Discurso durante a 242ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para o Poder Legislativo como instrumento da democracia.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRIBUTOS. LEGISLATIVO.:
  • Destaque para o Poder Legislativo como instrumento da democracia.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior.
Publicação
Publicação no DSF de 22/12/2007 - Página 46715
Assunto
Outros > TRIBUTOS. LEGISLATIVO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, PODERES CONSTITUCIONAIS, ESPECIFICAÇÃO, LEGISLATIVO, INSTRUMENTO, GARANTIA, DEMOCRACIA, PAIS.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, PROPOSIÇÃO, VEREADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), DEMONSTRAÇÃO, APOIO, POSIÇÃO, ORADOR, VOTO CONTRARIO, CONTINUAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF).
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, VITORIA, OPOSIÇÃO, DEMONSTRAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, SOBERANIA, LEGISLATIVO, SUPERIORIDADE, CARGA, TRIBUTOS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Augusto Botelho, Parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado - TV Senado, Rádio Senado AM e FM, Jornal do Senado, o Semanário do Senado e a Agência Nacional.

Senador Geraldo Mesquita, V. Exª é o que mais se aproxima de Montesquieu nesta Casa, ele que dividiu o poder, acabando com o absolutismo. E nós somos um deles: o Poder Legislativo. Portanto, devemos fazer leis boas e justas. Mas isso foi se aperfeiçoando, e, hoje, também devemos fiscalizar os contrapoderes. Somos um tambor de ressonância do povo.

Augusto Botelho, no meu entendimento, tem muito de vaidade, abençoada por Montesquieu. Nós não somos poder coisa nenhuma; poder mesmo é Deus e o povo de Deus. Nós entendemos ser instrumentos da democracia - instrumentos - o Executivo, o Judiciário e nós, Legislativo. O poder é o povo que trabalha e paga a conta. Eles é que são os patrões. Mas nós estamos nesse tripé para fazer leis boas e justas e fiscalizar o contrapoder.

Norberto Bobbio diz que a valia maior do Parlamento é a denúncia. Este Parlamento é tão grande que eu buscaria um parlamentar do nosso Partido, Senador Geraldo Mesquita, Teotônio Vilela, que, moribundo, com câncer, dizia: “Resistir falando e falando resistir”. Nós não vimos o Teotônio, mas nós vimos o Ramez Tebet, também moribundo aqui, pregando o que é uma verdade, e virtudes, e exemplo. Mas, entendendo que tinha que ser lá na França, onde nasceu isso tudo - liberdade, igualdade, fraternidade -, Senador Geraldo Mesquita, essa França que nos encanta, Augusto Botelho, numas eleições dessas, é bom que aprenda Luiz Inácio, no primeiro turno o estadista Charles de Gaulle, da sua linha política, aquele que andou aqui no Brasil, no Itamaraty -- esse é um fato histórico -, foi apresentado a várias pessoas e sempre lhe diziam: “General, general, general”. Durante uma hora em que ele passou ali, foi apresentado a uma dúzia de generais; só faltou o general da banda. Aí ele olhou para o assessor e disse: “Este parece-me que não é um país sério”. Na França só tem quatro generais, quatro, e aqui em uma hora ele foi apresentado a uma dezena. Em guerra, pode ter cinco generais.

Giscard d’Estaing, discípulo dele, foi eleito Presidente da França, extraordinário Presidente, e governou durante sete anos, reeleito. Reeleição lá é como no Brasil, muito partidos. Ganha no primeiro turno e vai para o segundo turno com François Mitterrand, que, como Luiz Inácio, disputou várias vezes. Então tinha aquele jeito, sabia jogar, tinha treinado muito, pois tinha perdido muitas vezes, como Luiz Inácio. Então, ninguém vai negar que Luiz Inácio não saiba jogar no jogo das eleições. Ele foi para o debate.

O problema da França era o desemprego.

Então, ele disse que o funcionário público, que trabalhava oito horas, ia trabalhar cinco, e para cobrir as três horas ele ia empregar gente. E ali, no debate, ele atenuou muito, Augusto Botelho, é o desemprego. Juntaram-se os perdedores e votaram em Mitterand. Giscard d’Estaing perdeu as eleições no segundo turno. Mas há o belo que ele deu à História, e eu trago aqui. Então, ao passar a faixa para Mitterand, foram perguntar-lhe os jornalistas, a imprensa, como acontece quando saímos aqui e nos fazem as indagações, o que ele ia fazer. E respondeu o estadista Giscard d’Estaing, Presidente da França por sete anos - atentai bem, Augusto Botelho: “Eu vou ser vereador na minha cidade natal”. Ouviu, Senador Geraldo Mesquita? “Eu vou ser vereador na minha cidade natal”. Com isso, ele dá a grandeza do nosso mundo, o instrumento legislativo, o Poder Legislativo. Nós somos vereadores aqui, em Brasília; eles são Senadores de Parnaíba, do seu Rio Branco, da sua Boa Vista. É a mesma coisa. Existem vereadores extraordinários, estão próximos ao povo. E tanto é válido que eu quero dizer que, como hoje, este Senado da República, e eu - muitos eram como São Tomé - que este é o melhor Senado da história da República em 183 anos. Isso aqui nunca abriu sexta-feira, nem - olha, é quase Natal, e nós estamos aqui - segunda-feira; nunca abriu. Aqui há tem três ex-Presidentes da República. Erros tem. O senadinho de Cristo era bem pequenininho, eram só treze com ele - eram só treze - e rolou dinheiro, rolou traição, rolou forca. É complicado, errare humanum est, esta é uma Casa de humanos. Mas nós estamos aqui e podemos falar como falavam os romanos nas crises, na crise de Júlio César, que quis ser Deus, na crise do Incitatus, cavalo que Calígula colocou como Senador, na crise de Nero e eles resolviam e diziam: “O Senado e o povo de Roma”... Hoje, nós podemos dizer: o Senado e o povo do Brasil. Nós somos o povo, nós somos filhos do voto e da democracia como Luiz Inácio. No mais, é vaidade. Ele teve aqueles milhões de votos, mas somem aqui se não dão os milhões de votos do Brasil.

Com a palavra o Senador Geraldo Mesquita, do Acre, do PMDB.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. V. Exª trouxe à nossa lembrança, há pouco, a vida de Parlamentares que deixaram como testamento as suas próprias vidas. As pessoas que exercem funções públicas, como Teotônio Vilela, como Ramez Tebet, como Ulysses Guimarães, como V. Exª, essas pessoas que estão de forma mais visível no exercício da vida pública deixam os seus testamentos, Senador Augusto Botelho, que são as suas próprias vidas. Não precisam escrever. Esses Parlamentares que o Senador Mão acaba de citar viveram e atuaram sob a égide da fé, da esperança, do amor, da solidariedade e do despojamento. É interessante V. Exª trazer a memória dessas pessoas. Ramez Tebet nos deixou há tão pouco tempo e muita falta nos faz como os demais, mas há pessoas também, Senador Mão Santa, que, na sua simplicidade de vida, sem essa visibilidade toda que parlamentares e governantes ostentam, também deixam os seus testamentos. Eu queria, neste momento, nesta sexta-feira, Senador Mão Santa, por seu intermédio, se V. Exª me permite, homenagear as pessoas simples do nosso País de extremado amor, pessoas de muita idade, inclusive, os nossos velhos, as nossas senhoras que dedicaram toda a vida a criação de suas famílias e deixam sempre um exemplo para que colhamos, para que aprendamos com exemplos deixados. Quero homenagear essas pessoas de muita idade no nosso País, os nossos velhinhos, como chamamos, alguns que já não estão mais conosco. Quantos não estão mais conosco! V. Exª ostenta essa alcunha de Mão Santa e sempre faz questão de dizer que não tem nada de santo, que santa era sua mãe. Eu queria trazer, ao lado do testamento, que V. Exª trouxe, de pessoas de grande visibilidade no nosso País que já nos deixaram, o testamento de uma pessoa do povo, simples, que também já nos deixou e que deixou o seu testamento aqui, que é fruto exatamente disto: desprendimento, fé, amor e esperança. Permita-me ler rapidamente, Senador Mão Santa, porque eu acho que é uma coisa tão bonita e deixou uma mensagem tão forte, tão impressionante, que eu queria, neste momento, compartilhar com quem está nos ouvindo. Eu acho que o Natal e Ano o Novo é um momento muito próprio, muito adequado. Vou ler rapidamente, depois eu vou revelar o nome da autora. O poema é Meu Testamento.

Quando percebi que tinha meus dias contados,

Que minha vida, rapidamente, chegaria ao fim,

Pensei fazer meu testamento.

Dei balanço em tudo que possuía.

Contei casas, contei dinheiro,

Meus livros - grande tesouro!

Meus ricos pertences

Minhas antiguidades...

Depois... Somei tudo.

E vi que tudo era nada!

Cacarecos sem valor,

Coisas inúteis e supérfluas,

Expostas às calamidades,

Ao risco dos incêndios

E dos ladrões.

Para que testamentar,

Esses bens que se podem acabar,

Que as traças podem roer,

Ou o fogo devorar,

Se outros bens imperceptíveis

Eu consegui amealhar?

Senhor, tu mesmo disseste

Que nenhum copo d’água

Dado ao menor irmão,

Ficaria sem recompensa

No Reino do teu Pai!

Nos celeiros eternos

Vou procurar guardar

Outras riquezas.

Não as da terra!

Meus filhos não herdarão de mim

Castelos, nem fazendas,

Nem ricas propriedades...

Não deixarei ouro e nem prata,

Nem dinheiro em caixas fortes...

Tudo é vaidade sobre a terra.

Nada há que sempre dure...

Tudo, sem valor que me seduza.

Meu testamento é a minha fé,

É a minha esperança.

É todo o meu amor!

Que meus filhos possam herdar de mim

Todo o bem dessa fé.

Que foi a minha luz,

Mais clara e mais querida,

Dessa esperança que foi a minha força

Dessa caridade,

Que me fez ver Deus

Em toda a natureza,

Em todas as pessoas,

Em tudo o que existe,

E Dele provém!

Caridade que é amor,

Amor que é vida!

Esse poema, como V. Exª intuiu, é de sua mãe, Jeanete Moraes Souza, falecida este ano, e que nos deixou essa mensagem belíssima. Eu queria homenagear os velhinhos do nosso País, através de V. Exª, trazendo aqui, à luz deste Plenário do Senado Federal, essa mensagem tão bonita, tão expressiva dessa pessoa que, tenho certeza absoluta, é tão cara na sua vida e tanto exemplo lhe deixou. Aliás, o testamento dela é para V. Exª um exemplo de vida, de dignidade, de bondade, de solidariedade, de fé, amor e esperança, como ela mesma fez questão de reproduzir em seu poema. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Olha, é com muita emoção que agradeço ao Senador Geraldo Mesquita, um homem de firmeza no Direito, um intelectual, por reviver o último escrito de minha mãe. Chegarei aí, na conclusão do meu pronunciamento

Por que é que o homem disse que queria ser Vereador, Geraldo Mesquita? Porque ele é que tinha de ser Presidente da República, valorizando o papel do legislador municipal, o Senador do Município.

Então, com essa mesma emoção durante essa luta - e eu sei que não foi por mim, foi por nós - recebi várias moções de louvor, de aplauso de câmaras municipais, reconhecendo a bravura e a grandeza, que hoje está no Jornal do Senado, que o Alvaro Dias traduziu e o Geraldo Mesquita repetiu. Nós, no debate democrático, mostramos ao Brasil que aquele imposto deveria ser enterrado.

Sua Excelência o Presidente da República tem essa intuição democrática da soberania do povo. Ele já se curvou, viu que era um erro, que nós acertamos. Os nossos aplausos.

Nós recebemos - nós, foi endereçada a mim - requerimentos aprovados na Câmara Municipal de Lins (de Durval Marçola) e nas Câmaras Municipais de Campinas, Guaíra, Jambeiro, São Luís do Paraitinga, todas de São Paulo. São mensagens aprovadas, mais ou menos idênticas.

Mas, eu diria, são eles que representam, que vivem a cidade, que vivem o povo, que estão lá, que são as bases da democracia.

Diz o Ofício 870/07-SG, encaminhado por Durval Marçola:

Temos a grata honra de nos dirigir a Vossa. Excelência para informar que esta Câmara Municipal, em Sessão Ordinária realizada em 15/10/07 [logo em seguida, foi no dia 13], aprovou o Requerimento nº 724/07, de autoria do Senhor vereador Marcelo Moreira da Silva, nos termos da cópia inclusa, de interior teor.

Sendo só o que nos cabe para o presente momento, subscrevemo-nos, apresentando a Vossa Excelência nossos protestos de elevada estima e consideração.

Todos são mais ou menos idênticos, porque o fato é o mesmo: reconhecimento das bases legislativas, das câmara municipais, aquilo que Giscard d’Estaing teve ao sair da presidência.

Então, aprovada na 329ª sessão de 29 de outubro de 1967, menos de 48 horas.

Sr. Presidente, só vou ler parte de algumas, porque as outras são mais ou menos semelhantes. Esse é o reconhecimento da Pátria. Nós podemos sair aí e dizer: o Senado e o povo do Brasil, como os grandes senados das repúblicas democráticas do mundo...

Considerando que o Governo Federal apresentou proposta pela prorrogação de mais quatro anos da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira -, CPMF a qual já foi aprovada, em primeiro turno, na Câmara dos Deputados;

Considerando que, em discurso, o Senador Mão Santa disse que os impostos têm que ser diretamente proporcionais, pois quem ganha mais deveria pagar mais e, dessa forma, a CPMF atinge o pobre que, quando compra um xampu, um sabonete, paga 52% de imposto ao Governo;

Considerando que o Senador já adjetivou o imposto de ‘imoral, injusto, uma indignidade, uma vergonha’ e destacou que se trata de uma contribuição que deveria ser provisória;

Considerando que nenhum governo pode enganar o povo brasileiro, pois, segundo Mão Santa, querem instalar em nosso País a ‘cleptocracia’, o ‘governo dos ladrões’, dos ‘aloprados’, e não é nada de cheque, é de pobre, alertou o supracitado Senador;

Considerando que o Senador disse ainda ser contrário a benefícios do Governo que não incentivem o cidadão a trabalhar, pois o trabalho dignifica o ser humano e ‘quem não trabalha não merece ganhar para comer’ [isso é do Apóstolo Paulo];

Considerando que o Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, visitou o Senador Mão Santa e agradeceu pelo brilhante discurso proferido na tribuna do Senado;

Requeremos, nos termos regimentais, constem da Ata de nossos trabalhos votos de congratulações e aplausos ao Senador Mão Santa pela manifestação contrária à prorrogação da CPMF.

Requeremos, finalmente, que cópias desta propositura sejam enviadas ao homenageado, bem como aos presidentes da Câmara e do Senado Federal.

Marcelo Moreira.

Vereador.

Então, a Câmara de Lins; a Câmara de Campinas, São Paulo; a Câmara Municipal de Guaíra; a Câmara de Jambeiro; e a Câmara da Estância Turística de São Luís do Paraitinga refletem isso.

Para terminar, agradeço esse presente. O Luiz Inácio disse que esse seria o melhor Natal, e, para mim foi. V. Exª reviveu a minha mãe, poetisa, que, antes de morrer, escreveu “Meu testamento”, que agora fica gravado nos Anais. Então, para mim, como Luiz Inácio disse, é o melhor dos Natais; isso daí é reviver minha mãe aqui.

Então, minha mãe dizia, Geraldo Mesquita, que a gratidão é a mãe de todas as virtudes. Este é o grandioso Senado, mas têm os heróis anônimos, aqueles a quem não se prestam homenagens, festas, galardões, aqueles que não recebem das câmaras municipais essas moções de louvores. São os que servem aqui. Este Senado tem muita história. Imagine os ruis barbosas, os afonsos arinos, os mários covas; todos ajudaram a moldar, a construir esta Casa que enriquece o Brasil. Esta Casa fez nascer oito Constituições, fazendo o povo respeitar as leis. Aquilo que Rui Barbosa dizia: “Só tem uma salvação: a lei e a justiça”. Cento e oitenta e três anos e este País sem guerra, nem na sua Independência. Logo depois foi feita uma Constituição. A paz, a ordem e progresso, tudo se deve ao Senado da República.

Esta Casa já foi fechada, e o Luiz Inácio é feliz, porque, se ele não leu, eu vou dizer agora... E ele tem paz na Pátria. Então ele é muito feliz porque aqui ele tem com quem aprender. Mitterrand, moribundo de câncer, também, como minha mãe, resolver escrever, e escreveu um livro. No final, já não podia escrever, pediu auxílio a um amigo seu Prêmio Nobel. Geraldo Mesquita, vamos dar esse presente. V. Exª me deu o maior presente: reviver a mensagem de minha mãe, o compromisso, o desejo dela. E nós vamos dar um presente ao Luiz Inácio.

O Mitterrand, ô Luiz Inácio, 14 anos Presidente da França, onde nasceu a Democracia, no seu último livro, deixou mensagem aos governantes: fortalecer os contrapoderes. Se ele pudesse voltar e governar, ele iria fortalecer os contrapoderes; iria fortalecer o Executivo, o Legislativo, o Judiciário.

É esse o presente, Luiz Inácio, que, de bandeja, o Senado da República lhe dá. Os “aloprados” não lhe ensinam isso, os “aloprados” o envergonham, querem transformar este País na “cleptocracia”, no governo do roubo.

Então, o que nós queremos é justamente isto. V. Exª deve fortalecer este Poder e o Judiciário, aí estará fortalecendo a democracia, o maior patrimônio do povo brasileiro. É isso, Luiz Inácio! No colo de minha mãe, Geraldo Mesquita, eu aprendi. Ela dizia: a gratidão é a mãe de todas as virtudes, Augusto Botelho. E dizia que Deus mora nos corações dos homens e mulheres agradecidos. Então, este Senado é isso e nunca faltou ao povo brasileiro. Não iríamos faltar. Mostramos que a carga tributária é excessiva. Nós ganhamos aqui, bonito, no debate qualificado em que estava o mais valoroso do PT, Mercadante. Aqui, ele teve a virtude de recuar, Luiz Inácio. Nós ganhamos aqui, quando provamos que a carga tributária é o dobro daquela cobrada quando foi sacrificado Tiradentes. Era de 20%; hoje é de 40%. Era um quinto; hoje é mais de dois quintos; quando nós provamos que Geraldo Mesquita, com sua experiência de procurador, homem da Justiça e da Fazenda - e que associação: justiça com dinheiro, com poder, com riqueza! - depois de muito trabalho, de muitas pesquisas, se debruçando, citando autores - e eu cito ele que foi quem citou - disse que era tão insignificante na riqueza geral da Pátria, era por volta de três ou quatro. Se os técnicos da Receita asseguram, basta combater a sonegação, a corrupção, a negligência, o desperdício, essa diferença seria corrigida.

Outro: Padre Antonio Vieira - que é citado pelo Sarney, que hoje fez um belo artigo de Natal e não esqueceu o Senado da República.

Aí está esse Presidente, o Garibaldi, sorridente, sereno, tranqüilo, satisfação no cumprimento da missão.

Senador Geraldo Mesquita, minha mãe cristã dizia: “Depois da tempestade, vem a bonança”. A bonança é Garibaldi na Presidência. Nós tivemos gratidão. Quis Deus que o Presidente - Deus escreve certo por linhas tortas - chegasse para ver por que este Senado é grandioso: porque tem aqueles anônimos, que dedicam sua firmeza, sua inteligência. Quem não tem saudades do Carreiro? Tantos e tantos anos que nós o promovemos para zelar pelo dinheiro da Nação no Tribunal de Contas da União. Com esse simbolismo, queremos prestar nossa amizade a essa equipe que faz o Senado. O Senado somos todos nós. Aliás, como disse o Senador Geraldo Mesquita, estamos de passagem. Vamos passar. Eles são permanentes. O Carreiro passou quase 40 anos aqui.

O Brasil tem que agradecer esses exemplos de funcionários públicos, esses exemplos de brasileiros. Primeiro, tinha que começar com uma mulher, Cláudia Lyra Nascimento, Secretária-Geral. A mulher sempre tem mais virtudes que os homens. E a Cláudia Lyra significa essa mulher, mulher brilhante, corajosa, firme, decente, culta, honesta e bonita, cá para nós. João Roberto Leite de Matos, João Pedro Caetano, Zilá Neves e Vera Lacerda, José Ednilson, Luiz Grangeiro, Oswaldino, David, Jataci, além do José Antônio (Zezinho) e do Johnson, que nos servem aqui. A eles a nossa gratidão.

V. Exª foi a inspiração de eu terminar.

Natal, nascimento de Cristo. Esse é o grande ensinamento. Deus, Deus, Deus! Ele não desgarrou seu filho, não. Ele colocou em uma família. Ele foi buscar uma mulher mãe, um homem pai, a Sagrada Família. Este é o exemplo. Já é a mensagem de Deus, antes de Cristo. O valor da família. O cimento dela. o Seu Filho disse: amor, amai-vos uns aos outros. Essa foi a pregação, o primeiro exemplo: o valor da família. Rui Barbosa, na sua inspiração... Ele está aí e é único, porque também disse que a Pátria é a família amplificada. É a família. Se quisermos construir um país da ordem no progresso, em que a paz ganha da violência, a base é a família, a sagrada.

Que cada família brasileira e do meu Piauí seja uma sagrada família!

Essa que é exemplo. É exemplo quando ele foi buscar um pai operário, trabalhador. Rui Barbosa, vendo isso, nos traduziu e disse: a primazia tem de ser dada ao trabalho e ao trabalhador. Ele vem antes, é ele que faz a riqueza. Não botou um banqueiro, não, um bilionário; botou um trabalhador, para que aceitássemos aquela pregação “comerás o pão com o suor do teu rosto”. Depois, veio Paulo, o Apóstolo, e disse, ô Luiz Inácio: quem não trabalha não merece ganhar para comer. É o Apóstolo Paulo. É hora de reflexão, Luiz: quem não trabalha não merece ganhar para comer. E esta Casa é grande. Os franceses, orgulhosos pelo seu parlamento, fizeram rolar cabeças com guilhotina. Nós, não. Nós fomos mais sábios, mais amorosos. Voltaire disse: o trabalho tira três vícios, o ócio, o tédio e a pobreza. E o Geraldo Mesquita, na sua simplicidade... Daí orgulhosos nós somos, Voltaire está nos livros, se repete, ele dizendo, encaminhando o francês a trabalhar, que, no mínimo, três vícios são afastados: o tédio, a preguiça e a pobreza. E Geraldo Mesquita aqui oferece ao Luiz Inácio um presente de Natal. Juntou, casou estudo com trabalho, dizendo que neste País todos os Estados têm que ter escolas técnicas profissionalizantes.

Então, são essas coisas... E Maria, a mãe, e Jesus, e de repente ele desaparece. Hoje os teólogos sabem, ô Augusto, ele desapareceu como? Só teve com as crianças, discutiu com os doutores da lei, cadê Jesus? Desapareceu, foi aparecer com trinta e tantos anos. Ele foi se recolher, ele foi meditar, ele foi estudar, ele foi pensar. Essa é a vida, o estudo que busca o saber. Chegou outro na humanidade e disse, esse que era o mais sábio: só tem um grande bem: é o saber; só tem um grande mal: é a ignorância. Então, sabe-se que Jesus não desapareceu. Ele foi meditar, pensar, estudar. E quando voltou, falou. E falou bonito! O mais bonito é aquele discurso dele, que repito. Um minuto. E como nós falamos, Ele, em um minuto, disse 56 palavras: o Pai Nosso. Quando o balbuciamos nos transportamos dessa esfera aos céus. Cada vez. Ele não tinha esse som, a televisão, a rádio AM/FM, o jornal. Ia para as montanhas e bradava: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Para Montaigne, a justiça é o pão de que mais a humanidade necessita. E ali o Rui. Só tem um caminho: a lei e a justiça. Isso tudo é continuação.

E esta Casa é de Deus; quando Deus entregou a Moisés as leis. Para administrar o mundo de Deus tinha que ter leis. Para administrar o nosso Brasil tem que ter o Senado. Aqui é para nascerem leis boas e justas.

Outro exemplo de Cristo. Falou. E falou bonito! Pedro Simon pode bradar, bradar, mas não vai se igualar às bem-aventuranças. Mas Ele deu outro exemplo. Não é só falar, não. Ô, Geraldo Mesquita, tem que ter obra! Tem que trabalhar! Nós, cirurgiões, somos de ação.

Se Cristo não tivesse feito obras, Ele não estaria ali. Nós não estaríamos sentados. Ele fez cego ver, aleijado andar, mudo falar, surdo ouvir; limpou os corpos dos leprosos, tirou o demônio dos endemoninhados, fez obras, os milagres. Então, nós temos que fazer essas obras. São essas as mensagens.

E deu aquele ensinamento da dificuldade: “Pai, afaste de mim este cálice”, mostrando que todos nós temos sofrimentos, temos amarguras e temos que enfrentá-los.

E, na sua vida, demonstrou num quadro a grandeza da mulher, que aqui V. Exª trouxe o nome da minha mãe, simbolizando Nossa Senhora, a mulher mãe, a mulher esposa, a mulher filha, no maior drama, o drama da crucifixão, que nós repetimos todo ano. Ô Zezinho, todos nós, homens vaidosos, nós homens, que chamamos isso aqui de poder, o Luiz Inácio, o poder, a Justiça, o poder, mas ela, a Justiça, é divina, mas ela é feita por homens. E como falham os homens da Justiça! Mas o ensinamento que Ele deu é que os homens todos falharam. Pilatos, líder político como nós, governador, dizem que até administrava bem, fraquejou! E a mulherzinha dele, a Adalgisinha dele: “Não faça isso. Seja homem! Esse homem eu vi pregar, só faz o bem. Curou leproso.” E ele: “É, mas eu tenho que servir lá ao Herodes”. Ó Luiz Inácio! E ele fraquejou. Que é de seus amigos? Os fortes, Pedro, forte, musculoso, dizem que ele negou três vezes, que nós sabemos. O Senado que Ele freqüentava dava pão, peixe, vinho, rolou dinheiro, traição, forca e os homens, apareceu uma mulher e enxugou o rosto, Verônica, um que foi, foi forçado, Cirineu carregar... E lá três mulheres. E lá no túmulo outras mulheres e disse: “O Homem foi para o Pai: Deus.” E se nós acreditamos é porque foi mulher. Mulher é verdadeira. Se fosse homem, se tivesse dito que Cristo ressuscitou, não tinham acreditado, não. Mas era mulher. Ele estava era bêbado, tomou umas, mas em mulher nós acreditamos. E esse é o nascer.

Vamos ouvir esta vida, vamos meditar. E este Senado é tão grandioso que tudo passou. Para fazer essa bandeira teve uma lei. E vocês sabem que essa “Ordem e Progresso” discutiu-se aqui. E do Senado saiu “amor, ordem e progresso”. Mas aí o Executivo achou que essa palavra amor era afeminada e tirou. Mas o Senado bem pensou de colocar na bandeira “amor”.

Vivamos aquela mensagem de Cristo: “Amai-vos uns aos outros.” E vamos entrar o ano novo não como quem dá um salto no escuro e no desconhecido; vamos entrar felizes, porque neste Brasil poderemos dizer que o Senado e o povo do Brasil vão manter a Pátria no sentido de amor, ordem e progresso.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/12/2007 - Página 46715