lobão, aí eu fiz. Teve um coronel - tomara que ele vá para o céu - que me atacou muito, porque cortei o dele. Eram os funcionários da Justiça, os fiscais de renda e os coronéis. Todos ganhavam mais de US$20 mil. O Piauí não podia pagar. Vinte e sete mil dólares é muito dinheiro hoje. E eu fiz um redutor, Senador Lobão. Quem perdeu não gostou, eu sei. O Maquiavel disse - e não sou idiota, não - que você pode até matar a mãe e o pai de alguém que ele esquece, mas se você mexeu no bolso, é difícil. E eu mexi no bolso, criei o redutor. Hoje, compreendo que não podia, Lobão.

Mas andou, derrubaram, eu vim e o Sepúlveda Pertence... O Collor vai entrar aqui, e eu posso dizer que ele bobeou. Ele deu lá, e derrubaram. Eu não derrubei, não. Eu vim em julho. Esse Geddel nos acompanhou. Derrubaram lá e eu vim.

Lobão, essa audiência é histórica, é para o Brasil. Estou aqui para ensinar. Senador, se não tiver uma história para isso, que toque fogo nisso. Temos que ser os pais da Pátria. Não tem sentido.

Ô Alvaro Dias, aí, derrubaram o do Collor, que foi na mesma época - os usineiros de lá. Derrubaram, e eu vim em julho, recesso. Eu parecia o Mitterrand. Havia muitos alto-falantes. E o Presidente Sepúlveda Pertence esperando. Geddel nos acompanhou.

Senador Lobão, aí nós entramos. Ô Lobão, V. Exª, que é da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e foi o seu melhor presidente, atentai bem. Lá estava Sepúlveda Pertence, a quem fiz uma pergunta - só ele, naquele mundo do STF, juntamente com o assessor Geddel, Líder do PMDB, Willian, um Procurador nosso, o Dr. Veloso e eu. Aí, disse: “Meritíssimo, V. Exª me permite que eu lhe faça uma pergunta?” Ele impõe respeito, mas, então, ele calou. Ele levou um minuto calado, não deu, e eu também calei! Demora... O sujeito faz uma pergunta e ele não fala nada. Olha, Lobão, demorou. Aí, ele viu que eu não ia falar mais nada, e eu tornei a dizer: “V. Exª me permite lhe fazer uma pergunta?” E ele ficou calado; e vai que demora. Eu também me calei. Quando ele viu que eu não ia falar nada, ele disse: “Faça sua pergunta, Governador”. Eu disparei: “Quanto V. Exª ganha?” - e este é o testemunho mais importante que o Senado vai ter neste ano. Vejam: um sujeito, Governador do Piauí, pergunta ao Presidente do STF quanto ele ganha.

Ele parou e disse que seis mil, seis mil e não sei o quê, com tantos anos de serviço. Olha, para dar oito mil, ele levou cinco minutos somando os penduricalhos. Aí, eu cheguei e disse: “Pois, se V. Exª me permite, eu quero lhe empregar amanhã, no Piauí, e lhe pago R$25mil”. Aí, trouxe a bagaceira: com o DAS, promovido a Procurador, não sei o quê e trouxe mais.

Ô Lobão, eu tinha, como meu secretário de obras, o General Oliveira, que tinha servido no Nordeste. Na hora, perguntando sobre o seu salário, Senador Alvaro Dias, ele me disse que era de R$5 mil. Os meus coronéis ganhavam vinte. Aí, eu mandei tirar uma cópia e disse: “Ô Ministro Sepúlveda, não sei como não tem outra ditadura e outra revolução, porque eu nunca vi a polícia ganhar mais do que o Exército. Sou médico e não vou deixar que um enfermeiro ganhe mais do que eu no hospital. É uma força auxiliar. Eu sou do CPOR, oficial da reserva”. Aí, ele olhou e eu lhe ofereci R$25 mil. Olha, esse Sepúlveda Pertence pegou a caneta e deu essas liminares. Eu terminei o meu Governo com redutor reduzido e, por isso, estou aqui.

Agora está essa mesma “zorra”, mas vai ver, tem que ver a origem. Onde foi a origem? Está aqui a origem: a fraude de Nelson Jobim. Tem que ser firme para dizer isso aqui - esse é o Brutus.

Li um dos últimos artigos de Leonel Brizola. Todo mundo sabe que ele pressionou, como o STF, o Severino - e pressionou mesmo. Era vergonhoso, toda hora. E quis passar, o Renan recuou, mas foi aqui que nasceu, aqui disparou: R$24,5 mil. Estão amarrados, para o ano que já chegou, R$27 mil e criaram um Conselho de Justiça Federal que liberou o jetom. Isso, somando, vai dar mais de cem vezes a diferença entre o menor e o maior.

Há poucos dias, eu defendia 16% para o velhinho aposentado. O PT todo, que ganha todas - ganhou as eleições com milhares de votos, por causa do Bolsa-Família -, avaliem aqui. Com um mensalãozinho, estava resolvido o voto. Foram 80 milhões que entraram em negociata.

Quero-lhes dizer que essa é a verdade: aumentou.

Lobão, amanhã, vou pedir mais um tempo em homenagem a Padre Antônio Vieira, que é símbolo do Maranhão, onde tem um museu. Padre Antônio Vieira disse que um bem sempre é acompanhado de outro bem. Todavia, Maguito Vilela, eu, Senador do Piauí, digo que um mal sempre acompanha outro mal.

Então, disparou o salário, e o pai foi Nelson Jobim. O pai pressionou Severino. E ainda tem para o ano, pois já está amarrado em R$27 mil e o jetom. O Poder Legislativo achou por bem seguir esse patamar e assim acertaram.

Ô Presidente Lula, está identificado o seu Brutus! Isso vai dar uma confusão! São as assembléias, são as Câmaras de Vereadores, é não sei quem mais, e eu tenho de pregar, aqui, e ensinar o que ensinou Gandhi: a desobediência civil.

Amanhã vou cortar o cabelo com o “baiano” - este é o apelido dele. O corte era R$12,00, mas eu dava R$15,00. Agora ele pode cobrar R$30,00; vai dobrar, porque todo mundo dobrou. O meu engraxate, em Teresina, era R$5,00, mas eu dei R$10,00. Todo mundo tem de dobrar. Os grandes não têm cem estômagos se os outros têm um! Não foi assim que foi feito. Está injusto. Temos de parar este Congresso e, em um mês, instalar uma comissão para fazermos um ajuste salarial com justiça. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Isso não é justiça. Temos de parar com esse recesso e nesse mês convocarmos! Isso sim seria uma convocação de vergonha, de dignidade, para estudarmos todos os salários.

Senador Edison Lobão, participei da festa de quarenta anos como médico. É justo médicos, aposentados e doentes com salário de um mil e pouco reais? Senador Edison Lobão, comemorei quarenta anos, e recebo um salário de R$2.000,00. Mas Deus é muito bom para mim. Vamos imaginar que eu tivesse um derrame, uma trombose, uma deficiência, como é que a Adalgisinha iria cuidar de mim e da família como aposentado? Imaginem um professor universitário, um engenheiro, um geólogo!

Ô Maguito, nós governamos - V. Exª é um bravo -, aqui vai: este Congresso devia meditar! É grave. Não pense que isso vai dar certo. Estou gritando juntamente com a minha consciência.

Senador Geraldo Mesquita, conheço a Venezuela. Ô Presidente Luiz Inácio, sabe por que deu certo lá? Porque o chefe do Lula, o presidente Chávez, desmoralizou o Judiciário, e inclusive o prédio - podem ir lá - é insultado pela população! Ele pegou e juntou os dois poderes em um. De trezentos, ele tem mais de duzentos; aí é diferente, não é da nossa história!

Senador Alvaro Dias, do Paraná, representado por V. Exª, de tantas lutas, por isso o meu apelo: ô Presidente Renan, o Severino foi um bravo, resistiu na vez anterior - ele resistiu, o Severino -, ameaçado pelo Presidente do STF da época, Nelson Jobim.

Quero dizer o seguinte: para uma convocação, está no Regimento, não precisa remuneração não! Já passou a lei. Vamos reunir no período de um mês e fazer um estudo salarial de todo mundo, de todo mundo, como se fazia, e como eu fiz no tempo dos governos da inflação, em que o Sarney, de acordo com a necessidade, disparava o gatilho. Agora está mais de cem! Isso é que é o pai da violência; isso é que é o pai da falta de segurança. Norberto Bobbio, senador vitalício, disse que o mínimo que se tem que exigir de um governo é a segurança à vida.

Em Fortaleza, recentemente, mataram um médico no consultório dele. Um outro, apontaram-lhe o revólver - isto ele me contou, trêmulo - e ainda o chamaram de vagabundo! Senador Paulo Octávio, os assaltantes diziam: “Seu vagabundo, deite-se aí”. Os assaltantes de consultórios ainda chamam homens de bem, um médico, de vagabundo, apontando-lhe um revólver.

Em Teresina não tem mais arrastão nos bairros, não, agora o arrastão acontece nas sentinelas. Morreu, enterrem logo!. Se fizerem sentinela, como era a tradição no Nordeste, chega um arrastão e tira até os sapatos do defunto. É isso! Segurança à vida, à liberdade e à propriedade.

Então, está é a hora de convocarmos este Congresso, sem remuneração!

O Senador Paulo Octávio fez a mais bela lei, que foi abortada. Olhai a indignidade!

Senador Edison Lobão, está chegando a hora!

Adentra ao plenário o Senador Antonio Carlos Magalhães. Esta é a verdade: é um grande homem. Está na posição. A revista ISTOÉ, olhem o nome, fez uma reportagem, mas não o diminuiu. V. Exª se iguala a Rui Barbosa. Rui engrandeceu-se na Oposição.

Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, o Senador Paulo Octávio é autor de um projeto de lei - eu fui o relator - em que a Previdência jamais seria deficitária caso o dinheiro ficasse lá, se ninguém nele mexesse, se os juros ficassem na conta da Previdência. Usaram de todos os meios para que eu mudasse de opinião. Mas, o que fiz? Apenas retardei a votação em uma semana para dar chance. E o resultado foi sete a sete.

Trocaram até o Presidente da Comissão, o Senador Ramez Tebet, para ofender a lei.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Já estou terminando, Sr. Presidente.

Então, temos de nos reunir, Senador Antonio Carlos Magalhães, e fazer uma comissão sob a presidência de V. Exª ou do Senador Edison Lobão. Essa é a Justiça. Atentai bem! Justiça é coisa divina. Temos de fazer um estudo salarial compatível a todas as classes, a todas. Quando apliquei o redutor no Piauí, nos Estados Unidos Bill Clinton ganhava US$10 mil. Como é que funcionários privilegiados poderiam ganhar US$27 mil? Temos de convocar. Isso é um acinte! Ô Lula, são esses que o estão apunhalando pelas costas, e não eu, que levo a Vossa Excelência a verdade e o nosso amor ao País! Essa é a mensagem de governabilidade do PMDB. Vamos reviver o grito de Cristo: “Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça”. Isto é que clama o povo do Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2006 - Página 38980