Discurso durante a 172ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Deputado Ulysses Guimarães pelo transcurso dos 15 anos do seu falecimento.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Homenagem à memória do Deputado Ulysses Guimarães pelo transcurso dos 15 anos do seu falecimento.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2007 - Página 34173
Assunto
Outros > HOMENAGEM. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ULYSSES GUIMARÃES, EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ELOGIO, DIGNIDADE, MORAL, ETICA, VIDA PUBLICA, AUSENCIA, INTERESSE, ACUMULAÇÃO, BENS PARTICULARES, PRIORIDADE, INTERESSE NACIONAL, INFLUENCIA, HISTORIA, POLITICA, BRASIL, MOBILIZAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), RESISTENCIA, REGIME MILITAR, DEFESA, PACIFICAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, DEMOCRACIA, REJEIÇÃO, GUERRILHA, OBJETIVO, PRESERVAÇÃO, SOBERANIA NACIONAL, RECONDUÇÃO, JUSTIÇA, LIBERDADE, EMPENHO, APROVAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA, MERECIMENTO, GOVERNO, PAIS.
  • DETALHAMENTO, ATUAÇÃO, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO, PERIODO, DITADURA, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ORIENTAÇÃO, PROCEDIMENTO, POSSE, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, DOENÇA, TANCREDO NEVES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, GARANTIA, MANDATO, ENCERRAMENTO, FASE, REGIME MILITAR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, DIFAMAÇÃO, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO, QUALIDADE, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DIVULGAÇÃO, NOTICIA FALSA, VICIO, MEDICAMENTOS, PERIODO, DOENÇA.
  • ELOGIO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERIODO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REPRESENTANTE, OPOSIÇÃO, APREENSÃO, ATUALIDADE, DIVERGENCIA, IDEOLOGIA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO, CONGRESSO NACIONAL, SUPERIORIDADE, UTILIZAÇÃO, DECRETOS, MEDIDA PROVISORIA (MPV).
  • REGISTRO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ATUALIDADE, MAIORIA, BANCADA, CAMARA DOS DEPUTADOS, SENADO, GOVERNO MUNICIPAL, GOVERNO ESTADUAL, SUPERIORIDADE, ASSOCIADO, NECESSIDADE, AUTONOMIA, POLITICA, CRITICA, IMPOSIÇÃO, VOTO FAVORAVEL, PRORROGAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), TENTATIVA, OBTENÇÃO, BENEFICIO.
  • COMPARAÇÃO, PERIODO, ATUAÇÃO, ORADOR, QUALIDADE, LIDER, GOVERNO, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, RECEBIMENTO, BENEFICIO, ORIGEM, NEGOCIAÇÃO, VOTAÇÃO, PROJETO, INTERESSE, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fico contente, Senador Heráclito, em vê-lo na Presidência desta reunião. Foi muito feliz o nosso querido Presidente Renan em colocar exatamente um dileto amigo do Dr. Ulysses para presidi-la. V. Exª foi um daqueles grandes nomes que estiveram conosco nas horas mais difíceis. Inclusive, quando não tínhamos onde instalar o comitê do nosso candidato, foi na residência, numa casa de V. Exª que nós, naquele momento, iniciamos a caminhada.

            Prezado Presidente Michel Temer, V. Exª tem sob sua responsabilidade conduzir o nosso País, ou melhor, o nosso Partido - por enquanto, o nosso País ainda não. V. Exª reúne condições de dignidade, de seriedade e de capacidade para desempenhar o papel, que não é difícil, mas não é fácil. Acredito que é mais difícil do que fácil.

            Tenho dito, Presidente Michel, que me surpreendo, porque sempre imaginei que aquele período que vivemos para derrubar o regime militar, a ditadura, quando éramos considerados não oposição, mas inimigos da Pátria, não podíamos viver época mais dramática, mais difícil e mais incômoda do que aquela. Hoje, surpreendo-me dizendo isto: eu me sentia mais à vontade de fazer a caminhada lá do que aqui. Lá, nós tínhamos objetivos, idéia, bandeira, luta; tínhamos um adversário que estava lá, uma palavra de confiança ao nosso povo e um endereço, que era buscar a democracia.

            Eu era alguém naquela época, lá no Rio Grande do Sul, onde cassaram como em nenhum outro lugar e onde resistimos e pagamos o preço. Em 1962, quando terminaram com a eleição direta para Governador, lá no Rio Grande do Sul fizemos um entendimento - Brossard, a oposição, o MDB e o velho PTB - e lançamos uma candidatura a governador no colégio eleitoral, Professor Cirne Lima, e eles tiveram de cassar tantos Deputados quantos quiseram para que o Sr. Peracchi fosse eleito com 23 votos, numa assembléia de 51. Baixaram atos complementares, e mais um, e mais um, e mais um, e, numa sessão dolorosa, 23 Deputados, numa assembléia de 51, elegeram o governador. Quatro anos depois, a mesma coisa: elegiam o Coronel Triches. Nós voltamos a ter maioria, já então o velho MDB, uma maioria esplendorosa, e não nos obrou. Quando criaram uma nova eleição indireta de governador, reinventaram, nós estávamos lá. E cassaram tantos quantos foram necessários para não eleger o nosso governador.

            Cheguei a pensar, cheguei a viver momentos em que achava que a nossa equipe, os nossos legendários companheiros de MDB - vivíamos como se fosse o início do cristianismo -, eu achava que éramos quase santos, na luta, na resistência, no combate; depois fui ver, quando chegamos ao poder, que no poder tudo é diferente, com a caneta é diferente. Mas lá, nessa época, a gente sabia o que queria.

            Hoje, o maior problema, a nossa maior interrogação não é saber lutar, não é nos unir, não é somar, mas é saber lutar contra o quê e do lado de quem. Por isso, a dificuldade de V. Exª. Ir para onde? Fazer o quê?

            É a genialidade do Dr. Ulysses: o MDB terminou sendo o grande partido da união nacional. Todos que estão por aí, PT, PDT, PC, PCdoB, lutavam junto conosco ou estavam do lado de lá. E, do lado de lá, estava quem queria a guerrilha, a luta armada; quem queria fazer a violência, a radicalização. Muitas vezes acusavam Dr. Ulysses e nós: “Vocês estão comovendo, são resistência até o último cachê. Vocês estão aí numa luta ridícula, que não vai levar a nada. Nós temos de ir para a luta. Temos de imitar Cuba. Temos de fazer uma revolução armada. Temos de derrubar essa gente à bala e na marra”. E nós e Dr. Ulysses dizíamos: “Não. Não é por aí. E não pensem que temos medo dessa luta. Não pensem que falta a nós, dizia Dr. Ulysses, a capacidade e a garra de ir para a luta, de pegar em arma e derrubar esse governo. Não fazemos isso, porque não vemos saída. O Brasil não é Cuba. O Brasil não é sair das montanhas e pegar a capital, Havana. O Brasil é um continente, e o continente que os olhos do mundo olham arregalados, querendo fazer do Brasil, como a América espanhola, uma série de nações e mais nações. Se fizermos isso, o americano entra aqui, como entrou lá na Coréia, como entrou no Vietnã, e como está louco para entrar aqui, e termina a divisão entre Brasil do Norte e Brasil do Sul”.

            Depois ficou provado - aí está o Embaixador da época, mostrando - que eram milhares os mariners americanos que estavam nas costas, esperando que o Dr. João Goulart resistisse para entrarem aqui e dar o golpe final. Na época, o Dr. Ulysses e nós todos ouvimos muitos desaforos.

            “Cinco generais, Presidentes da República, vêm aí para durar a vida inteira, e, enquanto não derrubarem a bala, enquanto não tiverem a capacidade de fazer isso, vamos ganhar tempo, perder tempo, e mais tempo e mais tempo, e mais tempo. Não temos chance.” Não. Vamos fazer. Se Gandhi, lá na Índia, que era uma colônia da Inglaterra, num movimento pacifista, conseguiu a independência, por que nós, no Brasil, que não temos inimigos externos, mas um grupo violento que toma conta, não podemos conseguir?

            Sofreu muito o Dr. Ulysses. Por maiores que sejam os problemas que V. Exª tenha, Sr. Presidente, não são daquela natureza. Eles não são daquela natureza, como o fato de estudantes e intelectuais se reunirem e cobrarem: “Está nas mãos do MDB. Se o MDB aceitar o movimento de luta a qualquer preço, o Brasil estará na rua”. O Dr. Ulysses não aceitou, nós não aceitamos, e está aí.

            Uma das histórias mais fantásticas do mundo: a ditadura caiu exatamente no auge, derrotada a emenda das Diretas Já, de Dante Oliveira; Maluf, candidato a Presidente da República, da Arena. Não sabendo o que fazer, nem para onde ir, parecia que era a derrocada, mas os jovens continuaram na rua. Na rua!

            E o que digo hoje é que quem espera deste Congresso medidas que mudem a realidade brasileira, quem espera do Poder Judiciário, quem espera do Presidente Lula vai morrer esperando, porque elas não vão sair, se o povo não for para as ruas. Não estou falando em ir para as ruas, num movimento de violência, de radicalismo, nem num movimento de empresários; estou falando de um movimento da sociedade. Sim, pintar a cara de verde e amarelo, vir para a frente do Congresso, ir para a frente do Supremo, da Presidência da República e cobrar as transformações éticas, morais, de dignidade e de seriedade da sociedade brasileira.

            Foi por aí que fomos, e deu certo. O povo veio, avançou. Quando se votou a emenda das Diretas, de Dante de Oliveira, cercaram o Congresso Nacional, tanques e metralhadoras. Muitos não conseguiram entrar, e outros se apavoraram, e, por nove votos, não se aprovou a Emenda. Por esse pavor, por esse medo, por tudo que aconteceu, pouco tempo depois, derrotamos, de maneira espetacular, o candidato da Arena, e o Dr. Tancredo se tornou Presidente da República.

            Foi preciso coragem, meu Presidente. Foi preciso visão. Foi preciso grandeza. Foi preciso garra. Tudo isso o Dr. Ulysses teve. Esse velho MDB, num País que não tem história de vida partidária. Em nada, na história do Brasil, do início ao fim, é citado um partido. Independência, com um rei que colocou a coroa na cabeça do filho; República, com um golpe de Estado. O povo estava com Dom Pedro II e não sabia o que estava acontecendo. As leis sociais, que, no mundo inteiro, foram à base de luta, o 1º de maio, resistência em favor dos trabalhadores, no Brasil, Dr. Getúlio, em pleno regime de força, deu de presente, de cima para baixo. Os trabalhadores não entendiam a legislação social que vale até hoje.

            Mas o MDB é o único Partido que tem o nome marcado na História do Brasil, porque ele coordenou essa luta, porque ele comandou essa luta, porque ele teve garra e porque ele teve coragem.

            Meu querido e grande amigo do Dr. Ulysses, Heráclito, que terminou de falar aqui, se tu me permitires, vou explicitar um pouco mais o que disseste. Realmente, o Dr. Ulysses era nosso candidato a Presidente da República. Percorremos o Brasil inteiro com as “Diretas Já”, com o candidato que era o Dr. Ulysses. Caíram as emendas, a rigor, caiu a candidatura do Dr. Ulysses.

            Nós argumentávamos e debatíamos que tínhamos dois candidatos: Dr. Ulysses, candidato das “Diretas Já”, para se eleger Presidente e, se caíssem as Diretas e nós fôssemos para o Colégio, de mentirinha novamente, Dr. Tancredo.

            Caíram as “Diretas Já”. Caiu a candidatura do Dr. Ulysses.

            Ele não queria ir para o Colégio; ninguém de nós queria ir para o Colégio. Se percorremos o Brasil, centenas, milhares de vezes antes, dizendo que o Colégio era ditadura, era imoralidade, era indecência, era um escândalo, como é que íamos para o Colégio?

            Foi um debate difícil, muito difícil, em que eu defendia uma tese: eu não vou ao Rio Grande do Sul pedir licença para ir para o Colégio. Eu não vou!

            Agora, se o Rio Grande do Sul se reunir com o MDB e me mandar para o Colégio, eu vou. E foi o que aconteceu. O velho MDB do Rio Grande do Sul contra o Colégio, contra a ditadura, contra qualquer aconchego, se reuniu num congresso espetacular e, por unanimidade: “Vamos aceitar a tese do Dr. Tancredo, vamos ao Colégio para terminar com o Colégio”. E foi o que nós fizemos.

            Dr. Ulysses teve a grandeza. Era Ulysses, Tancredo e eu pelo MDB; Aureliano Chaves, Sarney e Marco Maciel pela dissidência da Arena. Reuniões feitas na casa do Vice-Presidente, no Palácio, ou na minha residência. Porque eu morava sozinho aqui e tinha condições de reunir. Longas reuniões.

            Bornhausen, primeiro Vice-Presidente da Arena, grande papel, ficou na Presidência da Arena quando o Sarney se demitiu e veio para nós. E por que o Bornhausen ficou lá? Porque a bandeira que a Arena defendia, que eles defendiam dentro do Partido dele era uma prévia, porque na prévia, entre as candidaturas do Coronel Andreazza, do Aureliano e do Maluf, facilmente ganharia o Aureliano e havia uma simpatia de todos eles pelo Aureliano.

            A vida é engraçada, o Aureliano é uma das pessoas mais notáveis que eu conheci, ficou na Vice-Presidência da República fazendo a defesa da manutenção do respeito, preenchendo aqueles vazios que o Figueiredo não preenchia. E era o candidato inclusive do Figueiredo.

            Adoece o Presidente e vai para os Estados Unidos. Assume o Aureliano. Quem conhece Aureliano sabe o seu estilo impulsivo de trabalhar e de arregaçar as mangas. Com Aureliano Presidente, o Palácio ficava até a madrugada conversando. No sábado e no domingo ele trabalhava também. E recebeu a UNE, e recebeu a CUT, e recebeu Deus e todo mundo.

            Desse modo, a intriga começou a ser feita. Sei que, no final, Figueiredo dizia: “Mas eu sou tríplice coroa! Sou o primeiro da turma do Exército na saída da escola! Sou o primeiro na Escola de Guerra! E de repente o Aureliano espalha por aí que eu sou um vagabundo, porque é ele que trabalha!” E vetou a candidatura dele. E começou a pressionar, a pressionar, a pressionar e, na hora, na Arena, resolveram fazer a prévia. Naquele momento, Aureliano já não ganhava mais. Então, a missão de Bornhausen, ficando na Presidência, era não deixar mais sair a prévia. E ele cumpriu com grande valor o seu trabalho.

            Aquela foi uma época emocionante. O povo magoado, desiludido com a derrota das “Diretas Já”. Nós machucados com a derrocada do Dr. Ulysses. O Dr. Ulysses machucado em seu íntimo, porque era uma candidatura natural, uma movimentação tradicional. Foi dali que saiu a figura que contamos muito, comparando Dr. Ulysses a Moisés.

            Moisés conduziu o povo judeu. Moisés, como é dito, conduziu o povo judeu quarenta anos no deserto, enfrentando todos os óbices e todos os obstáculos. Quando chegou ali, tudo pronto, o povo olhando do lado do morro, do lado de lá, a terra prometida, Deus diz a Moisés: “Tu não vais, tu vais ficar”. E ele subiu a montanha, deu orientação ao seu irmão e ficou.

            A rigor, foi assim com o Dr. Ulysses. Na hora em que a vitória estava certa, que ele era o candidato, nós dissemos para ele: “Você não vai; é o Tancredo”. Até porque eu acho que só o Tancredo é que ganharia naquele Colégio. O Ulysses tinha tido tanta coragem, tanta bravura, tanta dignidade, tinha dito tanto desaforo, que não dava para fazer uma aliança e querer que o pessoal da Arena votasse em nós. E ele teve a grandeza de dizer isso: “Não, é o Tancredo que vai”. E o Tancredo ganhou.

            E aquela véspera de eleição... Olha, é um filme fantástico, uma luta de anos e anos e anos. Elegemos o Dr. Tancredo. No Brasil estavam milhares de pessoas de tudo que é lado, dezenas, centenas de delegações, reis, primeiros-ministros, presidentes, aqui, para, no outro dia, às nove horas, assumir Tancredo. Eu estava na Embaixada da Argentina e na do Uruguai. Porque o Dr. Tancredo tinha feito com que cada membro do seu Ministério ocupasse, fosse fazer, porque estavam aqui o Presidente do Uruguai, o Presidente da Argentina - o Menem estava aqui, estavam aqui todos - na expectativa de assistir à posse.

            Eu estava na Embaixada da Argentina quando me telefonaram dizendo: “Vá para o hospital, porque o Dr. Ulysses e o Dr. Tancredo estão lá e temos que conversar”. Quando chegamos lá, havia a parte fechada, e, naquele primeiro quarto, estavam o Dr. Ulysses, no final, Sarney, General Leônidas, Marco Maciel, um grupo, estávamos ali reunidos. O que vai acontecer? O que não vai acontecer? Dornelles, o nosso Senador, sobrinho de Tancredo, fazia a intermediação: ele entrava, falava com Tancredo e voltava para nos dizer o que estava acontecendo.

            O problema era este: Tancredo já estava sentindo dores há muito tempo. Ele não devia ter viajado para a Europa. O que é a vida! Se, ao invés de ter viajado para a Europa, ele tivesse feito o exame completo e a cirurgia - assim como eu fiz. Eu tive a mesma doença, diagnosticada, fui operado e - brincadeira - não tenho problema nenhum.

            Agora, aquela história de ele dizer que só se operava depois de assumir a Presidência, foi para a Europa, voltou, e, quando chegou aqui, a doença aumentou. Todos devem lembrar, na missa que fizemos, na Igreja D. Bosco, da dor que ele sentia e do problema que sentia ali naquele momento. Também podia ser operado. Mas ele tinha algo na cabeça: “Eu não posso fazer nada antes de tomar posse.”; “Depois de tomar posse, façam o que quiserem comigo, porque o Figueiredo não dá posse ao Sarney.”

            Estávamos ali, e ele não queria se operar. Não queria se operar, e não queria se operar. Foi o Senador Dornelles que o convenceu.

            Quando ele saiu em direção ao centro cirúrgico, nós que estávamos ali na sala ao lado perguntamos: e como é que vai ser amanhã? Estávamos discutindo. Eu realmente tive uma desavença séria com o Dr. Ulysses. Chega o General Leônidas, Ministro do Exército, com a Constituição debaixo do braço. Abre a Constituição e lê um artigo: “Compete ao vice-Presidente substituir o Presidente na doença, na morte, nos impedimentos, viagens, férias”... Quem assume é o Dr. Sarney. Pedi a palavra ao Ulysses, ele viu a minha revolta, viu que eu ia falar e me tratou assim como um gurizinho de segunda classe. Não deu bola para mim e disse: “Está resolvido, quem assume é o Dr. Sarney’. Mentira: quem assume é o Sarney. E já indicaram os nomes para irem à casa do Chefe da Casa Civil comunicar isso. Era meia-noite. Indicou o Fernando Henrique, indicou o então Presidente do Senado, que era o nosso Senador lá de Mato Grosso do Sul, e me indicou. Eu não fui, pois, para mim, quem ia assumir era o Dr. Ulysses. Para mim, quem ia assumir era o Dr. Ulysses.

            Aí ligo para o Dr. Ulysses: mas o que foi aquilo que o senhor fez, Dr. Ulysses? Está ali, a frase dele está certinha: quem assume no lugar do Presidente é o vice, nesse, nesse e nesse cãs. Mas o Dr. Tancredo não assumiu a Presidência. Se ele não assumiu a Presidência, como o vice ia assumir?

            Se o Tancredo assume a presidência, ele é presidente; dez minutos depois ele se licencia e depois, aconteça o que acontecer, assume o Dr. Sarney. Mas se o Dr. Tancredo não tinha assumido a Presidência, como o Sarney ia assumir? Quem devia assumir era o Dr. Ulysses, Presidente da Câmara, que era a pessoa indicada. Assumia o Dr. Ulysses e o Dr. Tancredo após a operação assumiria a Presidência. Morreu Dr. Tancredo, nova eleição. Dr. Ulysses não ia ficar na Presidência, em nenhuma hipótese ele ficaria na Presidência. Ficaria na Presidência só até haver nova eleição.

            O Dr. Ulysses volta-se para mim - nunca me esqueci - e diz: “Ó Pedro, achei que tu tinhas mais inteligência. Mas nós estávamos ali Pedro... Tu não estavas na reunião que fizemos? Aquela história de que íamos assumir, como assumiu a Presidência da República o Dr. Sarney, e chegar lá e o Palácio estar vazio... Os funcionários que assumiram o Palácio para a posse foram os indicados pelo novo Governo, pelo Sarney, porque os antigos deixaram o Palácio vazio. O Palácio estava absolutamente vazio.

            O General Figueiredo foi visitar o Dr. Tancredo lá no hospital. Fez visita a ele, à esposa dele e disse ali o que ele queria dizer: “Para o Dr. Ulysses eu passava a Presidência, mas para o Sarney eu não passo porque não estão cumprindo a Constituição”. Dr. Ulysses me diz assim: “Mas Pedro, não te lembras das nossas discussões? Nós não sabíamos que ia ser tão fácil ir assumir, tomar posse e ser uma maravilha. Nós nos preparamos para o pior. Vai acontecer isso, aquilo, alguém vai se rebelar, alguém vai fazer isso e aquilo”. E quem é que comandou todo o nosso trabalho? General Leônidas, Ministro do Exército. Ele é que coordenou a indicação do Ministro da Aeronáutica, do Ministro da Marinha... A indicação de todos os comandos tinha passado pela coordenação do General Leônidas. Aí, diz o Dr. Ulysses: “Aí tu falavas depois do General: “Não, quem vai assumir é o Dr. Ulysses. Dr. Ulysses é que tem de assumir. O que podia acontecer? Nem eu nem o Sarney. Ficava uma interrogação. Era imprevisível o que podia acontecer. Eu fiz a única coisa que eu podia fazer. Nós não podíamos ter nenhum arranhão na nossa unidade para chegarmos ao Governo. Nosso objetivo não era chegar ao Governo? Chegamos. Aí, indica o Dr. Sarney”.

            Foi isso o que aconteceu. Esse, o segundo gesto de grande renúncia do Dr. Ulysses. Se ele tivesse dito com tranqüilidade... Não sei o que poderia acontecer. Acho que não aconteceria nada! Nem o Sarney - tenho certeza absoluta - nem o próprio General Leônidas iriam fazer qualquer coisa se nós mostrássemos a Constituição. ”Vocês estão cometendo um erro muito grave”. Esse era o Dr. Ulysses. Deu cobertura ao Presidente Sarney, que, quero fazer justiça, fez um grande governo. Cumpriu a Carta do PMDB, abraçada pela Frente Democrática: Constituinte, Diretas Já, anistia, fim da tortura. Isso aconteceu no Governo Sarney. Ele legalizou o Partido Comunista, o PCdoB, convocou a Constituinte. Fomos às Diretas Já. Eu acho que foi um grande Presidente. Eu o respeito. Apenas acho que o Dr. Tancredo foi muito mau conosco: ele não podia morrer! Estava tudo em cima dele. O Dr. Sarney não podia fazer milagre. Dr. Tancredo, Primeiro-Ministro de Jango; Dr. Tancredo, Ministro da Justiça de Getúlio Vargas, um jovem de 30 anos; Governador de Minas Gerais. Ele estava preparado, como o Dr. Ulysses estava com 30 anos de preparo. O Dr. Sarney disse várias vezes: "Eu me preparei par ser vice-presidente e para a Academia Brasileira de Letras. Não estava na minha cabeça ser Presidente da República”. Por isso acho que ele fez um grande governo. Admiro o trabalho dele. Fui Ministro dele - dele não, do Tancredo. Quando pensávamos em deixar o Ministério, o Dr. Ulysses nos dizia: " Não podem deixar. Se vocês deixarem o Governo do Sarney perde a estrutura, perde a credibilidade. Deixem ele ficar, fixar e ganhar credibilidade e respeito. Daqui a um ano ele põe o Ministério que quiser”. Foi o que aconteceu. Nós saímos e ele fez o Ministério que quis. Esse era o Dr. Ulysses.

            V. Exª lembrou um fato dramático. Não vou nem analisá-lo. O Dr. Ulysses pensava em ficar na Presidência da Câmara e não passava pela cabeça dele deixar a presidência do PMDB. E o tiraram da Presidência da Câmara e da presidência do PMDB.

            Lembro-me de quando nosso companheiro Quércia veio ao meu gabinete pedir que eu fosse vice-presidente dele. "Quércia, tu vais fazer uma grande bobagem." O Quércia, àquela altura, era o grande Governador de São Paulo. Foi a coisa mais engraçada da nossa vida: fomos para duas eleições de sapatos trocados.

            Quando o Dr. Ulysses foi candidato à Presidência da República era o Quércia que ia ser porque não se ouvia uma palavra contra ele; ele era o grande Governador, tinha revolucionado São Paulo. Quatro anos depois, o Quércia estava queimado: havia a campanha dura dos adversários em cima dele, os processos que ele estava enfrentando. Não era mais a vez dele. Na primeira ele não quis ser, na segunda ele foi na marra. Na segunda, se não tivesse sido ele, o PMDB teria elegido Presidente da República Antônio Britto, ex-Ministro da Previdência, que tinha o apoio do Itamar, tinha o apoio do Fernando Henrique, Ministro da Fazenda, que dizia - lembro-me muito bem: “Ministro da Fazenda é um grande cabo eleitoral; nunca um Presidente da República. Não me lembro de nenhum Ministro da Fazenda que chegou a Presidente da República”. Antonio Britto não aceitou, por medo da Convenção, porque achava que o Quércia ganharia a Convenção do PMDB.

            Talvez até o Dr. Ulysses tenha tido um único senão na vida dele: a insistência que ele tinha em ser o nosso candidato. Então o Brizola não veio para o PMDB por coisas dele, sim, mas também porque a gente não deu muita abertura para ele. Nós sabemos do Dr. Ulysses e Teotônio, Dr. Ulysses e Montoro, Dr. Ulysses e Arraes, Dr. Ulysses e Covas. Todo aquele que almejava a Presidência, o Dr. Ulysses ficava meio assim porque queria ser ele o Presidente. Isto eu disse ao Quércia: agora não tem; ele já perdeu. Agora ele vai ser o melhor presidente da história do PMDB. E pode preparar a candidatura.

            Agora, presidente do MDB, meu amigo Michel, eu dizia naquela época, é uma pessoa maldita perante a imprensa: botam um pau, fazem guerra, querem demolir o presidente do PMDB. Você vai pegar esse cargo para preparar a sua candidatura? Deixa o velho Ulysses preparar a sua candidatura e fica do lado de fora. Não aceitou, chegou à Presidência e foi no que deu: um fiasco maior do que o do Dr. Ulysses. Quanto àquele discurso melancólico - eu sei, porque senti a dor que o Dr. Ulysses sentiu -, senti o que aquilo simbolizou para ele. Ele perdeu a eleição, que é uma coisa muito engraçada. Por isso acredito nos destinos de Deus.

            Se olharmos do Dutra até hoje, vamos verificar que, quando da eleição do Dutra, quem tinha de ganhar era o Brigadeiro Eduardo Gomes. Era o grande líder, o grande herói, o homem do Levante dos 18 do Forte. O homem espetacular era ele. O Dutra era Ministro da Guerra do Dr. Getúlio, o cara que fez o movimento de 1937. Getúlio mandou; ganhou o Dutra. E assim foi.

            Bote ali no mapa Tancredo, Ulysses, Teotônio, Brizola, Covas e, do outro lado, Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula e faça um filme, perguntando quais deles foram Presidentes da República. Duvido que alguém que não conhecesse a história não dissesse que o Dr. Ulysses foi um, o Brizola foi outro, o Tancredo foi outro, o Teotônio foi outro. Quem iria se lembrar do Collor? Quem iria se lembrar? É o destino da vida, e pagamos esse preço.

            Meu querido Heráclito disse que o Dr. Ulysses odiava falar em morte. Ele disse, em um dos seus célebres discursos: “Se um dia vocês virem passar um enterro com o meu caixão na frente, podem dizer: lá vai um homem revoltado; morreu contra a sua vontade.” E vejam o que é o destino: não vimos esse caixão.

            No desastre, encontrou-se a querida Dona Mora, o nosso bravo Senador Severo, sua esposa, o piloto... Todos os destroços do helicóptero foram encontrados, menos o Dr. Ulysses.

            Quando fui conversar com as pessoas que trabalharam no acidente, eles me disseram: não existe explicação, Senador. Olhamos tudo, não dá para explicar como não encontramos vestígio algum do Dr. Ulysses.

            Fui com um jornalista ver o local, um tempo depois. Estávamos ali e fomos falar com os pescadores. Contaram como foi o acidente, ficaram olhando: “O que está acontecendo; o que não está acontecendo?” Perguntamos se eles sabiam que o corpo do Dr. Ulysses não tinha sido encontrado e o que eles achavam. “Olha, doutor, toda a nossa gente aqui, principalmente a gurizada, de tempos em tempos, vê um vulto alto de madrugada - magro e alto - caminhando de pés descalços dentro do mar, na beira da margem. Quando passa pela gente, ele abana assim”.

            É lenda? Pode ser, mas não dá para entender.

            Itamar, quando Presidente da República, queria decretar feriado no dia do enterro do Dr. Ulysses. Estávamos nos preparando para fazer algo de grandioso, que até hoje não saiu. Nem vai sair mais!

            Desígnios da vida! Desígnios da vida!

            Considero o Dr. Ulysses um dos vultos mais extraordinários da história do Brasil. Não há, na história do Brasil, nenhum brasileiro que percorreu tanto, e tantas vezes, o Brasil em milhares de quilômetros, em milhares de cidades, como o Dr. Ulysses. A minha cidade, Caxias, ele foi umas dez ou quinze vezes nesses vinte e tantos anos em que esteve andando.

            Lembro, no Rio Grande do Sul: o MDB era um partido de oposição. Ser do MDB era estar marcado para morrer, para ser cassado, para não ter cargo coisa alguma.

            Havia um fazendeiro que era nosso amigo, e o aviãozinho que ele nos emprestava tinha um motor. Quero saber se alguém, hoje, entra em um avião de um motor. Com ele, andávamos com o Dr. Ulysses por todo o Rio Grande. E perguntava o Jarbas se era verdade.

            Estávamos andando em um carro e houve um acidente tremendo, mas sem vítimas. O carro ficou de rodas para o alto. Saímos, puxamos um, puxamos outro. Descemos o Dr. Ulysses, que parou assim, limpou-se e perguntou: qual é o outro carro em que nós vamos? Até o falecido Deputado, o espetacular Otávio Brochado da Rocha, filho do Primeiro-Ministro Brochado da Rocha, disse: não, vamos voltar para Porto Alegre. E ele disse: de jeito nenhum! Vamos continuar a caminhada.

            Numa tempestade enorme, chegamos em Bento Gonçalves já de noite. O aeroporto era em cima de uma montanha; tinha morros por todos os lados, sem luz, sem coisa alguma. “O que nós vamos fazer?” O piloto disse que não havia gasolina para ir até Caxias. E não entendemos. Ele deu umas voltas pelo centro de Bento Gonçalves, fazendo alguns vôos rasantes. Não estávamos entendendo o que ele estava fazendo.

            Daqui a pouco, tudo o que é carro de Bento Gonçalves, já entendendo aquilo, subiu para o aeroporto, ficou com as luzes assim e nós descemos. O Dr. Ulysses fez um dos discursos mais espetaculares que eu vi na cidade de Bento Gonçalves.

            O Heráclito falou em D. Mora. Que mulher fantástica!

            Em primeiro lugar, fantástico era o amor dos dois. Fantástico era o carinho, o afeto que eles tinham. Nas horas mais difíceis, nas horas mais complicadas, lá estava D. Mora. E Ulysses ouvia e respeitava D. Mora.

            A amizade do Dr. Ulysses com o seu Partido.

            Ele tinha uma qualidade fantástica que o Lula deveria copiar: Dr. Ulysses tinha mais amigos que o Lula.

            Sempre digo que fui um apaixonado pelo Lula. Quando ele se elegeu Presidente da República, agora... Na primeira vez, perdão. Agora, pelo amor de Deus! Na primeira vez, pensei que havia chegado a nossa vez. A nossa vez chegou agora!

            Eu nunca tinha visto tanto amigo como o Lula tem agora. Duvido que sejam amigos de quando ele era operário, trabalhador, Presidente do PT, na Oposição.

            Dr. Ulysses tinha grandes amigos. Não me lembro de episódio algum que envolvesse dignidade, seriedade, caráter sem que se tenha ouvido uma palavra do Dr. Ulysses defendendo isso. Duvido que isso tenha acontecido. E isso é importante. Ele tinha as suas idéias, as suas convicções, dignidade, seriedade, honradez, decência quando estava na Oposição. Mas essas idéias se foram quando ele chegou ao Governo.

            Posso dizer mil coisas. Para mim, não teve culpa nem o Sarney nem o Dr. Ulysses, mas as intrigas da Corte levaram ao que nenhum dos dois queria: a desavença. Pode ter havido mil motivos, mas duvido que V. Exªs me apontem como motivo algum nome que Dr. Ulysses tenha indicado que não fosse digno, sério, correto e decente. Duvido que alguém me diga isso!

            Estamos hoje aqui festejando um homem que nunca teve o poder na sua mão, mas que deixou uma história, a mais linda deste País. E estamos aqui, meu bravo companheiro Paes de Andrade, um grande nome do nosso partido. Conheço a sua luta, a sua resistência, a sua capacidade. Estamos aqui, meu amigo Osvaldo, o senhor é um nome, é uma bandeira no nosso partido, a sombra, o anjo da guarda do Dr. Ulysses. Em qualquer momento, em qualquer hora, em qualquer circunstância, estava o Osvaldo. Estamos aqui, meu amigo Heráclito, e por essas circunstâncias anárquicas da realidade político-partidária de hoje nós estamos em partidos diferentes, mas estamos aqui para firmar o nosso compromisso com relação ao nosso futuro.

            O que somos nós, meu querido amigo Presidente Michel Temer, hoje? O maior partido? É. O maior número de filiados? É. O maior número de Prefeituras? É. O maior número de Deputados Estaduais? Sim. De Deputados Federais? Sim. De Senadores? Sim. De Governadores? Sim. Mas o que somos e o que queremos? Se a vida tem sido ingrata com o MDB, que já devia estar no Governo há muito tempo, se cometemos equívocos enormes nós todos, como dizia o Mário Covas quando me convidava, como Governador do Rio Grande, para ir para o PSDB. Eu dizia: Sei que vocês estão em rixa com o Quércia. Eu sei que vocês têm razão. Mas, Covas, o próximo Governador de São Paulo vai ser você. E o Quércia está se dobrando a isso. Se não se dobrar, vai ser. Fica no MDB, que nós somos um grande Partido e não saia em uma aventura - que até deu certo. Não adiantou, e o nosso velho MDB, hoje, o que é? Não sei.

            Olha, meu bravo Presidente, quando vejo o Lula organizar o seu Governo, há um lado positivo. Quando eu ainda falava com o Lula, eu disse a ele: Presidente, você não pode fazer um governo em cima do Dr. Sarney, do Dr. Renan e do Dr. Suassuna. Faça um governo de integração com o MDB no seu contexto geral, e não com três Senadores. Depois ele me chamava e dizia que, nesse segundo Governo, ele ia fazer isso; ele ia fazer isso. E fez. Ele se reuniu com V. Exª, com o Líder do MDB, com os Líderes na Câmara e no Senado, e fez um governo nesse sentido.

            O primeiro equívoco... Presidente Lula, é que eu não vejo até agora comprovação com relação a ele - o que não posso aceitar é que um homem que é reeleito Presidente da República e está às vésperas de entrar na história esteja preocupado em manter um Ministro aqui, um fulano lá... Há muitos maus conselheiros. Não é firme na hora de traçar as linhas de seu Governo, não é firme na hora de compor a estrutura do seu Governo.

            Eu fui Líder do Governo Itamar Franco. Acho que o projeto dos mais importantes, dos mais sérios e de maiores respostas no Brasil foi o Plano Real. Os Ministros vieram dez, quinze vezes a este plenário e ao da Câmara dos Deputados. Dezenas e dezenas de emendas foram apresentadas. Eu desafio que tragam aqui o nome de um Deputado, de um Senador, de um Governador que recebeu um copo d’água no sentido de votar para aprovar o projeto! Ele foi aprovado com imensa maioria - com o PT, mais uma vez, votando contra, se eu não me engano. É uma questão histórica do MDB. Não votou a Constituinte, não votou no Dr. Tancredo, não votou o Plano Real. O Plano Real foi votado aqui, em debates que iam madrugada afora, com emendas e reformas, mas ninguém ganhou um copo d’água.

            Agora, vem aí o imposto sobre cheque e ou tu votas, ou tu és ameaçado de sair do partido. Se tu não votas, és ameaçado de sair do partido. Para fora do partido não é verdade, mas para fora das comissões. Discutimos o que é fechar questão. Aliás, o grande crime de Lula foi num projeto sobre a Previdência, em relação aos inativos. Eles lutaram, fizeram uma guerra com o Governo do Fernando Henrique e Sarney, defendendo os inativos. Mudaram e não disseram por quê. Expulsaram os Senadores e Deputados que votaram com o programa contra o projeto. Agora estão querendo fazer isso no MDB. Não sei, mas seria muito engraçado se o Jarbas e eu fôssemos afastados pelo Dr. Renan, pelo Dr. Sarney, pelo Dr. Jader Barbalho. Não sei o motivo, mas seria muito interessante isso.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite, Senador Pedro Simon?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Claro.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Primeiramente, quero agradecer a aula que V. Exª está dando sobre a história recente do Brasil, e, sobretudo, a trajetória extraordinária desse Presidente, eterno Presidente do PMDB, da Constituinte cidadã, e V. Exª somou às palavras dos Senadores Jarbas Vasconcelos, Heráclito Fortes, do nosso Senador Marconi Perillo e aos que o apartearam. V. Exª traz um depoimento de quem foi um verdadeiro irmão e amigo de Ulysses Guimarães e da Srª Mora e traz recordações tão importantes, inclusive ensinamentos na direção do que Ulysses queria tanto para os brasileiros, que pudéssemos construir um País, conforme ressaltou, inclusive nos diálogos que V. Exª testemunhou, quando aqueles que avaliavam que não havia outro jeito senão usar armamentos para derrubar a ditadura, e Ulysses preferiu os caminhos de Mahatma Gandhi e dos apóstolos da não-violência, para conclamar o povo a ir às ruas pelas Diretas Já e, depois, também, por ética na política, ele que foi um condutor do povo brasileiro para alcançar esses objetivos. Mas V. Exª aqui fala dos problemas que estamos vivendo hoje, na relação do meu amigo, Presidente Lula, e seu amigo, Presidente Lula...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...com os Senadores, com os Deputados. Diante do Presidente do PMDB, Michel Temer, V. Exª fala da notícia que está na imprensa, que até a mim preocupa, como seu amigo e do Senador Jarbas Vasconcelos. Será possível? Será uma coisa séria? Estaria o PMDB cogitando tirá-los, ambos, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

            Estaria o PMDB cogitando tirá-los, ambos, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, porque ali expressam o seu sentimento, porque ali expressam as suas convicções, que são as mesmas do Presidente Ulysses Guimarães, do PMDB? Então aos amigos Deputado Paes de Andrade e Deputado Michel Temer dou apenas o meu testemunho sobre os dois companheiros no Senado. Deles aqui tenho tido as melhores lições. Mantenham-nos, digam ao Líder Valdir Raupp. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania vai perder extraordinariamente se não os tiver lá. Já eles comparecem ao Conselho de Ética mesmo não sendo membros, com palavras de reflexão, de história, de preocupação muito importantes. De grande peso, sempre. Porque como Senadores eles sentem a responsabilidade de estar lá e nos dizer as coisas. Imagino que se porventura forem retirados da Comissão de Constituição e Justiça vão fazer o mesmo. Mas a outra coisa é serem titulares, como têm sido, e darem contribuições extraordinárias, inclusive nas últimas semanas e meses. O Senador Jarbas Vasconcelos ainda nesta semana proferiu um parecer e conseguiu, inclusive,...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A unanimidade.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...o consenso no diálogo com os Senadores, levando em conta a sua experiência. E o Senador Pedro Simon diz essas coisas que são importantes para todos nós brasileiros. A melhor homenagem que possamos prestar ao Senador Ulysses Guimarães é dizer: confirme-os na CCJ. Meus cumprimentos.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

            V. Exª se referiu ao Senador Jarbas. É com muita alegria que a gente o vê aqui no Senado. Concorda, Presidente? O Presidente Jarbas foi por oito anos Prefeito de Recife e é considerado pela Imprensa o melhor Prefeito do Brasil. Foi por oito anos Governador de Pernambuco e é considerado o melhor Governador do Brasil. Ele é uma história no MDB. Quem não o conhece? Eu disse-lhe ainda hoje, casualmente, que ele está com a figura melhor: alto, magro, com aquela cabeleira. Ele tem uma figura meio messiânica, mas é muito sério, é muito firme. Para quem não o conhece parece até que ele é um pouco arrogante, mas não é não. Ele é de muita simplicidade e grandeza. Entretanto, ele é muito fiel a suas idéias e já teve divergências tremendas no Partido. Mas nem Tancredo nem ninguém o quebrou. É um orgulho tê-lo aqui. Eu agradeço as palavras de V. Exª.

            Mas digo ao meu Presidente Michel, digo ao querido amigo Paes, com a experiência de quem já foi Presidente, que levem adiante o nosso Partido.

            A imprensa aponta, e eu também concordo, que o grande problema e o grande drama do Lula é não ter maioria parlamentar. Essa é uma das 500 razões pelas quais defendo o Parlamentarismo. O poder de decisão está na mão do Executivo, quando este tem maioria. Se não tem maioria, muda-se de Governo. Lamentavelmente, aqui não. Ele é Presidente, e acontece isso. A cada eleição difícil - não vou usar o termo -, se fosse barganhar, seria correto; mas barganhar com troca e oferta não é correto.

            Então, o Lula fica numa posição em que as pessoas ficam com pena - coitado do Lula! -, mas se ele não oferece cargo, não dá vantagem, não aprova as emendas, não passa. Aí não se sabe de quem é a culpa: do Congresso, que exige as emendas para votar, ou do Presidente, que só dá emenda para quem vota. Na verdade, os dois estão errados.

            Olha, se fosse possível vencer esse movimento e fazer um diálogo respeitável, isso seria muito importante. O Lula está com 37 Ministérios! Isso porque ele tirou quatro - não tem o da Marinha, da Aeronáutica, do Exército e a Casa Militar. Eram quatro Ministérios, que hoje não são mais. Dentro desse contexto, é a troca de ministério para pegar apoio de partido.

            Meu Presidente Michel, diz que tem um grupo no MDB que é o grupo dos franciscanos. Hoje é Dia de São Francisco de Assis. Hoje é o nosso dia de São Francisco de Assis. Saio daqui e vou à Igreja de São Francisco, onde fui convidado para fazer exposição sobre São Francisco. Mas dizer que é um grupo franciscano, que anda de sandálias rotas e que não quer sandália nova, como está na imprensa, mas uma sandália melhor e mais alguns ministérios. Não faça isso. Não faça isso, por amor de Deus! Não fica bem para o MDB. Não fica bem para nós esse tipo. O MDB tem todas as condições de apresentar, de debater, de lutar, de votar e de ter cargos. Sou favorável a ter cargos, mas não dessa maneira, mas não dessa maneira.

            É este o momento que estamos vivendo. E é neste momento que temos que tomar uma posição.

            O senhor concorda, meu ilustre querido Presidente, Michel, que o Presidente da Republica crie uma TV Pública por medida provisória? Quando saiu a notícia da televisão, fui favorável. Tenho dito que o Brasil vive todo esse drama de identidade, o problema da família, o problema do jovem, o problema do estudante, o problema da droga, o problema da violência, por mil razões, entre as quais o fato de que não é o professor que chega à família, à criança, nem é a Igreja nem ninguém; hoje, é a televisão. Então, montar uma televisão com credibilidade, com respeito, traçar um rumo nesse sentido - porque não é a novela das oito que vai dizer o que está certo e o que está errado - é correto. De repente, vem o Presidente criar uma televisão por decreto! Por decreto!

            Veja, nobre Presidente, o Senado, surpreendentemente, rejeitou uma medida provisória, e o nosso Líder dá a entender que a gente rejeitou porque não está muito satisfeito com o Governo, que não está atendendo direito. Quero deixar claro que eu não. Eu a rejeitei porque rejeitei, e não por causa disso. Mas, rejeita a criação de um ministério do futuro, e o Governo faz um decreto e mantém o ministério. É uma bofetada no Congresso Nacional. Se ele podia criar por decreto, que criasse por decreto. Mas, se mandou para o Congresso e o Congresso disse não, respeite a vontade do Congresso. Essas coisas estão acontecendo. Essas coisas estão acontecendo.

            A economia vai bem? Vai bem. Por causa do Lula e apesar do Lula, porque a circunstância internacional do mundo é outra.

            Mas acho que, neste dia de homenagem ao Dr. Ulysses - quinze anos de sua morte no próximo dia 12 -, num país que se diz que não cultua suas tradições, que não cultua seus heróis... Não tenho nenhuma dúvida, este é o século do Brasil. O Brasil, a Índia e a China serão as grandes nações deste século. O Brasil, país que tem a maior quantidade de água doce do mundo - e este século é da água -, que tem a maior extensão de terras agricultáveis do mundo, será uma grande nação, conosco ou apesar de nós.

Dr. Ulysses, o senhor escreveu o seu nome, o senhor dedicou a sua vida, o senhor tem uma biografia intocável, um carinho ao seu cidadão. Lembro-me, Oswaldo, da Mora pedindo para nós, os amigos mais íntimos do Dr. Ulysses: “Falem com o Ulysses!” A Dona Mora, que era rica, do que ela ganhou quando chegou no casamento, uns imóveis, imóveis alugados, não recebia nem aluguel nem coisa nenhuma porque o Dr. Ulysses não dava nenhuma bola, não tomava conhecimento, não tinha relação com o dinheiro. O Oswaldo é que tinha que comprar passagem, mexer com os cheques etc. Eu nunca vi o Dr. Ulysses olhar um cheque que o Oswaldo emitisse, nem perguntar para quê. Uma vez eu falei com ele e ele chamou o Oswaldo. Perguntei: Dr. Ulysses, pergunta pelo menos se tem fundos. Ele disse: “Ô Oswaldo, você não está fazendo bobagem, tem fundo não é?” “Tem fundo. Pode deixar que, quando não tiver, eu lhe aviso.”

Esta é uma hora em que a gente fala qual é a missão do político, o que o político deve fazer, onde é que termina o público e começa o particular... Eu não me lembro.

            Dona Mora dizia que Dr. Ulysses nunca comprou um sapato, nunca comprou uma roupa, nunca comprou uma camisa, nunca olhou o que ia vestir; vestia o que Dona Mora deixava... Nas viagens ao exterior, quando ele ia, trazia um perfume, uma gentileza para Dona Mora, mais para a filha que para o filho. O pessoal que já viajou com ele - e eu viajei - ficava impressionado. Ele nunca olhou um anel, uns óculos, um nada que tivesse comprado para ele próprio. Cá ente nós: vestia-se mal o Dr. Ulysses. A não ser quando era uma solenidade especial e quando a Dona Mora estava. Mas ele, quando vinha para cá, principalmente antes de ser Presidente da Câmara, quando Dona Mora não estava aqui, mas em São Paulo, ele vinha com as roupas mais assim... Ele não se dava conta! Esse era o Dr. Ulysses.

            Uma vida com doze mandatos de Deputados, desde que reabriu a democracia: em 1946, Deputado Estadual, em São Paulo; de 1950 até à morte, Deputado Federal. Lecionou, sem receber nada, na Universidade Mackenzie. Nunca teve nada! Nunca teve nada! Nunca me esqueço de que ele só tinha carro aqui... Naquela época, era Arena e MDB. Então, a Presidência da Câmara dava ao Presidente do MDB um carro. Velhinho que Deus nos ajude (o carro)! Um carrinho meio assim caindo, aquela coisa toda. Aí, ele foi eleito Presidente da Câmara.

            O Oswaldo estava lá. Ele fez um jantar fechado para a família e eu fui convidado. Na saída ele disse: "O Pedro vai comigo. Vou deixá-lo em casa." Ele chegou, nós sentamos no carro e, dali a pouco, toca o telefone. Ele diz: "Mas o que é isso aqui?" “É o telefone." “E desde quando tenho telefone?" Ele estava no carro do Presidente da Câmara, que era um carro moderno, bacana, mas não tinha se dado conta. Não tinha se dado conta de que estava em um carro luxuoso, de primeira grandeza. Não tinha se dado conta. Esse era o Dr. Ulysses.

            Não sei, acho que ele não teve nem inventário. Porque era apenas aquela casa que ele tinha. Quem teve um inventário foi Dona Mora. A Dona Mora tinha muita coisa, que herdou do primeiro casamento. O marido era muito rico, faleceu, e ela casou com o Dr. Ulysses. Perguntei certa vez sobre isso à Dona Mora, e ela me disse: "Uma coisa eu sei: o Dr. Ulysses e eu, desde que casamos, não compramos nada. Não sei se ele vendeu. Quando me pede para assinar eu assino. Nem sei como está, mas comprar? Não compramos nada”.

            Reparem vocês que o Dr. Ulysses foi Ministro na época do parlamentarismo, foi Presidente da Câmara, foi mil coisas. Era o homem que decidia o “sim” e o “não” em muitas e muitas circunstâncias. Alguém ouviu falar de que alguém, com o Dr. Ulysses, ganhou uma concorrência na Petrobras? Que alguém deu para o filho do Dr. Ulysses abrir uma empresa com não sei quem? Alguém ouviu falar nisso? Isso é importante. Isso é importante, porque compõe, completa a vida do Dr. Ulysses. Completa a vida dele. Por isso que ele batia, dizia horrores dos homens, dos generais, dos militares. Tinham um pavor dele! Mas nunca ninguém pensou em botar um dedo nele. Nunca houve uma resposta com relação à biografia dele, à vida dele, à histórica dele, em nenhum momento.

            Crueldade fizeram foi quando o Dr. Ulysses ficou doente. Eu me lembro. Eu, primeiro vice-presidente, o Teotônio e ele. A depressão, às vezes, meu querido Perondi, grande médico, é uma doença terrível. Nós achávamos que o Dr. Ulysses estava no fim, ele se arrastava quando se licenciou. Aí também eu não estava aqui, ia assumir o Teotônio. Aquela cena de ver o Dr. Ulysses, se arrastando, passar a presidência do MDB para o Dr. Teotônio, com quatro cânceres e duas bengalas, era uma cena tétrica. E nós achávamos que o Dr. Ulysses não voltava mais.

            Foi depressão, remédio, desliga Brasília. O Dr. Ulysses adorava o mar e o sol. Então, vai para uma casa e só leva os amigos que são amigos para falar de outras coisas que não seja política. Ele foi para o Rio de Janeiro. Lembro-me de que eu e minha mulher fomos junto com o Renato e a esposa dele; dez dias, ficou por nossa conta passar com ele para não deixá-lo falar nada que se relacionasse à política. Antes do tempo, ele estava em Brasília, e parecia um guri. Espetacular! Meses e meses depois, ele teve outra depressão. Ninguém deu bola. Foi ao mesmo médico, deu o mesmo remédio, e ele foi.

            Só que, em vez de ir para o mar, que ele adorava, o levaram, no mês de julho, em pleno inverno, para a fazenda do seu concunhado em São Paulo, concunhado que ele adorava e que tinha falecido há pouco tempo. Foram para a fazenda ele, a Dona Mora e a irmã, todo mundo chorando. O tempo foi passando, o tempo foi passando, e ele não melhorava. O médico... Até hoje eu não entendo. Ele deve estar me ouvindo. Doutor, eu não entendo como o senhor, pelo telefone, em vez de ir lá ver o Dr. Ulysses, mandou aumentar a dose. E, aumentando a dose, passou do ponto, e da depressão passou para a euforia.

            O Dr. Sarney ia viajar para o exterior, e o Dr. Ulysses... Eu achei que não precisava ir. Mas, não; tem que ir, tem que ir e tem que ver. E aí ele teve aqueles momentos tristes, quando esteve fora da realidade. Realmente até foram momentos com algo de interessante, porque o Dr. Ulysses - vejam o que é o político -, com o remédio que tomava, não tinha aquilo que todos nós temos, que é segurar aquilo que se vai ou não dizer. Ele não segurava! Dizia. Ele estava na Presidência da Câmara, veio o Freitas Nobre, Presidente do MDB, e falou não-sei-quê. E ele disse: “Ô, baixinho. Só porque tu fala francês, tu pensa que é o quê? Não é nada!” Ele dizia o que queria dizer!

            Quando fomos embarcá-lo para os Estados Unidos - porque se achou que o assunto dele era gravíssimo - nós achávamos que ele voltaria. Em dez dias, o médico deu a dosagem certa, ele voltou e nunca mais teve nada.

            A imprensa, com todo respeito, cruel, disse, quando ele foi candidato a Presidente da República, que ele não poderia ser Presidente porque era um dependente de medicamentos. Foi isso que falaram do Dr. Ulysses. Foi a única coisa que houve contra o Dr. Ulysses na vida. É coisa de Deus, porque o Dr. Ulysses sempre foi uma pessoa que teve o seu prestígio lá na lua. A única vez que não teve foi na hora de ser escolhido Presidente da República. E o que havia contra ele era isso: está muito velho e é um dependente químico.

            Que bom amigo o Dr. Ulysses! Não estivemos no seu enterro, atendemos a sua vontade. Não por que queríamos, mas porque você desapareceu. Esteja onde estiver, tenho certeza que, na verdade ou na fantasia, o Dr. Ulysses, seu vulto, seu pensamento, sua história, está percorrendo o Brasil, andando por este Brasil, torcendo e rezando para que a gente atenda ao seu apelo e para que este Brasil seja o nosso Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2007 - Página 34173