Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o ciclo da fome no Planeta. Exaltação a Mato Grosso como o maior celeiro agrícola do País. Considerações sobre o etanol, cujo aumento na produção não será a causa do desabastecimento mundial de alimentos.

Autor
Jayme Campos (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EXPLORAÇÃO SEXUAL. POLITICA AGRICOLA.:
  • Reflexão sobre o ciclo da fome no Planeta. Exaltação a Mato Grosso como o maior celeiro agrícola do País. Considerações sobre o etanol, cujo aumento na produção não será a causa do desabastecimento mundial de alimentos.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2008 - Página 13468
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EXPLORAÇÃO SEXUAL. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, MAGNO MALTA, SENADOR, IMPORTANCIA, TRABALHO, COMBATE, EXPLORAÇÃO SEXUAL, CRIANÇA.
  • ANALISE, CRESCIMENTO, POPULAÇÃO, MUNDO, ALTERAÇÃO, CLIMA, PROVOCAÇÃO, NECESSIDADE, CONTENÇÃO, MEIO AMBIENTE, REDUÇÃO, EXPANSÃO, AGRICULTURA, EFEITO, CRISE, PRODUÇÃO, ALIMENTOS, RISCOS, FOME, REGISTRO, DADOS, BANCO MUNDIAL, AUMENTO, PREÇO, CEREAIS.
  • COMENTARIO, PREVISÃO, AUTORIA, ROBERTO CAMPOS, ECONOMISTA, EX SENADOR, CAPACIDADE, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), CONTRIBUIÇÃO, SOLUÇÃO, CRISE, FOME, MUNDO, REGISTRO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), SUPERIORIDADE, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, POSSIBILIDADE, AMPLIAÇÃO, AREA, CULTIVO, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, PRODUTIVIDADE, AGRICULTURA, ALIMENTOS, MATERIA-PRIMA, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, ENERGIA RENOVAVEL, EXPECTATIVA, DIRETRIZ, ORGANISMO INTERNACIONAL, GARANTIA, PAZ.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, INVESTIMENTO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESPECIFICAÇÃO, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO, QUESTIONAMENTO, PROPAGANDA, MANIPULAÇÃO, PROMESSA, OBRAS, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO.

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Presidente Mão Santa.

            Eu quero, antes de mais nada, cumprimentar o Senador Magno Malta.

            Tenho acompanhado de perto o trabalho de V. Exª. Realmente, é um trabalho que nós temos que respeitar, até pela gravidade que representa, não só para o momento, mas sobretudo para o futuro. Tenho acompanhado aqui a trajetória de V. Exª como Senador. Nós temos que aplaudi-lo, sobretudo quando trata da pedofilia. V. Exª falou apenas sobre o caso de Mato Grosso: somente um juiz aprecia quatrocentas denúncias - deve ser juiz da Comarca de Cuiabá. E temos ainda outras tantas comarcas lá! Portanto, solidarizo-me com V. Exª.

            Quero dizer a V. Exª que conte com todo o nosso apoio, até porque é um assunto que não é somente da responsabilidade de V. Exª, mas de todo o Congresso Nacional e da sociedade brasileira. V. Exª tem a nossa solidariedade, o nosso apoio e o nosso respeito nessa grande cruzada que trava em relação a esse assunto. Parabéns, Senador Magno Malta.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no início da década de 1980, em sua peregrinação eleitoral pelos vastos territórios mato-grossenses, o Embaixador Roberto Campos intuiu que a maior crise pela qual passaria a humanidade ainda estava por vir. Ele dizia que a escassez de alimentos deveria impor dolorosa conjuntura à comunidade internacional. Mas, de forma messiânica, enxergava as planícies mato-grossenses como uma reserva agrícola capaz de saciar a fome do mundo.

            Pouco mais de duas décadas se passaram daquela expedição cívica que remeteu Roberto Campos ao Senado Federal, e suas profecias se confirmaram de maneira contundente e assustadora.

            O planeta vive hoje o ciclo da fome. A falta de controle na expansão demográfica aliada à premente necessidade de conter a degradação da natureza, reduzindo o avanço da agricultura sobre as matas primárias, estabelece um novo dilema para a nossa geração: como produzir alimentos sem gerar impactos ambientais?

            Se, por um lado, a miséria se apresenta como um fantasma que ronda as nossas portas, por outro, a questão ecológica é o pano de fundo para qualquer projeção socioeconômica da comunidade internacional. A fome não espera planos mirabolantes ou plataformas miraculosas. Ela existe. Ela é nossa vizinha. E não tem misericórdia: mata velhos e jovens, e anula a dignidade de nações inteiras.

            Segundo fontes do Banco Mundial, o preço da comida subiu em 2007, em escala mundial, 57% na média. Produtos como o trigo, por exemplo, tiveram reajuste de 130% nesse período, enquanto o custo do arroz cresceu 74%. Para a Organização das Nações Unidas, essa elevação progressiva no preço dos alimentos pode empurrar 100 milhões de seres humanos para a linha da subnutrição e da miséria.

            Então, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quando os grandes líderes mundiais festejam a inclusão de novos contingentes populacionais ao consumo de comida, principalmente nos continentes asiático e africano, paradoxalmente estamos caminhando para a tenebrosa escassez de alimentos de que já falava o economista britânico Thomas Malthus há mais de 200 anos. Ou seja, este pode ser o “Século da Fome”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Malthus previu que o descompasso entre crescimento demográfico e produção agrícola resultaria no desabastecimento mundial de gêneros alimentícios. Senador Augusto Botelho, Senador Mão Santa, dois séculos depois, o diplomata e economista Roberto Campos formulou pensamento semelhante, porém menos fatalista, pois pressagiou, venturosamente, a fertilidade do solo mato-grossense. Anteviu que, de nossa terra, brotariam grãos e proteínas que alimentariam o mundo.

            Pois bem, meu amigo Senador Heráclito Fortes, Mato Grosso figura hoje como o maior produtor de soja do País, com a colheita de 15,5 milhões de toneladas desses grãos; também lidera o ranking nacional na plantação de algodão, com a retirada de 1,5 milhão de toneladas desse produto de nosso solo. Ainda somos o segundo maior cultivador de arroz e de sorgo, segundo dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

            Mato Grosso também detém hoje o maior rebanho bovino do País, com mais de 26 milhões de cabeças. E se prepara para se tornar, nos próximos cinco anos, o maior abatedor de suínos e galináceos entre os Estados da Federação. Portanto, não é exagero afirmar que nossa região já se transformou no maior e mais diversificado celeiro agrícola do Brasil.

            Isso porque, Srªs e Srs. Senadores, menos de 30% da nossa área agricultável está ocupada com lavouras e pastos. Ou seja, dos 25 milhões de hectares disponíveis para a agricultura em Mato Grosso, apenas oito milhões deles estão arados. Vale lembrar que, desse total, foram subtraídas as regiões de reservas indígenas, as florestas remanescentes e os mananciais biológicos.

            Ainda vivemos, caro Senador Heráclito Fortes, sob a controvérsia instalada pelo Presidente do Banco Mundial, Sr. Robert Zoellick, que fez insinuações quanto à impropriedade da produção de etanol em plena vigência de alerta sobre o desabastecimento mundial de alimentos. Ora, cabe a uma organização do porte do Banco Mundial buscar novas tecnologias para conciliar a crescente demanda por biocombustíveis ao incremento do plantio de comida.

            O que o mundo precisa é de investimentos e não de lamentos ou previsões dramáticas. Os combustíveis renováveis, por exemplo, trabalham no sentido de reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera, beneficiando a luta contra o aquecimento global.

            Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Jayme Campos, V. Exª faz um pronunciamento com informações e, acima de tudo, com a autoridade de quem colaborou para a transformação do Estado do Mato Grosso. V. Exª tem o privilégio de não ter trabalhado sozinho, mas juntamente com seu irmão: teve a felicidade de ambos governarem o Estado. Lembro-me, logo que cheguei a esta Casa, com a inexperiência própria da juventude, de que participei de discussões sobre a divisão do Estado do Mato Grosso. Todas as alegações que faziam eram de que a região que ficou com o nome original, a região pioneira, era um peso pesado naquele Estado que tinha as fronteiras com São Paulo, o grande boom, a grande possibilidade de progresso e de desenvolvimento. E que a divisão seria necessária exatamente para tirar um peso da estrutura rica daquela grande área territorial. Lembro-me disso, Senador, como se fosse hoje. Feita a incorporação, nomeado o primeiro Governador - na época não se chamou nem Governador, era um técnico...

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Um interventor.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Um interventor. Mas não se deu o nome de interventor - não importa; era um técnico do Governo Federal.

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Era Amorim.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Amorim, não é isso?

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Exato.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Foi depois Deputado Federal.

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Isso.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Hoje, alguns anos depois, estamos vendo que, para o bem do Brasil, os que pensaram daquela maneira estavam redondamente enganados. O Estado de V. Exª ficou enxuto. O Estado de V. Exª soube aproveitar muito bem as condições climáticas e, acima de tudo, um solo fantástico que só precisava ser descoberto. O que precisava Mato Grosso? Infra-estrutura. E isso foi feito. Infelizmente, muitos governadores não seguiram esse exemplo de investir na infra-estrutura, porque o resto é conseqüência. Portanto, fico muito feliz em ver o seu pronunciamento. Até porque V. Exª fala de cadeira, de cátedra, fala com a autoridade de quem tem participação ativa nisso. E me lembro, quero recordar, da luta que desenvolvia o nosso saudoso colega Jonas Pinheiro, que era um homem do campo. De forma que parabenizo V. Exª e tenho certeza de que os mato-grossenses que lhe estão ouvindo nesta tarde sabem muito bem que, se tudo isso está acontecendo, a sua digital está cravada nessa história. Muito obrigado.

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - Obrigado pela sua bondade, Senador Heráclito Fortes. Realmente, demos a nossa contribuição, juntamente com o ex-Senador e ex-Governador Júlio Campos. É pena que, nestes últimos anos, o Governo Federal tenha feito muito pouco pelo Mato Grosso.

            Fazendo apenas um parêntese aqui, Senador Jarbas Vasconcelos, ontem eu assistia à Ministra Dilma Rousseff na Comissão de Infra-Estrutura, e, quando ela estava finalizando a sua participação naquela Comissão, eles entregaram um folder mostrando as ações do Governo Federal em todos os Estados da Federação. Lamentavelmente, Senador Mão Santa, recebi um folder do Estado do Mato Grosso. Quando abri - primeira página, segunda página, mostrando as obras previstas para o Estado -, em primeiro lugar, vi que são muito poucas; em segundo, é a maior mentira deslavada que vi nos últimos 100 anos. De tudo o que está previsto, não existe nada. Chega ao cúmulo do absurdo, Senador Heráclito Fortes, de dizer o seguinte: “prevista a BR-242”. Falei então à Ministra: “Ministra, não existe BR-242. Isso aqui é uma mentira, uma falácia, porque está tramitando na Comissão de Infra-Estrutura um projeto para que possamos federalizá-la e, então, ser inserido no PNV, depois encaminhado para a Câmara, feito o projeto executivo, cálculo do impacto ambiental, a ordem de serviço, concorrência, etc”.

            Então, se tivesse um mínimo de margem de infra-estrutura e de logística, sobretudo intermodal, imaginem quanto a nossa produção não iria aumentar, sem aumentar um palmo de terra, sem derrubar um pé da floresta, ou seja, de mato. Nós íamos aumentar muito mais a nossa produção. Colaboraríamos não com 15 milhões, mas com 20 milhões ou 30 milhões de toneladas, até porque eu ouvi ontem o Senador Delcídio Amaral fazer um pronunciamento em relação à nossa agricultura e a agricultura dos países de primeiro mundo...

(Interrupção do som.)

            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT) - ... ou seja, da Europa. Lá, subsidia-se tudo. Aqui, não; aqui, o produtor está pagando para produzir. Contudo, estamos dando a nossa contribuição extraordinária para a produção agrícola.

            Concluindo, Sr. Presidente, de qualquer forma, organismos como a ONU e o Banco Mundial precisam agir em duas frentes. A primeira é fomentando a produção de alimentos. A segunda é construindo alternativas para que a crescente demanda por comida não signifique um novo avanço sobre as reservas naturais do Planeta, porque, se a preservação se impõe como uma premissa ética da humanidade, o combate à fome é igualmente uma questão moral de nossa geração.

            Portanto, produzir alimentos não representa riscos para o futuro; ao contrário, produzir alimentos significa garantir paz e justiça social. Mais do que nunca, o mundo precisa encontrar o ponto de equilíbrio entre preservação do bioma e prosperidade. Porque não existe ética na fome.

            De forma, Sr. Presidente, que essas eram as minhas palavras na tarde de hoje.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2008 - Página 13468