O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, quero aqui registrar um fato que foi noticiado em matéria assinada pelo repórter Carvílio Pires, no jornal Folha de Boa Vista.

A partir de hoje, 2 de agosto, os motoristas que usam a BR-174, que liga Boa Vista a Manaus, decidiram dificultar a passagem dos carros e caminhões nessa rodovia como forma de protestar contra o estado precário em que se encontra a estrada. Estão participando desse protesto tanto os motoristas de frota, caminhoneiros, quanto os motoristas de carros particulares.

Os atoleiros e os buracos nessa pista são incontáveis. As denúncias das terríveis condições da BR-174 já estão sendo feitas há meses. Os donos de veículos, com muita razão, estão fartos dos prejuízos causados pelos buracos e cansados de ficarem várias horas dirigindo para percorrer apenas pequenas distâncias.

Segundo a reportagem, as sucessivas tentativas de conserto da BR-174 já ganharam até apelido popular de “obra sonrisal” - que derrete com o primeiro pingo de chuva.

Os protestos dos motoristas contra o abandono da BR-174 estão acontecendo hoje na ponte sobre o rio Urubu, no quilômetro 99, um quilômetro antes de Presidente Figueiredo, no sentido Manaus-Boa Vista.

A manifestação foi comunicada aos dirigentes do Departamento Nacional de Infra-estrutura Terrestre (Dnit), à Polícia Rodoviária Federal e aos usuários da rodovia.

Faço um apelo, Sr. Presidente Alvaro Dias, ao Dnit para que obrigue as empresas responsáveis pelas obras da BR-174 a retomarem os trabalhos, pois a maior parte da vida econômica do meu Estado depende disso. Os trabalhos são suspensos em virtude das chuvas, mas já faz quase um mês que não chove nesse trecho, que está para cá do Equador, entre Manaus e Boa Vista, e as obras não começaram. Por isso, eles começaram esse movimento.

Vou aproveitar para falar também - já que passamos o dia todo falando de acidente aéreo, da morte de 199 pessoas, e tal, enfim, do acidente aéreo, um fato grave, que lamentamos muito, e nos solidarizamos com as famílias das vítimas - sobre um fato que é nossa responsabilidade também: 686 pessoas morreram em acidentes de trânsito, só durante o mês de julho, no Brasil; e 6.933 ficaram feridas em acidentes de trânsito, nas rodovias e nas cidades, no mês de julho. São quase três vezes mais vítimas do que no acidente da TAM, e não falamos nisso. Quer dizer, muitas pessoas ficaram sem pai, sem mãe, sem nada, e merecem também a nossa solidariedade.

Julgo, portanto, que é também nossa responsabilidade que as obras das estradas sejam feitas com correção e não sejam apenas elemento de corrupção.

Concedo um aparte ao Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Senador Augusto Botelho, quero registrar a importância do pronunciamento de V. Exª, que toca em um assunto fundamental não só para o dia-a-dia do povo de Roraima, mas para a construção do nosso futuro, que é exatamente o nosso sistema viário. Todos os anos nós temos visto repetidamente as estradas se esburacarem, as dificuldades de ligação entre Municípios. Chegar aos Municípios mais distantes, principalmente no sul do Estado, é uma dificuldade muito grande. E eu tive também já a oportunidade de, neste plenário, cobrar do Ministério dos Transportes e do Governo do Estado providências para que se possa realmente fazer uma obra de qualidade. V. Exª falou dos buracos. Todos os anos a BR-174 fica numa situação lastimável, principalmente depois de Caracaraí até a fronteira com o Amazonas. É importante que se discuta se esse modelo de construção de asfalto a frio com que foi feita a estrada comporta a nossa realidade da Amazônia ou se será preciso fazer um investimento maior construindo uma estrada mais robusta, com asfalto a quente, com concreto asfáltico, enfim, em condições de suportar as intempéries e a chuva, que é bastante forte na nossa região. Então, V. Exª fala da movimentação que é feita hoje; os caminhoneiros, os usurários das estradas têm razão, a situação é de extrema gravidade. A violência do trânsito, a que se refere V. Exª, é um tema que tem ceifado vidas não só em Boa Vista, mas nas estradas de Roraima. Então, sem dúvida nenhuma, eu quero somar a minha voz ao apelo que faz V. Exª na tribuna, exatamente para que o Ministério dos Transportes, o Denatran, a Polícia Rodoviária Federal, os órgãos envolvidos nessa questão possam agir de uma forma mais forte para proteger a vida dos nossos irmãos roraimenses e melhorar as condições das estradas para que o desenvolvimento, o progresso possa efetivamente ter o seu escoamento garantido o ano todo e não apenas durante o verão. Então, parabenizo V. Exª pela colocação e pelo discurso.

O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR) - Agradeço o aparte de V. Exª.

Lá no nosso Estado - só no nosso Estado - morreram 19 pessoas. Nós somos menos de 400 mil habitantes. No Brasil todo, se considerarmos o mês de julho, incluindo o acidente da TAM, morreram 885 pessoas em acidentes de trânsito, tanto aéreo como terrestre. Morreu mais gente aqui, com certeza, do que morreu no Iraque, onde há uma guerra.

Então, eu gostaria de fazer também um apelo à imprensa para que desse mais atenção às mortes nas rodovias. Nos jornais mais importantes do Brasil - O Globo, Folha de S.Paulo, Estadão e Correio Braziliense - foram publicados 47 artigos falando sobre essas mortes em trânsito, sendo que 45 deles se referiam a aviões e dois, apenas, sobre as 686 pessoas que morreram no trânsito terrestre. A imprensa, que é o quarto Poder - eu acredito que ela seja o quarto Poder e a respeito por isso -, tem de agir para cobrar das pessoas, tanto do Governo Federal quanto dos governos estaduais, que cuidem das suas estradas para que nós paremos de ceifar vidas.

O Senador Suplicy esteve, recentemente, em área de conflito. Com certeza, nessas áreas em que ele esteve, morreu menos da metade das pessoas que morreram aqui no Brasil nesse mês de julho. E são áreas de conflito, de guerra.

Era isso o que eu queria registrar, Sr. Presidente.

Muito obrigado.