Discurso durante a 130ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura e solicitação da transcrição nos Anais do Senado, do artigo intitulado "O Brasil é isso mesmo que está aí", do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, publicado na revista Veja desta semana. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Leitura e solicitação da transcrição nos Anais do Senado, do artigo intitulado "O Brasil é isso mesmo que está aí", do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, publicado na revista Veja desta semana. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 22/08/2007 - Página 28136
Assunto
Outros > SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • PROTESTO, MORTE, CIDADÃO, CARDIOPATIA GRAVE, AUSENCIA, ASSISTENCIA MEDICO-HOSPITALAR, MOTIVO, GREVE, MEDICO, FALTA, PLANTÃO, EMERGENCIA.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), FRUSTRAÇÃO, SITUAÇÃO, BRASIL, DENUNCIA, FALENCIA, CONGRESSO NACIONAL, INCOMPETENCIA, GOVERNO FEDERAL, CRESCIMENTO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem ou anteontem, uma jovem de 28 anos morreu com grave problema de arritmia cardíaca, sem assistência médica, na Paraíba.

De um lado, os médicos em greve porque a tabela do SUS não é reajustada há dez anos. De outro lado, a desumanidade de profissionais que não deixaram um plantonista sequer para atender à emergência.

Esse é um dos tristes retratos do Brasil.

Sr. Presidente, eu vou ler - e peço inserção em ata - o artigo do articulista Roberto Pompeu de Toledo, na Veja desta semana, intitulado “O Brasil é isso mesmo que está aí”.

Diz ele:

Os distraídos talvez ainda não tenham percebido, mas o Brasil acabou. Sinais disso foram se acumulando, nos últimos meses: a falência do Congresso e de outras instituições; a inoperância do governo; a crise aérea; o geral desarranjo da infra-estrutura. A esses fatores [...] somam-se outros, crônicos, como a escola que não ensina, os hospitais que não curam, a polícia que não policia, a Justiça que não faz justiça, a violência, a corrupção a miséria, a desigualdade. Se alguma dúvida restasse, ela se desfaz no parecer autorizado como poucos de um Fernando Henrique Cardoso, cujas credenciais somam oito anos de exercício da Presidência da República e mais de meio século de estudo do Brasil. “Quem ninguém se engane: o Brasil é isso mesmo que está aí” [...].

Ora, direis, como afirmar que o Brasil acabou? [...] Eu vos direi, no entanto, que, quando acaba a esperança, junto com ela acaba a coisa à qual a esperança se destinava.

[...]

O Brasil que “é isso mesmo” é o das adolescentes grávidas e dos adolescentes a serviço do tráfico, das mães que tocam lares sem marido, das religiões que tomam dinheiro dos fiéis, dos recordes mundiais de assassinatos e de mortos em acidentes automobilísticos, dos presos que comandam de suas células o crime organizado, dos trabalhadores que gastam três horas para ir e três horas para voltar do trabalho, das cidades sujas, das ruas esburacadas.

Procura-se o governo e... não há governo. Há muito que nem o Presidente, nem os governadores, nem os prefeitos mandam. Quem manda é a trindade formada pelas corporações, máfias e cartéis. Não há governo que se imponha a corporações como a dos policiais ou a dos professores ou a dos funcionários das estatais. Não há o que vença as máfias dos políticos craques em arrancar para seus apaniguados cargos em que possam distribuir favores e roubar.

Para enfrentar [...] cartéis como o das companhias aéreas, só em época em que elas estão fragilizadas como agora. Às vezes, cartéis se aliam às máfias, em outras se transmudam nelas. Em outras ainda são as corporações que, quando não se aliam, se transformam em máfias. Em todos os casos, o interesse público, em tese corporificado pelos governos, não é forte bastante para dobrar os fragmentados interesses privados.

A tais males soma-se o cinismo. Não há outra palavra para descrever o projeto, supostamente de fidelidade partidária, aprovado na semana passada na Câmara. O projeto, muito ao contrário de punir ou coibir os trânsfugas, perdoa-lhes o passado e garante-lhes o futuro. [...]

Mas, segundo o projeto, no mês que antecede a esse ano de jejum o candidato pode trocar o partido [...] Como a eleição é sempre em outubro, esse mês será o setembro do ano anterior. Eis o Carnaval transferido para setembro. O projeto é uma esposa compreensiva que, no Carnaval, libera o marido para a gandaia.

Na reportagem da revista Piauí, ele [o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso] não poupa nem seu próprio governo: “No meu governo, universalizamos o acesso à escola, mas pra quê? O que se ensina ali é um desastre”.Pálidos de espanto, como no soneto de Bilac, assistimos à desintegração da esperança na pátria, o que equivale a dizer que é a pátria mesma que se desintegra aos nossos olhos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não sou tão pessimista. Acredito que, além deste Brasil sujo, escuro, ruim, há um Brasil limpo, claro, decente.

Esse Brasil limpo, claro, decente precisa gritar mais alto, Sr. Presidente.

Peço a transcrição do artigo nos Anais da Casa.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JEFFERSON PÉRES EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2,º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“O Brasil é isso mesmo que está aí” (Veja, 19/08/07)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/08/2007 - Página 28136