Discurso durante a 26ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos poetas pelo transcurso na data de hoje, do Dia Nacional da Poesia.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem aos poetas pelo transcurso na data de hoje, do Dia Nacional da Poesia.
Aparteantes
Leomar Quintanilha, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2007 - Página 5214
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CASTRO ALVES (BA), POETA, OPORTUNIDADE, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, OBRA LITERARIA, SIMULTANEIDADE, DIA INTERNACIONAL, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, assomo à tribuna para fazer uma homenagem aos poetas.

            Hoje, 14 de março, é o Dia Nacional da Poesia, e o aniversário do grande e inesquecível poeta Castro Alves.

            Em meio a um turbilhão de noticias sobre violência, fome, doenças e impunidade que inundam nossas casas, Srª Presidente, Senadora Serys Slhessarenko - sei da sensibilidade de V. Exª - , venho falar de um tema um pouco mais leve. Sobre um encantamento chamado poesia.

            Hoje, 14 de março, é o Dia dos Poetas.

            Sou um pouco suspeito para falar deste assunto, uma vez que já fui enfeitiçado pelos encantos da poesia. Já me permiti a felicidade de rascunhar algumas poesias, ainda que iniciante, mas totalmente enlevado por poder me entregar aos versos que fazem da poesia uma companheira indescritível.

            Srª Presidente, gosto da forma como alguns escritores a descreveram: A poesia é a arte de comunicar a emoção humana pelo verbo musical, ou, então: A poesia é o extravasar espontâneo de poderosos sentimentos.

            Gosto de lembrar também que “os poetas são solidários, generosos, são movidos pela emoção, aquela que vem lá do fundo da alma e do coração. Amam a liberdade, a igualdade. São sonhadores, acreditam que um mundo melhor para todos é possível!”

            Srª Presidente, hoje, 14 de março, Dia Nacional da Poesia, esta forma luminosa de dar vida às palavras e que pode ser vista também em contos, romances, novelas, fotografias, pinturas, músicas, até mesmo no teatro e cinema.

            Srª Presidente, também neste dia especial é festejado o nascimento de um dos poetas românticos mais importantes da História do País, Castro Alves, a quem rendemos nossas homenagens.

            A poesia, como toda arte, exige entrega, e muitos são os que, por intermédio da linguagem estética, a ela se renderam. Castro Alves foi um deles. Seu apostolado girou em torno de duas grandes causas. Uma social e moral: a da abolição da escravatura; e a outra: a República, aspiração política dos liberais mais exaltados.

            Antevendo a necessidade do incentivo à leitura no Brasil, Castro Alves escreveu O Livro e a América, primeiro poema de seu primeiro livro.

            Diz Castro Alves neste poema:

            Oh! Bendito o que semeia

            Livros... livros à mão cheia...

            E manda o povo pensar!

            O livro caindo n’alma

            É germe - que faz a palma,

            É chuva - que faz o mar.

            (...)

            Bravo! a quem salva o futuro!

            Fecundando a multidão!...

            Num poema amortalhada

            Nunca morre uma nação.

            Não sei de que outra forma eu poderia homenagear os poetas, a não ser lembrando algumas de suas poesias. Por isso, peguei alguns versos aqui acolá. Lembro, aqui, de Euclides Cavaco:

            Quão loucos são os poetas,

            Há quem diga vulgarmente,

            Por verem como os profetas,

            Os transes que a alma sente!...

            Penetram na Natureza,

            Vagueiam pelo Universo,

            Dão alegria à tristeza...

            E da prosa e fazem verso!”

            Podia lembrar, aqui, de Mistérios; das Utopias de Mário Quintana, para dizer:

            Se as coisas são inatingíveis... ora!

            não é motivo para não querê-las...

            Que tristes os caminhos, se não fora

            A mágica presença das estrelas!

            Podia lembrar Manoel Bandeira, Senador Mão Santa, naquele velho e bonito poema Meninos carvoeiros - não vou lê-lo todo, por ser longo; lerei apenas alguns trechos -, que diz:

            (...)

            Vão bem com estes burrinhos descadeirados.

            A madrugada ingênua parece feita para eles...

            Pequenina, ingênua miséria!

            Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se

            brincásseis!

            Eh, carvoero!

            Senador Mão Santa, eu poderia lembrar Casimiro de Abreu, que escreveu Deus.

            Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno

            E brincava na praia; o mar bramia,

            E, erguendo o dorso altivo, sacudia,

            A branca espuma para o céu sereno.

            Podia lembrar Carlos Drummond de Andrade com Além da Terra: 

            Além da Terra, além do Céu,

            no trampolim do sem-fim das estrelas,

            no rastro dos astros,

            na magnólia das nebulosas.

            Além, muito além do sistema solar,

            até onde alcança o pensamento e o coração,

            vamos!

            vamos conjugar

            (...)

            O Sr. Leomar Quintanilha (PMDB - TO) - Senador Paulo Paim, V. Exª me permite um aparte?.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pois não, Senador Leomar Quintanilha. Inclusive, após a fala de V. Exª, concederei um aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Leomar Quintanilha (PMDB - TO) - Ouço, com muita atenção, embevecido até, as palavras de V. Exª. Acabo de chegar ao Plenário. Estava assistindo à posse, como Ministro do Tribunal de Contas da União, do nosso querido companheiro Raimundo Carreiro, aliás, a grande maioria absoluta do Senado estava presente, numa demonstração de reverência a este grande servidor público que, a partir de hoje, passa a exercer nobre e importante missão. Ouvi V. Exª nessa justa homenagem que presta aos poetas. Afinal, os poetas, os compositores também são seres humanos! Não sei se têm algo de divindade, porque, se mortais como nós, usam as mesmas palavras que usamos, mas as colocam numa seqüência tal que provocam emoções, que motivam, que animam, que trazem alegria que, enfim, trazem beleza a essa forma de expressão que temos aqui. Quem é que não se lembra dos versos que dizem: “Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais”! Enfim, são tantas poesias bonitas que expressam verdades extraordinárias e que registram na história da humanidade, particularmente na nossa História, a presença de compositores dotados de uma condição toda especial, que nos alegra, nos motiva, nos emociona muito. Fico muito feliz em compartilhar com V. Exª dessa justa homenagem que faz à poesia brasileira e aos poetas e compositores brasileiros.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Quintanilha. O aparte de V. Exª dá brilho aos poetas; não a este humilde orador que tomou a liberdade de vir à tribuna e homenagear os poetas, as nossas poesias.

            Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Paulo Paim, V. Exª também tem esse dom. Já li algumas de suas obras. A última foi O Rufar dos Tambores. Suas obras são extraordinárias. V. Exª já é um imortal, aliás, é um bom nome para a Academia de Letras do Rio Grande do Sul e do Brasil.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - O Senador Mão Santa me humilhou! Mas estou firme.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas tudo isso me tocou profundamente, porque minha mãe, Professora Serys, era poetiza, inclusive tem um livro publicado, intitulado A Vida - Um Hino de Amo”, Editora Vozes. Quando eu era pequeno, minha mãe fez um poema para mim. Vou ler apenas uma estrofe. Senador Tião Viana, ouça bem:

            Filho, tu és o enlevo e o amor de minha vida!

            Dos sonhos que sonhei, tu és a realidade,

És a visão formosa e abençoada, descida dos céus para aumentar a minha felicidade.

Isso criança. Nos meus trinta anos, quando ia desvirtuando da Ciência Médica para a Política, ela escreveu duas páginas, vendo o sofrimento da nossa luta na política. Só vou ler o final de outra poesia dela:

“O maior mal da vida, meu filho,

É que os filhos crescem muito depressa,

Deixam cedo o regaço das mães

Quando no materno colo

Tinham ainda

Muito o que aprender.

Cresceste e eu ainda tinha tanto

O que te ensinar!...

Queria ler contigo o Evangelho

Para mostrar-te quanto era humilde

O Filho de Deus, o mais sábio,

O mais santo dos homens...

E na cruz, o que falou?

Recordas-te?

Filho, a minha fé me diz

Que eu ainda hei de ver-te

Instrumento de paz,

De misericórdia, de perdão.”

E, morrendo, ela escreveu uma das páginas mais lindas. É grande, um testamento, mas, no final, é um ensinamento não apenas para mim, mas para toda a humanidade:

            “Meus filhos não herdarão de mim

            Castelos, nem fazendas,

            Nem ricas propriedades...

            Não deixarei ouro e nem prata,

            Nem dinheiro em caixas fortes...

            Tudo é vaidade sobre a terra.

            Nada há que sempre dure...

            Tudo, sem valor que me seduza.

            Meu testamento é a minha fé,

            É a minha esperança,

            É todo o meu amor!

            Que meus filhos possam herdar de mim

            Todo o bem dessa fé.

            Que foi a minha luz,

            Mais clara e mais querida,

            Dessa esperança que foi a minha força

            Dessa caridade,

            Que me fez ver Deus

            Em toda a natureza,

            Em todas as pessoas,

            Em tudo o que existe,

            E Dele provém!

            Caridade que é amor,

            Amor que é vida!”

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

            Sr. Presidente, se V. Exª me permitir, vou concluir, lembrando que o dia 21 de março é o Dia Mundial da Poesia e, ao mesmo tempo, o Dia Mundial pela Eliminação da Discriminação Racial.

            Lembro que há versos muito lindos de Castro Alves em Navio Negreiro. E se V. Exª me permitir, lerei apenas o final. Ele luta para libertar os escravos, e esse poema muito bonito da época diz:

            (...)

            São os filhos do deserto,

            Onde a terra esposa a luz.

            Onde vive em campo aberto

            A tribo de homens nus...

            São os guerreiros ousados

            Que com os tigres mosqueados

            Combatem na solidão.

            Ontem simples, fortes, bravos.

            Hoje míseros escravos,

            Sem luz, sem ar, sem razão...

            Concluí, minha querida Senadora Serys Slhessrenko, com a última parte do poema Navio Negreiro, de Castro Alves, homem inesquecível. Por isso, 14 de março é o dia de homenagem a ele e também o dia nacional de homenagem a todos os poetas. Lembro também que 21 de março é o Dia Internacional de Luta contra o Preconceito e o Racismo e o Dia Mundial da Poesia.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR PAULO PAIM.

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            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meio a um turbilhão de notícias sobre violência, fome, doenças, impunidade que inundam nossos lares todos os dias, venho até aqui falar um pouco sobre algo mais leve, sobre um encantamento chamado poesia.

            Sou um pouco suspeito para falar sobre ela, uma vez que também já fui enfeitiçado por seus encantos. Sim, eu já me permiti a felicidade de ser um poeta, ainda que iniciante, mas totalmente enlevado por poder me entregar aos versos que fazem da poesia uma companheira indescritível.

            Gosto da forma como alguns escritores a descreveram: "A poesia é a arte de comunicar a emoção humana pelo verbo musical" ou então “a poesia é o extravasar espontâneo de poderosos sentimentos"

            Gosto de lembrar também que, “os poetas são solidários, generosos, são movidos pela emoção, aquela que vem lá do fundo da alma e do coração. Amam a liberdade, a igualdade. São sonhadores, acreditam que um mundo melhor para todos é possível!”

            Nós comemoramos hoje, 14 de março, o Dia Nacional da Poesia, esta forma luminosa de dar vida às palavras e que pode ser vista também em contos, romances, novelas, fotografias, pinturas, músicas, até mesmo no teatro.

            Mas, neste dia especial também é festejado o nascimento de um dos poetas românticos mais importantes do Brasil, Castro Alves, a quem rendemos nossas homenagens.

            A poesia, como toda arte, exige entrega e muitos são os que, através da utilização da linguagem estética, a ela se renderam.

            Castro Alves foi um deles. Seu apostolado foi por duas grandes causas: uma, social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados.

            Antevendo a necessidade do incentivo à leitura no Brasil ele escreveu O Livro e a América, primeiro poema de seu primeiro livro...

            Oh! Bendito o que semeia

            Livros... livros à mão cheia...

            E manda o povo pensar!

            O livro caindo n'alma

            É germe - que faz a palma,

            É chuva - que faz o mar.

            (...)

            Bravo! a quem salva o futuro!

            Fecundando a multidão!...

            Num poema amortalhada

            Nunca morre uma nação.

            Sr. Presidente, não sei de que outra forma poderia homenagear poesia e poetas, a não ser trazendo alguns versos pinçados aqui e acolá para deleite dos nossos ouvidos e serenidade das nossas almas.

            Por esta razão, Srªs e Srs. Parlamentares, convido-os a viajar por alguns instantes pelo mundo mágico da poesia!

            Voz Da Alma - Euclides Cavaco

            Quão loucos são os poetas,

            Há quem diga vulgarmente,

            Por verem como os profetas,

            Os transes que a alma sente!…

            Penetram na Natureza,

            Vagueiam pelo Universo,

            Dão alegria à tristeza…

            E da prosa fazem verso!…

            Ao desaire cantam palma

            E dão brilho à noite escura,

            Na Guerra tréguas e calma.

            Do ódio geram ternura!…

            Poesia é a voz da alma…

            E nada tem de loucura!…

            É preciso não esquecer nada - Cecília Meireles

            É preciso não esquecer nada:

            nem a torneira aberta nem o fogo aceso,

            nem o sorriso para os infelizes

            nem a oração de cada instante.

            (...)

            O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,

            a idéia de recompensa e de glória.

            O que é preciso é ser como se já não fôssemos,

            vigiados pelos próprios olhos

            severos conosco, pois o resto não nos pertence.

            Mistério - Florbela Spanca

            Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,

            Dizendo coisas que ninguém entende!

            Da tua cantilena se desprende

            Um sonho de magia e de pecados.

            Dos teus pálidos dedos delicados

            Uma alada canção palpita e ascende,

            Frases que a nossa boca não aprende,

            Murmúrios por caminhos desolados.

            (...)

            Das utopias - Mário Quintana

            Se as coisas são inatingíveis... ora!

            não é motivo para não querê-las...

            Que tristes os caminhos, se não fora

            A mágica presença das estrelas!

            Meninos carvoeiros - Manuel Bandeira

            Os meninos carvoeiros

            Passam a caminho da cidade.

            -- Eh, carvoero!

            E vão tocando os animais com um relho enorme.

            Os burros são magrinhos e velhos.

            Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.

            A aniagem é toda remendada.

            Os carvões caem.

            (...)

            -- Eh, carvoero!

            Só mesmo estas crianças raquíticas

            Vão bem com estes burrinhos descadeirados.

            A madrugada ingênua parece feita para eles . . .

            Pequenina, ingênua miséria!

            Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

            Eh, carvoero!

            Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,

            Encarapitados nas alimárias,

            Apostando corrida,

            Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

            Deus - Casimiro de Abreu

            Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno

            E brincava na praia; o mar bramia,

            E, erguendo o dorso altivo, sacudia,

            A branca espuma para o céu sereno.

            E eu disse a minha mãe nesse momento:

            "Que dura orquestra! Que furor insano!

            Que pode haver de maior do que o oceano

            Ou que seja mais forte do que o vento?"

            Minha mãe a sorrir, olhou pros céus

            E respondeu: - Um ser que nós não vemos,

            É maior do que o mar que nós tememos,

            Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.

            Além da Terra, além do Céu - Carlos Drummond de Andrade 

             

             Além da Terra, além do Céu,

            no trampolim do sem-fim das estrelas,

            no rastro dos astros,

            na magnólia das nebulosas.

            Além, muito além do sistema solar,

            até onde alcançam o pensamento e o coração,

            vamos!

            vamos conjugar

            o verbo fundamental essencial,

            o verbo transcendente, acima das gramáticas

            e do medo e da moeda e da política,

            o verbo sempreamar,

            o verbo pluriamar,

            razão de ser e de viver.

             

            Bem, para fechar este momento, gostaria de lembrar ainda, que no dia 21 de Março comemoramos o "Dia Mundial da Poesia" que já trouxe o tema: “Pela união dos povos através da poesia".

            O dia 21 é também o Dia Mundial para Eliminação da Discriminação Racial. Que os versos de Castro Alves que tão fortemente gritaram pela liberdade do povo negro ecoem em todos os corações pondo fim às amarras do preconceito.

            Navio Negreiro - Castro Alves

            Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

            Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano

            Como o teu mergulhar no brigue voador!

            Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!

            É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...

            Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror! 

            (...)

            Senhor Deus dos desgraçados!

            Dizei-me vós, Senhor Deus!

            Se é loucura... se é verdade

            Tanto horror perante os céus?!

            Ó mar, por que não apagas

            Co'a esponja de tuas vagas

            De teu manto este borrão?...

            Astros! noites! tempestades!

            Rolai das imensidades!

            Varrei os mares, tufão!

            Quem são estes desgraçados

            Que não encontram em vós

            Mais que o rir calmo da turba

            Que excita a fúria do algoz?

            Quem são? Se a estrela se cala,

            Se a vaga à pressa resvala

            Como um cúmplice fugaz,

            Perante a noite confusa...

            Dize-o tu, severa Musa,

            Musa libérrima, audaz!...

            São os filhos do deserto,

            Onde a terra esposa a luz.

            Onde vive em campo aberto

            A tribo dos homens nus...

            São os guerreiros ousados

            Que com os tigres mosqueados

            Combatem na solidão.

            Ontem simples, fortes, bravos.

            Hoje míseros escravos,

            Sem luz, sem ar, sem razão...

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2007 - Página 5214