Discurso durante a 214ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a perspectiva de fechamento do Centro de Estudos Brasileiros, na Universidade de Oxford, o mais conhecido e produtivo centro fora do País.

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. SAUDE. POLITICA EXTERNA. EDUCAÇÃO.:
  • Preocupação com a perspectiva de fechamento do Centro de Estudos Brasileiros, na Universidade de Oxford, o mais conhecido e produtivo centro fora do País.
Publicação
Republicação no DSF de 13/12/2007 - Página 45191
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. SAUDE. POLITICA EXTERNA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, INICIATIVA, CONSELHO FEDERAL, MEDICINA, ASSOCIAÇÃO MEDICA, BRASIL, FEDERAÇÃO NACIONAL, MEDICO, CONVOCAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL, REALIZAÇÃO, PROTESTO, DEFESA, MELHORIA, INFRAESTRUTURA, SALARIO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), AUSENCIA, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ADVERTENCIA, CRISE, CENTRO DE ESTUDO, BRASIL, UNIVERSIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, ALEGAÇÕES, INSUFICIENCIA, PATROCINIO, GOVERNO BRASILEIRO, INICIATIVA PRIVADA, SUGESTÃO, ORADOR, RETORNO, ANTERIORIDADE, PARCERIA, PATROCINADOR, MANUTENÇÃO, PESQUISA.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, CENTRO DE ESTUDO, SUPERIORIDADE, REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL, BRASIL, AMBITO INTERNACIONAL, PRODUÇÃO INTELECTUAL, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, RELATORIO, FUNCIONAMENTO, INSTITUIÇÃO CULTURAL.

            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

            Por falar em classe médica, gostaria de registrar que, ontem, o Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos convocaram todos os médicos do Brasil, inclusive os de Roraima, para fazer um dia de protesto em defesa do Sistema Único de Saúde. Como médico, sei das deficiências e dos problemas do nosso sistema. O movimento de ontem era para reclamar da infra-estrutura, segundo captei com os nossos médicos de Roraima, e dos baixos salários dos médicos. Os médicos têm de ter dois ou três empregos, em vários lugares, para poderem ter uma remuneração digna. Isso às vezes os deixa cansados, e cai a qualidade do atendimento. Lá, em Roraima, há três hospitais: o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré, que é a maternidade, para crianças até 30 dias; o Hospital da Criança Santo Antônio, que é o hospital infantil; e o Hospital Geral de Boa Vista Rubens de Souza Bento, que é o hospital geral de todos. Então, os médicos fizeram equipes, ficaram na frente do hospital durante a manhã, suspenderam os atendimentos de casos eletivos, mas não pararam nenhuma urgência, nem a emergência, e explicavam às pessoas o motivo do movimento, que foi pacífico. Não houve nenhum problema, graças a Deus.

            Mas estou vindo aqui, hoje, para falar de um problema que está acontecendo com o Centro de Estudos Brasileiros em Oxford, Srªs e Srs. Senadores.

            Chegou-me, há alguns dias, a triste notícia para o Brasil de que o Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, conhecido por sua excelência acadêmica e pelos serviços prestados para a imagem positiva do Brasil no exterior nos últimos 10 anos, está para fechar.

            No último dia 9 de setembro, no jornal O Globo, o historiador José Murilo de Carvalho alertou para a crise que ora vive o Centro, ameaçado pela falta de apoio do Governo brasileiro e da iniciativa privada, que, de 1997 a 2007, aportaram recursos e viabilizaram, em dez anos, a realização de mais de 200 conferências e de dezenas e dezenas de seminários internacionais; que permitiram o trabalho de mais de 100 pesquisadores, intelectuais e estudantes, inclusive, cerca de 40 estudantes de doutorado com bolsas, bem como a publicação de mais de 80 artigos e de diversos livros e a realização de exposições e exibições de filmes brasileiros.

             Não podemos, Srªs e Srs. Senadores, deixar que esse espaço de produção acadêmica e artística brasileira morra. O Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford é o mais conhecido e produtivo centro de estudos brasileiros fora de nosso País. Por causa do Centro, nenhuma universidade, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos ou na Europa continental, pôde competir com a Universidade de Oxford em estudos brasileiros. E ele agoniza, neste momento, sem os recursos necessários para os próximos cinco anos, Sr. Presidente.

            A história é longa, mas serei breve. Nos dois últimos qüinqüênios, por meio de parceria entre o Governo brasileiro e o governo britânico, empresas públicas e privadas dos dois países, o terceiro setor, doadores individuais e a Universidade de Oxford, o Centro manteve-se na ponta, exercendo um papel de “embaixador da cultura brasileira”, nos dizeres de Murilo de Carvalho. Para o próximo qüinqüênio, 2007/2012, não tem conseguido os recursos necessários.

            A casa em que funcionava o Centro, Srªs e Srs. Senadores, foi, há algumas semanas, ocupada pelo Centro de Estudos Africanos, com mais apoio do que o nosso. O Centro brasileiro mudou-se fisicamente para algumas salas do Centro de Estudos Latino-americano, e em 2008 deixará de existir se não houver o devido aporte de recursos.

            O orçamento anual do Centro é de cerca de US$600 mil, o que significa que US$3 milhões garantiriam o funcionamento do Centro por cinco anos, segundo o compromisso da Universidade de Oxford, que aguarda, até o fim do ano, o aporte do recurso, para que o Centro continue funcionando.

            Seis milhões de reais, Srªs e Srs. Senadores, para garantir que tenhamos, por mais cinco anos, um centro de excelência, a receber os nossos pesquisadores e os especialistas estrangeiros sobre o Brasil, que possam ali contribuir para uma melhor compreensão do País e de seus desafios; um lugar, também, que possa despertar em jovens estudantes de Oxford o interesse pelo Brasil e que lhes possa oferecer a oportunidade de aprender sobre nossas riquezas, especialmente as culturais.

            Não duvido que alguns se voltem contra a participação do Governo brasileiro em tal empreitada. Com a escassez de recursos, não faria mais sentido aplicá-los aqui, em alguma universidade brasileira ou em outras prioridades? Srªs e Srs. Senadores, não representa avanço nenhum o encerramento de uma iniciativa tão bem-sucedida. Avanço nenhum.

            Há um ditado que diz: educação é caro? Experimente o preço da ignorância. Ninguém quer a ignorância, nenhum de nós pode ou quer defendê-la. O relatório de funcionamento do Centro entre 1997 e 2007 - peço, Sr. Presidente, que conste nos Anais da Casa - demonstra o trabalho amplo, contínuo e profícuo do Centro e justifica mais do que plenamente seus custos. Nos dez anos de sua existência, sob o comando do respeitado historiador Leslie Bethell, membro estrangeiro da Academia Brasileira de Ciências e organizador de diversos volumes sobre a história da América Latina, o Centro funcionou de maneira irrepreensível.

            Não proponho aqui a participação exclusiva do Estado via CNPq, Itamaraty e Ministério da Cultura, parceiros anteriores do Centro. Proponho que o Governo se entusiasme, que defenda o Centro; e, ao entusiasmar-se, faça com que outros antigos parceiros públicos, como a Petrobras, voltem a apoiar a instituição. E, com o apoio do Governo, que os parceiros da iniciativa privada da década, como Organizações Globo, Grupo Votorantim, Banco Safra, Academia Brasileira de Letras, voltem a olhar para o Centro como uma instituição que merece ser apoiada.

            É comum, no exterior, que os estudos brasileiros sejam abrigados no guarda-chuva de estudos latino-americanos e que ali a complexidade e a diversidade que nos caracterizam se percam. É comum que a compreensão do Brasil se reduza dentro desses centros, por melhor que sejam. A Universidade de Oxford emprestou seu prestígio para o Brasil. E o Brasil pôde estabelecer-se, com prestígio, no coração da Europa, ao criar um espaço em que economistas, cientistas sociais, historiadores, escritores, ambientalistas dos mais distintos matizes pudessem interagir e produzir, independentemente de suas linhas de pesquisa, preferências teóricas ou epistemológicas.

            Num ambiente interdisciplinar e de liberdade criadora, o Centro chama atenção para o Brasil. Volto a citar Murilo de Carvalho: queremos admissão no Conselho de Segurança da ONU; queremos uma voz no cenário internacional. Por que, então, fecharmos um centro de estudos em pleno coração da União Européia?

            Precisamos, Srªs e Srs. Senadores, apoiar o Centro e não deixá-lo esvair-se.

            Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR AUGUSTO BOTELHO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Relatório de funcionamento do Centro entre 1997 e 2007.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2007 - Página 45191