Discurso durante a 13ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta sobre a transformação dos ministérios em feudos dos partidos políticos. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Alerta sobre a transformação dos ministérios em feudos dos partidos políticos. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 27/02/2007 - Página 2900
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMORA, ESCOLHA, NOME, MINISTRO DE ESTADO, OBEDIENCIA, VONTADE, PARTIDO POLITICO, DIVISÃO, MINISTERIOS, FALTA, CRITERIOS, PREJUIZO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quando se fecharam as urnas do segundo turno, fui a São Paulo para acompanhar a entrevista coletiva do meu candidato, Geraldo Alckmin. Talvez tenha surpreendido alguns jornalistas que me ouviram naquela ocasião, desejando felicidades ao vitorioso, o Presidente Lula, e dizendo que projetos bons e matérias úteis para o País não encontrariam, na minha pessoa nem na Bancada de Senadores do PSDB, obstáculos do ponto de vista da tramitação dessas matérias.

Aliás, isso não deveria surpreender ninguém, pois foi assim que agiu a imprensa brasileira - e com muita sabedoria. Nenhum órgão da imprensa brasileira manteve o mesmo diapasão. Era um Governo novo, embora com o mesmo titular, renovado pela consagradora margem de 58 milhões de votos. Quem não aceitar isso não é democrata, e esse não é o meu caso.

Depois, vi setores da Oposição se dispondo a fazer uma certa corrida de obstáculos, Senador Alvaro Dias, colocando quinze, vinte, trinta cascas de banana para que o atual Governo escorregasse. Não participo disso, não vou colocar casca de banana para que Governo algum escorregue. Quero me dedicar, como Líder de um Partido de Oposição, a registrar os acertos eventuais e a mostrar os verdadeiros erros que o Governo possa vir a cometer, que possa estar cometendo e que possa ter cometido.

Portanto, com esse espírito, que não tem nada de revanchista e nada de ressentimento, subo à tribuna para deplorar o fato de o Presidente estar, a cada momento, abrindo mão da sua autoridade, criando uma confusão e, como disse muito bem a jornalista Dora Kramer, plantando vento - e quem planta vento colhe tempestade. Em sua hesitação, em sua dificuldade para decidir o nome de um Ministro, cede aos partidos. Os Ministérios estão transformando-se em feudos. Determinado partido diz: “Este Ministério é meu”. Outro partido diz: “Eu não abro mão deste Ministério, a não ser que me ofereçam outro mais valioso”. Pergunto-me qual seria o critério para definir o que é mais valioso. Valioso do ponto de vista social? Valioso do ponto de vista administrativo? Ou valioso pelo fato de ter mais dinheiro em caixa? Fico sem entender. Fico realmente sem entender.

Isso tudo vai apequenando a segunda gestão do Presidente Lula, vai diminuindo o Presidente Lula aos olhos daqueles que nele confiaram outra vez e até aos olhos daqueles que, como eu, o combateram e têm o dever de combatê-lo. Tomei a iniciativa de dizer: “Presidente, seja feliz e faça um bom mandato, porque a maioria esmagadora dos eleitores brasileiros querem que Vossa Excelência faça um bom mandato e votaram em Vossa Excelência para que, se elegendo, fizesse um bom mandato”.

Portanto, não se trata aqui de um revanchista, de um recalcado, de alguém que não saiba estender a mão. Não! Trata-se aqui de alguém que está vendo a República brasileira diminuída.

O partido tal diz: “Este Ministério é meu. Só troco se me derem dois”. “Não posso dar-lhe dois, porque o fulano de tal veio com uma cota”. Vou citar um exemplo bem claro. Fontes do Presidente da República teriam dito que o Ministro Ciro Gomes era da cota do PPS. Como o PPS rompeu com o Governo, não pode ser cota do PSB. Logo, o PSB não tem direito.

Isso não é loteria, tampouco é sesmaria. Isso tampouco significa, Sr. Presidente, estarmos vendo um governo em que o candidato que serve para o Ministério dos Transportes serve para o Ministério da Agricultura, serve para o Ministério da Ciência e Tecnologia, ou serve para Relações Exteriores, ou serve para a Defesa. Nunca vi pessoas tão polivalentes no exercício, a meu ver, abjeto da fisiologia.

Isso não está sendo bom para o nosso País. Isso não está sendo bom do ponto de vista do respeito que a sociedade deveria votar às nossas instituições. Isso não está sendo bom para o povo brasileiro.

O Brasil está vivendo um clima de paralisia e eu percebo que sinais de crise de médio prazo já estão dados, porque, Sr. Presidente - peço-lhe só um segundo para concluir -, amanhã, o Presidente quererá mexer e o Partido vai dizer: “Não votaremos mais nada que lhe interesse, Presidente, porque Vossa Excelência está mexendo no meu pedaço”.

Sabemos que, no Presidencialismo, quem decide é o Presidente. E se é o Presidente quem decide, claro que, democraticamente, deve ouvir os segmentos todos que o apóiam, deve ouvir a sociedade sobretudo. Mas o que não deve fazer é o que está precisamente fazendo: permitindo que esses Ministérios passem a ser feudos de partidos que se julgam donos de sesmarias, coronéis-de-barranco como nos tempos avoengos do meu Estado.

Faço este alerta ao Presidente. No seu segundo mandato, Sua Excelência tem duas opções, não tem uma terceira: ou se engrandece ou se apequena. E o caminho atual não leva ao engrandecimento.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/02/2007 - Página 2900