Discurso durante a 60ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário da fundação da Associação Brasileira de Imprensa.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IMPRENSA.:
  • Comemoração do centenário da fundação da Associação Brasileira de Imprensa.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2008 - Página 10729
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IMPRENSA.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), COMENTARIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, VINCULAÇÃO, CONSTRUÇÃO, IMPRENSA, DEMOCRACIA, BRASIL, PARTICIPAÇÃO, POLITICA NACIONAL, ELOGIO, FUNDADOR, MEMBROS, ESPECIFICAÇÃO, BARBOSA LIMA SOBRINHO, EX PRESIDENTE.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente Garibaldi Alves; Senador Inácio Arruda, companheiro de lutas nesta Casa; Sr. Maurício Azêdo, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa; Sr. Fernando Tolentino de Sousa Vieira, Diretor-Geral da Imprensa Nacional; Srª Julieta Cavalcanti de Albuquerque, Sub-Procuradora-Geral da República, é com alegria que os recebemos aqui e a todos os presentes.

Falar dos cem anos da ABI é falar da história de uma Associação Brasileira de Imprensa que está intrinsecamente vinculada à construção do processo democrático brasileiro.

Criada em 7 de abril de 1908 por Gustavo Lacerda com o objetivo de assegurar à classe jornalística os direitos assistenciais, a ABI tornou-se, ao longo dos anos, um dos centros mais poderosos de ação política pluripartidária do Brasil, defendendo a liberdade de expressão e os direitos civis. Esse é um exemplo para o País, um exemplo para as gerações de hoje e, principalmente, para as gerações que hão de vir.

Devemos ressaltar que Gustavo Lacerda era uma figura ímpar. Ele não concordava com a idéia de que os jornais fossem empresas capitalistas - lendo essa história, achei interessantíssima essa parte. Ele não pensava que os jornais tinham que ser capitalistas, dando lucro a seus acionistas e colocando o lucro na frente dos interesses da sociedade. Para ele, os jornais deveriam ter uma missão social e funcionar como cooperativas de trabalhadores. Isso, no começo do século passado.

De certa maneira, Lacerda estava além de seu tempo, visto que um dos temas mais atuais do jornalismo continua sendo exatamente este: onde começam e terminam os negócios, e onde começa e termina a função social da imprensa? Há demarcação entre isso? Acredito que os objetivos financeiros podem - e devem - caminhar junto com os objetivos maiores de ajudar a população brasileira a achar o seu eixo e o seu rumo.

Tornou-se clássica, por exemplo, a discussão entre os jornalistas sobre a clara divisão entre o Estado e o Clero em determinada época da nossa história - e, isso, dentro das redações. Nesse aspecto, a ABI sempre foi uma referência fundamental na formação das consciências e do senso crítico dos profissionais da notícia e da comunicação.

Falar da ABI é também lembrar a lendária figura de Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, como tão bem se expressou aqui nosso colega e amigo Pedro Simon. Foi um homem que viveu 103 anos (nasceu em 1897 e faleceu em 2000), que lutava por ideais nacionalistas e via, na profissão de jornalista, um instrumento para levar a população brasileira à conscientização política e social.

Em 1926, aos 29 anos de idade, quase 30, como disse Pedro Simon, assumiu pela primeira vez a Presidência da ABI. Durante seu quarto mandato, em 1992 - a juventude acompanhou muito bem isso -, foi o responsável direto pelo pedido da abertura do impeachment de Fernando Collor de Mello e o primeiro orador inscrito para defender o processo.

A homenagem que o Senado faz nesta data para a ABI deve ser também uma celebração sobre o significado do fortalecimento das instituições no País. Aqui quero fazer um parêntese para dizer que isso é atualíssimo e muito importante.

Estamos precisando, Dr. Azêdo, da ABI novamente, para dar um rumo e nos ajudar a dar esse rumo à sociedade brasileira. Esta Casa, o Congresso Nacional, precisa, e muito, de ser também, junto com a ABI e com outras instituições sérias deste País, a paladina não só da moralidade e da decência, mas também da ética. E dizer ao povo brasileiro que regimes como a democracia - que pregamos tanto e pela qual a ABI lutou tanto - devem ser, sim, sempre o nosso farol. Farol não só dos homens e mulheres com a idade um pouco mais avançada, como alguns de nós. E temos de dizer aos jovens brasileiros, aos jovens que nem sempre têm os parâmetros que gostaríamos que tivessem, que esta é uma Casa da verdade - tem de ser a Casa da verdade -, que esta tem que ser sempre a Casa da resistência.

Concordo com Pedro Simon que o Presidente Garibaldi Alves tem dado a todos nós um exemplo de que os homens e mulheres que estão aqui trabalhando em nome do povo brasileiro têm sempre de estar em sintonia aberta com esse mesmo povo, para poder defendê-lo sempre, para poder defender as nossas instituições, para dizer que nós temos os Poderes constituídos neste País; que nós temos um Poder Executivo que tem de ser, sim, altivo e independente, dentro das suas prerrogativas, que tem de olhar o povo brasileiro e esta Nação com o olhar de quem está ali pronto a trabalhar para que o Brasil seja sempre uma Nação forte, uma Nação que seja vista por outras nações como uma parceira, uma companheira, mas com sua altivez de Nação independente; que tem de ter um Poder Judiciário, como ontem nós vimos - e o Presidente Garibaldi externou essa idéia muito bem -, altivo, independente também, mas que saiba delimitar sempre o seu espaço e que apóie os outros parceiros, os outros dois Poderes, naquilo que nós temos de mais sagrado, que é a nossa independência.

Que esta Casa saiba fazer aquele que é o seu papel, que é garantir a liberdade das instituições e fazer as leis que devam ser exercidas neste País por todos os brasileiros; que esta Casa saiba respeitar e delimitar também os seus espaços, que o Executivo e o Judiciário tenham aqui um parceiro, mas parceria, companheirismo, e, principalmente, a junção de aspectos importantes na formação desse tripé que segura a democracia com a nossa liberdade de trabalho, que nem sempre nós temos.

Portanto, quero dizer que, neste momento, a defesa da democracia, das liberdades e do Estado de direito merece sempre estar num lugar de destaque em nossas mentes e corações, e a força de uma instituição como a ABI deve ser exemplo para todos neste País.

Devemos registrar nesta oportunidade que homenagear a ABI é oferecer um tributo à memória de homens e mulheres de bem neste País, de todas as classes sociais.

Cada vez mais, quando nos deparamos com injustiças sociais, com tentativas de calar a imprensa, com a luta que muitos fazem contra a transparência e pela permanência do obscurantismo em muitas esferas da vida nacional, convencemo-nos da importância de entidades como a ABI, colocando-nos ao seu lado na luta pelas verdadeiras transformações na vida social do País.

Hoje, a imprensa brasileira é fundamental. É informativa e é investigativa. Eu sei o quanto ela é investigativa, porque tenho convivido com ela, neste um ano que tenho nesta Casa, em vários assuntos em que está denunciando, levando a todo o povo brasileiro a verdade como ela é. Ela é fundamental, também, para que o povo brasileiro tenha conhecimento dos fatos, raciocine com os editoriais e as críticas, e tenha condições de conhecer as idéias e as propostas antagônicas também.

A imprensa tem ajudado muito a formar e a forjar a nossa cidadania, calcada, como eu disse, no amor à democracia, à liberdade, aos valores morais e éticos da nossa sociedade.

Eu quero terminar minha fala, dizendo que fiz questão de vir aqui esta manhã não só para dizer que falar de cem anos da ABI não é falar de uma instituição qualquer, mas de uma instituição benemérita, uma instituição social digna, uma instituição de grandes profissionais, grandes homens e mulheres; mas principalmente vim aqui para dizer que o povo brasileiro tem muito a caminhar junto com instituições desse tipo.

E a ABI tem a obrigação, o dever de continuar como sempre foi nos seus cem anos de história: um farol. Um farol que o povo brasileiro tem de ter sempre aceso. Um farol de dignidade. Um farol da verdade. Um farol de luta - de que estamos precisando muito. Acho que nunca, nesses últimos anos, o Brasil precisou tanto desse farol.

Tenho certeza de que a ABI vai estar junto com a nossa Casa e com todas aquelas instituições sérias deste País, lutando para que o povo brasileiro saiba que este é um grande País e que vale a pena lutar para que o Brasil seja grande, não só no tamanho, não só nas suas riquezas, mas grande também na sua população de homens e mulheres que comunguem de grandes ideais. E tenho certeza de que a ABI vai ser sempre essa nossa luz.

Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2008 - Página 10729