Discurso durante a 56ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Exército Brasileiro.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.:
  • Comemoração do Dia do Exército Brasileiro.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2007 - Página 11475
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, EXERCITO, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, PAIS, REGISTRO, HISTORIA, FORMAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, NECESSIDADE, RECUPERAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, MODERNIZAÇÃO, EQUIPAMENTOS, JUSTIÇA, REMUNERAÇÃO, MEMBROS, OPOSIÇÃO, ORADOR, LOBBY, DESVIO, FUNÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA.
  • DETALHAMENTO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, EXERCITO, CONFLITO, HISTORIA, BRASIL, MISSÃO, PAZ, AMBITO INTERNACIONAL, INTEGRAÇÃO, TERRITORIO NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Renan Calheiros, que preside esta sessão, o Senado e o Congresso Nacional; Sr. Ministro da Defesa, Dr. Waldir Pires, político de longo curso e Ministro de Estado; Sr. Comandante do Exército, General-de-Exército Enzo Martins Peri, cujo brilhante passado na carreira militar assegura ao nosso Exército uma eficiente gestão; Exmº Sr. Júlio Soares de Moura Neto, Comandante da Marinha - Almirante de Esquadra; Sr. Brigadeiro Juniti Saito, Comandante da Aeronáutica; meu caro Ministro, Peçanha Martins, que aqui representa o Superior Tribunal de Justiça e, sem dúvida nenhuma, o Poder Judiciário - e nos dá muita honra com a sua presença; Exmºs Srs. Senadores e Senadoras e Deputados e Deputadas; senhores representantes das Forças Armadas - oficiais e generais -; Srs. Embaixadores, representantes do Corpo Diplomático; Srs. Subprocuradores-Gerais da República; minhas senhoras e meus senhores; foi com grande satisfação que apresentei a esta Casa, em fevereiro último, o Requerimento que deu origem à presente Sessão Especial, na qual celebramos o Dia do Exército Brasileiro. A data comemorativa, transcorrida no último dia 19, faz uma justa homenagem a uma instituição cuja história se confunde com a história da própria Pátria e da nacionalidade; e evoca o longínquo 19 de abril de 1648, quando forças terrestres brasileiras, constituindo o que seria o embrião do nosso atual Exército, travaram o primeiro combate, contra os invasores holandeses, na Batalha dos Montes Guararapes.

Homenagear o Exército brasileiro é um dever pátrio. Enaltecer o valor dos que o compõem é um reconhecimento justo e sempre oportuno. Em qualquer situação anômala que acomete o País, o primeiro pensamento que aflora aos nossos cidadãos, como solução emergencial, é o de esperar e confiar na contribuição do Exército junto às demais forças militares. Ainda agora, testemunhamos as pressões políticas e populares para que o Exército interfira no caos da violência que se espraia por todo o País, uma reivindicação que foge inteiramente à estrutura e à missão constitucional das nossas forças armadas. Não obstante a obviedade deste preceito de bom-senso, as pressões se mantêm, pois se projeta no Exército a esperança de resultados não obtidos pelos que têm a responsabilidade da prevenção e também da repressão.

E quando se fala em Exército, Sr. Presidente, não se pode omitir a realidade de que à relevante importância dessa Arma não tem correspondido o apoio material indispensável que lhe é devido, quer na modernização e manutenção dos seus equipamentos, quer na justa remuneração dos que, integrando-o, oferecem plenamente os minutos de suas vidas à Pátria que lhes cabe defender.

Na comemoração do seu Dia, certas realidades devem ser ditas para que a opinião pública se mantenha informada sobre as vicissitudes vividas por um Exército respeitado e aplaudido.

O então Presidente Itamar Franco foi feliz com a instituição, a 24 de março de 1994, do Dia do Exército, que era comemorado no Dia do Soldado, a 25 de agosto, data de nascimento do Duque de Caxias.

Oportuna foi tal iniciativa, pois se devia e deve enfatizar a homenagem merecida por uma instituição que, ao longo da nossa história, esteve sempre compromissada com a defesa de nossa soberania e dos altos sentimentos nacionais.

Desde os tempos coloniais, os que habitavam nossas terras, mesmo os aqui não nascidos, insurgiram-se contra os invasores, notadamente os franceses e holandeses. E assim foram se formando os núcleos de combatentes patriotas, mesclando-se coragem, vigor, audácia e lances estratégicos na defesa das terras descobertas pelos portugueses. Uniram-se as raças, desde o início da colonização do Brasil, e faziam germinar o sentimento nativista na defesa do território brasileiro.

Portugueses, brasileiros, índios, negros e mestiços juntaram forças, em 1645, para aprofundar a reação da Insurreição Pernambucana aos estrangeiros, e, seguramente, só alcançaram tal coesão pelo respeito a princípios da hierarquia, cerne dos grupamentos armados que viabiliza a vitória em qualquer campo de batalha.

Criaram-se ali as sementes da nacionalidade brasileira.

Foi com essa consciência de pátria e disciplina, Sr. Presidente, que nasceu o nosso Exército, desde as suas origens identificado com o povo brasileiro. E assim se tornou essencial na defesa da nossa soberania e do nosso território.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador Edison Lobão, V. Exª me permite um breve aparte?

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Permitirei, Presidente Marco Maciel, V. Exª que já foi Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, com todo prazer.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senador Edison Lobão, eu gostaria de, em rápidas palavras, associar-me à manifestação que V. Exª faz pela passagem do Dia do Exército. Muito me sensibilizou o fato de V. Exª haver feito referência a Decreto do então Presidente Itamar Franco considerando 19 de abril o Dia do Exército. Acredito que foi uma decisão muito acertada. Como pernambucano, posso dizer quanto foi importante o reconhecimento do trabalho que se realizou para a expulsão dos holandeses em nosso País. A insurreição pernambucana foi certamente o marco que gerou o Exército. E não foi por outra razão que Gilberto Freyre disse certa feita que, em Guararapes, se escreveu com sangue o nome da Pátria. Por isso, a data 19 de abril, como V. Exª com propriedade salientou, diz muito respeito ao surgimento do Exército brasileiro. E, a partir daí, significando o aparecimento do Exército, como V. Exª também destacou, o fato de representar uma associação dos diferentes segmentos étnicos do País - o branco, o negro e o índio -, que estão presentes nas lutas pela expulsão dos holandeses. Isto mostra de forma muito clara como nasceu o Exército brasileiro: foi o resultado dessa fusão de raças que marca esse grande melting pot brasileiro, essa grande miscigenação com a qual convivemos no Brasil e que nos faz uma nação admirada por todas as outras. Portanto, encerrando o meu aparte, cumprimento V. Exª e o Exército brasileiro pela passagem de 19 de abril. O Exército tem desempenhado papel muito importante não apenas no cumprimento de seus objetivos constitucionais, mas também no campo do desenvolvimento científico e tecnológico e no plano social que realiza nas áreas mais distantes do nosso chão, sobretudo nas fronteiras, onde muitas vezes não há presença maior dos órgãos governamentais. O Exército igualmente cumpre papel destacado no alevantamento das condições educacionais e culturais do nosso povo, não só por dispor de excelentes colégios militares e academias, mas sobretudo porque preserva o patrimônio nacional, nossos fortes, nossas instalações que registram o nosso passado. Portanto, isto muito concorre para que possamos conhecer melhor o País e guardar a sua memória.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Agradeço, Senador Marco Maciel, a intervenção oportuna de V. Exª, que enriquece o meu pronunciamento, seguramente menor do que o merecimento do Exército Brasileiro, por tudo quanto ele representa para este País de largas extensões, de grande população e de grande sentimento.

Prossigo, Sr. Presidente, dizendo que, no seu passado colonial, destacou-se o Exército na defesa do solo pátrio, expulsando invasores e corsários e concorrendo para a ocupação ordenada do nosso território. E lhe coube, entre outros extraordinários méritos - no passado e no presente -, o de promover a integração de todas as regiões, de amparar as áreas carentes de infra-estrutura e de contribuir para o nosso desenvolvimento.

Após a Independência, em 1822, teve uma atuação decisiva no plano interno, sufocando todas as tentativas de fragmentação territorial e de ruptura social. Se devemos a expansão do nosso território aos desbravadores das Entradas e Bandeiras, é mister reconhecer o papel do Exército Brasileiro na manutenção das fronteiras e da plena unidade nacional.

Nesse aspecto, não há como ignorar a atuação decisiva de Caxias, que venceu todas as seis campanhas de que participou, fossem elas internas, em missão pacificadora, como a Balaiada - no meu Estado, o Maranhão -, as revoltas em São Paulo e Minas, e a Revolução Farroupilha, do Rio Grande do Sul; ou externas, como a guerra contra Oribe e Rosas, e a Tríplice Aliança, contra o Paraguai.

Nesta última, liderando as forças brasileiras num momento de grave dificuldade, na Batalha de Itororó, Caxias conseguiu impor-se aos inimigos apelando para a bravura de nossos soldados com a exortação que se tornaria célebre: “Sigam-me os que forem brasileiros”. Por tudo isso, por ter prestado inestimáveis serviços à Nação brasileira por mais de 60 anos, inclusive como Ministro da Guerra por três vezes, sempre com o mesmo espírito cívico e conciliador, Caxias foi escolhido Patrono do Exército brasileiro.

Não se pode omitir outros heróis daquele e de outros conflitos, como o bravo Marechal Manoel Luiz Osório, o Marquês de Herval. Comandante aliado vitorioso na Batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da América do Sul; com plena justiça, Osório foi eleito Patrono da Cavalaria brasileira.

Na Infantaria, também uma Arma de tradição do Exército brasileiro, da qual viria a ser o Patrono, sobressaiu-se o Brigadeiro Antônio de Sampaio. Na Guerra contra o Paraguai, também na Batalha de Tuiuti, Sampaio comandou sua divisão com bravura. Três vezes gravemente ferido pelos inimigos, continuou combatendo sem esmorecer, embora as lesões recebidas lhe viessem a custar a vida dias depois.

Também nas armas de apoio, outros militares se distinguiram, entre eles o Marechal Emílio Luiz Mallet, Barão de Itapevi e Patrono da Artilharia; o Tenente-Coronel João Carlos de Vilegran Cabrita, Patrono da Engenharia, e o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, este o maior desbravador, civilizador, sertanista e inspetor de fronteiras em áreas tropicais.

Esses, Srªs e Srs. Senadores, são apenas alguns dos numerosos brasileiros que devotaram suas vidas às causas do Exército e da nacionalidade.

Também na 2ª Guerra Mundial, os brasileiros deram soberba demonstração de bravura. O ataque de submarinos alemães contra embarcações da Marinha Mercante brasileira, sacrificando mais de 600 vidas, provocou comoção popular e ocasionou a declaração de guerra ao Eixo. Enquanto cuidavam de proteger nosso território, especialmente o imenso litoral, com a articulação de artilharia antiaérea, sistema de vigilância da costa e estruturação da defesa civil, nossos comandantes organizaram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), convocando 25 mil brasileiros para se integrarem ao 5º Exército dos Estados Unidos, que já combatia em solo italiano.

Entretanto, Sr. Presidente, o Exército brasileiro, tendo provado sua competência e sua coragem na guerra, não atua apenas nos conflitos. Felizmente, somos um povo pacífico, e nos momentos de paz, que são a grande maioria, o Exército se dedica a uma outra de suas vocações, que é servir à comunidade.

Além de garantir a soberania e a paz, juntamente com a Marinha e a Aeronáutica, o Exército desenvolve suas missões complementares, como a formação e a especialização de oficiais, o adestramento da Força terrestre, as operações de segurança interna, o combate ao contrabando e ao narcotráfico, as ações de busca e salvamento, de defesa civil e de caráter cívico-social.

Em missões secundárias, o Exército está sempre presente, seja na construção de obras contra a seca, seja em missões de engenharia, de pesquisa tecnológica e científica, seja na assistência e proteção às tribos indígenas.

No plano internacional, merecem destaque as missões de paz integradas pelas tropas brasileiras, as quais, em atendimento aos preceitos constitucionais de autodeterminação dos povos e de não-intervenção, somente são acionadas se houver plena aceitação dos Países ou das facções envolvidas nos conflitos.

No plano interno, continua-se a creditar ao Exército boa parte do sucesso das nossas políticas de integração nacional. A integração das regiões mais recônditas do nosso território é uma das mais importantes tarefas que o Exército realiza, visando à proteção daquelas populações e também ao nosso desenvolvimento social e econômico. Na Amazônia, a presença do Exército Brasileiro é um imperativo, em função das imensas distâncias entre as comunidades, das dificuldades de locomoção e da carência de recursos financeiros e tecnológicos.

Trata-se de uma área de 5,2 milhões de quilômetros quadrados. Ali se concentra um terço de todas as florestas tropicais, a maior bacia de água doce de todo o mundo e também a maior biodiversidade do Planeta. O Exército tem estado presente na Amazônia desde o Século XVII, instalando unidades de fronteira e garantindo o surgimento de pólos de desenvolvimento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. Ministros, Srs. Oficiais Generais, o Exército Brasileiro é uma Força voltada para a paz, para a construção do desenvolvimento e para a cooperação entre os povos. Se, porém, as circunstâncias exigem, mostra-se guerreiro e altivo na defesa da soberania e do território nacional; nos períodos de paz, que felizmente são os predominantes, põe-se a serviço das comunidades e do desenvolvimento nacional, a justificar o slogan “Braço forte, mão amiga”.

Pela relevância da sua missão em numerosos setores da sociedade brasileira, as atividades do Exército sempre atraem o interesse dos meios de divulgação e, por conseqüência, dos políticos. Não raro é destacado em interpretações mal formuladas, prontamente esclarecidas, que só ampliam o prestígio e a respeitabilidade que goza junto à população brasileira.

Nesta justa homenagem que prestamos ao Exército Brasileiro, pelo transcurso de sua data comemorativa, quero cumprimentar as autoridades militares e todos aqueles que integram essa Arma das Forças Armadas, formulando votos para que continuem prestando seus excelentes serviços à Nação e ao povo brasileiro, em tempos de guerra ou de paz.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.

 

************************************************************************************************SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR EDISON LOBÃO.

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O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores foi com grande satisfação que apresentei a esta Casa, em fevereiro último, o requerimento que deu origem à presente sessão especial, na qual celebramos o Dia do Exército Brasileiro. A data comemorativa, transcorrida no último dia 19, faz uma justa homenagem a uma instituição cuja história se confunde com a história da própria nacionalidade; e evoca o longínquo 19 de abril de 1648, quando forças terrestres brasileiras, constituindo o que seria o embrião do nosso Exército, travaram o primeiro combate contra os invasores holandeses na batalha dos Montes Guararapes.

            Homenagear o Exército Brasileiro é um dever pátrio. Enaltecer o valor dos que o compõem é um reconhecimento justo e sempre oportuno. Em qualquer situação anômala que acomete o país, o primeiro pensamento que aflora aos nossos cidadãos, como solução emergencial, é o de esperar e confiar na contribuição do Exército junto às demais forças militares. Ainda agora, testemunhamos as pressões políticas e populares para que o Exército interfira no caos da violência que se espraia por todo o país, uma reivindicação que foge inteiramente à estrutura e à missão constitucional das nossas forças armadas. Não obstante a obviedade deste preceito de bom-senso, as pressões se mantêm, pois se projeta no Exército a esperança de resultados não obtidos pelos que têm a responsabilidade da prevenção e da repressão.

            E quando se fala em Exército, Senhor Presidente, não se pode omitir a realidade de que à relevante importância dessa Arma não tem correspondido o apoio material indispensável que lhe é devido. Quer na modernização e manutenção dos seus equipamentos, quer na justa remuneração dos que, integrando-o, oferecem plenamente os minutos de suas vidas à Pátria que lhes cabe defender. Na comemoração do seu Dia, certas realidades devem ser ditas para que a opinião pública se mantenha informada sobre as vicissitudes vividas por um Exército respeitado e aplaudido.

            O então Presidente Itamar Franco foi feliz com a instituição, a 24 de março de 1994, do Dia do Exército, que era comemorado no Dia do Soldado, a 25 de agosto, data de nascimento de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, por todas as razões patrono da Força que ora homenageamos. Oportuna foi tal iniciativa, pois se devia e deve enfatizar a homenagem merecida por uma instituição que, ao longo de nossa história, esteve sempre compromissada com a defesa de nossa soberania e dos altos sentimentos nacionais.

            Desde os tempos coloniais, os que habitavam nossas terras, mesmo os aqui não nascidos, insurgiam-se contra os invasores, notadamente os franceses e holandeses. E assim foram se formando os núcleos de combatentes patriotas, mesclando-se coragem, vigor, audácia e lances estratégicos na defesa das terras descobertas pelos portugueses. Uniam-se as raças, desde o início da colonização do Brasil, e faziam germinar o sentimento nativista na defesa do território brasileiro.

            As lideranças de Barreto de Menezes, Vidal de Negreiros, Fernandes Vieira, Antônio Dias Cardoso, Felipe Camarão e Henrique Dias, entre outros heróicos combatentes, foram decisivas para ampliar e consolidar o domínio das terras ambicionadas por aventureiros.

            Portugueses, brasileiros, índios, negros e mestiços juntaram forças, em 1645, para aprofundar a reação da Insurreição Pernambucana aos estrangeiros, e, seguramente, só alcançaram tal coesão pelo respeito a princípios da hierarquia, cerne dos grupamentos armados que viabiliza a vitória. Na proclamação que suas lideranças dirigiram aos invasores, pela primeira vez em nossa história foi usada a palavra “pátria” para se referir à terra que seria libertada anos depois, superando-se tropas holandesas dotadas com os mais modernos instrumentos de guerra à época.

            Criaram-se ali as sementes da nacionalidade brasileira.

            Foi com essa consciência de pátria e disciplina, Sr. Presidente, que nasceu o nosso Exército, desde suas origens identificado com o povo brasileiro. E assim se tornou essencial na defesa da nossa soberania e do nosso território. No seu passado colonial, destacou-se na defesa do solo pátrio, expulsando invasores e corsários e concorrendo para a ocupação ordenada do nosso território. E lhe coube, entre outros extraordinários méritos - no passado e no presente -, o de promover a integração de todas as regiões, de amparar as áreas carentes de infra-estrutura e de contribuir para o nosso desenvolvimento.

            Após a Independência, em 1822, teve uma atuação decisiva no plano interno, sufocando todas as tentativas de fragmentação territorial e de ruptura social. Se devemos a expansão do nosso território aos desbravadores das entradas e bandeiras, é mister reconhecer o papel do Exército brasileiro na manutenção das fronteiras e da unidade nacional.

            Nesse aspecto, não há como ignorar a atuação decisiva de Caxias, que venceu todas as seis campanhas de que participou, fossem elas internas, em missão pacificadora, como a Balaiada (no Maranhão), as revoltas em São Paulo e Minas e a Revolução Farroupilha (no Rio Grande do Sul); ou externas, como a guerra contra Oribe e Rosas e a da Tríplice Aliança, contra o Paraguai. Nessa última, liderando as forças brasileiras num momento de grave dificuldade, na Batalha de Itororó, Caxias conseguiu impor-se aos inimigos apelando para a bravura de nossos soldados com a exortação que se tornaria célebre: “Sigam-me os que forem brasileiros”. Por tudo isso, por ter prestado inestimáveis serviços à Nação brasileira por mais de 60 anos, inclusive como Ministro da Guerra por três vezes, sempre com o mesmo espírito cívico e conciliador, Caxias foi escolhido Patrono do Exército Brasileiro.

            Não se pode omitir outros heróis daquele e de outros conflitos, como o bravo Marechal Manoel Luiz Osório, o Marquês de Herval. Comandante aliado vitorioso na Batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da América do Sul; com plena justiça, Osório foi eleito Patrono da Cavalaria brasileira.

            Na Infantaria, também uma Arma de tradição do Exército Brasileiro, da qual viria a ser o Patrono, sobressaiu-se o Brigadeiro Antônio de Sampaio. Na Guerra contra o Paraguai, também na Batalha de Tuiuti, Sampaio comandou sua divisão com bravura. Três vezes gravemente ferido pelos inimigos, continuou combatendo sem esmorecer, embora as lesões recebidas lhe viessem a custar a vida dias depois.

            Também nas armas de apoio outros militares se distinguiram, entre eles o Marechal Emílio Luiz Mallet, Barão de Itapevi e Patrono da Artilharia; o Tenente-Coronel João Carlos de Vilegran Cabrita, Patrono da Engenharia e o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, este o maior desbravador, civilizador, sertanista e inspetor de fronteiras em áreas tropicais, que, em mais de 40 anos de serviços dedicados à causa, chefiou os trabalhos de implantação de oito mil quilômetros de linhas telegráficas nas regiões de fronteira e nos rincões da Amazônia.

            Esses, Srªs e Srs. Senadores, são apenas alguns dos numerosos brasileiros que devotaram suas vidas às causas do Exército e da nacionalidade.

            Também na 2ª Guerra Mundial, os brasileiros deram soberba demonstração de bravura. Mantendo neutralidade a princípio, o Brasil romperia relações diplomáticas com os países do Eixo em janeiro de 1942.

            O ataque de submarinos alemães contra embarcações da marinha mercante brasileira, sacrificando mais de seiscentas vidas, provocou comoção popular e ocasionou a declaração de guerra ao Eixo. Enquanto cuidavam de proteger nosso território, especialmente o imenso litoral, com a articulação de artilharia antiaérea, sistema de vigilância da costa e estruturação da defesa civil, nossos comandantes organizaram a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, convocando 25 mil brasileiros para se integrarem ao 5º Exército dos Estados Unidos, que já combatia em solo italiano.

            Apesar do reduzido tempo de treinamento e das condições climáticas adversas, as forças brasileiras fizeram uma campanha memorável, conquistando Camaiore, inicialmente, e avançando sobre os postos da Linha Gótica, de resistência alemã ao avanço aliado. Deslocando-se para o vale do Rio Serchio, o destacamento da FEB foi vitorioso, sucessivamente, em Massarosa, Monte Prano, Fornaci, Galicano e Barga.

            Com a chegada de novos efetivos, o general Mascarenhas de Moraes assumiu definitivamente o comando da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária para, entre outras glórias, conquistar Monte Castelo. Essa, Senhor Presidente, foi uma batalha de grande importância estratégica, pois possibilitou o avanço das forças aliadas em direção a Bolonha, onde se entroncavam importantes linhas rodoferroviárias. A seguir, as forças expedicionárias tomariam Castelnuovo e, pouco depois, o maciço de Montese, naquele que seria o episódio mais sangrento da participação dos brasileiros na 2ª Guerra Mundial. Numerosos pracinhas morreram naquela batalha, na qual as forças brasileiras tiveram de superar, além das tropas inimigas, mais bem posicionadas, o terreno íngreme e minado, entre outros obstáculos.

            Entretanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, o Exército brasileiro, tendo provado sua competência e sua coragem na guerra, não atua apenas nos conflitos. Felizmente, somos um povo pacífico, e nos momentos de paz, que são a grande maioria, o Exército se dedica a uma outra de suas vocações, que é servir à comunidade. Além de garantir a soberania e a paz, juntamente com a Marinha e a Aeronáutica, o Exército desenvolve suas missões complementares, como a formação e a especialização de oficiais, o adestramento da força terrestre, as operações de segurança interna, o combate ao contrabando e ao narcotráfico, as ações de busca e salvamento, de defesa civil e de caráter cívico-social.

            Em missões secundárias, o Exército está sempre presente, seja na construção de obras contra a seca, seja em missões de engenharia, de pesquisa tecnológica e científica, seja na assistência e proteção às tribos indígenas.

            No plano internacional, merecem destaque as missões de paz integradas pelas tropas brasileiras, as quais, em atendimento aos preceitos constitucionais de autodeterminação dos povos e de não-intervenção, somente são acionadas se houver plena aceitação dos países ou das facções envolvidas nos conflitos.

            A primeira missão de paz integrada pelas forças brasileiras ocorreu em 1947, quando enviamos observadores militares aos Bálcãs. Outras missões se sucederiam, integrando, nas décadas seguintes, forças internacionais lideradas pela ONU no Oriente Médio, e pela OEA no Caribe. Militares brasileiros têm colaborado com a ONU, como observadores, em países da África, da Europa e da Ásia, além da América Central. Atualmente, as tropas brasileiras que se encontram no Haiti têm obtido memoráveis êxitos no que concerne à pacificação interna daquele país.

            No plano interno, continua-se a creditar ao Exército boa parte do sucesso das nossas políticas de integração nacional. O Exército Brasileiro, que zela por nossas fronteiras, tem a tradição de promover a integração das regiões mais distantes, por meio de estradas e dos meios de comunicação.

            A integração das regiões mais recônditas do nosso território é uma das mais importantes tarefas que o Exército realiza, visando à proteção daquelas populações e também ao nosso desenvolvimento social e econômico. Na Amazônia, a presença do Exército brasileiro é um imperativo, em função das imensas distâncias entre as comunidades, as dificuldades de locomoção e a carência de recursos financeiros e tecnológicos. Trata-se de uma área de 5 milhões e 200 mil quilômetros quadrados, onde se concentram um terço de todas as florestas tropicais, a maior bacia de água doce de todo o mundo e também a maior biodiversidade do planeta. O Exército tem estado presente na Amazônia desde o Século XVII, instalando unidades de fronteira e garantindo o surgimento de pólos de desenvolvimento. As ações de saúde que mantém são essenciais para grande parte dos povos ribeirinhos da Amazônia, e a preservação do meio ambiente naquela imensa região é também uma das prioridades dos militares.

            Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, o Exército Brasileiro é uma Força voltada para a paz, para a construção do desenvolvimento e para a cooperação entre os povos. Se, porém, as circunstâncias exigem, mostra-se guerreiro e altivo na defesa da soberania e do território nacional; nos períodos de paz, que felizmente são os predominantes, põe-se a serviço das comunidades e do desenvolvimento nacional, a justificar o slogan “Braço forte, mão amiga”.

            Pela relevância da sua missão em numerosos setores da sociedade brasileira, as atividades do Exército sempre atraem o interesse dos meios de divulgação e, por conseqüência, dos políticos. Não raro é destacado em interpretações mal formuladas, prontamente esclarecidas, que só ampliam o prestígio e a respeitabilidade que goza junto à população.

            Nesta justa homenagem que prestamos ao Exército Brasileiro, pelo transcurso de sua data comemorativa, quero cumprimentar as autoridades militares e todos aqueles que integram essa Arma das Forças Armadas, formulando votos para que continuem prestando seus excelentes serviços à Nação e ao povo brasileiro, em tempos de guerra ou de paz.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2007 - Página 11475