Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Jayme Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. :
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Aparteantes
Marco Maciel, Marisa Serrano.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12419
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, VULTO HISTORICO, DEFESA, COMUNIDADE INDIGENA, PRESERVAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, REGISTRO, HISTORIA, INGRESSO, EXERCITO, IMPLANTAÇÃO, REDE DE TRANSMISSÃO, TELEGRAFIA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DE GOIAS (GO), REGIÃO AMAZONICA, CRIAÇÃO, SERVIÇO, PROTEÇÃO, INDIO, PARQUE INDÍGENA DO XINGU, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. JAYME CAMPOS (PFL - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente querido Senador Gerson Camata; ilustre Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, meu amigo particular, Paulo Lessa; ilustre Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, meu amigo Deputado Sérgio Ricardo, em nome de quem cumprimento e saúdo os demais Deputados de Mato Grosso aqui presentes; representante da Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia Deputado Professor Dantas; convidados especiais para esta solenidade; Prefeito Gilberto Mello, da maravilhosa cidade de Chapada dos Guimarães, na pessoa de quem cumprimento os Srs. Prefeitos; Srs. Senadores, Srªs Senadoras, não se medem os heróis pelo tamanho de seus feitos, mas, sim, pelo significado de suas façanhas. Cândido Mariano da Silva Rondon se enquadra numa seleta categoria de personagens que é reconhecida tanto pela importância de suas ações quanto pela transcendência histórica de sua luta. Um exemplo singular de soldado que impôs sua liderança em tempo de paz, redescobrindo os caminhos do Brasil.

            Rondon reinventou uma nação a partir da integração do seu território com as linhas telegráficas e retemperou o vigor da cultura do País, resgatando os valores artísticos e éticos das comunidades que habitam o interior do Brasil. Com senso de dever apurado e extremo amor à pátria, ele foi um pioneiro na defesa dos índios, nos estudos, na conservação da fauna e da flora amazônica.

            No início do século XX, Rondon enxergava com clareza messiânica os destinos do nosso País. E a linha tênue que diferencia o homem comum do herói é justamente a capacidade de antever nas brumas do cotidiano, o momento decisivo que se avizinha no horizonte.

            Bravura e inteligência eram, portanto, predicados que nunca faltaram àquele menino nascido em Mimoso, às margens das límpidas águas pantaneiras, que, logo aos 2 anos, ficou órfão e viu-se confrontado ao seu destino. Viveu com os avós até os 7 anos, quando foi morar em Cuiabá, aos cuidados do seu tio. Já aos 16 anos, estava diplomado professor primário pelo Liceu Cuiabano. Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Militar. Em 1890, formou-se bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais.

            Essa trajetória brilhante tem representatividade ainda maior quando se sabe que o jovem Cândido Rondon, órfão e pobre, teve de se alistar, como soldado, no 3º Regimento de Artilharia a Cavalo para custear sua educação. Só essa demonstração de esforço e tenacidade já lhe valeria a marca de grande homem. Mas, para Rondon, era pouco.

            Ainda estudante, participou ativamente de dois movimentos políticos vitais para o reconhecimento do Brasil como uma nação moderna e civilizada: a abolição da escravatura e a proclamação da República. Em 1890, já era promovido a 1º Tenente do Exército Brasileiro.

            Muito moço, ainda em 1890, professor de Astronomia, Mecânica Racional e Matemática Superior abandona a vida acadêmica e passa a servir no setor de linhas telegráficas do Exército Nacional. Neste momento, desaparece o homem e surge a lenda. Nos quatro anos seguintes, Rondon participa da implantação da rede telegráfica entre Mato Grosso e o Estado de Goiás. Mais tarde, ajuda a estender as mesmas linhas até as fronteiras da Bolívia e do Paraguai, fundando o telégrafo em Corumbá.

            Em 1907, portanto há cem anos, o então major Rondon era nomeado para a missão que escreveria seu nome na história universal, quando foi nomeado para chefiar a comissão responsável por levar as vias telegráficas de Cuiabá até Santo Antônio do Madeira, hoje Porto Velho, no Estado de Rondônia.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, ilustres convidados - também saúdo o Secretário de Cultura do Mato Grosso, Professor João Carlos, que, neste ato, representa o Governador Blairo Maggi -, olhando para aquela região nos dias atuais já nos parece uma visão heróica. Imaginem, então, palmilhar aqueles espaços há um século. Era tarefa de titãs! Pois, Rondon, franzino em seu físico, mas gigante no temperamento, agiu com tal distinção e coragem que a comissão foi batizada com seu nome. Em oito anos, o militar alcançou seu destino deixando para trás um rastro de exemplos e de altivez, disciplina, generosidade e vigor.

            Até chegar a Santo Antônio do Madeira, em plena Amazônia, Rondon pacificou conflitos entre brancos e várias nações indígenas e plantou sementes de dezenas de povoados, hoje cidades importantes como Pimenta Bueno, Ariquemes e Ji-Paraná.

            Nesse meio tempo, o militar brasileiro associou-se ao ex-presidente americano Theodore Roosevelt numa expedição de um ano pelos sertões mato-grossenses e amazônicos, catalogando rios, escrevendo mapas e levantando espécimes da fauna e da flora daquela região. Tal expedição ficou consagrada como a última grande epopéia da raça humana. A Expedição Roosevelt-Rondon é um marco na antropologia mundial, tanto pelo tamanho da empreitada como pelo alcance biológico e social dessa tarefa.

            Senador Expedito Júnior, nobre parceiro nesta justa homenagem, nascia aí o Marechal da Paz, pois foi dessas andanças pelo Brasil interior, pelo Brasil caboclo, pelo Brasil natural que Rondon tirou a inspiração para criar o Serviço de Proteção ao Índio, base filosófica da atual Funai (Fundação Nacional do Índio). Antes de tudo, ele foi um patriota que procurou atalhos entre o país ancestral e a nação do futuro, no exato momento em que o Brasil começava a enxergar o oeste não mais como desafio, mas, sim, como promessa.

            Os passos de Rondon foram mais que uma mera jornada. Eles redirecionaram nossa vocação interiorana e reinventaram nossa história. Completaram o trabalho dos bandeirantes e prepararam a estrada para novos desbravadores, como Israel Pinheiro, Ariosto da Riva, Juscelino Kubitschek e tantos outros brasileiros.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ilustres convidados, mas a vida desse grande brasileiro não foi feita apenas de louros e glórias. Houve provocações e muitas. Ele resistiu a todas com dignidade e firmeza. Não existiu barreira que não pudesse transpor; com exceção de uma: sua prisão, após o golpe que derrubou o Presidente Washington Luís, em 1930. Naqueles instantes de solidão e tristeza, Rondon deixou as Armas, mas não renunciou ao dever de patriotismo. Pouco tempo depois, presidiu a missão diplomática do Governo brasileiro que mediou conflito entre a Colômbia e o Peru pelo Porto de Letícia.

            Naquela ocasião, quase cego, o militar ainda reassume o Serviço de Proteção ao Índio e, anos mais tarde, propõe a criação do Parque Nacional do Xingu e inaugura o Museu do Índio. O órfão descendente de bororos e terenas, por parte de mãe, e guanás, do lado paterno, fez mais por seus irmãos silvícolas do que qualquer outro brasileiro.

            Em 1955, o Congresso Nacional, num ato de absoluto reconhecimento ao valor desse homem pantaneiro, desse verdadeiro herói do sertão, concedeu-lhe o título de Marechal, patente oferecida em tempo de guerra. Aos 90 anos, Rondon torna-se o Marechal da Paz; o soldado que fez reluzir a estrela do Exército inspecionando as fronteiras do Brasil, da Guiana à Argentina, e demarcou os contornos do nosso mapa, orientando os pontos geográficos mais importantes do Brasil.

            Um ano depois de ser consagrado Marechal, o velho militar vê seu nome gravado para sempre na cartografia nacional com o batismo do antigo Território do Guaporé em Território Federal de Rondônia. Antes de morrer, ainda recebeu uma última homenagem ao ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

            Sr. Presidente, caros colegas Senadoras e Senadores, prezados convidados para esta sessão especial, lembrar de Cândido Rondon é também enaltecer a bravura e a coragem dos mato-grossenses, dos rondonienses, dos acreanos e dos amazônidas; pois a fibra e a têmpera que moveu esse grande herói nacional é a mesma que este povo valente demonstra no seu cotidiano. Um heroísmo feito de braços que cultivam a lavoura, de mãos firmes que retiram o látex das seringueiras, do sonho comovente dos garimpeiros, da esperança inocente dos pescadores e do colo generoso das mulheres que alimentam as novas gerações.

            O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador Jayme Campos, V. Exª me concede um breve aparte?

            O SR. JAYME CAMPOS (PFL - MT) - Concedo-o com muita honra, Senador Marco Maciel

            O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senador Jayme Campos, inicio o meu aparte cumprimentando V. Exª pela iniciativa, ao lado de outros ilustres colegas, entre os quais gostaria de mencionar a adesão do Senador Expedido Júnior, representante de Rondônia, nome que é uma homenagem a Rondon. O Congresso Nacional, de modo especial o Senado Federal, não poderia deixar de se manifestar, neste momento, para exaltar esse grande vulto brasileiro. V. Exª, numa síntese, destaca pontos muito positivos da sua biografia. O Marechal Rondon foi um dos integradores do País, semelhante a Rio Branco. Aliás, foram mais ou menos da mesma geração -- creio que Rio Branco nasceu vinte anos antes dele. E semelhante também a José Bonifácio, que antecedeu a ambos. O que une essas três biografias é a preocupação com a integração nacional, com a vertebração do País, com a unidade nacional. José Bonifácio teve a preocupação com a questão indígena, com a integração étnica, de modo geral, que hoje constitui o melting pot brasileiro extremamente rico. José Bonifácio também se preocupou com as questões de integração nacional, o que, de alguma forma, marcou a vida de Rondon. Rio Branco conseguiu deixar definidas as fronteiras brasileiras, fato sem precedentes porque, se fizermos uma comparação com os nossos vizinhos sul-americanos, obtivemos o milagre de possuir um grande território. Temos muitos vizinhos - dez, se não estou equivocado -, e fronteiras definidas com todos eles, sem nenhum tipo de fricção, a não ser no futebol. Mereceu justamente o título de Marechal da Paz porque se doou ao trabalho pela causa indígena, e também ao trabalho de integrar o País. Atribuem a Washington Luiz uma frase, que, aliás, está em mensagem que encaminhou ao Congresso Nacional, em 1927 ou 1928, não estou bem certo, em que diz: “Governar é construir estradas”. Geralmente, essa frase é interpretada no sentido estrito, como se fosse construir rodovias. Na realidade, o que Washington Luiz diz que governar é construir estradas de todos os tipos, inclusive - e ele menciona - o telégrafo, causa a que Rondon se dedicou de maneira magistral, ajudando não somente a fazer as linhas telegráficas, mas também rodovias, pois esse trabalho não podia ser desenvolvido sem que houvesse o mínimo de estradas que tornassem possível colocar as torres que levavam a telegrafia. E ele fez isso também ajudando países vizinhos, numa demonstração de grande altruísmo. Não foi por outra razão que V. Exª lembrou ser ele o único brasileiro até agora indicado ao Prêmio Nobel da Paz, e por instituições não brasileiras, com o apoio de monarcas de outros países. E se tal reconhecimento ele não obteve, foi porque faleceu, infelizmente, quando se antevia ser agraciado com o Prêmio. .

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - O tempo de aparte está esgotado.

            O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Pois não, Sr. Presidente. Vou citar apenas um fato importante: o Prêmio Nobel da Paz não é atribuído post mortem, o que significa dizer que, com seu falecimento, fomos frustrados em ter o primeiro brasileiro agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Teria muito ainda a falar sobre a figura magistral de Rondon, mas cumprimento V. Exª pela iniciativa da homenagem. Desta maneira, damos o nosso tributo a uma figura que tanto contribuiu para o desenvolvimento do País, sua integração e sua unidade.

            O SR. JAYME CAMPOS (PFL - MT) - Sr. Presidente, Senador Gerson Camata, gostaria de conceder um aparte à Senadora Marisa Serrano, do Estado de Mato Grosso do Sul.

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - Há outros oradores inscritos que poderão ser aparteados. O tempo de V. Exª está esgotado.

            O SR. JAYME CAMPOS(PFL - MT) - Pelo menos dois minutos. A mulher mato-grossense tem de ser representada pela Senadora.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Apenas dois minutos, Sr. Presidente. Parabéns, Senador Jayme Campos. Eu, em Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, cresci e me formei trabalhando na mesma ótica de pessoas sérias, de pessoas comprometidas, pessoas que desbravaram nossas fronteiras. Sinto-me muito orgulhosa de ser uma cidadã conterrânea de Rondon. Quando Albert Einstein, um nome mundialmente famoso, indicou Rondon para o Prêmio Nobel da Paz, para nós foi um orgulho máximo. E não apenas para o povo brasileiro, mas para todos aqueles que vêem em Rondon uma pessoa que falava de integração, de humanidade e, principalmente, de amor a esta terra. Faço este aparte de maneira breve, parabenizando V. Exª pela fala e pela idéia de estarmos aqui reunidos, representantes de Mato Grosso do Sul, de Rondônia,...

(Interrupção do som.)

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - ... todos em prol de um mesmo objetivo: reverenciar uma pessoa que é símbolo de humanidade. Isso para nós hoje é muito caro. Parabéns.

            O SR. JAYME CAMPOS (PFL - MT) - Muito obrigado, Senadora Marisa Serrano.

            Concluindo minha fala, Sr. Presidente, lembrar de Cândido Rondon é lembrar de gente que vive da bondade da terra, com sabedoria e respeito. Ou, como escreveu o próprio Rondon, num credo ao equilíbrio entre desenvolvimento e natureza: “Creio que a ciência, a arte e a indústria hão de transformar a terra em paraíso, para todos os homens, sem distinção de raças, credos ou nações; banindo os espectros da guerra, da miséria e da moléstia”.

            Rondon fez de sua missão mais que um ato de heroísmo; construiu com ela uma catedral de exemplos para as futuras gerações.

            Sr. Presidente, era essa a minha fala. Agradeço a oportunidade em que esta Casa me permite fazer uma homenagem a um dos homens mais honrados e que contribuiu muito para a Nação brasileira.

            Muito obrigado a todos os convidados.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12419