Discurso durante a 240ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.

Autor
Efraim Morais (DEM - Democratas/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2007 - Página 46299
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ELOGIO, MODERNIZAÇÃO, ARQUITETURA, LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, ENGENHEIRO, REGISTRO, APERFEIÇOAMENTO, PROJETO, CONSTRUÇÃO CIVIL, RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL, RECEBIMENTO, PREMIO.

O SR. EFRAIM MORAIS (DEM - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente do Congresso Nacional, Senador Garibaldi Alves Filho; meu caro Senador Inácio Arruda, um dos autores desta sessão; caro Senador Marco Maciel; Srª Edenize Sousa, gerente do Espaço Cultural Oscar Niemeyer; Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, a homenagem que o Congresso Nacional presta hoje Oscar Niemeyer, no momento em que se celebra o seu centésimo aniversário, é motivo de orgulho para cada brasileiro. Para mim, é motivo de alegria ainda mais especial haja vista que minha formação profissional é a Engenharia Civil. Exerci a profissão durante vários anos e conheço bem quantos são os desafios para transformar um projeto em realidade. A minha admiração pelo arquiteto carioca é, sem sombra de dúvida, inesgotável. A cada obra, a cada novo projeto, há um detalhe ou algo que me provoca aquele espanto de admiração do jovem estudante de engenharia diante de algo tão fabuloso que está além das palavras.

Poderíamos definir Niemeyer por um sem-número de palavras. Seria, no entanto, lugar-comum chamá-lo de gênio, inovador, criativo. Niemeyer se destaca, creio eu, por ter sabido compreender o que foi a arquitetura tradicional brasileira, o que foi o modernismo arquitetônico, quais foram as contribuições de mentores como Lúcio Costa ou Le Corbusier e, apesar de tudo isso, não ter sido um mero repetidor da obra de grandes criadores.

Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. Deputados, o fascinante a respeito de Niemeyer é a sua capacidade de, a partir de influências gigantescas, ter sido capaz de criar uma obra que tem personalidade própria e se destaca onde quer que a encontremos. Se estamos na cidade de São Paulo, ao olharmos para o edifício Copan, mesmo se não somos especialistas em arquitetura, somos capazes de vê-lo se destacar em meio à floresta de edifícios da capital paulista. Se estamos em Niterói, o Museu de Arte Contemporânea é como um gigante parido da terra. Se estamos em Brasília, ao entrarmos na Catedral, somos capazes de sentir, ali, a presença divina manifestada por meio da beleza.

Niemeyer provoca emoções do tipo que deve ter sentido o Papa Júlio II ao ver Michelangelo concluir a pintura da Capela Sistina. E a inteligência de Oscar Niemeyer não está apenas na beleza pura que consegue colocar em seus projetos. É a aliança entre forma e conteúdo que obriga os engenheiros calculistas a serem também revolucionários.

O arquiteto Ricardo Ohtake disse, em entrevista recente, algo muito revelador do que o trabalho de Niemeyer representou. Afirmou Ohtake:

“O Niemeyer fez introduzir linhas curvas. Uma arquitetura possibilitando uma cobertura curva. No Complexo da Pampulha, ele começou fazendo a igreja como cobertura. A Casa de Baile tem um pequeno espaço fechado e depois uma marquise que vai fazendo curvas sinuosas, possibilitando ter uma paisagem do mar. Isso tudo foi ele quem inventou. E ninguém esperava ver uma coisa dessas. Até hoje o Niemeyer avança no processo de cálculos de estrutura. Ele obriga os engenheiros a se virarem. O projeto de arquitetura aqui sempre foi muito desenvolvido. Quando esses projetos foram para a Europa, eles ficaram boquiabertos; foi daqui pra lá.”

Vejam as Srªs Senadoras e Deputadas, os Srs. Senadores e Deputados, as senhoras e os senhores, ao conseguir aprender o que os gênios fizeram, reelaborar isso e produzir algo de novo, é aí que encontramos a genialidade de Niemeyer. É isso que Ohtake quer dizer quando afirma que os europeus ficaram boquiabertos ao descobrirem a obra de Oscar.

E Oscar tem algo de sensacional, que é a simplicidade. Suas obras, se observarmos as que estão aqui em Brasília, são monumentais mais pela admiração que causam, não tanto pelo seu tamanho ou pelo seu detalhismo. Como o próprio arquiteto afirmou certa vez: “De um traço nasce a arquitetura. E, quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte”.

Ou seja, é possível ser simples e, ao mesmo tempo, construir algo que seja brilhante e monumental. É por isso que o próprio Oscar, bastante humilde, respondeu a um entrevistador, outro dia, que preferia se abster de tecer comentários sobre os novos arquitetos brasileiros. Disse apenas que os arquitetos hoje estão muito preocupados em usar materiais caros para criar obras que se destaquem.

Fiquei pensando nisso ao ler a entrevista e concluí que Niemeyer tem razão. Ele conseguiu o destaque com materiais baratos, com coisas simples: uma tinta branca, cimento, vidro e outros materiais comuns da arquitetura. Do pouco fez muito. Da simplicidade fez o genial - eis, penso eu, a grande maravilha da obra de Niemeyer.

Mas Niemeyer conseguiu algo que poucos conseguem e que é o sonho de todo arquiteto: que a sua obra não seja apenas o reflexo de sua imaginação, mas que tenha a capacidade de ser um índice do que o povo é.

Isso foi bem entendido pelo júri do Prêmio Pritzker, o Nobel da Arquitetura, ao concedê-lo a Niemeyer em 1988. Afirmaram eles:

“Existe um momento na história de uma nação em que um indivíduo captura a essência da cultura e lhe dá forma. Algumas vezes é música, pintura, escultura ou literatura. No Brasil, Oscar Niemeyer capturou essa essência com sua arquitetura. Seus projetos arquitetônicos exalam a imagem de cores, luz e sensualidade de sua terra natal.”

Observaram também que, se Niemeyer é mais lembrado por causa de Brasília, a sua obra não se esgota na cidade e se esparrama pelo mundo.

Oscar Niemeyer, mais do que qualquer outro brasileiro, conseguiu representar o espírito do nosso povo, e não é exagerado afirmar que, depois de Brasília e seus prédios, nos tornamos mais brasileiros, mais senhores do nosso destino.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerro este breve pronunciamento não apenas celebrando Oscar Niemeyer, mas, sobretudo, agradecendo ao que ele realizou por nós brasileiros.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2007 - Página 46299