Discurso durante a 25ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Consideração sobre a aposentadoria dos idosos, e sobre a proibição da venda de bebidas nas rodovias federais. Posicionamento sobre as FARC. Homenagem às mulheres pelo transcurso do "Dia Internacional da Mulher".

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL. CODIGO DE TRANSITO BRASILEIRO.:
  • Consideração sobre a aposentadoria dos idosos, e sobre a proibição da venda de bebidas nas rodovias federais. Posicionamento sobre as FARC. Homenagem às mulheres pelo transcurso do "Dia Internacional da Mulher".
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2008 - Página 4977
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. CODIGO DE TRANSITO BRASILEIRO.
Indexação
  • DEFESA, MELHORIA, BENEFICIO PREVIDENCIARIO, APOSENTADO, PENSIONISTA, AUXILIO, VELHICE, BRASIL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, ERRO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), REPUDIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, EXCESSO, MINISTERIO, GOVERNO FEDERAL, ABUSO, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AUSENCIA, REQUISITOS, EMERGENCIA, RELEVANCIA, PARALISAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • JUSTIFICAÇÃO, OPOSIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PROIBIÇÃO, VENDA, BEBIDA ALCOOLICA, MARGEM, RODOVIA, PREJUIZO, COMERCIANTE, PASSAGEIRO, AUSENCIA, FISCALIZAÇÃO, IMPUNIDADE, MOTORISTA, PREVISÃO, ATIVIDADE CLANDESTINA, ALTERNATIVA, FALENCIA.
  • REPUDIO, ATUAÇÃO, GRUPO, GUERRILHA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, VINCULAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, TRAFICO, IMPORTANCIA, GOVERNO BRASILEIRO, DECLARAÇÃO, OPOSIÇÃO, TERRORISMO, APOIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, REDUÇÃO, VIOLENCIA.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, SAUDAÇÃO, REPRESENTANTE, FAMILIA, ORADOR.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Cícero Lucena, que preside esta reunião de sexta-feira, iniciada às 9h, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo fabuloso sistema de comunicação do Senado da República, esta Casa, de 183 anos, vive seus melhores momentos.

Um quadro vale por dez mil palavras: nunca, em 183 anos, este Senado abriu às sextas-feiras e às segundas-feiras, e estamos aqui discutindo os temas mais importante.

E o que se passa agora, nesta Casa? Para onde vamos, levamos nossa formação profissional. Sou um médico cirurgião. O cirurgião é de decisão. As vezes, dá certo na política. Juscelino Kubitschek de Oliveira era um médico cirurgião, como nós: de Santa Casa, teve passagem pela vida militar como eu tive, foi prefeitinho, foi deputado, foi governador, foi cassado.

Trago aqui a minha decisão sobre temas que estão em pauta em nosso País.

Primeiro, a aposentadoria dos velhos. Quero dizer logo a minha posição a esse respeito. Tem um Senador do Governo - com todo o respeito, Gilvam Borges - que todos os dias anuncia assim o dinheiro que vai para o seu Estado: “Dinheiro na conta!”. Ó, Deus, permita-me rezar, declamar, cantar, como Castro Alves em seu Navio Negreiro - “Deus, Deus, onde estás?” - na próxima semana: “Dinheiro na conta dos velhinhos aposentados!” - velhinhos a quem nós estamos devendo. Esta Casa se curvou a uma medida provisória indecente e imoral que teve uma Joana D’Arc - foi a nossa Heloísa Helena que queimaram. Eu votei contra, mas conseguiram tirar os direitos dos velhinhos, taxaram o que eles já tinham pagado, nós sabemos.

Ó, Luiz Inácio, Vossa Excelência não sabe um décimo do que eu sei de Previdência, porque eu trabalhei e trabalhei muito. Eu já criei um instituto. Eu, prefeitinho, criei um instituto municipal de previdência. Isso era permitido. Heráclito criou um em Teresina. As cidades grandes e capitais criaram esses institutos.

Dirigi o Instituto de Previdência do Estado do Piauí. Trabalhei muito. Trabalhei no Ipase, um instituto federal, fui médico; trabalhei na Prefeitura de Fortaleza, como médico; na Universidade Federal; no Exército, como Oficial da Reserva. Aposentei-me como médico, entrando pela porta estreita do estudo e do saber. Então, podemos dizer que temos uma vida dedicada a isso.

Aquilo estava cheio de erros. Tanto isso é verdade, que fizeram uma medida provisória paralela, com a finalidade de minimizar os erros. Os velhinhos foram agredidos, eles foram roubados.

Luiz Inácio, Vossa Excelência fez uma grande besteira, dizendo: “É melhor fazer uma hora de esteira do que ler uma página de livro”. Essa foi uma besteira, mas besteira maior foi Vossa Excelência se vangloriar, dizendo: “Fernando Henrique Cardoso é pé frio; eu sou pé quente”. Fernando Henrique Cardoso foi um estadista, enfrentou o monstro da inflação, domou o monstro. Essa é a verdade, e estamos aqui para dizer a verdade.

Vossa Excelência disse: ”Somos credores. Nunca dantes isto havia acontecido: não devemos mais aos banqueiros, aos gringos”. Eu, no lugar de Vossa Excelência - seria muito bom para o País -, diria: “Devo aos banqueiros, devo aos gringos, mas pago, primeiro, aos velhinhos aposentados”. Essa é minha posição. Senador Mozarildo, não há saída, não: vamos devolver o dinheiro dos velhinhos. Essa é minha posição.

A segunda posição que quero apresentar diz respeito à venda de bebidas nas BRs. O Luiz Inácio tem de entender que somos pais da pátria. Aquela foi outra loucura, e sei o que é isso. Fui prefeitinho, fui Governador do Estado e estou falando diante de homens que governaram seus Estados, Mozarildo e Cícero Lucena. Sei o que é isso.

De uma hora pra outra, ele aumenta, bota quarenta Ministros. Não existe isso. Nos Estados Unidos da América, há catorze ou dezesseis Ministros, que lá são chamados de secretários. Muitos aloprados - como ele mesmo disse, são quarenta - querem mostrar serviço. Uma ou outra medida provisória enviada a esta Casa preenche os requisitos constitucionais, tem urgência e relevância. Governamos o Estado, sabemos o que é decreto, usamos essas coisas. Na maioria dos casos, porém, é aquele negócio: “Também vou levar...”. A grande maioria dos quarenta Ministros - a maior parte das pessoas não sabe o nome dos Ministros; não sei nem o nome de dez - é de aloprados e leva medidas provisórias para o Luiz Inácio que não preenchem os requisitos. Luiz Inácio, que diz que detesta ler, assina sem ler. Disse que ler uma página dá canseira, que é melhor fazer uma hora de esteira. Luiz Inácio taca a caneta, entope isto aqui e pára esta Casa. Essa é a verdade. Vem para cá cada besteira! São assuntos que não têm emergência nem prevalência, que são condições constitucionais. Aliás, seria melhor V. Exª dar um dicionário para cada um, para saberem o que é urgência e o que é prevalência.

O processo começa na Câmara: sem força, sem dignidade, sem vergonha, o Presidente as recebe. Deveria tê-las recusado. O que é prevalência e o que é urgência? Chinaglia, sou mais o Severino! Está entupido, está parado. É questão de dicionário. Não era nem para virem aqui; paravam lá! É assim, é assim que se deveria fazer. O erro é nosso; nós fraquejamos.

Essa questão da bebida nas BRs está errada. Recebi muitos e-mails sobre isso, sei das coisas. Ô, Mozarildo, recebo centenas de e-mails - saio daqui, e está pinoteando, é um negócio!

Cícero, vamos analisar as coisas, esse negócio de álcool. Luiz Inácio, você toma lá a sua Havana, e eu tomo a minha Mangueira do Piauí. Chegou um Senador e me disse: “Você não deveria dizer que bebe, pega mal”. Pega mal nada! Não posso é mentir. Pega mal é mentir! Se eu dissesse que não bebo, ficaria mal quando me vissem tomando uma com o Lucena. Essa é a verdade. Não sou é viciado, bebo quando quero.

Bebida, Luiz Inácio, é coisa velha. Pensei até que o vinho fosse a bebida mais antiga. Não é, não! Outro dia, no Chile, comprei um livro lindo, Historia del Mundo. A cerveja veio antes. Naquele tempo, quase todas as epidemias aconteciam por causa da água; o cólera é um exemplo disso. Viram que, quando botavam essas leveduras, diminuía nos povoados a doença. Então, veio muito antes a cerveja. Depois veio Cristo, que multiplicou o vinho. Temos essa idéia, mas é recente. A cerveja veio antes do vinho, é milenar.

Agora, há essa discussão. Um aloprado chegou para ele e disse: “Vamos tirar as bebidas, e aí vai acabar...”. Está errado, Luiz Inácio - estamos aqui para ensinar -, totalmente errado. Ô Cícero, V. Exª é engenheiro. A mídia diz que diminuiu. Não tem nada a ver!

Vamos analisar as coisas. Luiz Inácio viaja no Aerolula e pode tomar bebida. Vou viajar amanhã para a Bahia para representar o PMDB num congresso - ganhei na eleição; entre todos, a juventude do Nordeste me escolheu. No avião, tomo minha cervejinha, tomo meu uísque. Posso fazer isso. Se, num ônibus, vai de férias um brasileiro trabalhador, debaixo do sol quente do meu Piauí ou da sua Paraíba, cumpridor do dever, passageiro, ele não pode tomar uma cervejinha? O que tem ele a ver com isso, Luiz Inácio? Ele não pode fazer isso? São sessenta passageiros, e ninguém pode fazer isso?! Já no avião, nós a tomamos, e é bom. Em vôo internacional, então! O Dr. Luiz Roberto ali vai só para beber, vai para Zurique. No avião, a gente pode fazer isso. Quem não pode beber, Luiz Inácio, é o piloto, o aviador, mas a gente pode. Quem não pode beber é o motorista do ônibus. O motorista, este é que não pode beber. Luiz Inácio, você fez uma desgraceira!

Agora, fui ao Piauí, que você conhece, e eles mentem, dizem que há aeroporto internacional na minha cidade. Lá não há nem teco-teco. Já houve aeroporto internacional. Mente esse PT! Quando eu era menino, um dia, nunca faltou, mas, agora, não há mais nem teco-teco. Mas foi bom, porque vim por terra. Entre Parnaíba e o litoral, são 340 quilômetros. E a BR passa por mais de 20 quilômetros para chegar à praia, Cícero. Fiquei olhando as faixas, a choradeira, a desgraceira, a besteira e a preguiça de Luiz Inácio: não leu a medida provisória.

Há gente que, há 20 anos, fez um hotelzinho na praia, fez um restaurante. Mozarildo, aquela gente só sabe trabalhar naquilo.

Fui um brilhante cirurgião, um dos melhores cirurgiões mesmo deste País, mas não sei mais operar. Quando vi, já era Governador, Senador. Laparoscopia? Evoluiu. Eu não sabia, não conheço mais, sou daquele tempo... Quanto a abdômen, o Mariano de Andrade dizia: “Abro e digo o que é”. Na laparoscopia exploradora, não precisa nem abrir o paciente.

Então, é difícil. Aquele pessoal está lá há 20 anos, fez seu hotelzinho. Sua família trabalha de madrugada. E, de repente, não pode vender bebida. Olha, o que há de gente falindo, chorando. E não tem nada a ver com isso, Luiz Inácio! É um problema de educação. O seu Governo é o pior da História do Brasil. Você não educa ninguém!

Quero só citar um fato: li o Código da Vida, de Saulo Ramos. Saulo Ramos tem 80 anos, foi Ministro, foi tudo. Cícero Lucena, ele diz assim: “Não me preocupo com quem ganha Bolsa-Família, mas me preocupo muito com os filhos desses que estão ganhando”. É o mau exemplo: não trabalha, não tem perspectiva, não tem educação. Isso é problema de educação, Luiz Inácio! Vou lhe contar uma coisa: entendo das coisas; por isso, estou aqui. Temos de ser os pais da Pátria.

Cícero Lucena, quando vou a Miami, fico na Collins, num hotelzinho no nº 8.000: é o Hotel Normandia, que é barato e que é de um português amigo. Fico lá com a Adalgisinha, agarrado. Dou um vinho para ele, que baixa logo o preço para US$50. Mas, Mozarildo, a 300 metros, há um posto de táxi. Não pego o táxi na porta do hotel, vou a pé até esse posto, porque ali há motoristas brasileiros, homens e mulheres que estão ganhando a vida lá, já que a vida aqui é difícil para quem trabalha. Então, ando a pé com a Adalgisa até lá. E, com meu jeito, começo a conversar.

Por que eles estão lá? Eles têm razão ao dizerem: “Espero me aposentar com 20 anos de trabalho. Ganho de US$2,5 mil a US$3 mil e me aposento aqui”. Não é muito para lá, mas para cá o é. São US$3 mil. E eu, conversando com um brasileiro, perguntei: ”Meu amigo, aqui, nestes Estados Unidos, você ganha mais dinheiro durante o dia ou à noite?”. Aí, ele disse: “Durante a noite. À noite, dá muito mais”. E eu disse: “Mas, meu amigo, como é que você ganha dinheiro? Eu passei ali, no Coral Gables, cada um tem quatro ou cinco carros”. V. Exª conhece, não é? E ele disse: “Aí é que é. É de lá mesmo, desse bairro rico, porque o americano jamais, jamais, jamais vai pegar um carro quando ele vai jantar. Ele chama o táxi”. Ele tem quatro ou cinco carros. É educação. Ele vai beber e não vai guiar bêbado. Não vai fazer isso, porque tem o poder policial. A polícia tem moral. Ela chega e prende mesmo, e não há negócio de justiça que vai demorar. É o poder de polícia. Esta é a verdade: não guia. É educado para isso. Ninguém guia bêbado.

Mas V. Exª pergunta: “E o Brasil?”. Atentai bem, Mozarildo Cavalcanti! V. Exª é um maçom justo. Por que não colocamos Luiz Inácio nessa Maçonaria? Vamos levá-lo! Não foi Gonçalves Ledo, José Bonifácio, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto? Era uma coisa boa.

O que há de gente falida não é mole! O sujeito passou 30 anos ali, fez seu hotelzinho, e, agora, vem essa proibição de bebida. Lascou-se! E por quê? Porque o que o hóspede quer é tomar uma cerveja. Então, ele vai para outro lugar. Eu conheço. Há faixas. Ô Luiz Inácio, estou te ajudando, e os aloprados estão te lascando. Eu vi as faixas na Parnaíba. Você ganhou as eleições, todo mundo votou em Vossa Excelência. Mas está lá: “Estou falido, não posso trabalhar”. Não é mole! Você vai se hospedar em um hotel onde não se pode beber? Eu não vou, não quero. E o Luiz Inácio também não vai se não houver bebida, porque ouvi dizer que ele gosta até mais do que eu.

Então, está tudo falido. Na minha cidade, Cícero Lucena, são mais de 20 quilômetros de hotéis, de restaurantes. Que negócio é esse? Até mesmo Cristo andou tomando umas, multiplicou o vinho. Ele não pode é guiar bêbado. E tomar uma não tem nada a ver.

Três e-mails traduzem essa questão. Rapaz, essa televisão é forte! Somos fortes, Mozarildo, somos acreditados. Esse negócio de dizer que Senador... Não há esse negócio, estamos fortes. Ando por aí, sinto a emoção do povo, o respeito e a admiração. Essa é a verdade. Ontem, fui aplaudido de pé por vereadores. Então, não há essa questão.

Vou citar três e-mails, sintetizando todos que recebi. Um deles é do Japão. Não sei como é que eles ouvem isso lá, não entendo essa tecnologia, sou do tempo em que a gente ia à biblioteca e tirava o livro, a enciclopédia, mas o mundo está aí com a Internet. Para mim, a melhor invenção do mundo é o avião e, por isso, dei logo o exemplo do avião. Nesse negócio de computador não sei mexer, sou de outra geração, da enciclopédia.

Sabe por que acho que a melhor invenção é o avião? E hoje é o dia da mulher. Quando vai uma mulher bonita ali, Mozarildo, o que se diz? Olha um avião! Você não diz: olha um computador, uma Internet. Mas não sei como é que, no Japão, o cara, brasileiro, mandou... Não sei como é que ele pega isso lá. Há esses negócios aí. É imediato. Fiquei impressionado. Ele disse: “Sou brasileiro. No Japão, tenho três filhas. Minha mulher está no Japão, trabalhamos aqui e tal. No Brasil, não há emprego”. É aquele negócio. Eu fiquei surpreso. Vou mostrar o e-mail. No Japão, ele tem família. Disse: “Aqui, no Japão, não tem negócio de proibição de bebida, não, mas você, se dirigir bêbado e se for pego, não vai dirigir nunca mais na sua vida”. Isso é que lei dura! É como Átila: premiar os bons e punir os maus. Nunca mais! Nunca mais! Já era! Tem de saber isso. É a pena de morte da direção. Nunca mais! E há multa a 300 ienes. Não sei quanto é isso. Mas não há lei proibindo bebida, não.

Há outro que peguei, e é verdade. Nada melhor do que a mocidade. Fomos universitários. Não sei de qual a cidade ele é; parece que é lá da sua Paraíba. Ele disse: “Senador Mão Santa, não vou botar nem o meu nome, porque você vai ler [e ia ler mesmo], e todo mundo sabe que eu tomo umas. Tenho carro, sou estudante de Medicina, admiro-lhe, mas guio bêbado mesmo. Tomo uma”. Olha como ele é tão franco! Olha, Luiz Inácio, ele disse: “Mas sabe por que guio assim? Porque a punição aqui para gente bêbada que mata outro são cestas básicas. Se a punição fosse dura [olha o estudante puro!], eu não dirigiria, não. Não iria pegar táxi - V. Exª disse para pegar táxi, como o americano -, porque estudante é liso, não tem dinheiro, mas eu iria a pé para casa ou iria pedir carona de um colega”. O estudante pratica a infração por essa impunidade, essa irresponsabilidade, essa loucura de aloprado. Temos de punir é aquele.

Ô, Luiz Inácio, sempre tomei as minhas, não vou esconder. Chega um e diz que não bebe. Que besteira! O que nunca fiz foi operar bêbado. Aí, eu deveria ser cassado pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões e pelo Conselho Regional de Medicina (CRM).

Mas é o motorista, o piloto que tem de ser punido. O que vai lá no ônibus, de férias, não pode tomar uma cervejinha? Como ele não vai tomá-la, com um calor doido, passando pela minha Teresina, pela sua Paraíba?! Está errado.

Um era estudante; o outro, religioso. Encontrei aqui um Senador. É o seguinte: era evangélico, era religioso. E me disse: “O senhor tem razão. Não bebo, porque a religião não deixa”. Não há essas religiões que não permitem beber? Muçulmano não bebe, de jeito nenhum. Eles dizem que há uma compensação. Você sabe qual é? Dizem que casam com quatro mulheres. Mas não vamos ao caso de religião.

No e-mail, disse: “O senhor tem razão. Por que o Governo não bota um policiamento maior nessas rodovias? Não consertaria isso, se houvesse ostensivamente bafômetros?”. Por que não fiscaliza quem está dirigindo de forma responsável?

Ô, Mozarildo, isso temos de analisar. Afastar a zona urbana não adianta. Aí, na rua de trás, vão fazer um bar, vão beber, não pára. Esse negócio de cerveja vem antes de vinho.

Uns aloprados mandaram, e já está passando ali. Ali passa tudo! O Luiz Inácio disse que eram 300 picaretas. Passa tudo. Aqui vai ser difícil, Luiz Inácio. É melhor Vossa Excelência recolher. Vamos fazer uma lei boa e justa, aumentar a punição. Vai ser difícil, Luiz Inácio. Seu timezinho aqui é fraco. Vai ser difícil aqui. Aqui, não há aloprado. Aqui há 35 Senadores, que são iguais àqueles trezentos que defenderam Atenas da Pérsia, do ataque de Xerxes.

E a crente disso isso. Por que não aumentam a fiscalização, em vez de ficarem nomeando aloprados com DAS 6, que ganham um dinheirão? São R$10.448,00; cada um que ocupa esses cargos comissionados ganha isso.

Concedo um aparte ao Mozarildo, esse extraordinário e bravo Senador.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mão Santa, V. Exª, como médico, faz uma abordagem muito importante sobre a lei de proibição de bebidas nas rodovias federais. Na verdade, nós, médicos, sabemos que a solução não está em proibir, mas em esclarecer, educar e convencer a pessoa a não fazer isso por que é prejudicial. Realmente, essa lei parece muito com aquela história do sofá: retirem o sofá, e estará resolvido o problema. Não é por aí. O que tem de acontecer é, evidentemente, proibir o motorista de beber e, aí sim, aumentar a pena daqueles que são pegos bebendo ou que causam acidentes.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Será como no Japão: nunca mais ele vai guiar.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Nunca deu certo essa questão de proibição. A lei seca dos Estados Unidos foi uma proibição. O que aconteceu como contrapartida? O surgimento da máfia, com o contrabando de bebidas e de armas.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Apareceu o Al Capone.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Exatamente. No Brasil, é muito simples para os governantes, quando há um problema, baixar uma lei repressora - não fazem uma medida que seja realmente educativa e também repressiva -, principalmente tornar a legislação mais severa. Penso que esse trabalho temos de fazer. Se formos esperar que o Presidente mande uma medida provisória nesse sentido, esta não virá. Nem ninguém quer mais medida provisória. Temos de propor uma legislação, a partir deste Senado, e esperar que a Câmara a aprove e que ele a sancione, já que, como V. Exª diz, surpreendentemente, parece que o que ele afirmou há tempos, quando ofendeu a Câmara dos Deputados dizendo que lá havia trezentos picaretas, repete-se. Parece que ele tem mais de trezentos que domina de alguma forma. E tudo o que ele quer, mesmo não prestando para o Brasil, é aprovado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª trouxe o assunto à tona, à luz: a lei seca dos Estados Unidos. O próprio Al Capone não foi pego por isso, não. No ilícito do contrabando de bebidas, floresceram os grupos, os Dom Vito Corleone, os chefões da máfia, todos eles.

Um promotor, Eliot Ness, pegou Al Capone por causa do imposto de renda. Então, V. Exª trouxe o exemplo, que está aí, às claras. Nós vamos fazer proliferarem os Al Capones. São os que vendem no câmbio negro, no escondido. Então, o Luiz Inácio está errado e estou lhe dando essa contribuição.

Por isso, fui escolhido, no voto, para estar na Bahia e abrir o Congresso do PMDB Jovem. Tem muitos que estão aí e não tiveram nem voto. Os líderes jovens me mostraram a votação. Tem gente que desejaria, mas não teve nenhum voto. E V. Exª acha que eles representam o PMDB.

Também quero dar minha posição quanto às Farc. Isso não existe, Luiz Inácio. Vossa Excelência tem de tomar uma atitude. A minha geração tinha um líder católico cristão, Alceu Amoroso Lima. Ele escrevia no jornal religioso, católico. Eu sei que democracia todo mundo define: povo, liberdade, igualdade e fraternidade. Abraham Lincoln: governo do povo, pelo povo e para o povo. Mas Alceu Amoroso Lima é melhor: é o governo da convivência, não da exclusão; das liberdades, buscando a ordem, que está na bandeira.

Isso aí é um desastre. O negócio das Farc não existe, ô Luiz Inácio! Isso não existe! Principalmente quando um Deputado, que é hoje o Secretário de Transportes, Fraga, acusou essas Farc de terem dado dinheiro para aloprado se eleger a deputado no Brasil. Então, tem de cortar a relação.

Moisés, foram 40 anos. Essa porcaria está há 50! Meio século de banditismo, narcotráfico, seqüestro! Isso aí, nós somos é contra mesmo. Nós temos é que acabar com isso. Nós temos é que ser contra.

A Colômbia, Luiz Inácio, eu sei, está ali o livro Cien años de soledad, Viver para contar, Memoria de mis putas tristes, de Gabriel Garcia Márquez, Prêmio Nobel. Eu fiz curso lá, ô doutor, planejamento familiar, eu conheço a Colômbia. É uma história muito complicada, esses países hispânicos são complicados. Atentai bem: Simon Bolívar viveu grande período lá. Ele nasceu na Venezuela. Eu conheci a casinha dele. Pronunciou uma das frases mais bonitas que eu já vi. No busto, tem uma frase dele: “Eu fui muita coisa - esse Chávez é coronel -, fui coronel, general, marechal, el comandante, el ditador, el libertador de las Américas, mas o título mais importante, do qual não abdico, é ser bom cidadão”. Chávez não aprendeu a ser bom cidadão, Luiz Inácio. Essa é a verdade.

Então, este País tem de tomar posição clara, contundente. Nós somos contra as Farc. Esse Uribe - olha, depois do Brasil, a Colômbia é o país que tem mais gente, ser humano: praticamente 50 milhões, maior do que a Argentina, maior do que a Venezuela - é um herói. A criminalidade diminuiu lá. Está lá um Prêmio Nobel, Gabriel Garcia Márquez. Nós não temos nenhum. A criminalidade diminuiu tanto que o nosso Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, foi lá ver como fazer, como estão fazendo em Bogotá. E ele é a expressão da democracia, com ele está a maioria, tem que conviver. Mas há cinqüenta anos não existe isso. O próprio Fidel Castro, Luiz Inácio, subiu a Sierra Maestra, mas foi coisa de um ano e pouco. Esses bandidos estão há quase meio século seqüestrando, torturando, vendendo maconha, cocaína. Não! Isso não é da nossa civilização.

Agora, Sr. Presidente, as palavras finais, e vão ser breves e diferentes. Amanhã é o Dia da Mulher.

O SR. PRESIDENTE (Cícero Lucena. PSDB - PB) - Nesse assunto é que V. Exª deveria demorar mais.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu ouvi muito discurso e vou fazer o meu. Vai ser breve, o que não quer dizer nada. O perfume francês é pequenininho e é melhor do que os grandões. Olha, vamos facilitar. O Mozarildo deu toda a história: queimaram as mulheres na fábrica nos anos mil e oitocentos. Aprendi muito. O Paim citou todas as mulheres do mundo. Então, não faltou nenhuma. V.Exª também falou na mãe. Aí, eu fiquei pensando: pois eu vou fazer do meu jeito. Amanhã é o Dia da Mulher. O Paim até declamou. Paim é poeta, eu não sabia desse dom. Mas eu sou mais o povo do que o Paim e os poetas. Eu vi num ônibus... Eu gosto de ler pára-choques, aquilo ali é a sabedoria popular. Eu nunca vi um provérbio errado. Eles estão até na Bíblia, os Provérbios de Salomão. Eu li num caminhão e nunca esqueci: “Se Deus fez um negócio melhor do que a mulher Ele não nos mostrou”. Mas não é por aí.

Então, uma homenagem à mulher. Cícero, o Senado homenageia Bertha Lutz, não é Cláudia Lyra? Não tem essa homenagem a Bertha Lutz? Vou pedir a Serys, que dá as medalhas, treze, que é o número do PT. Mas também nasci no dia 13 de outubro. Nossa Senhora de Fátima não apareceu na Cova da Iria, não sei o quê? Vou pedir uma medalhinha para mim. A primeira que dou logo é para a minha mulher, a minha Adalgisa. Olha, eu sou diferente. Já disseram o nome de todas, eu vou dar é para a minha mesmo. E, aliás, gosto muito de Deus, porque ele fez Adalgisinha para mim. Então, nunca vou ser contra Deus. Vai ser a primeira medalha. O Senado não dá?

Depois, eu vi a família. Rui Barbosa está ali, porque ele definiu bem o que é a pátria: pátria é a família amplificada. O próprio Deus, quando botou o filho no mundo, não o desgarrou. Botou numa família: Jesus, Maria, José. Então, eu estava conversando com Jonson ali. Ó Luiz Inácio, Vossa Excelência não é um milímetro melhor do que aquele ali - garçom. Eu dei uma festa lá em casa, o Garibaldi foi. Ele se formou em Direito, o Jonson. E eu perguntei: o que é que eu digo, Jonson, se os homens já falaram tudo - Mozarildo, Paim, esses todos que me antecederam? Ele disse: “Olhe, fale da mulher mãe. A minha mãe... Fiquei órfão. Éramos doze”. Então está ali o Jonson.

Então, quero logo também uma medalha para a minha mãe, Janete, que está no céu, terceira franciscana - meu nome é Francisco, é um nome cristão - e para minhas avós. Avó é um negócio bom. A avó Nhazinha, avó paterna, fazia camarão; a avó Sinhá. Minha família era abastada. Mozarildo, tinha uma árvore de Natal e ela não esquecia de nenhum nos aniversários. Eram mais ou menos, hoje, uns quinhentos paus. Do dinheiro não me lembro, mas dava. Eu guardava para as férias em São Luís com a outra avó. Ela nunca se esquecia. Avó é um negócio Então, eu queria umas medalhinhas. A Serys fica dando as medalhas aí para quem ela quer, eu quero as minhas para dar para essas. Minhas irmãs, Cristina, professora, mais velha, e Yeda.

Deus foi bom para mim. Eu tenho quatro filhos: um homem e três mulheres. Mulher é melhor. É bem melhor.

E está ali Cristo. Vamos fazer uma reflexão só do momento mais difícil que passou no mundo: a crucificação dele. Todos os homens traíram Cristo. Anás, Caifás, Pilatos - político como nós. A mulherzinha de Pilatos, a Adalgizinha dele, chegou e disse: Pilatos, seja forte, o homem é bom, eu vi ele pregar, ajudar os pobres, curar cego, aleijado, leproso, tirar o demônio. Aí ele disse: mas eu tenho que servir a Herodes, o presidente do dia. E lá foi um fraco. Cadê o Pai, homem? Cadê os colegas dele, o Senadinho dele? Eram 13 com Ele, que é o número daqui. Pedro, que era forte e bravo, o negou três vezes, e nós sabemos. Cadê os homens? Um, forçado, Cireneu. Uma mulher venceu o cerco, enxugou-lhe o rosto. Lá havia dois homens. Diziam que eram ladrões. As mulheres, não. Estavam lá as três Marias. Mozarildo, quando Ele disse que voltou, nós acreditamos. Por quê? Porque foram três mulheres que foram ao túmulo. Se fossem homens, ninguém acreditaria, porque homem é fraco, como eu. Mulher é mais verdadeira.

Por isso esta homenagem às mulheres. Deus me fez feliz porque, dos quatro filhos, botou três mulheres: a Gracinha, que é engenheira, a Cassandra, que é advogada, e a Daniela, que é médica, como nós. E netas, a Emanuele, que faz Medicina também, a Janaína, a Adalgisinha e a Ana Beatriz. Essas são da minha família.

Ó Deus, ó Deus, abençoe todas as mulheres do meu Piauí e do Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2008 - Página 4977