Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da aprovação hoje, na CRE, de voto de aplauso ao ex-Vice-Presidente dos EUA, Al Gore, pelo filme intitulado "Uma verdade inconveniente", com o voto contrário de S.Exa. Alerta para a campanha de internacionalização da Amazônia.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. SOBERANIA NACIONAL.:
  • Registro da aprovação hoje, na CRE, de voto de aplauso ao ex-Vice-Presidente dos EUA, Al Gore, pelo filme intitulado "Uma verdade inconveniente", com o voto contrário de S.Exa. Alerta para a campanha de internacionalização da Amazônia.
Aparteantes
Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 04/04/2007 - Página 8513
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, VOTO CONTRARIO, ORADOR, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, PROPOSIÇÃO, VOTO, CONGRATULAÇÕES, EX VICE PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUTOR, FILME DOCUMENTARIO, MEIO AMBIENTE, TENTATIVA, GOVERNO ESTRANGEIRO, TROCA, PERDÃO, DIVIDA EXTERNA, BRASIL, CONCESSÃO, TERRAS, RECURSOS NATURAIS, REGIÃO AMAZONICA.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, INTERNET, REGISTRO, INTERESSE, EMPRESA PRIVADA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INTERNACIONALIZAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, na Comissão de Relações Exteriores, foi apreciado um voto de aplauso, proposto pelo Senador Aloizio Mercadante, ao ex-vice-Presidente dos Estados Unidos Al Gore, pelo seu filme que está percorrendo o mundo e que recebeu até o Oscar, intitulado “Uma Verdade Inconveniente”.

Sr. Presidente, como homem da Amazônia, nascido na Amazônia, exatamente por uma verdade inconveniente dita pelo ex-Vice-Presidente Al Gore, em 1989, votei contra. Votei contra, não pelo simbolismo ou pela mensagem que o filme quer passar, mas pela semelhança da inconveniência da verdade do ex-Vice-Presidente Al Gore, em 1989, quando ele disse: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós. Oferecemos o perdão da dívida externa em troca da floresta”. Isso foi dito pelo ex-Vice-Presidente Al Gore.

Então, essa foi uma verdade também muito inconveniente, porque é uma verdade mesmo que os grandes líderes mundiais querem a Amazônia. Isso é tão verdade, que Margaret Thatcher já disse também, em 1983: “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam suas riquezas, seus territórios e suas florestas!”. Mitterrand, grande socialista, defendia: “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia”. E, hoje, o ex-Presidente Collor disse que foi interpelado na França sobre essa afirmação de Mitterrand. Mas houve outros também, como, por exemplo, Gorbachev, que, em 1992, disse: “O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes”.

Então, essas são verdades inconvenientes, e, por causa delas, especialmente por causa da verdade dita pelo ex-Vice-Presidente Al Gore em 1989, votei contra a moção de aplauso a ele.

E quero, Sr. Presidente, trazer aqui hoje matéria publicada no site www.amazonia.org.br, justamente de uma organização não-governamental que se preocupa bastante com a Amazônia - discordo de muitas de suas afirmações; portanto, é insuspeita para mim, porque não concordo com tudo que ela afirma - e que publica o seguinte artigo: “Empresa dos Estados Unidos propõe privatizar a Amazônia”. A data é 27 de março de 2007. O teor é o seguinte:

O laboratório Arkhos Biotech, dos Estados Unidos, defende em vídeo o controle privado para “salvar a Amazônia”. E acusa o Brasil de não cuidar da região.

A Amazônia está mesmo à venda. Em um vídeo de 1’25”, postado em seu site, a empresa norte-americana Arkhos Biotech está convocando as pessoas do mundo inteiro a investir “para transformar a floresta (Amazônica) num santuário de preservação sob controle privado”. O apelo, em tom dramático, é feito pelo diretor sênior de marketing da empresa, Allen Perrel, para justificar que a Amazônia precisa ser cuidada por grupos internacionais. “A Amazônia não pertence a nenhum país. Pertence ao mundo”, afirma Perrel [veja como há uma co-relação com as afirmações desses outros líderes; nesse caso, trata-se de um senhor da iniciativa privada que faz uma proposta concreta].

Segundo ele, a proteção privada da Amazônia deve ocorrer porque “os países (no caso o Brasil) que deveriam tomar conta dessas riquezas não estão à altura da tarefa”. Perrel vai mais longe: “ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento. Pode ser a única maneira de salvar a floresta da extinção total”.

Em sua página, a Arkhos Biotech divulga, em texto, áudio e vídeo, sua missão: a Amazônia deve ser internacionalizada. A empresa tem laboratório em Itacoatiara (AM), no coração da Amazônia, explora essências e óleos vegetais amazônicos, tradicionalmente conhecidos das comunidades ribeirinhas, a exemplo do óleo de andiroba (Carapa Guianensis), usado como repelente natural de insetos e com ação antiinflamatória; do óleo de castanha-do-Pará (Bertholletia Excelsa), hidratante; do óleo de Buriti (Maurita Flexuosa L.F.), rico em carotenóides e pró-Vitamina A; do óleo de copaíba (Copaifera Officinalis), que tem ação anti-inflamatória; e do óleo de açaí (Euterpe Oleracea Mart), que tem ação calmante e de hidratação [o laboratório já está explorando isso hoje, em Itacoatiara, no Estado do Amazonas].

Ela se apresenta como um dos maiores fabricantes do mundo de ativos vegetais para a indústria cosmética e farmacêutica, atuando no mercado desde 1965, exportando para mais de 20 países.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - Senador Arthur Virgílio, com muito prazer, concedo-lhe o aparte.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Essa empresa é a Arkhos Biotech, que, na verdade, é virtual. Eu próprio embarquei nessa canoa e procurei fazê-lo com o maior humor. Eu soube que é um centro de convivência de jovens, fazendo parte de uma campanha publicitária da AmBev, que, no final, teria o lançamento de um novo guaraná e uma mensagem em defesa da Amazônia. Também me assustei como V. Exª. E V. Exª está de parabéns pela vigilância. Cometi o mesmo pecado, mas o fato é que ela é virtual, mas não é virtual aquilo a que V. Exª referiu antes: não são virtuais as palavras de Margaret Thatcher, de Al Gore, de Mitterrand, de Tony Blair, de todos esses estadistas que têm culturalmente a idéia de que a Amazônia não é brasileira, de que a Amazônia é uma entidade que mereceria ser um protetorado da ONU. Portanto, quero só adverti-lo de que também caí nessa. E digo mais: seja inimigo virtual, Presidente Casagrande, seja inimigo real, meu dever é defender minha região. Então, V. Exª está também defendendo sua região de um inimigo virtual. V. Exª tem feito muito, defendendo-a dos inimigos reais. Mas queria preveni-lo, porque, enfim, não é possível que duas pessoas, no mesmo plenário, caiam no mesmo conto.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - É interessante que V. Exª afirme isso, porque, quando comecei, tive o cuidado de dizer que isso estava publicado em um site de uma organização não-governamental que, embora eu discorde em muitos pontos, é uma instituição que me parece séria e que publica com detalhes, inclusive mostrando percentuais e a localização.

Portanto, Senador Arthur Virgílio, em vez de simplesmente acreditar que a coisa é virtual, peço que os órgãos do Governo, no caso os encarregados da fiscalização da Amazônia, investiguem isso, porque não é a primeira vez, como bem disse V. Exª, que líderes mundiais falam coisa semelhante. Recentemente, Pascal Lamy, atual Secretário-Geral da Organização Mundial do Comércio - na época, não sei que cargo ocupava -, disse a mesma coisa, com outras palavras: que tinha de se fazer um grande consórcio internacional para proteger a Amazônia.

Já me dou por satisfeito, Senador Casagrande, porque vejo que pelo menos uma coisa já está internacionalizada, como disse o Senador Sibá Machado hoje nesta tribuna, que é a preocupação com a Amazônia. Mas o que não pode é nós, brasileiros - não apenas os amazônidas têm essa obrigação - ficarmos meio anestesiados com a repetição dessas frases, que vêm das décadas de 80 e de 90, e começarmos a pensar que isso é normal. Um dia desse, recebi vários e-mails perguntando sobre um mapa que teria sido publicado em livros nos Estados Unidos em que a Amazônia já era dada como área internacional. E, à semelhança da conclusão do Senador Arthur Virgílio, descobriu-se que era uma brincadeira da Internet. Mas me parece que isso até que pode ser uma tática: na medida em que começam a dizer repetidas vezes uma coisa e em que ninguém reage, a coisa termina acontecendo, com todo mundo mais ou menos de acordo. Preocupo-me, como amazônida e, hoje, como Presidente da Subcomissão da Amazônia, que essas coisas sejam muito claramente investigadas.

Então, fica meu apelo e o pedido a V. Exª da transcrição dessa matéria publicada na Internet sob a chancela do site www.amazonia.org.br e também dessas afirmações já conhecidas de muito - são tão conhecidas que já não causam mais espanto.

Se alguma autoridade brasileira tivesse a infelicidade de dizer que alguma área dos Estados Unidos não deveria pertencer àquele país, mas, sim, a todo o continente americano, qual seria a reação? Se alguma autoridade brasileira dissesse que um território da França não deveria ser francês, mas de toda a humanidade, imagino como reagiriam!

            Vamos propor algo simples como a internacionalização do petróleo. Ele não seria mais patrimônio de ninguém, mas de toda a humanidade, e dividiríamos o uso de acordo com a necessidade de cada País, não por meio de guerras, como acontece hoje, por causa do petróleo.

Quero deixar registrado que, todas as vezes em que houver fumaça, estarei aqui para pedir providências. E quero pedir providências não apenas ao Senado - e aí, como Presidente da Subcomissão da Amazônia, vou oficiar aos órgãos responsáveis -, mas também à Abin, ao Ministério Público, à Polícia Federal, porque não podemos ficar realmente sem vigilância permanente sobre a Amazônia.

A Amazônia precisa, sim, ser preocupação internacional, mas a Amazônia brasileira é dos brasileiros, e a Amazônia dos nossos países limítrofes é respectivamente de cada país que a compõe.

Então, deixo aqui este registro, pedindo a V. Exª a transcrição do documento e as providências cabíveis.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Empresa dos EUA propõe privatizar a Amazônia”, publicada no site www.amazonia.org.br.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/04/2007 - Página 8513