Discurso durante a 48ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Denúncia sobre o drama dos aposentados do INSS no Piauí, em razão do cancelamento do convênio entre o INSS e os Correios.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Denúncia sobre o drama dos aposentados do INSS no Piauí, em razão do cancelamento do convênio entre o INSS e os Correios.
Aparteantes
Marisa Serrano, Mário Couto.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2007 - Página 9832
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, REAJUSTE, BENEFICIO, APOSENTADO, PENSIONISTA, PAGAMENTO, SALARIO MINIMO, GESTÃO, ORADOR, EX PREFEITO, MUNICIPIO, PARNAIBA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI).
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, DIARIO DO POVO, ESTADO DO PIAUI (PI), ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, APOSENTADO, IMPOSSIBILIDADE, RECEBIMENTO, BENEFICIO, MUNICIPIOS, AUSENCIA, RESPONSABILIDADE, AGENCIA, BANCOS, CULPA, CANCELAMENTO, CONVENIO, PREVIDENCIA SOCIAL, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, REDUÇÃO, DIREITOS, APOSENTADO, PENSIONISTA, PREJUIZO, FAMILIA.
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador João Pedro, que preside esta sessão do dia 16 de abril, segunda-feira, Srªs e Srs. Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado Federal. Com mais de 60 anos de atividades, trago para cá uma experiência de vida que confirma que os velhinhos são muito fortes e merecem respeito.

Está lá o assessor do Presidente Collor, que vai lançar um projeto de lei para se debaterem o parlamentarismo e o presidencialismo. Eu quero dizer que o erro do Presidente Collor - errare humanum est - foi um que vou contar a seguir. Senadora Marisa Serrano, os aposentados tiveram uma conquista no Governo do Presidente Collor: 147%. O Brasil todo se lembra disso.

Na sua jovialidade e na sua franqueza... Senadora Marisa Serrano, votei no Collor e não me arrependi; e acho que este Congresso errou e lhe roubou o mandato. Errare humanum est. Eu era Prefeito na mesma época. Senadora Marisa, tenho uma experiência para contar sobre o que é a força dos velhinhos. Quero ajudar o Presidente Lula. Ele é o nosso Presidente mesmo, a gente tem de levar. Pedirei ajuda à Marisa, a mulher dele, porque ele é cercado de aloprados por todos os lados. Direi o que está faltando: o Presidente Collor, então intempestivo, disse que não iria obedecer à Justiça e dar os 147% dos velhinhos. Sei que ele deveria estar com dificuldade de caixa, mas ele poderia ter sido mais flexível, prometer e dialogar. Aí começou a crucificação dele. Marisa, vou lhe falar da experiência que tenho. V. Exª não foi ainda Governadora, mas vai ser. Aquele povo vai tomar juízo e vai votar em uma mulher, porque mulher é mais digna e mais honrada; vai votar em V. Exª em pouco tempo. Tenho uma experiência de força, e quero até ajudar o Presidente Lula. Sua Excelência está muito forte. Por que ele vai negar o carisma? Ele ganhou as eleições e não vai agredir os fatos. O Petrônio me ensinou a não agredir os fatos. Os fatos estão aí. Mas quero apresentar uma experiência: quando fui Prefeito, na minha cidade não se pagava salário mínimo. Naquele tempo, isso era comum. Não é que os Prefeitos eram ruins, eles pensavam como Lula: é melhor dar pouquinho para muita gente.

Era mais ou menos essa a política. Estou me referindo à História. Não estou contestando os outros; acho até razoáveis os que me antecederam.

Eu disse que ia pagar, e paguei. Naquele tempo, só se pagava salário mínimo na Capital. O Professor Wall Ferraz e o Prefeito de Floriano (Leão) foram os primeiros, e eu fui o terceiro. Naquele tempo, havia 145 cidades. Depois, então me debrucei... Sei o que significa isso. Quero advertir à Senadora Marisa Serrano, porque o Lula está muito bem, mas ele quase se estrepou no primeiro mandato. Não fui eu; foram os aloprados. Eu só fiz dizer a verdade.

Aliás, eu destoei, porque, quando veio aquela medida provisória contra os velhinhos, que tirou deles direitos adquiridos, eu disse que estava fora, eu e Heloísa Helena. Eu havia apoiado o Lula na primeira eleição e, por isso, tinha algumas posições. Então, José Dirceu, que era metido a macho, por causa desse posicionamento, tirou as posições que eu tinha. Eu disse: olha, esse é o Zé “Maligno”!. Ele está lá, e eu estou aqui, com a cabeça erguida.

Mas vou advertir, porque, quando paguei o salário mínimo, havia uma folha de aposentado, antes da Previdência - talvez a Senadora Marisa Serrano nem tivesse nascido -, antes do INPS, que foi a fusão dos institutos. Então, eu sabia, como Prefeito, depois de pagar o salário a todo mundo, que poderia ter uma folha de aposentados e pensionistas - pensionista é o beneficiário do funcionário falecido.

Senadora Marisa Serrano, aposentado, velho, não faz greve, não faz pressão, e a pensionista, a viúva, menos ainda.

Senadora Marisa Serrano, eu fui verificar. Era pouquinha gente. Não significava nada. Eu não sou herói, Senador João Pedro. Eu tenho uma história para contar. Eu fui Prefeitinho. Então, eu mandei buscar a folha. Eram umas 20 pensionistas e só uns 10 aposentados, ou seja, uma folha pequena. Digo isso só para mostrar o que significa o que o Lula fez. E quero advertir que ele pode se estrepar por causa da denúncia que vou fazer.

Eu mandei buscar a folha de aposentados. Eram dez. Antes de 1964, não havia instituto; era a prefeitura que pagava a aposentadoria de seus funcionários. Ninguém reajustou o valor da aposentadoria. Mandei buscar essas pessoas, Senador João Pedro, e anunciei a eles no meu gabinete que ia reajustar o benefício e apagar um salário mínimo. Senadora Marisa Serrano, um velhinho ficou tão emocionado que passou mal e quase morreu ali. Eu tive medo - mandei levá-lo ao pronto-socorro. Eles ganhavam tão pouco, que só dava para uma cerveja; o que as viúvas ganhavam só dava uma coca-cola. Passaram-se anos e anos, e o benefício não foi atualizado, e naquele tempo havia uma inflação de 80% ao mês. Senadora Marisa Serrano, o número era pequeno: mais ou menos 20 viúvas e dez aposentados. Um era pai do gerente do Banco do Brasil. Eu vi e senti. Foi Deus...

Eles começaram a dizer: “Esse prefeito é que é bom. Esse Prefeito é que é santo. Esse Prefeito não é Mão Santa, não; é todo santo”. Em todas inaugurações, estavam lá. Os velhinhos são bons, honrados e decentes. E aquele dinheiro, Senadora Marisa Serrano, não é para eles, não; eles têm filhos e netos. Senadora Marisa Serrano, eu senti que, de repente, comecei a crescer.

E não foi feito nada, porque a folha era pequena. Estou sendo franco. Eram 10 aposentados e 20 pensionistas. Folha pequena, insignificante. Mas eu vi aquilo. Eles iam para a praça. O filho de um era gerente do Banco do Brasil. Então era uma influência...

Marisa, quando eu saí da prefeitura e disputei o Governo, eu tive 93,84% dos votos, porque os velhinhos iam para as praças. Eles pegam o dinheiro deles para dar aos netos, às netas, para não sei quem.

E o que é que está havendo agora? Primeira-Dama Marisa...

Eu vou fazer um apelo a ela, porque não há ninguém aqui. O PT é assim mesmo. São uns aloprados e tal. Não adianta. Eu acredito muito na mulher, e é o nome da nossa encantadora...

Veja o que está se passando no Piauí. Esse é que é o PMDB de Ulysses, que eu represento, de Tancredo, de Teotônio, de Juscelino, de Ramez Tebet. Autêntico.

Senador Eurípedes, está aqui o jornal Diário do Povo, do Piauí. O jogo é tão sujo que cancelaram a assinatura aqui.

Presidente Renan, onde estiver V. Exª, eu quero receber, sou Senador da República. Eu não quero esses outros jornais; eu quero este, que diz a verdade. Lá há um jornalista... Cancelaram, não recebemos mais.

Aqui se diz a verdade. Fala quem pode. Eu posso falar. Senador é para isso. Brossard chegou aqui, Marisa, e disse: “O que eu posso fazer? Tive um milhão e meio de votos, então eu vou falar pelos que não podem falar”.

Diz o Diário do Povo que 10 mil segurados vão viajar para receber aposentadoria. Vamos entender. Dona Marisa, sei o que é. É o Piauí. Não sei se está no Brasil, mas vim de lá.

Está na primeira página de o Diário do Povo que os aposentados do INSS do Piauí vão receber os benefícios fora de seu domicílio por causa do cancelamento de convênio entre a Previdência Social e os Correios. A empresa fazia o pagamento dos aposentados nos Municípios onde não há agência bancária. Não há previsão para solucionar o problema.

Quando comecei a governar o Piauí, havia 140 Municípios. Deus me permitiu criar mais 78. Hoje meu Estado tem 224 Municípios. Nem todos têm agência bancária. Tenho um documento mostrando quantos têm agência bancária. Em muitos, o benefício era pago pelos Correios, uma caixa postal em que o velhinho aposentado da cidade pequena recebia.

De repente, esses aloprados que só querem mesmo roubar... Nunca vi se roubar tanto. Sou Senador, e o País sabe. Não sei quem está anestesiado. Não digo nem na Constituição, mas na Bíblia, livro de Cristo, está escrito: “Não roubarás”. Nos meus 64 anos, nunca vi se roubar tanto como se rouba agora neste País. Estão aí os exemplos.

O convênio foi cancelado. Vou mostrar aqui um retrato porque um quadro vale por dez mil palavras: “Pagamento de 10 mil segurados foi feito em outros municípios”.

Cadê o rapaz da televisão? Sei que sou da Oposição, mas sou da Nação, do povo.

Bota esse bicho grandão porque outro dia vocês puseram ali no Gilvam Borges. Quando é para elogiar o Lula... Eu vi, na minha casa, de madrugada, grandão. Quando eu mostro, não sai não. Bota esse diabo aí, ou estão sabotando. É uma tecnologia.

Ó, Senador Eurípedes, eu vi. Quando é para elogiar o Governo, sai em letras grandes. O que eu mostro não sai não. Bota o meu aí. Se não for tu estás sabotando, tu estás no PT. Eu quero é grandão como vocês colocam quando é para prestigiar...

Olha a velhinha aqui! Eu mostrei à Marisa. Ela como mãe, como professora, como mulher, viu a foto dessa velhinha que está no jornal. Então, ela anda 150 quilômetros para ir de Santa Filomena - olhem o mapa do Piauí - a Gilbués, para ir e para voltar.

Segundo o Vereador Bonifácio Bezerra, Josiana necessitava de ajuda até para receber em Santa Filomena, imaginem tendo de viajar 300 Km! São 150 Km para ir e 150 Km para voltar em estradas miseráveis. Está aí a buraqueira. São seis horas de viagem.

Vocês se lembram daquela medida provisória com que tentaram “queimar” a Heloísa Helena, aquela mulher heróica e santa? Ficamos... Taxaram os velhinhos aposentados. Tiraram deles direitos adquiridos. Foi por isso aí... Essa é pior.

Vocês se lembram desse partido insensível de aloprados que presidem o PT e que colocou, no Rio de Janeiro, os velhinhos na fila para receber? Aquilo era em plena cidade grande, saiu na Globo,

            Aquilo era em plena cidade grande, saiu na Globo. Mas isso aqui é gente e gente do campo, de cidades pequenas, humildes. Está aqui a Josiana. Está aqui neste jornal. “Isso é uma vergonha!”, como dizia o Boris Casoy. E tiraram o Boris Casoy, o que é outra vergonha. Como se tira um jornalista desse?

            Mas é isso o que o Brasil tem que ver. Isso é uma vergonha! Baixou o espírito aqui.

            O Piauí tem um jornalista muito bom, que é desse jornal: Zózimo Tavares.

            Senadora Marisa, temos esse fato da história. O maior jornalista da história do Brasil em coragem é piauiense: Carlos Castello Branco, o Castelinho. Até o Jornal do Brasil denominava a “Coluna do Castello”. Na ditadura, ele enfrentava, era a tribuna. E esse aqui parece que incorporou o espírito de Castelinho.

            Está na coluna de Zózimo Tavares neste jornal: “Sadismo e Indiferença”. Ele fala aqui:

(...) insensatez do INSS, que rompeu, em Brasília, o convênio que mantinha com os Correios para pagar os benefícios de aposentadoria e pensionista em mais de 30 municípios do Piauí.

Cita os Senadores, eu, o Heráclito e o João Vicente Claudino:

Se não tomaram, indubitavelmente negligenciaram no exercício de seu mandato”. [São palavras do jornalista; se não denunciarmos isso...] Se tomaram conhecimento e não se mexeram, a falha é ainda mais grave, pois não se admite tanta omissão da bancada federal piauiense diante de uma violência praticada impunemente contra quem já não tem tanta capacidade de defesa, no caso os velhinhos do INSS.

Senadora Marisa, daí estarmos aqui. É talvez uma voz solitária. Joaquim Nabuco, para defender a escravatura, era ele sozinho. Congresso é isso mesmo. O próprio Lula disse que aqui havia 300 picaretas. Acho que aumentou, Presidente Lula da Silva. Essa é a verdade.

Com a palavra a Senadora Marisa Serrano, que aqui tem que dar a este Congresso a força e a coragem da mulher, da mulher histórica, que sempre é mais verdadeira e mais valente do que nós homens.

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Agradeço, Senador. É muito pertinente quando falamos daqueles que às vezes não têm voz suficiente ou a sua voz não ecoa por todo o País. E V. Exª expôs aqui que esta Casa tem que ser voz não só daqueles que têm um timbre alto, forte, mas a voz das crianças, dos pequenos, a voz dos desvalidos, das minorias, e a voz, principalmente, daqueles que já trabalharam toda uma vida de dedicação a este País e que têm direito e merecem o respeito do Governo e do cidadão brasileiro. Portanto, nada mais justo que V. Exª denuncie aqui problemas por que as pessoas de mais idade estão passando no seu Estado. Espero que seja um problema que possa ser resolvido com a sua voz, com a sua tenacidade, com os Senadores desta Casa, com aqueles que têm sensibilidade com os homens e as mulheres da terceira idade, e que não seja um problema que se passe em todo o País. Mesmo que seja uma pessoa só, Senador Mão Santa, desrespeitada na sua cidadania, nos seus direitos, já valeria o seu pronunciamento desta tarde. É necessário que sintamos que, neste País, todos são cidadãos, independente de morarem no interior do Piauí, de Mato Grosso do Sul ou de qualquer Estado brasileiro. O Governo tem a obrigação moral de facilitar a vida das pessoas, dando dignidade principalmente àqueles que mais necessitam. Tenho certeza de que a sua voz vai encontrar eco, sim, e que as pessoas do Piauí que o estão vendo e ouvindo as suas palavras sabem que há aqui uma voz que fala por eles. E tenho certeza de que todos nós, juntos, poderemos fazer com que este Governo seja mais sensível à causa daqueles que precisam do nosso apoio e do nosso trabalho. Meus parabéns.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senadora Marisa Serrano, peço à Mesa que incorpore todas as palavras de V. Exª ao meu pronunciamento. Vou fazer um pedido a V. Exª: como V. Exª não tem praia no seu Estado, embora tenha muita coisa boa, vá nos visitar no Delta da Parnaíba, mas não leve o título de eleitor. Na semana passada, houve um debate, e o povo está encantado com a presença de V. Exª. Então, se V. Exª transferir o título, já era a nossa eleição, uma vez que todo mundo está encantado com Marisa Serrano.

Vou fazer minhas as palavras de João Pedro. Outro dia chamei João Paulo por causa do Papa, que me abençoou, quando ainda era Governador do Piauí. Então, João Pedro, o jornalista Zózimo diz assim:

Não estranha a insensibilidade, a insensatez e a estupidez do governo, afinal ele é o mesmo que, no início do seu primeiro mandato, obrigou, através da Previdência, todos os velhinhos a saírem de casa para serem recadastrados, em todo o Brasil. O que estranha mesmo é a indiferença dos representantes políticos do Piauí, diante desse massacre que sadicamente estão praticando contra nossos idosos.

Vejam a manchete: “Sadismo e Indiferença”. Isso é o que o Governo faz com os velhinhos.

            Segundo um certo documento, no Piauí, só 77 cidades têm agências bancárias. Então pagam o benefício pelos Correios, por isso os velhinhos estão nesse sofrimento.

Agora, pedi a permissão a V. Exª um instante, para fazer um pedido à encantadora Primeira-Dama deste País, D. Marisa. E por que vou fazê-lo? Porque vejo o Lula perdido, rodeado de aloprados por todos os lados, como ele diz.

O Padre Antônio Vieira - ó João Pedro - dizia que “um bem nunca vem só”. Mas eu digo que o mal também nunca vem só. Isso aqui é um mal! Atentai bem ao que está havendo: o velhinho é obrigado a andar 150, 130, 120 quilômetros para buscar o dinheirinho em uma cidade, estradas ruins, e, quando o velhinho chega lá e vai receber... Além da despesa: o ônibus, a gasolina, a comida, ele é assediado. Isso é muito natural, a vida está difícil... Olha, D. Marisa, por isso eu quero apelar! Afinal, V. Sª simboliza a família. E os velhinhos são assediados pelas meninas novas da cidade maior. A vida está difícil. Essa é uma realidade. Tentados, eles deixam as suas velhinhas.

Então, D. Marisa, pelo amor de Deus. Esses aloprados estão destruindo o maior patrimônio: a família do interior. É... Os velhinhos são obrigados a se deslocarem para buscar esse dinheirinho... Cem ou cento e vinte quilômetros... As tentações... Então, acabam deixando as suas velhinhas e destroem o maior patrimônio... D. Marisa, pelo amor de Deus, veja isso! É porque Lula é rodeado de aloprados. Veja a sua sensibilidade de mulher, de mãe de família. Ó D. Marisa, Rui Barbosa disse: “A Pátria é a família amplificada”. A lei diz que, se maltratar os velhinhos, está-se destruindo o maior patrimônio nosso: a família cristã do interior.

Essas são as minhas palavras.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Um aparte, Senador...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Opa! Agora, sim!

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Estou aqui, de prontidão, para aparteá-lo, e V. Exª nem me olhou.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª está de prontidão... Graças a Deus, V. Exª é do Pará, porque os pronunciamentos de V. Exª ganharam...

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Tão grande é o interesse de V. Exª pelo tema que nem mesmo percebeu que eu estava pedindo um aparte. Quero parabenizá-lo pelo seu pronunciamento. Eu estava muito atento às suas palavras, que tratam dos sacrifícios a que são submetidos os idosos do seu querido Piauí. Aliás, Senador, preste atenção. Olhe para mim. Não são só os idosos neste País que estão sendo prejudicados. Agora mesmo, folheava umas pesquisas na qual eu via o índice de jovens que estão sendo assassinados neste País. Fiquei decepcionado ao ver que os jovens de 20 anos estão liderando esse ranking. Vejam só! Quando se chega a dar respeito...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - A Mesa vai conceder mais cinco minutos ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Os pobres coitados dos idosos que tanto sofrem neste País ainda têm dificuldades para receber suas aposentadorias. Queria perguntar a V. Exª se aí o jornal fala das dificuldades que têm para receber esse dinheiro e a insegurança por que passam. Muitos ainda são roubados antes de chegarem a suas casas, Senador Mão Santa. Ainda há isso pelo meio do caminho. Não sei se a reportagem faz referência a isso. É realmente um sofrimento. Faça uma idéia. V. Exª está falando dos interesses do Piauí. São duzentos e poucos, como V. Exª citou. Lá no Pará são 143. No meu Marajó, são 16 Municípios. Faça V. Exª uma idéia das dificuldades desses senhores e senhoras idosos para receberem suas aposentadorias na Ilha de Marajó. A dificuldade de transporte é enorme, Senador Mão Santa. Não dão bola, não ligam, não querem saber. Trago-lhe os registros de quantos já foram assaltados depois que recebem porque as distâncias são muito grandes, Senador. Quero parabenizar V. Exª pela preocupação, nesta tarde, com os idosos do seu querido Piauí. Parabéns Senador Mão Santa!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradecemos, Senador Mário Couto, o tempo dado pelo nosso Presidente, que interpreta aqui Montesquieu: O Espírito das Leis.

Eu pediria que se gravasse isso para o País. Publiquem aí esta foto grande dessa velhinha como um símbolo.

Se o Presidente vai ao Maracanã para fazer um gol, ninguém quer ver; querem é o gol do Romário. Eu queria ver o Presidente, com o Governador - que era Senador -, andando pela Rocinha, pelas favelas do Rio. Ele tem de andar. Eu era Governador do Estado e andava sozinho; a autoridade é moral.

Minhas últimas palavras: sabemos que está aí, mas a verdade ninguém esconde. Eu não sei como é lá no Amazonas, mas lá no Piauí... O Presidente Luiz Inácio viveu pouco no Nordeste; eu vivo. “O sertanejo é antes de tudo um forte” - Euclides da Cunha. E o sertanejo diz assim: “é mais fácil tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade”.

Este País vai mal. Sobre a segurança, ele acaba de falar e todo mundo fala. Fizeram uma pesquisa, e mais de 90% disseram que piorou neste Governo. Pesquisa feita por eles, paga por eles. Mais de 80% de nós cristãos - “amai o próximo como a ti mesmo” - queremos a pena de morte. Isso nunca ocorreu antes.

A matéria já foi apreciada várias vezes aqui e não foi aprovada. Se fizerem um plebiscito, passa.

Sobre saúde eu posso falar. Acredito nesse Ministro da Saúde, que é jovem, simpático, pertence ao meu Partido. Eu não o conheço, mas eu me conheço, tenho 40 anos de profissão. Pedi a permissão, e V. Exª fez um grande trabalho. Aqui há um trabalho, Mário Couto. Tenho 40 anos como médico-cirurgião. Eu não sei quanto o Temporão tem, mas sei que estas mãos, guiadas por Deus, operaram mil próstatas, mil tireóides, mil duodenos. Desafio hoje, neste País, o Ministro a me mostrar uma cirurgia grande feita pelo SUS. São R$2,50 a consulta; R$9,00 a anestesia; R$20,00 a cirurgia. Faz-se por amizade; faz quem tem plano de saúde; faz quem tem dinheiro, quem é superprotegido, como nós, do Senado. Mas, por essa tabela do SUS, ninguém faz.

Está aqui a matéria “Confissão de um pecador”, de Francisco Ferreira Ramos, no mesmo jornal. Cortaram a assinatura. Não pode. O negócio aqui está pior do que... Só ficam lá nos jornais.

Ó Boris Casoy! Isto é uma vergonha!

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, V. Exª é do Amazonas, então dê um tempo do tamanho de seu Estado.

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT -AM) - Mais um minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mais um. Cristo fez em um minuto o Pai-Nosso, pois lá vai.

Então, Francisco Ramos é cirurgião há uns 50 anos. É mais velho do que eu. Neurocirurgião. É um homem-símbolo; pertence ao PSB, o Partido do Vice-Governador. Foi diretor desse hospital maior do Piauí, fundou uma faculdade de Medicina comigo, é médico há quase 50 anos. Uma vida. Meio século. Saiu pobre, estudou no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul. Olhem o que ele diz:

“Confissão de um pecador”

(...) Esforcei-me o quanto pude. Desiludido, em dezembro próximo passado deixei aquela casa [ o hospital do Governo]. Meu sonho apagou. A medicina que sonhei extinguiu-se. O sofrimento do “apagão aéreo” é “café pequeno” em relação ao ‘apagão’ na saúde pública no Brasil e no Piauí”. Peço meio minuto, Sr. Presidente.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, peço mais um minuto.

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - Mais um minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Continua:

Somos todos vítimas: médicos, enfermeiros e usuários do SUS. Tratam-nos com desdém. Temo ver repetida a tragédia de 1993. [É que ele mesmo fechou o hospital com cadeado porque não havia condição e teme isso.] A gestão superior não tem vocação para o diálogo. É inflexível. Descarta a democracia. Chegamos ao fim do poço. Confesso-me desencantado com tudo.

            Francisco Ramos, professor, 50 anos de Medicina, termina assim: “O SUS está falido”.

            Atentai Temporão, não há engano! Este aqui tem 50 anos, é mais do que eu. Tenho 40 anos como médico; ele tem 50. É um símbolo.

O SUS está falido. Urge uma reforma sanitária e política já, para salvar a medicina brasileira. Confesso-me desencantado. Valei-me Brasil dos meus pecados.

            Francisco Ferreira Ramos é professor aposentado, neurologista...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - Senador, vou conceder-lhe mais um minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vou encerrar, Sr. Presidente.

Esse é o quadro real do Brasil. E quis Deus adentrar ao plenário esta figura vitoriosa que é o Presidente Sarney, que governou no tempo mais tormentoso e difícil deste País, a transição democrática.

Presidente Sarney, dou aqui um testemunho. Trabalhei com V. Exª, quando Presidente, com o Presidente Collor, com o Itamar e com o Fernando Henrique Cardoso, quando eu era Governador. V. Exª foi, sem dúvida, o mais generoso de todos os Presidentes que passaram neste País. Então, quis Deus que V. Exª viesse até aqui, porque o nosso pronunciamento era sobre os velhinhos que não podem receber pelo INSS e que recebiam pelos Correios. Agora foram cortados e estão andando 150 Km.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª, que, expandindo o meu tempo, deu uma grande esperança de melhores dias aos aposentados do nosso Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2007 - Página 9832