Discurso durante a 210ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem ao músico paraibano Severino Dias de Oliveira, o Sivuca.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao músico paraibano Severino Dias de Oliveira, o Sivuca.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2006 - Página 39668
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MUSICO, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, ATUAÇÃO, BENEFICIO, CULTURA, REGISTRO, HISTORIA, COMPOSITOR.

           O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ele foi muito mais que músico. Com sua genialidade, ele transcendeu os parâmetros normais da produção artística.

           Fez da música o instrumento com o qual procedeu a uma peculiar - e belíssima - leitura do mundo. Com a música e pela música, construiu singular meio de contato e de diálogo com a vida, com a natureza e com seus semelhantes.

           Falo de Sivuca, esse gênio que a Paraíba viu nascer e que agora, respeitosa e carinhosamente, acolhe para sempre.

           Este dezembro de 2006 aproxima-se de seu final e no emaranhado de ajustes de contas tão próprio do término de um ano, a morte veio nos privar do grande artista paraibano. Depois de dois anos doridos, no enfrentamento cotidiano com a doença implacável, Sivuca foi descansar. Fica o consolo de que a dor momentânea que nos invade a todos, justa e necessária, certamente um dia se amainará.

           Cada um de nós sabe que as leis da vida estão aí para serem acatadas. Mas elas não têm o poder, nem sequer o direito, de impedir que o sentimento de perda aflore. Perdemos fisicamente Sivuca, e isso nos entristece. Mas a perda se esgota nesse aspecto. Desse ponto ela nunca ultrapassará. Porque tenhamos clareza disso - a morte pode cessar muita coisa, mas nunca poderá apagar a História que a vida construiu.

           Se é verdade, como queria o também iluminado poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que de tudo fica um pouco, de Sivuca o muito que fica é um universo de poesia em forma de sons. Sons diversos, distintos e diferenciados. Sons que nasciam de todas as fontes. A sonoridade, enfim, tão característica dele, que fez do acordeão, a nossa tão amada sanfona, em suas mãos, o mais sublime dos instrumentos.

           Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, nascido em Itabaiana, reinventou a música. Consciente da universalidade dessa manifestação artística, a música por ele composta ou interpretada não admitia fronteiras, malgrado jamais ter se afastado de sua intrínseca brasilidade. Por isso, por amar sua província, conseguiu ser tão plenamente universal.

           Grande parte de sua vida transcorreu ao lado da companheira Glória Gadelha, paraibana de Sousa, médica e compositora. Provavelmente, foi com ela que muito da extraordinária produção musical de Sivuca se concretizou. Insuperável instrumentista, ele jamais se curvou a modismos e, sem qualquer forma de preconceito, enveredou pelos mais diversos caminhos possibilitados pelos ritmos musicais. Daí a profusão de choros, frevos e forrós que saíram de sua abençoada inspiração.

           Admirado internacionalmente, Sivuca foi pródigo no enriquecimento do cancioneiro popular brasileiro. O menino que aos nove anos já se apresentava em feiras e festas populares, terminou a vida como sempre quis e soube fazer. No último dia 20 de novembro, ele lançou festivamente um OVO, integralmente produzido em nossa querida Paraíba. Na celebração de seus 75 anos, lá estavam cerca de 160 músicos convidados e uma multidão de amigos e admiradores.

           É em nome dessa legião de conterrâneos e de admiradores que registro nesta Casa o falecimento de Sivuca. É em nome de uma Paraíba orgulhosa de tão ilustre filho que faço uso da palavra neste momento. Faço-o na certeza de que, como cidadão brasileiro e na honrosa condição de representante dos paraibanos no Senado Federal, cumpro um dever e exerço um Ponho-me a imaginar, agora, a grande festa no céu.

           Com a chegada de mestre Sivuca, a eternidade não poderá ser mais a mesma. Quando os acordes de "Feira de Mangaio", "Adeus, Maria", "Reunião de Tristeza" e "João e Maria", entre tantas outras obras-primas, se fizerem ouvir, certamente a Casa do Senhor estará mais leve e feliz.

           Feliz como todos nós que pudemos privar da companhia do artista incomparável e nos encantar com sua obra imorredoura.

           Feliz como todos nós que nos sensibilizamos, sonhamos, vivenciamos e nos emocionamos com a música que ele nos legou.

           Obrigado, Sivuca!

Muito obrigado


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2006 - Página 39668