Discurso durante a 80ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Congratulações aos integrantes do décimo segundo Grito da Terra Brasil e da terceira Jornada Nacional de Luta da Agricultura Familiar pelas negociações com o Governo Federal.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Congratulações aos integrantes do décimo segundo Grito da Terra Brasil e da terceira Jornada Nacional de Luta da Agricultura Familiar pelas negociações com o Governo Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2007 - Página 16813
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, AUDIENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPRESENTANTE, CONFEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG), FEDERAÇÃO, TRABALHADOR RURAL, APRESENTAÇÃO, PAUTA, REIVINDICAÇÃO, NECESSIDADE, ATENÇÃO, MELHORIA, TRABALHO, RENDA, QUALIDADE DE VIDA, ZONA RURAL, OPORTUNIDADE, ANUNCIO, DECISÃO, GOVERNO, AUMENTO, RECURSOS, CREDITO RURAL, AMPLIAÇÃO, INCLUSÃO, FAMILIA, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).
  • COMENTARIO, RELEVANCIA, AGRICULTURA, ECONOMIA FAMILIAR, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO, BRASIL.
  • ANUNCIO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO AGRARIO, REDUÇÃO, JUROS, FINANCIAMENTO, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), AMPLIAÇÃO, RECURSOS, AGRICULTURA, ASSISTENCIA TECNICA, COMERCIALIZAÇÃO, PROPRIEDADE FAMILIAR, REALIZAÇÃO, ASSENTAMENTO RURAL, RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA, AGRICULTOR.
  • IMPORTANCIA, PRODUÇÃO AGRICOLA, CRIAÇÃO, EMPREGO, RENDA, RIQUEZAS, CRESCIMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB).

            O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada, duas entidades sindicais de trabalhadoras e trabalhadores rurais, de agricultores e agricultoras familiares, estiveram em Brasília, apresentando suas pautas de reivindicações ao Executivo Federal e a este Congresso Nacional.

            A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) realizou sua mobilização anual denominada de Grito da Terra Brasil. Aliás, eu gostaria de fazer dois registros aqui: o primeiro é o de que essa jornada anual teve origem nas lutas e nas mobilizações do Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais da região amazônica, do qual participei ativamente; e o segundo é o de que essa mobilização resultou, em 1995, na criação do hoje conhecido Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

            Estiveram também em Brasília, durante toda a semana, agricultores familiares e lideranças da recém-criada Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf). A Fetraf realizou sua III Jornada Nacional de Luta da Agricultura Familiar e também apresentou suas demandas e reivindicações a vários órgãos e a Ministérios, buscando melhores condições de trabalho, de renda e de vida no meio rural brasileiro.

            Buscando atender alguns itens da pauta de reivindicações dessas duas entidades sindicais rurais, em cerimônia realizada na quarta-feira, dia 23, no Palácio do Planalto, o Presidente Lula anunciou a destinação de R$12 bilhões para o Plano Safra da Agricultura Familiar para o biênio 2007/2008. Esse é o maior valor já destinado na história do programa e 20% superior ao do ano passado. Desde 2002, o volume de recursos cresceu na ordem de 620%, passando de R$2,3 bilhões, na safra 2002/2003, para R$12 bilhões na safra 2007/2008. O objetivo desse aumento é o de incluir mais de um milhão de novas famílias no sistema de crédito por meio das linhas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf.

            Na presença dos Ministros do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, e do Presidente do Incra, Rolf Hackbart, o Presidente Lula anunciou ainda outras novidades no Plano Safra. Entre outras medidas, anunciou a redução dos juros dos financiamentos do Pronaf e a ampliação de recursos para assistência técnica e comercialização da produção familiar. Essas medidas foram anunciadas em audiência com lideranças da Contag, recebidas pelo Presidente no Palácio do Planalto durante as mobilizações do Grito da Terra Brasil.

            A agricultura familiar é um dos mais importantes segmentos econômicos do País, envolvendo 4,1 milhões de estabelecimentos rurais e 14 milhões de pessoas ocupadas, o que representa 77% das ocupações do campo. É responsável ainda por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do nosso País.

            Ainda durante a audiência entre o Presidente Lula e os movimentos sociais agrários, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, anunciou a meta de assentamentos de reforma agrária para este ano. Segundo S. Exª, o Governo deverá assentar até cem mil famílias no ano de 2007. De acordo com o Ministro, além dos R$12 bilhões de crédito e da redução dos juros do Pronaf, deverão ser feitas alterações dos limites de financiamento, renegociação das dívidas da agricultura familiar, suplementação de recursos em R$100 milhões para a assessoria técnica e de outros R$100 milhões para a suplementação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Conab.

            Além do aumento de 20% dos recursos destinados para a agricultura familiar na safra de 2007/2008, as principais medidas anunciadas foram:

1 Redução de juros dos financiamentos do Pronaf: diminuição da taxa de juro em todas as faixas de financiamentos às unidades familiares nas linhas de custeio e de investimento.

2 Ampliação dos limites de financiamento no Pronaf: aumento do teto para os empréstimos em todos os grupos, linhas e faixas de crédito.

3 Aumento dos limites de renda para os beneficiários do Pronaf: a renda bruta anual familiar para o enquadramento no Pronaf será reajustada em todos os grupos.

4 Solução das dívidas: constituição de grupo de trabalho integrado pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, com a participação dos movimentos sociais, para, em trinta dias, diagnosticar e apresentar soluções para o endividamento dos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. De acordo com as Lideranças presentes no evento, os detalhes dessas medidas de renegociação serão divulgados no lançamento do Plano Safra em junho próximo.

5 Ampliação também dos recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário destinados ao PAA, que terá seus recursos ampliados em R$100 milhões. Esse acréscimo deverá viabilizar o montante de R$161,7 milhões para a modalidade de formação de estoques da agricultura familiar.

            Essas são algumas das medidas anunciadas na semana passada. Sua confirmação deverá acontecer por ocasião do lançamento do Plano Safra 2007/2008, geralmente anunciado no mês de junho de cada ano.

            Trago esses elementos a esta tribuna apenas para reforçar a importância da agricultura familiar para o desenvolvimento eqüitativo e sustentável de nosso País. Não é possível pensar em uma vida digna no campo brasileiro sem políticas públicas capazes de ampliar e de consolidar esse importante setor social e econômico. É fundamental, portanto, implementar essas medidas e mais: destinar recursos financeiros e humanos para realizar a tão sonhada reforma agrária no Brasil. A democratização da propriedade da terra é uma condição sine qua non para um Brasil mais justo e mais solidário.

            Sr. Presidente, quero aqui felicitar os organizadores do 12º Grito da Terra Brasil, a Contag e a Fetraf, pelas negociações com o Governo Federal.

            Durante os debates que fizemos na CPMI da Terra, ouvi de um estudioso da questão agrária no Brasil e no mundo algo que muito me preocupou. Ele disse que a única possibilidade de o setor agrário no Brasil ou em qualquer lugar do mundo oferecer uma renda satisfatória para as pessoas que dele vivem seria seguir o modelo norte-americano de esvaziamento quase total do campo, deixar poucas famílias no campo e transferir todas as demais para as cidades.

            Com as contas que fez, chegou à seguinte conclusão: nos Estados Unidos, há uma população rural de 3,5 milhões de pessoas para uma produção econômica da ordem de US$200 bilhões. Citou o caso chinês para fazer uma comparação: na China, há uma população rural de 400 milhões de pessoas para uma produção também da ordem de US$200 bilhões. Ainda segundo ele, fazendo-se uma divisão per capita, percebe-se que os chineses estão numa condição de pobreza infinitamente maior do que aquela em que se encontram os norte-americanos.

            Avaliou ele que devemos seguir o exemplo dos norte-americanos: esvaziar o campo e deixar alguns poucos empresários produzindo, para que, com a modernização, cheguemos a uma produção num patamar elevadíssimo e, na distribuição per capita, a uma população rural bastante abastada.

            Perguntei a essa pessoa o que fazer com as pessoas que deixariam o campo. Ele disse, com todas as letras, que seria preferível que essas famílias fossem para as cidades receber recursos como os do Bolsa-Família por toda a sua vida sem sequer precisar trabalhar. O Estado construiria casas, daria uma pensão vitalícia a essas famílias, e, assim, estariam resolvidos, segundo ele, os graves conflitos do campo e, principalmente, o problema da fome.

            Pergunto: quem paga essa conta? O erário público pagará essa conta? É concebível que pessoas em condições de trabalhar não trabalhem e recebam uma pensão vitalícia? Isso é salutar do ponto de vista da terapia ocupacional? Não estaríamos nós imputando ao País um desserviço brutal e induzindo outras famílias a seguir na mesma direção? E o que fazer dos pobres que já estão nas cidades, que também não têm do que viver?

            Sr. Presidente, essas negociações que a Contag fez aqui fazem cair por terra uma tese como essa. O campo, no Brasil, é gerador de emprego, sim; o campo, no Brasil, é gerador de riquezas, sim. Dados do Ipea relativos ao ano de 2005 mostram que o setor agrário brasileiro contribuiu com 30% da construção do PIB nacional, e, desses 30%, 10% são provenientes da reforma agrária, daquilo que produziram os participantes dos assentamentos da reforma agrária do nosso País.

            Portanto, em situações parecidas com a do meu Estado, o Estado do Acre, onde quase 50% das questões agrárias do território já estão resolvidas, onde já conseguimos mais ou menos a pacificação no campo, onde já está muito bem distribuída a terra, está na hora de pautarmos a reforma agrária pela qualificação e não mais pela quantificação. Sabemos que, em outras regiões do País, isso ainda é muito difícil.

            Saúdo as negociações e ressalto que o campesinato brasileiro dá uma resposta na área social, gerando emprego, e dá uma resposta na área econômica, gerando riquezas, levando paz e tranqüilidade a todas as pessoas.

            Parabenizo aqui, mais uma vez, o Grito da Terra Brasil e o Presidente Lula por tão brilhante negociação e pela satisfação que estamos levando a milhões de famílias do campesinato nacional!

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Era o que tinha a dizer.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2007 - Página 16813