Discurso durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato sobre a atuação de S.Exa. à frente do Ministério do Meio Ambiente, agradecendo a todos que a ajudaram durante sua gestão.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Relato sobre a atuação de S.Exa. à frente do Ministério do Meio Ambiente, agradecendo a todos que a ajudaram durante sua gestão.
Aparteantes
Aloizio Mercadante, Alvaro Dias, Antonio Carlos Júnior, Antonio Carlos Valadares, Arthur Virgílio, Eduardo Azeredo, Eduardo Suplicy, Efraim Morais, Flexa Ribeiro, Flávio Arns, Fátima Cleide, Geraldo Mesquita Júnior, Ideli Salvatti, Inácio Arruda, Jefferson Praia, José Agripino, José Nery, José Sarney, João Pedro, Lúcia Vânia, Magno Malta, Marconi Perillo, Mão Santa, Paulo Paim, Pedro Simon, Renato Casagrande, Romeu Tuma, Sergio Guerra, Tasso Jereissati, Tião Viana, Valdir Raupp, Valter Pereira.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2008 - Página 18219
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • OPORTUNIDADE, RETORNO, MANDATO PARLAMENTAR, POSTERIORIDADE, EXERCICIO, CARGO PUBLICO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), AGRADECIMENTO, APOIO, SENADOR, APROVAÇÃO, LEGISLAÇÃO, BENEFICIO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, ESPECIFICAÇÃO, GESTÃO, FLORESTA, SETOR PUBLICO, CRIAÇÃO, ENTIDADE, PROTEÇÃO, BIODIVERSIDADE, BRASIL.
  • AGRADECIMENTO, CONFIANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, FAMILIA, SIBA MACHADO, SUPLENTE, SERVIDOR, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), AUTORIDADE, CIENTISTA, ESPECIALISTA, REPRESENTANTE, SOCIEDADE CIVIL, IMPRENSA, REGISTRO, CRESCIMENTO, IMPORTANCIA, QUESTIONAMENTO, MEIO AMBIENTE, EVOLUÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO.
  • APRESENTAÇÃO, BALANÇO, GESTÃO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), DIRETRIZ, BUSCA, CONTROLE, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REFORÇO, SISTEMA NACIONAL, MEIO AMBIENTE, IMPLEMENTAÇÃO, LEGISLAÇÃO, PRIORIDADE, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, ELABORAÇÃO, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, MINISTERIO, GARANTIA, FUTURO, PAIS.
  • AUSENCIA, OPOSIÇÃO, LEGISLAÇÃO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, COMPROMISSO, ETICA, QUALIDADE, LICENCIAMENTO, OBRAS, ESPECIFICAÇÃO, USINA HIDROELETRICA, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, RODOVIA, REGIÃO AMAZONICA, REGISTRO, DADOS, LIBERAÇÃO.
  • COMENTARIO, SAIDA, ORADOR, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANUTENÇÃO, POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
  • DETALHAMENTO, TRABALHO, COMBATE, DESMATAMENTO, REDUÇÃO, INDICE, PARCERIA, MINISTERIO, REPRESSÃO, IRREGULARIDADE, EXPECTATIVA, AMPLIAÇÃO, APOIO, PRODUTIVIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, VOTO, GESTÃO, CARLOS MINC, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), AUSENCIA, RETROCESSÃO, LEGISLAÇÃO, ANUNCIO, CONTINUAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, ORADOR.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Exmº Sr. Presidente Garibaldi Alves, Srs. Líderes dos Partidos, Srªs Senadoras, Srs Senadores...

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Desculpe, Senadora, V. Exª dispõe de dez minutos, mas nós daremos uma prorrogação, porque sabemos que V. Exª tem muito a dizer ao Brasil.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Sr. Presidente. Fico muito feliz com o seu acolhimento. De fato, não quero abusar desse acolhimento da Casa, mas, sem dúvida, se pudermos contar com um tempo mais alongado do que os dez minutos, isso me será útil para que possa fazer esta primeira fala.

            Quero cumprimentar a todos os membros deste Parlamento e dizer que, mesmo estando no Executivo durante esses cinco anos, quatro meses e quatorze dias, sempre me senti como uma Senadora da Casa. Devo confessar que sempre recebi o devido apoio e acolhimento, mesmo considerando que esta é uma Casa de diferentes opiniões e de diferentes posições, mas que foi fundamental - inclusive com o apoio de todos os Partidos - para que pudéssemos aprovar leis importantes, como é o caso da Lei de Gestão de Florestas Públicas, a criação do Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade Brasileira, a medida que limita temporariamente áreas importantes para a proteção da biodiversidade, e tantas outras medidas que o Congresso Nacional aprovou em benefício do País, da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável.

            De sorte que me sentia, como Ministra, em casa e, retornando à Casa, devo fazer esse reconhecimento e esse agradecimento.

            Quero saudar a minha Bancada, mas, de modo especial, o meu Estado do Acre, porque meu mandato de Senadora é pelo Estado do Acre, que tenho a honra de representar e que, de alguma forma, me cedeu para essa missão durante mais de cinco anos do mandato de oito anos que me foi dado pelas urnas.

            Não devo deixar de dizer, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que, mesmo diante de uma situação adversa, não há dúvida de que a minha saída aconteceu em um contexto que, no meu entendimento, era preciso reconstituir a base de sustentação política para que o projeto de desenvolvimento sustentável, que se preconiza para um País que é uma potência ambiental como é o Brasil, pudesse contar com a devida sustentação política, não apenas dos governos e dos governantes, mas principalmente da sociedade brasileira.

            De sorte que o meu gesto foi um gesto de constituição para que não se tivesse nenhum tipo de retrocesso em relação às importantes conquistas que tivemos.

            E, da mesma forma que, com alegria, recebi a honrosa missão do Presidente Lula para ir ao Ministério do Meio Ambiente como Ministra, com alegria também retorno a esta tribuna para falar um pouco das coisas que aprendi durante esses cinco anos de Governo. A aprendizagem aqui me foi muito útil para essa experiência no Executivo, mas não tenho dúvida de que a Marina que retorna a esta Casa traz um conjunto de aprendizagens que, com certeza, foram assimiladas e que serão ressignificadas naquilo que se constituirá a minha atuação parlamentar dentro do Senado da República.

            Eu disse que era com alegria que ocupava este espaço. E se alguém disse que a felicidade, de certa forma, deve ser medida pela gratidão, quero, em primeiro lugar, começar agradecendo. Agradecendo a Deus pelas inúmeras oportunidades que me tem dado de assumir funções públicas no meu País e no meu Estado; agradecendo a minha família pelo apoio que me deu durante todos os momentos da minha vida, meu marido, minhas filhas e meu filho - tenho a honra de ter minha filha Moara, na tribuna de honra - os amigos, enfim, todos aqueles que constituem uma rede de sustentação e acolhimento fundamental à vida de qualquer pessoa.

            Quero agradecer ao Presidente Lula pela confiança de me ter como membro da sua equipe, durante esses cinco anos em que, sem dúvida, conseguimos juntos uma série de conquistas e de encaminhamentos políticos fundamentais para mudar paradigmas na cultura de desenvolvimento econômico-social, e diria, principalmente civilizatório, se considerarmos que estamos vivendo aquilo que alguém já chamou de “a era dos limites”.

            Quero agradecer a esta Casa, como já o fiz no início de minha fala; ao Senador Sibá Machado que tão bem desempenhou a função de Senador da República durante o período que estive ausente, com capacidade, com, digamos assim, uma forte convicção daquilo em que acredita, defendendo aqui suas posições. Quero agradecer a toda equipe do Ministério do Meio Ambiente, os servidores que constituem toda a massa crítica e a capacidade técnica que, de fato, viabilizam as políticas ambientais deste País; à minha equipe, que tive a felicidade de, com autonomia, escolhê-la, dos Secretários aos Presidentes das vinculadas do Ibama, da Agência Nacional de Água, que foi aprovado por esta Casa, do Jardim Botânico, do Instituto Chico Mendes, do Serviço Florestal Brasileiro - os dois últimos aprovados durante a gestão de que fiz parte e com o apoio de todos os senhores, inclusive de todos os Partidos. Quero também agradecer às inúmeras parcerias dos vários colegas de Governo, os Ministros, com os quais, todos eles, tive a felicidade de trabalhar durante esses cinco anos. E gostaria de agradecer a todos, citando alguns órgãos que considero importantes do serviço público federal, como é o caso da Polícia Federal, para homenagear o Ministério da Justiça, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, para homenagear as Forças Armadas.

            Quero também dizer que o Incra fez uma excelente parceria para homenagear o MDA, e que todos os Ministros se sintam igualmente homenageados nesta fala que faço, porque não tenho tempo de citar todos.

            Agradeço à comunidade científica, que deu base de sustentação para que pudéssemos tomar as nossas decisões. Enganam-se aqueles que pensam que, na questão ambiental, as decisões são tomadas puramente por ideologia. As decisões são tomadas considerando questões complexas, difíceis de serem encaminhadas, tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista técnico. E em nenhum momento nos faltou o apoio e a base técnica, tanto daqueles que operaram dentro do Ministério, como nos outros setores de Governo. E aqui cumprimento, na pessoa do Dr. Gilberto Câmara, Presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), responsável pela medição do índice de desmatamento da Amazônia e que há 20 anos desenvolve um trabalho altamente competente e relevante para a sociedade brasileira.

            Agradeço aos membros do Sistema Nacional de Meio Ambiente dos Governos Estaduais, dos Governos Municipais e, com certeza, da Anamma e da Abema, que são representações dessas respectivas instituições, que fazem parte do Sistema Nacional de Meio Ambiente.

            Não poderia deixar de agradecer aos diferentes segmentos da sociedade (movimentos sociais e organizações não-governamentais) e aos formadores de opinião.

            Nesses últimos cinco anos, vi a questão ambiental, Srs. Senadores, ser colocada no coração da agenda deste País.

            Vi a questão ambiental ser debatida todo dia, como até há bem pouco tempo eram discutidas as questões econômicas e questões importantes de outra natureza.

            Hoje, o Brasil é considerado, em pesquisa realizada em relação às mudanças climáticas, o País em que a opinião pública mais se preocupa com os problemas do aquecimento global.

            E não tenho dúvida de que a imprensa brasileira deu uma grande contribuição para que pudéssemos reposicionar o tema, que, até há bem pouco tempo, era considerado periférico pela maioria. Hoje, é considerado periférico pela minoria, que ainda não se converteu aos novos paradigmas do desenvolvimento sustentável.

            Sr. Presidente, aprendi, durante esses cinco anos de experiência no Executivo. Eu disse que a Marina que saiu daqui em 2003, com certeza, volta com uma base para ressignificar a sua práxis política dentro desta Casa.

            E gostaria de falar muito rapidamente dessa experiência, compartilhá-la com os senhores, mesmo que de diferentes partidos, de diferentes olhares; pessoas que, como eu, tenho absoluta certeza, mesmo que com uma posição diferente, não podem deixar de ter, em hipótese alguma, posição convergente no que diz respeito àquilo que está acima de nós, que são os interesses do Brasil.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite, Senadora Marina Silva?

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Em seguida, vou conceder o aparte aos senhores. Peço vênia, e até me penitencio, a fim de que possa concluir minha fala de forma corrida, como dizemos na escola. Em seguida, cederei o aparte, pela ordem de inscrição, já agradecendo aos senhores que se dispõem a participar comigo deste momento.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Obrigado a V. Exª.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Quando o Presidente Lula me convidou para ser Ministra do Meio Ambiente de seu Governo, em 2003, ele me disse que gostaria que eu fosse compor a sua equipe para fazer política de Governo, e não política de Ministério. Decodifiquei esse termo de referência da seguinte forma: a política ambiental no País não será mais a política isolada do Ministro do Meio Ambiente, mas será...

(Interrupção do som.)

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Será, necessariamente, a política ambiental de todo o conjunto do Governo. Tentei traduzir esse termo de referência nas diretrizes que estabeleci para orientar e nortear a política ambiental brasileira durante esses cinco anos.

            Antes das diretrizes, Senador Arthur Virgílio, Senador Aloizio Mercadante, Senadora Ideli, Senador Suplicy, Senador Antonio Valadares - não tenho como nomear a todos, e vejo chegar aqui meu amigo e parceiro Zequinha Sarney -, ao chegar ao Ministério, a primeira coisa que fiz, ao conversar com minha equipe, foi dizer que não teríamos uma visão niilista dos processos sociais e dos processos políticos dentro do Ministério. O que significa isso? Que assimilaríamos todas as conquistas positivas encontradas, que faríamos um esforço para resolver os problemas encontrados e criaríamos o nosso delta a mais. E, sem sombra de dúvida, Deputado José Sarney Filho, encontramos muitas boas soluções da sua gestão e da gestão do Ministro José Carlos Carvalho, e mantivemos todas, por considerarmos se tratar de um processo cumulativo e que não deveria ter problema na continuidade.

            Encontramos dificuldades - não há dúvidas -, inclusive com relação ao desmatamento que cresceu mais de 20%, de 2001 para 2002. Tivemos de tomar medidas drásticas para debelar aquele processo avassalador e, ainda, criar o delta a mais, que se deu em cima de diretrizes.

            E como pensar diretrizes, Sr. Presidente, que fossem capazes de dialogar não apenas com o Governo, mas com o conjunto da sociedade, não apenas com o Partido de que faço parte, mas com o conjunto de partidos? E as diretrizes assumidas foram quatro.

            Uma delas foi a de controle e participação social, pois é impossível cuidar de um país que tem 22% das espécies vivas do Planeta, 11% da água doce disponível no mundo, a maior diversidade cultural e a maior floresta tropical do Planeta, sem um amplo envolvimento da sociedade brasileira. Portanto, a diretriz de controle e participação social foi colocada como uma das pilastras da políticas ambiental, mas também é impossível pensar em proteger essas imensas riquezas sem colocar a equação de que o Brasil é um país em desenvolvimento e que precisa dar respostas a problemas sociais ainda não resolvidos, necessidades ainda não atendidas, como saúde, educação, habitação, desenvolvimento. Assim, colocamos a diretriz do desenvolvimento sustentável, inclusive sintetizando-a em uma frase: “Não se trata apenas de dizer o que não pode. Trata-se de criar a forma correta de fazer ou o como pode da forma correta”.

            A terceira diretriz é a do fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente. O Brasil tem uma das melhores legislações ambientais do mundo, mas tem baixa implementação. Os governos que nos antecederam fizeram essa boa legislação e uma relativa implementação, inclusive a corajosa medida provisória do Presidente Fernando Henrique, que aumentou a reserva legal de 50% para 80% para debelar o corte raso na Amazônia, mas com baixa implementação. Assim, estabelecemos a diretriz de fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, ainda peço vênia.

            A quarta e última diretriz é uma das mais complexas. A política ambiental deveria, de fato, ter o termo de referência de uma política de governo e deveria ser transversal, não deveria ser o Ministério do Meio Ambiente correndo atrás do prejuízo causado pela área de agricultura, de infra-estrutura, de logística, de energia, do que fosse. Os projetos de desenvolvimento deveriam ser plasmados em critérios de sustentabilidade.

            Com essas diretrizes, partimos para fazer aquilo que foi o termo de referência. Só que descobri uma coisa, Senador Suplicy. Descobri que a melhor forma de ajudar os governos não é simplesmente fazendo política de governo, mas fazendo política de país. Quando você faz política de país, você ajuda os governos. E para fazer política de país é fundamental que não estejamos presos à lógica que, muitas vezes, perpassa a política. E não estou aqui entrando em juízo de valor, de que se faça política pensando-se apenas nas próximas eleições. Deve-se fazer política com sentido objetivo, e a eleição faz parte. Mas, na questão ambiental, a política estruturante é aquela que pensa antes nas futuras gerações. Elas podem não render a frase de efeito do momento, a popularidade, o acolhimento e o entendimento do momento. Mas é o que precisa ser feito em um Estado e em um País que tem uma Constituição, no seu art. 225, que assegura que todo cidadão brasileiro tem direito a um ambiente saudável e que esse cidadão não é apenas o que está aqui, mas aquele que ainda não nasceu.

            Então, fazer a idéia de política de País foi a minha forma de ajudar o Governo do Presidente Lula nesses cinco anos.

            E como isso foi acontecendo, Sr. Presidente? Foi acontecendo em questões complexas, como, por exemplo, a questão do licenciamento. Quem aqui dos senhores não acompanhou o debate sobre importantes empreendimentos como o Madeira, o São Francisco, a BR-163? Só para citar alguns. Mas essa questão não poderia jamais ser compreendida como se a legislação ambiental, o combate às práticas ilegais e os projetos que não eram capazes de atender a mínimos critérios de sustentabilidade e a própria legislação fossem um combate ao desenvolvimento. É uma idéia errada. Ela tem de ser entendida como um resgate da dinâmica do desenvolvimento.

            E vou dizer por que é um resgate. É um resgate, porque a hidrelétrica do complexo do Madeira jamais teria sido licenciada se não tivéssemos resolvido os problemas do mercúrio, do sedimentos, das malárias e dos bagres, que alguns ridicularizavam, dizendo que estávamos preocupados com os bagres em lugar de nos preocuparmos com a energia.

            O problema é que temos conhecimento técnico e compromisso ético, para resolver o problema da energia e o problema dos peixes; para resolver o problema dos sedimentos e o problema da malária, e foi isso que foi feito. E é por isso que o empreendimento foi licenciado e, mesmo com questionamento na Justiça, não foi embargado, porque tecnicamente foi bem-feito, eticamente foi comprometido com a verdade, com a ciência e com a legalidade. É por isso que também o licenciamento do São Francisco, um projeto polêmico - e pedi autorização para não me meter nos aspectos de oportunidade e conveniência sobre se aquele era o melhor arranjo - foi licenciado, questionado na Justiça, mas igualmente vencedor, por ter sido feito com os mesmos critérios. É por isto que a BR-163, no coração da Amazônia, ligando Mato Grosso ao Pará, uma estrada que contava com o veto de todos os segmentos, foi feita com o acolhimento de todos eles: porque tivemos a coragem de parar o empreendimento por dois anos, fazer um plano de desenvolvimento sustentável, que representa 24% da área de abrangência do empreendimento, resolvendo um problema grave que só o anúncio em 2002 levou a um aumento do desmatamento em 500%.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Desculpe-me, Sr. Presidente, só mais um pouquinho.

            Com as medidas que foram tomadas - criação de oito milhões de hectares de unidades de conservação, toda a parte de ordenamento territorial e fundiário; a criação do Distrito Florestal Sustentável; medidas sociais importantes que nunca tinham chegado àquele Município -, a licença foi dada. E, quando foi dada, o desmatamento caiu 91% na mesma área em que crescia 500%. Ninguém entrou na Justiça contra o empreendimento.

            Eu digo que as críticas que muitas vezes foram feitas ao licenciamento, Sr. Presidente, não foram críticas pelo que não foi feito, porque tudo foi feito, Senador Arthur Virgílio. As críticas foram ao “se”. O tempo todo, o que se dizia, o que eu dizia e que continuo dizendo é que, na Amazônia, no cerrado ou em qualquer um dos biomas brasileiros, não está impedido o desenvolvimento, “se” formos capazes de fazê-lo com sustentabilidade; “se” formos capazes de criar um processo de transição, para que possamos dar as respostas de mudança de modelo de desenvolvimento que este País precisa dar, a exemplo de muitos que estão tentando dar, mas sem as mesmas condições favoráveis que tem o Brasil.

            Até 2003, a média de licenciamento era de 140 licenças por ano, com 45 hidrelétricas importantes embargadas, e saio, agora, deixando o balanço de 2007, Sr. Presidente, de 302 licenciamentos, inclusive esses de alta complexidade de que falei, sem que nenhum esteja na Justiça, porque foram bem-feitos. De 145 para 302, há uma diferença grande se se comparar, inclusive, a complexidade.

            Logo, meus caros colegas Senadores, o que quero dizer aqui é que, até o momento em que pedi ao Presidente Lula para sair, compreendendo que a minha contribuição estava fechando um ciclo, o meu entendimento era o de que a minha participação, quanto à questão ambiental, até aquele momento, com o acolhimento que eu tinha do próprio Presidente da República - porque ninguém pára uma estrada sozinho; ninguém muda uma hidrelétrica sozinho: se turbina de bulbo para turbina de fio d’água, se turbina convencional para turbina de bulbo; ninguém diz se vai fazer três barramentos ou dois sozinho; ninguém diz se vai fazer eclusas ou não sozinho -, foi possível. No momento em que senti que esse acolhimento já não me dava mais as condições de continuar operando uma agenda complexa e com essa magnitude, pedi para sair.

            E sempre tive a compreensão de que a causa é maior do que o cargo e de que o cargo deve estar a serviço da causa, inclusive para ser disponibilizado, se a sua disponibilização leva a um fortalecimento da causa.

            E, no meu entendimento, o que aconteceu neste País foi algo inédito. Por quê? Senador Aloizio Mercadante, o senhor, que é da área de economia, sabe que qualquer Ministro da Fazenda que saísse, a primeira coisa que o Presidente da República teria de dizer é que não mudaria a política econômica, e ouvi da boca do Presidente Lula, que me acolheu nesses cinco anos, que não iria mudar a política ambiental.

            Algo novo está acontecendo no Brasil, e digo até que é um avanço civilizatório, porque, todas as vezes em que se tentou colocar em discussão a flexibilização da legislação ambiental brasileira pelos diferentes setores, de dentro e de fora do Governo, de dentro e de fora desta Casa, o que se teve foi uma resposta da sociedade brasileira da seguinte forma: “Nós queremos energia, mas queremos ver protegidas as florestas; nós queremos a estrada, mas queremos ver criadas as unidades de conservação e feito o ordenamento territorial e fundiário”.

            Chego a esta Casa com toda a vivência de ter conversado com diferentes setores: o da agricultura, o da pecuária, o da exploração florestal, o da infra-estrutura logística, o de energia, o de transporte, o da sociedade civil, o da academia. Foram muitos setores, durante muito tempo, debatendo dia e noite.

            E, hoje, o que está sendo dito que não se vai mudar tem um conteúdo e uma forma. Quanto às diretrizes apresentadas, tenho absoluta certeza de que, nesta Casa, vários devem divergir de como elas devem ser implementadas, mas ninguém deve ser contra o desenvolvimento sustentável. Tenho certeza de que ninguém aqui é contra que haja o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente, tenho certeza de que ninguém aqui é contra que haja uma política ambiental transversal. E é com base nesses princípios amplos, universais, que acredito ser possível fazer alianças pontuais, duradouras.

            Não sou do tipo que acha que ter interesses diferentes é errado. O erro é não ter interesse, é camuflar os interesses. O acerto é quando você tem o seu interesse, legitimamente o coloca na mesa e age de acordo com as regras democraticamente estabelecidas, e, se elas não lhes são favoráveis, você não vai querer suplantar aquele que democraticamente venceu pelas regras, fazendo qualquer ato que não seja legítimo.

            Dessa sorte, discordo, inclusive, de algo que, muitas vezes, a gente debate no Brasil, de que o problema do Brasil é a elite. O problema do Brasil é que a gente precisa ampliar a elite e mudar a visão que se tem de elite, porque a elite é o mais alto cargo da intelectualidade brasileira, é o homem mais importante. Mas também o Chico Mendes, que pensou a Amazônia antes que todos nós aqui a pensássemos, fazia parte da elite brasileira.

            A democracia pressupõe que sejamos capazes de considerar a opinião do operário - e, muitas vezes, a opinião de um operário foi considerada até o mais alto nível da República -, mas que também sejamos capazes de considerar as diferentes opiniões, inclusive a dos índios, que, muitas vezes, não estão sendo tratados como brasileiros, ainda que sejam talvez mais brasileiros do que nós.

            Esta fala - e agradeço ao Presidente e a todos os senhores e as senhoras por estarem me ouvindo - é carregada de um sentimento muito forte, um sentimento de quem, durante cinco anos, teve a clareza de que nada fez de novo. Nada fiz de novo. Nada do que estou falando aqui que foi feito pelo Governo do Presidente Lula, pelo Ministério do Meio Ambiente, nesses cinco anos, é novo, é original. Nós só fizemos uma coisa: colocar em prática a diretriz do controle da participação social, transformando em políticas públicas as boas idéias da sociedade brasileira nos seus diferentes segmentos.

            A Lei de Gestão de Florestas Públicas, aprovada por esta Casa, é uma idéia da sociedade, de empresários de vanguarda da Amazônia, que sabem que o manejo florestal é a única forma de fazer com que haja suprimento de madeira legal e uma indústria que agregue valor e gere emprego e renda. Assim, podemos acabar com a economia de rapina que destrói a Amazônia e a dignidade. É preciso uma proposta de civilização que seja diferente para aquela região.

            Houve a proposta de um plano de combate ao desmatamento, que levou o desmatamento a onze mil quilômetros quadrados no ano passado, chegando aos patamares de 1991, dezessete anos atrás, na época de confisco de poupança. Esse patamar se deu em período de crescimento econômico, com infra-estrutura muito maior do que a que existia em 1991, com uma população muito maior. E por que aconteceu? Porque fizemos um trabalho transversal. Treze Ministérios trabalharam juntos, Senadora Ideli Salvatti e demais colegas, em cima de três eixos: ordenamento territorial e fundiário, combate às práticas ilegais e apoio às práticas produtivas sustentáveis. Infelizmente, ainda que fosse uma ação de todos, o apoio às práticas produtivas sustentáveis ficou a desejar. A idéia da transversalidade ficou a desejar, ainda que tenha um pequeno começo, nos exemplos que falei.

            No caso do desmatamento, o que avançou mais foi a agenda do combate às práticas ilegais. Mas o erro - inclusive, vou pedir licença para falar da forma respeitosa como sempre tratei o Governador Blairo Maggi - é combater o que está funcionando, é combater o combate ao ilegal. O acerto é apoiar as duas coisas. Com o apoio às práticas sustentáveis - no dia 8 de maio, foi lançado o Plano Amazônia Sustentável -, espero que elas possam ser ampliadas e efetivadas.

            A cada ano em que o desmatamento caiu, houve um trabalho conjunto do Ministério do Meio Ambiente, do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Polícia Federal, do Exército, da Polícia Rodoviária Federal, de vários segmentos e, inclusive, dos Estados. Mas esse esforço não pode ser perdido agora. Quando, em setembro do ano passado, acendeu-se a luz vermelha, tomamos todas as medidas necessárias, que tiveram seu cume na resolução do Conselho Monetário Nacional que proíbe crédito para quem desmata ilegalmente e na decisão de que serão embargadas as áreas desmatadas ilegalmente, de que será criminalizado quem comercializar, quem transportar e produzir nessas áreas.

            Enfim, é um conjunto de medidas. Não era para o Governador Blairo Maggi questionar as medidas, era para continuarmos trabalhando juntos. Foi isso o que eu disse para ele, porque levamos o desmatamento em Mato Grosso para uma queda de 72%. Esse é um efeito inédito de governança ambiental. Que melhor sinal poderíamos dar aos brasileiros e àqueles que, por interesse legítimo ou por questões não tarifárias, tentam desconstituir nosso grande potencial agrícola?

            Se continuarmos na agenda da governança ambiental, isso será ótimo para a agricultura, para a pecuária, para os biocombustíveis. Essa é uma visão estratégica que não pode ser perdida. Foi com esse espírito que trabalhei com minha equipe. E quero agradecer a todos eles. Não tenho como nomear todos.

            É uma situação em que muitos problemas precisam, o tempo todo, ser pilotados diretamente pelo centro de governo, pelo núcleo denso de governo. Eu sempre brincava com meus colegas que não gosto do termo “núcleo duro”, gosto do termo “núcleo denso”, porque o que é denso pode receber o novo, pode ter trânsito. Não gosto da denominação “núcleo duro”, pois, às vezes, repele aquilo que é novo. Assim, essa densidade, o tempo todo, deve ser trabalhada para receber novas contribuições, e, com certeza, vou dar uma nova contribuição.

            O Ministro Carlos Minc é uma pessoa da agenda. Conheço-o há vinte anos e espero, sinceramente, que ele possa consolidar todas as medidas para o combate ao desmatamento. Que possa haver políticas para todos os biomas, para dar cidadania, como estávamos dando, ao cerrado, à caatinga, à Mata Atlântica, ao Pantanal e à Amazônia! Que possamos continuar o diálogo profícuo com os setores estratégicos da sociedade brasileira que pensam para além do lucro fácil!

            Às vezes, as pessoas acham que podem sacrificar os recursos de milhares e milhares de anos pelo lucro de apenas alguns anos ou algumas décadas. Esse é um engano. A destruição da Amazônia - cientificamente, já está provada - poderá nos levar à perda de precipitações de chuva no Sul e no Sudeste. A destruição de vários ecossistemas será um grande prejuízo não só para o equilíbrio do planeta, mas também para o equilíbrio do próprio Brasil. E é um pensamento estratégico sermos capazes de cuidar dos nossos ativos ambientais.

            Então, esta é minha forma de falar da política.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Já vou concluir mesmo, Sr. Presidente, já lhe agradecendo, para dar os apartes, pedindo perdão.

            Chesterton disse não ter a pretensão de dizer como a fé deve ser abraçada, e não tenho aqui a pretensão de dizer como a política deve ser abraçada. A única coisa que posso fazer é dizer como eu a abracei, e eu a abracei como um gesto de amor à vida, à natureza, à verdade, aos homens e mulheres de bem, sejam eles de esquerda, de centro, do que for. Penso que, em cima de princípios éticos e morais duradouros, é possível fazer alianças pontuais para viabilizar aquilo que é mais importante; isso funciona mais do que o trabalho de cada um de nós isoladamente.

            Saio do Governo do Presidente Lula com uma lição. Aprendi, Senador José Agripino, Senadora Lúcia Vânia, cada vez mais, a olhar de baixo para cima, porque, olhando de baixo para cima, descobri o que está acima de mim: o Brasil está acima de mim, a Amazônia está acima de nós, esta Casa está acima de nós, individualmente, cada um. E, se é possível fazer a aeróbica do bem, talvez, seja chegado o tempo de, pela crise ambiental que estamos vivendo, podermos nos olhar - o Senador Cafeteira tanto gosta de fazer citações bíblicas! - e compreender que o espaço onde o lobo e o cordeiro podem ficar juntos é um só: a natureza. O lobo precisa de água potável, o cordeiro também; o lobo precisa de terra fértil, o cordeiro também. Isso é válido para a comparação entre ricos e pobres, mas é também válido para uma comparação entre nossos Partidos.

            Por isso, falei para o próprio Presidente Lula e para outras pessoas do Governo: “Vou conversar com todos os Partidos, para aprovar a Lei de Gestão de Florestas Públicas. Vou conversar com todos os Partidos, para aprovar a Lei Chico Mendes, para aprovar a Alap, para aprovar a Lei da Mata Atlântica”. E, se simbolicamente posso citar um, liguei várias vezes para o Presidente Fernando Henrique Cardoso para pedir ajuda, para aprovar aquilo que é maior do que nós, porque cada um, individualmente, não vai conseguir dar conta de algo que é uma crise planetária.

            Então, minha saída do Governo não tem a pretensão de desconstituir; tem a pretensão, sim, de contribuir para que se consolidem as conquistas, nem um centímetro a mais. Nada de revogar a resolução do Conselho Monetário! Nada de redução de reserva legal! Temos de discutir como vamos ter crédito, assistência técnica, como é que vamos ter novos padrões tecnológicos para produzir em menos área. “Temos 665.000Km² de área abandonada que pode dobrar a produção brasileira na Amazônia sem precisar derrubar mais um árvore” - diz o Ministro da Agricultura.

            Se temos tecnologia, se temos técnica, com certeza haveremos de ter ética para colocar toda essa técnica a serviço da decisão ética de desenvolver o Brasil com sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural, política e ética. Esse é o grande desafio que temos pela frente, e, para esse desafio, eu me sinto mobilizada. Como eu disse, essa é a forma como resolvi abraçar a política. E a política, Senador Romero Jucá, é algo que se faz em co-autoria. Nada há aqui de bom que foi aprovado que não tenha sido um trabalho de co-autoria.

            Com esse espírito de co-autoria, volto para esta Casa, para continuar sento co-autora das boas propostas do Ministro Minc, das boas propostas do Governo do Presidente Lula, com o qual trabalhei e do qual tive a honra de participar, em co-autoria com todos aqueles que pensam num projeto de país no qual, ao olharmos de baixo para cima, sejamos capazes de ver que o Brasil está acima de nós. (Palmas.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Faço um apelo aos aparteantes, para que sejam breves nos seus apartes, porque ainda há uma Ordem do Dia vasta a ser apreciada na tarde de hoje.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Seguindo a ordem dos pedidos, concedo o aparte ao Senador Arthur Virgílio; depois, ao Senador Suplicy e...

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senadora Marina, fui uma das primeiras a pedir o aparte.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Desculpe-me. É que eu...

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Peço minha inscrição, Senadora.

            O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Também peço minha inscrição, Senadora.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Está bom.

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Posso fazê-lo em nome da bancada de que V. Exª tanto se orgulha! Senadora Marina, em primeiro lugar, o pronunciamento vibrante e maravilhoso que V. Exª fez nesta tarde, na véspera do Dia do Meio Ambiente, orgulha o Partido dos Trabalhadores. Seu retorno, sua atuação é motivo de orgulho, e, em nome de toda a bancada do Partido dos Trabalhadores, queremos acolhê-la e parabenizá-la nesse seu retorno, ainda mais com essa vibração de V. Exª. Sua atuação à frente do Ministério do Meio Ambiente também é motivo de orgulho - não tenho dúvida - para o Presidente Lula e para o seu Governo. Sua fala forte, essa maneira decidida com que V. Exª se porta sempre, jogando-se por inteiro na defesa daquilo em que V. Exª acredita, é também motivo de orgulho - não tenho dúvida - para todas nós, mulheres, principalmente para aquelas que têm a coragem de vir à vida pública enfrentar o duro cotidiano de disputar o espaço do poder, a divisão do poder. Eu queria ainda, por último, dizer que essa sua forma de se jogar por inteiro naquilo que faz parte da sua crença, que faz parte das suas convicções políticas e filosóficas, é, para nós, de forma indiscutível, motivo de orgulho. Então, eu queria saudá-la em nome de toda a bancada, porque, quando V. Exª faz a defesa com veemência daquilo em que acredita e daquilo que é sua vivência, fruto de toda a sua militância e da sua atuação, V. Exª o faz como defesa da fonte da vida. Não é possível existir vida plena sem a preservação de tudo aquilo que nos foi concedido por Deus, para nós podermos desfrutar sem destruir. Por isso, sua convicção e sua vibração empolgam todos nós. Nós a acolhemos com todo carinho pela sua atuação como Ministra, como Senadora, como mulher, como militante de muitas e muitas décadas da causa da vida.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senadora Ideli. Senador Arthur Virgílio, tem V. Exª o aparte. Depois, eu o concederei ao Senador Suplicy.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senadora Marina, Ministra Marina, V. Exª não desconhece o apreço pessoal que lhe dedico. Entendo que V. Exª é grande pela biografia e que saiu agigantada do episódio do Ministério, certamente mais experiente e com a plena posse do que sempre foi seu: um imenso desejo de construir um país justo e um imenso espírito público. Gostaria de dizer a V. Exª que meu papel aqui é o de fiscalizar, como líder de um partido de oposição, o Presidente Lula, fiscalizar o Governo dele. Houve raros momentos em que discordei de V. Exª; houve momentos mais freqüentes em que estive ao seu lado com a mesma decisão. Até no passado, quando V. Exª era oposição e quando eu era líder de governo, tivemos ocasião de encontros, e, naquele momento, a atitude que tomei era mais difícil do que a atitude de hoje. Era mais difícil àquela altura, porque tive de enfrentar segmentos da base de apoio que eu liderava. Eu gostaria de dizer a V. Exª que é verdade que o Presidente Fernando Henrique telefonava para V. Exª, que V. Exª ligava para ele e que ele ligava para mim. Estabelecia-se aquela corrente de pressão, e eu dizia: “Presidente, fique tranqüilo, porque tenho muita afinidade com a Marina, e vamos chegar ao melhor termo”. Não houve unanimidade na bancada no episódio da gestão florestal, mas fui à tribuna para defender sua idéia, polemizando de maneira respeitosa e democrática, porque a questão ficou aberta, com membros do meu próprio Partido. E o fiz, achando que V. Exª tinha absoluta razão, porque, se o Estado não tem capacidade de tomar conta da Amazônia, o problema não é seu. V. Exª queria dirigir a pressão para um determinado lugar. Aquele lugar seria fiscalizado, e o mais seria proibido. Então, foi perfeita sua idéia, já que não podemos imaginar que se vá deixar de haver alguma interferência da mão do homem sobre a natureza.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Por outro lado, Senadora Marina, vejo que V. Exª tem uma contribuição muito grande a prestar ao Senado, porque vem agora como ex-Ministra e vem com sua vida de sempre. Eu a recebo da maneira mais fraterna - e sei que falo pela minha bancada inteira -, com muito respeito, porque V. Exª, que, pela sua biografia se tornou grande, volta maior ainda.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Arthur Virgílio.

            Concedo o aparte ao Senador Agripino e, depois, ao Senador Suplicy. Não estou bem com a ordem, mas vou tentar manejar.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senadora Marina, também estou me inscrevendo. Estou ao seu lado esquerdo.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Está certo, Senador Tasso.

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Senadora Marina, vou procurar ser bastante breve e conclusivo. Sem pieguice alguma, V. Exª voltou ao Senado e, estimada como sempre, veio ao plenário e, como observei, saiu cumprimentando um por um, beijando os homens, beijando as mulheres e sendo recebida fidalga e fraternalmente por todos. Há algumas razões para isso. As minhas eu quero lhe revelar. Nós podemos ter divergências - não sei quem é o lobo e quem é o cordeiro na nossa relação -, mas sei que nós nos entendemos bem.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Depende.

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Depende, é verdade, e vou chegar a esse ponto do “depende”. A nossa relação é de muito respeito. Eu respeito as pessoas que são honestas de propósito e que têm convicção e coragem para defender as suas idéias com espírito público. O espírito público político está, na minha concepção, acima de qualquer mérito, qualquer mérito, qualquer um. Se teve espírito público, para mim vale muito, e vejo em V. Exª um frasco cheio de espírito público. Por isso é que a respeito e por isso é que todas as vezes que recebi telefonemas seus o fiz com atenção, mesmo que divergisse de suas idéias, e não foi o caso da Lei de Concessões de Florestas Públicas, da qual fui relator e cuja aprovação construímos juntos. Agora, sabe qual é a razão maior, creio eu, do respeito a V. Exª neste Plenário? Nenhuma lei - e muitas leis importantes vieram do seu Ministério para serem apreciadas pelo Congresso - veio sob a forma de medida provisória: nem a relativa à Mata Atlântica nem a Lei de Concessões. As leis importantes vieram todas como projetos de lei, para, democraticamente, serem debatidas, emendadas, apreciadas e votadas. De modo que, também por essa razão, V. Exª é muito bem recebida, recebida com respeito pela Casa do Congresso para a qual V. Exª foi eleita, que é o Senado da República. Por essa razão, em nome do meu Partido, dou-lhe as melhores boas-vindas, os melhores bons retornos, sabendo que a nossa Casa está enriquecida com a sua volta.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Agripino.

            Ouço o Senador Suplicy e, depois, o Senador Mercadante.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Marina, a minha voz quase voltou para que eu possa fazer este aparte! V. Exª mencionou que não fez algo de novo lá no Ministério, mas V. Exª transmitiu de maneira muito bela, na última Conferência Nacional do Meio Ambiente - Thiago de Mello ali estava -, que o importante era poder realizar um caminho de uma outra forma. E V. Exª, sim, sabe percorrer os caminhos de uma outra forma, ensinando tanto com a sua maneira sobretudo ética de ser. Nas últimas 24 horas, eu ouvi dois pronunciamentos extremamente belos e importantes para a vida do planeta Terra, e um me fez lembrar o outro. Ontem à noite, eu assisti ao vivo, pela televisão, ao pronunciamento do Senador Barack Obama após receber a incumbência de representar o partido Democrata nas próximas eleições americanas - alcançou o número de delegados que o faz, efetivamente, o candidato democrata às eleições nos Estados Unidos. Ele fez um pronunciamento que guarda muita relação com o de V. Exª quando aqui nos diz da importância de ouvir, conversar e procurar somar esforços com todas as pessoas, com todos os partidos, com todos os movimentos, e mesmo de conviver, como V. Exª aprendeu a fazer no meio da floresta, tanto com o lobo como com o cordeiro. Meus cumprimentos. E também uma palavra de cumprimento ao Senador Sibá Machado, que aqui soube tão bem honrar o seu mandato.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Suplicy.

            Aloizio.

            O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senadora Marina, Ministra Marina, a reação deste Plenário demonstra o respeito, a credibilidade, o reconhecimento de sua trajetória por parte de Senadores e Senadoras de todos os partidos, não apenas nesses cinco anos, tão ricos em termos de experiência de vida, de atitude política e de contribuição para o Brasil, mas por uma história que começou muito antes disso. Nesses trinta anos em que eu dediquei a minha vida a construir o PT, em todos os momentos mais difíceis e em momentos alegres, V. Exª esteve presente, desde quando éramos um pequeno sonho - e hoje somos um Partido que governa o Brasil, com um Presidente reeleito. Na Esplanada dos Ministérios, a sua presença, como mulher, como uma mulher da Amazônia, com a história de vida que representa, com a credibilidade que construiu antes mesmo de chegar ao Ministério, enriquecia este Governo, dava uma pluralidade, dava uma diversidade essencial às políticas públicas. Eu entendo que a experiência acumulada nesses cinco anos foi fundamental, como foi bem colocado hoje, para estabelecer uma agenda ambiental para o Brasil. O tema da Amazônia, para mim, vai ser o tema mais importante da nossa política externa nas próximas décadas ou mesmo ao longo deste século. Vai ser um tema absolutamente decisivo, assim como o desafio de compatibilizar desenvolvimento, emprego, renda e inclusão social com preservação ambiental também será. Agora, daqui do Senado, tenho certeza de que essa experiência, essa sensibilidade, essa competência, vão continuar ajudando o Brasil e o Governo a perseguirem essa agenda estratégica e a realizarem essas política públicas. Termino dizendo que o lobo e o cordeiro convivem na floresta, mas não dá para fazer acordo em torno de cardápio, porque o cordeiro come grama, e o lobo come cordeiro, e é assim na vida pública. Nós, seguramente, saberemos distinguir lobos e cordeiros na construção de um país diferente, respeitando a diversidade da democracia, mas definindo um campo claro de atuação. Termino dizendo o seguinte: os cargos, às vezes, apequenam as pessoas; outras vezes, fazem com que se agigantem. Acho que V. Exª soube crescer nessa experiência e sai maior do que entrou, mas continua sendo a mesma combativa companheira militante da causa ambiental no Brasil. Parabéns.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Aloizio. A comparação entre lobo e cordeiro é porque, na linguagem da natureza, não há preconceito contra o lobo nem contra o cordeiro. É por isso que é possível fazer a metáfora, se não fosse assim, ela não seria positiva.

            Estou fazendo aqui uma intercalação por minha própria conta. Então, agora tem a palavra o Senador Raupp; depois, Senador Tião; depois, Senador Tasso; depois, Senadora Fátima Cleide, Senadora Lúcia e Senador Casagrande.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Nobre Senadora, Ministra Marina Silva, V. Exª já fez história, e o futuro e a história vão fazer justiça com V. Exª. Eu não posso reclamar, porque todos os grandes projetos, todos os grandes empreendimentos do meu Estado não ficaram sem licença, e tudo aquilo que V. Exª combateu foi estritamente dentro da lei. Inclusive, com relação à questão do desmatamento, eu e mais uma série de entidades de Rondônia, de autoridades, estamos lançando uma proposta de desmatamento zero e, por incrível que pareça, hoje há uma verdadeira cruzada no Estado de Rondônia: todo mundo apoiando o desmatamento zero. É isto que eu entendo que temos de fazer: flexibilizar um pouco os projetos, aquilo que já foi desmatado, mas, daqui para frente, nós precisamos combater, com todo o rigor, o desmatamento na Amazônia. V. Exª sempre esteve certa, e é por isso que eu digo: a história e o futuro vão fazer justiça com V. Exª. Parabéns.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Senador Tião.

            O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Cara Ministra Marina, a alegria é enorme em acolhê-la nesta Casa que lhe quer tão bem e lhe tem tanto respeito. Seguramente, quando falo aqui, falo em meu nome, de Binho, de Jorge Viana, de Angelim, de Edvaldo Magalhães, de César Messias, de todos aqueles companheiros do Acre que gostariam de estar aqui neste momento de acolhida de sua presença no Senado Federal. V. Exª começou fazendo um leque amplo de agradecimentos. Eu julgo muito importante esse gesto, porque eu aprendi com o meu pai que o sentimento mais difícil, e talvez o mais bonito, seja o da gratidão. E quando V. Exª faz esse amplo leque de agradecimentos e cita, entre tantos, o Presidente Lula, demonstra muita grandeza, demonstra consideração a um momento da história do Brasil, um momento de um processo histórico bonito e desafiante que nós estamos vivendo e que precisa de uma resposta mais ousada do Estado brasileiro e da sociedade brasileira. V. Exª percebeu essa evolução do processo histórico.

            Houve a criação da Reserva Chico Mendes, no Governo do Presidente Sarney; foi criado o Ibama, foram demarcadas as terras dos Ianomâmis mais atrás um pouco; o Presidente Fernando Henrique ampliou a área de reserva de 50% para 80%; os indicadores mostraram os avanços e as derrotas da luta ambiental. A sua gestão junto ao Governo assegura unidade de conservação de mais de 10 milhões de hectares para a Amazônia e a presença da autoridade moral impondo a responsabilidade de um modelo de desenvolvimento sustentável. Isso é motivo de muito orgulho para todos nós, porque o Brasil não tinha, tenho certeza, até sua gestão no Ministério do Meio Ambiente, a percepção de que somos felizardos em ter um jardim de Deus dentro do nosso País, que é a nossa Amazônia. V. Exª colocou a Amazônia na agenda ambiental brasileira. O Brasil incorporou aquilo que era percebido por alguns países. E um olhar simples diz: a responsabilidade ambiental do vai e vem da política ambiental é toda do Governo Federal, foi apenas da Marina? Não. Os lixões dos Municípios, o rio Tietê nas políticas estaduais e municipais, os desaguadouros das fábricas neste Brasil são responsabilidades muito maiores e não apenas do Ministério do Meio Ambiente. V. Exª conseguiu afirmar a importância de uma agenda que chamasse à responsabilidade o Brasil para o desafio da política ambiental que nós temos que conviver. Então, fiquei muito, muito orgulhoso com esse trabalho, acho que o Brasil despertou para um momento atual do seu destino. Agradeço mesmo essa oportunidade que o Presidente Lula deu de reconhecer que, do coração da floresta amazônica, das cabeceiras dos rios, escolheu o melhor nome para gerir a política ambiental. Tenho certeza de que o Ministro Minc está à altura do desafio de suceder V. Exª. Então, nossa gratidão, apreço e admiração.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Obrigada, meu amigo e companheiro, Senador Tião Viana.

            Ouço o Senador Tasso Jereissati.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senadora Marina, eu gostaria de começar dizendo que discordo da declaração de um assessor de V. Exª de que o Ministério do Meio Ambiente era de segunda categoria. Acho que V. Exª já marcou sua presença na história brasileira quando, ao ser escolhida para esse Ministério, de uma maneira definitiva, colocou o tema ambiental na primeira página, na primeira linha da agenda nacional, e com sua saída consolidou esse Ministério. Portanto, eu quero dizer que é com muita honra que recebemos V. Exª de volta a esta Casa, como uma personalidade política, pública, que fez história neste País com essa passagem no Ministério. Quero parabenizá-la por isso tudo, agora mais ainda pelo seu pronunciamento. Citando o que V. Exª disse - V. Exª é uma bela figura, V. Exª passa isto: há que endurecer, mas sem perder a ternura, mas, ao contrário, como V. Exª disse, é densa, não é dura, é terna e passa um espírito público enorme, muito importante nesta Casa nos dias de hoje. Seja muito bem-vinda.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Tasso Jereissati.

            Senadora Fátima Cleide, depois o Senador Paim, Senadora Lúcia Vânia - a vizinhança está aqui quebrando as formalidades.

            Senadora Fátima Cleide.

            A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Marina, queria, sem ser repetitiva, dizer também da honra, da alegria e do orgulho de tê-la de volta à nossa bancada nesta Casa. Da mesma forma que V. Exª iniciou o seu pronunciamento, fazendo agradecimentos, gostaria de agradecer também. Lembro-me de que, em 1998, quando fui candidata pela primeira vez ao Senado Federal, V. Exª foi ao Estado de Rondônia me ajudar na campanha. Eu falava: “Minha companheira Marina, dificilmente vou conseguir”. E você me disse - com licença da aproximação, mas a nossa amizade vem de muito tempo, da nossa luta -: “Olha, lá no Acre, eu concluía os meus discursos para a candidatura ao Senado dizendo ‘avisa lá que eu vou’ ”. E aquilo me deu uma força imensa e me fez compreender o potencial que havia também em mim, como liderança política, mesmo sendo uma professora, mesmo sendo uma beiradeira do rio Madeira. Foi em você, em muitos momentos, que a gente se espelhou dentro daquele Estado de Rondônia, com todas as adversidades políticas, culturais, sociais que existem naquele pedaço de chão, para buscar forças e sobreviver na política local. Então, quero também agradecer a V. Exª pela figura forte que representa para todos aqueles que têm orgulho de ser amazônida. Foi muita gente, não foram poucas as pessoas que sentiram uma imensa dor pela sua saída do Ministério do Meio Ambiente, mas todos e todas compreendendo que ali se havia encerrado um ciclo e que o seu retorno para o Senado Federal representava não o que alguns plantaram e quiseram fazer crer neste País, um enfraquecimento da luta em favor do desenvolvimento sustentável e do meio ambiente da Amazônia, mas, sim, uma oportunidade de, com V. Exª aqui, termos um fortalecimento de todas essas lutas. Quero dizer, Ministra - V. Exª será sempre a nossa querida Ministra do Meio Ambiente -, que, em Rondônia, naquele pedaço de chão que aqui represento, muita gente, mas muita gente mesmo se solidarizou com a sua decisão de sair do Ministério e vir para cá reforçar a nossa luta. Diferente do que se propagou na mídia, não foram todos os rondonienses, homens e mulheres rondonianos, que celebraram ou festejaram a sua saída do Ministério, muito pelo contrário. Como bem informou aqui o Senador Valdir Raupp, é grande, muito grande o número de pessoas naquele Estado que admiram a sua pessoa, que a parabenizam pelo seu trabalho, pelo enfrentamento feito para que todos nós, habitantes da nossa querida Amazônia, pudéssemos ter os nossos problemas, os nossos desafios pautados pelo Brasil, não apenas como fornecedores de recursos naturais, mas também como merecedores de cidadania brasileira. E você tem aqui, neste momento, um papel muito importante: o de ser não apenas co-autora, mas principalmente ser a protagonista da defesa das questões da Amazônia, do meio ambiente, do nosso País. E quero dizer que estarei sempre ao seu lado também como uma co-autora nessas lutas para implementar aquelas políticas que entendemos ainda estão apenas se iniciando rumo ao desenvolvimento sustentável do nosso País. Seja muito bem-vinda, Senadora Ministra Marina! Nós a acolhemos aqui com muito carinho, com muita alegria e com muita esperança de dias melhores nesta Casa.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senadora Fátima Cleide.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senadora Marina Silva, com a permissão de V. Exª, vamos conceder três minutos para cada aparte. Sabemos que V. Exª merece, de todos os aparteantes, um depoimento mais longo, mas ainda temos a Ordem do Dia. Se V. Exª concordar...

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, V. Exª me permite? Tenho a impressão de que pronunciamento que tem valor simbólico, numa Casa que não pode viver só do dia-a-dia, tem peso. Comparo isso a quando saía daqui o Senador Capiberibe. Não tinha como impedir que S. Exª se defendesse à farta. É a volta de uma figura que tem peso simbólico na sociedade, e temos a noite toda, o dia inteiro, a madrugada inteira.

            Deleito-me em ouvir a Ministra, e olha que sou adversário dela! Imaginem seus aliados!

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Então, vou apelar para a consciência de cada um.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Então, vamos ficar na consciência.

            Senadora Lúcia Vânia; depois, Senador Paim; depois, Senador Jefferson.

            Estou tentando manejar aqui!

            A Srª Lúcia Vânia (PSDB - GO) - Senadora Marina, esta Casa viveu, esta tarde, um dos momentos mais bonitos a que assisti desde que aqui cheguei. Confesso a V. Exª que seu discurso me emocionou, principalmente porque muitos têm um discurso democrático, bonito, mas, quando vão para a prática, esse discurso se desfaz. V. Exª, hoje, aqui, pôde dar verdadeiro exemplo de prática democrática, a começar pelas diretrizes estabelecidas no seu Ministério, quatro diretrizes que V. Exª foi costurando tranqüilamente, baseada na sua trajetória. V. Exª teve preocupação em dividir a responsabilidade com os outros, dividi-la com os outros Ministérios, dividi-la com a sociedade. Principalmente me chamou a atenção o fato de V. Exª buscar na cumulatividade de conhecimentos e de práticas anteriores o valor para prosseguir e fazer o “delta a mais”, como V. Exª bem colocou no seu discurso. Portanto, hoje, o que pude ver aqui foi um discurso não de uma pessoa que busca defender um partido, mas que coloca o partido e as pessoas - principalmente as pessoas - no lugar, para que vejam seu papel, seu trabalho e para que vejam, lá em cima, o Brasil, como o ponto máximo que devemos atingir. É o exemplo do espírito público, é o exemplo da dignidade, do caráter e da ética. Parabéns a V. Exª, parabéns a esta Casa, que a recebe com tanto carinho nesta tarde! Muito obrigada.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senadora Lúcia Vânia.

            Senador Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senadora Marina, de forma muito rápida, quero destacar aqui três momentos. Primeiro, quero dizer que V. Exª, com certeza, há de orientar nossa posição de forma permanente em relação à questão ambiental. Tenho certeza de que essa posição não é só minha; eu diria até que é da maioria dos Senadores. Segundo, tive a liberdade de, da tribuna do lado esquerdo, ler a carta do Frei Betto a V. Exª. Nessa carta, há três passagens que quero repetir aqui. Primeiro, quando ele disse que seu coração tem os contornos do Acre; segundo, quando ele disse que seu sangue representa a água caudalosa dos rios; e, terceiro, quando ele disse que V. Exª representa a índia, a cabocla, a mulher que tanto orgulha nossa querida Amazônia. E termino dizendo que esta Casa há de desobstruir hoje - pelo menos esta é a vontade de todos os líderes - a pauta. E, numa homenagem a V. Exª, haveremos de aprovar aqui, hoje, no momento da desobstrução - porque todos os líderes já assinaram -, a anistia definitiva a João Cândido, o Almirante Negro, projeto de sua autoria que aprovamos na Câmara, voltou com uma pequena emenda, mas foi mantido na íntegra. O Almirante Negro vai ser homenageado hoje, mais uma vez, por uma obra da nossa querida Senadora Marina Silva. Muito obrigado.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Paim.

            Concedo um aparte, agora, ao Senador Jefferson Praia e, em seguida, ao Senador Casagrande, ao Senador Azeredo e ao Senador Tuma. Vou ver se consigo ouvir todos os apartes.

            O Sr. Jefferson Praia (PDT - AM) - Senadora Marina, obrigado. Eu gostaria de agradecer a V. Exª as palavras de apoio na sessão de ontem. Tenho certeza de que as palavras proferidas por V. Exª foram ditas em consideração à amizade e ao respeito que V. Exª tem pelo nosso grande Senador Jefferson Péres. Ressalto também que a presença de V. Exª, neste momento, nesta augusta Casa, é muito importante, pois precisamos ressaltar a questão ambiental para que todos nós, deste Parlamento e do Brasil, percebamos o quanto essa questão é relevante. Fico feliz quando V. Exª aborda questão relacionada à forma correta de fazermos o desenvolvimento, que percebemos o quanto é importante, que é o desenvolvimento sustentável, mas, infelizmente, alguns ainda não têm a percepção deste termo “desenvolvimento sustentável”, que buscamos para nosso País e para nossa Amazônia. Seja bem-vinda, Senadora Marina! Muito obrigado.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Jefferson.

            Concedo um aparte, então, ao Senador Casagrande.

            O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - Obrigado, Senadora Marina Silva. Naturalmente, estamos apressados para a votação, mas acho que o discurso de V. Exª, neste seu retorno, é simbólico. É importante a manifestação nossa, dos líderes, dos representantes partidários neste momento. Quando V. Exª era Senadora, eu não estava aqui como Senador ainda. Então, não tive oportunidade de conviver com V. Exª como Senadora da República. Só tive a chance de conviver com V. Exª na condição de Senador, e V. Exª, como Ministra. Mas seu retorno é importante para nós, aqui, no Senado. Estamos debatendo uma pauta ambiental, uma pauta de desenvolvimento sustentável, uma pauta permanente, como foi mencionado no seu discurso. O tema ambiental hoje - que não é um tema mais estanque na questão da preservação e da proteção, mas também na relação com a questão econômica, com a questão social - é mais amplo, é um tema que está permanentemente colocado na agenda da sociedade brasileira e, conseqüentemente, aqui. Minha saudação a V. Exª, muito rapidamente, é para dizer da minha alegria de que nós, que estamos hoje debatendo questões como mudanças climáticas; nós, que estamos debatendo assuntos como o desmatamento; nós, que estamos debatendo a questão dos recursos hídricos, teremos mais uma parceira qualificada, com conhecimento, com vivência, com experiência para colaborar no debate aqui, no Senado. Perdemos uma grande Ministra, mas, com certeza, estamos ganhando uma grande Senadora, que continuará militando nessa área ambiental. Seja bem-vinda!

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Casagrande.

            Senador Azeredo.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senadora Marina Silva, quero aqui também me associar aos nosso colegas na sua volta a este plenário e dar meu testemunho de que, nas vezes em que a procurei, mesmo sendo um parlamentar de oposição, sua forma de nos atender foi correta, atenciosa, buscando o interesse público. É o testemunho que trago. E espero que, na sua volta, possamos continuar defendendo essas questões da área ambiental. Sou o responsável pela criação do ICMS ecológico em Minas Gerais. V. Exª tem um projeto aqui, para que possamos ter algo semelhante, um FPM ecológico, alguma coisa que venha dentro da reforma tributária. Que possamos unir esforços para que, do ponto de vista legislativo, isso acabe se materializando. É evidente que muito ainda precisa ser feito na questão ambiental brasileira, mas não há dúvida de que sua passagem foi realmente muito profícua, foi muito proveitosa, e quero cumprimentá-la nesse retorno ao Senado.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Azeredo.

            Senador Tuma. Em seguida, Senador Antonio Carlos Júnior; depois, Senador Flexa; depois, Senador Pedro Simon; depois, Senador José Sarney; e, depois, Senador Cafeteira.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Senadora Marina, eu acredito que as melhores palavras seriam boas-vindas. Com a sua alma e a sua bondade, V. Exª retorna a esta Casa - um retorno relativo, pois tenho certeza de que, quando a senhora foi para o Ministério, deixou uma parte sua aqui, porque a ponte continuou igual. Nós sempre tivemos oportunidade de seguir a sua orientação nos projetos de interesse da preservação do meio ambiente e de tudo aquilo por que realmente V. Exª lutou em toda a sua formação, em sua vida. Quando Diretor da Polícia Federal, estive algumas vezes no Acre, Senadora, e chefiei algumas diligências para apurar e prender o responsável pela morte de Chico Mendes. Já àquela época, sem conhecê-la, ouvi, em Xapuri, o nome de V. Exª como o de uma grande defensora, seguidora e provável substituta de Chico Mendes na luta pela preservação daquela região. Acredito que o Sibá procurou fazer um bom trabalho ao substituí-la nesta Casa, enquanto a senhora permanecia no Ministério. Eu gostaria de homenageá-lo neste momento, porque tivemos uma boa ligação durante a presença dele aqui nesta Casa. V. Exª conduz com doçura os seus projetos, sem radicalismos, até no enfrentamento dos grandes obstáculos que foram colocados à sua frente. V. Exª sempre soube enfrentá-los sem se curvar, sem covardia, e com uma valentia natural da mulher que viveu nos seringais. Acredito que V. Exª, eu disse uma vez e vou repetir com todo respeito, é uma árvore que não há serra que consiga derrubar. Que Deus a abençoe! Tenho certeza de que, com a espiritualidade e com os conhecimentos de V. Exª nessa área, nós teremos um comando bastante grande para seguir na preservação do meio ambiente.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Romeu Tuma.

            Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Querida Senadora, não nego que sinto uma imensa sensação de alegria ao ver V. Exª aqui. Sei que, de certa forma, é egoísmo da minha parte, porque o Brasil perde muito com a saída de V. Exª do Ministério, mas nós vivemos uma hora tão difícil aqui, um vazio, inclusive com a morte do nosso querido Jefferson Péres, que a vinda de V. Exª dá um alento muito grande a esta Casa. Fico emocionado por ver a grandeza com que V. Exª largou o Ministério. V. Exª marcou uma posição e todos reconheceram a sua altivez e a sua categoria. A sua carta foi perfeita: agradece o Presidente por aquilo que ele permitiu que a senhora fizesse à frente do Ministério e diz que a sua missão está cumprida. O fato de enviar a carta, quem quis entender entendeu, mas, a quem imaginava que V. Exª haveria de trazer alguns fatos que podiam ter feito V. Exª discordar do Governo, V. Exª, com muita altivez e com muita categoria, traz os fatos que são, realmente, muito importantes: o que a senhora pôde fazer e pôde realizar no seu Ministério. Eu não nego a V. Exª: no início, eu estranhei, estranhei quando, às vezes, as decisões que eram tomadas não eram bem aquilo que eu conhecia ser a vontade de V. Exª. Depois é que fui entender. Eu fui à tribuna pedir desculpas quando a imprensa publicou o debate de V. Exª, a luta de V. Exª, as divergências que V. Exª tinha de ter, e tinha, e a capacidade de lutar, de resistir, muitas vezes tendo de encontrar um denominador que não era exatamente o que V. Exª queria. Mas a categoria com que V. Exª agiu merece muito respeito. Não há dúvida nenhuma do que se disse, que V. Exª estava no Ministério menos por vontade do Lula e mais por medo de que V. Exª saísse do Ministério candidata ao Prêmio Nobel da Paz, ganhasse o prêmio e, aí, dissessem: “E o Presidente botou fora alguém que ganhou o prêmio!”. Mas é uma demonstração real, porque o mundo inteiro reconhece o seu trabalho. Reconhece o seu trabalho. Se V. Exª não teve possibilidade de, lá, no Ministério, continuar o seu trabalho, eu acho que aqui V. Exª tem uma posição diferente daquela que V. Exª tinha. Aqui, V. Exª poderá ajudar ainda mais o Presidente Lula e, me atrevo a dizer, poderá ajudar ainda mais a Amazônia. Com a capacidade, com o conhecimento com que V. Exª representa, hoje, perante o Brasil e perante o mundo, a causa da Amazônia, V. Exª poderá nos orientar, poderá nos levar para o caminho, poderá falar - e tenho a convicção de que praticamente em nome de toda a Casa - o que temos de fazer pela nossa Amazônia. Todos a queremos, todos a amamos, todos a desejamos, por que nós não encontramos um denominador comum? V. Exª, a partir de hoje, é a nossa grande representante, é a nossa grande condutora, e tenho certeza de que, para a resposta a esse debate que o mundo está travando com relação à Amazônia, nós, tendo V. Exª à frente, haveremos de encontrar o caminho. É uma alegria e uma emoção muito grande. Eu me sinto muito melhor agora, com V. Exª nesta Casa.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador e amigo Pedro Simon.

            Concedo um aparte ao Senador Antonio Carlos Júnior.

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA) - Senadora Marina, é com muita alegria que nós vemos o seu retorno a esta Casa. V. Exª sempre foi uma Senadora atuante, uma Senadora que lutou bastante pelos seus princípios, pela Amazônia. Foi firme e foi coerente na sua atuação no Ministério. O Senado, com certeza, vai, com o seu retorno, ganhar um grande reforço para as discussões que nós teremos pela frente dos grandes temas nacionais. Então, saudamos a volta de V. Exª.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Antonio Carlos Junior.

            Concedo um aparte ao Presidente José Sarney.

            O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Senadora Marina Silva, V. Exª é uma figura humana comovente. Acho que as idéias são importantes, mas precisam de pessoas para que possam existir e V. Exª alia a esta formidável figura pública uma figura humana extraordinária. Desde que V. Exª chegou aqui, recebeu sempre de minha parte o maior carinho - com a minha idade, já posso dedicar esse carinho todo - e também uma grande admiração. São esses mesmos sentimentos que eu, hoje, renovo, com a presença de V. Exª uma vez mais em nossa Casa.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Presidente José Sarney. Foi o senhor quem me estimulou a ler Padre Antônio Vieira, e o estou lendo religiosamente.

            Concedo um aparte ao Senador Flexa Ribeiro.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Ministra Marina Silva, é uma alegria recebê-la de volta ao Senado, não por ter deixado o Ministério, mas pelo enriquecimento que V. Exª trará ao debate sobre o meio ambiente como um todo, em especial sobre a nossa querida Amazônia. Tive a oportunidade de estar com V. Exª, como Ministra, por várias vezes. Temos a consciência de que todos nós convergimos quanto ao mérito do trabalho desenvolvido por V. Exª, pois queremos o desenvolvimento sustentável da nossa região. Talvez a forma de se fazer esse desenvolvimento possa ter caminhos diferentes, mas teremos oportunidade, Senadora Marina Silva, com a presença de V. Exª no plenário da Casa e nas Comissões, de debater mais profundamente as propostas que tramitam no Congresso sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia. V. Exª sabe, ao longo desses três anos e meio, das oportunidades que tive para discutir com V. Exª o Projeto de Lei nº 6.424, de minha autoria, que não derruba uma única árvore na Amazônia, que não agride uma única árvore na Amazônia. Pelo contrário, trata-se de um projeto que traz a possibilidade da recuperação, pelo reflorestamento, das áreas já alteradas. Lamentavelmente, a mídia coloca o projeto como “Projeto Floresta Zero”. Então, vou ficar enriquecido com o debate que travaremos nas Comissões. Serei assíduo freqüentador do gabinete de V. Exª para poder aprender, para que possamos colocar as nossas propostas e convergirmos, como estávamos fazendo, ao final do ano passado, para um texto que, sem sombra de dúvidas, iria trazer o benefício da recuperação das áreas alteradas da nossa Amazônia. Parabéns a V. Exª! Seja bem-vinda! E que Deus continue lhe abençoando como sempre fez até aqui.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Flexa.

            Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora Marina, até no nome, “Marina” - quando eu era menino, ouvia aquela música do Dorival Caymmi -, a senhora já ganha. Mas passei a admirá-la influenciado, aqui, por sua irmã gêmea: Heloísa Helena. Heloísa Helena, como lhe descrevia bem! Elogiava-lhe os méritos, que hoje todo o Brasil reconhece. Mas quero trazer aqui a gratidão do Piauí. Minha mãe, também religiosa como V. Exª, cristã, disse que “a gratidão é a mãe de todas as virtudes”. Então, quero agradecer, em nome do Piauí, a ação de V. Exª para a preservação da Serra Vermelha. Havia três biomas lá: caatinga, cerrado, mata atlântica, uma fauna extraordinária, e quiseram vender 200 mil hectares para um grande empresário do Sul para transformá-la em lenha e carvão. V. Exª agiu pela natureza, pelo povo e pela vida; também pela criação da Nuperade, em Gilbués. Gilbués é uma região - o Piauí tem 43% de semi-árido - desertificada pelo fenômeno do garimpo, e V. Exª criou o instituto lá, para melhorar e estudar. Pessoalmente, tive uma audiência com V. Exª, e a orientação de V. Exª, respeitando a natureza, mas vendo que o homem é superior a tudo, ajudou os carcinicultores do litoral do Piauí. Muito obrigado! E Deus, o nosso Deus, que lhe abençoe aqui, e seja feliz!

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT-AC) - Muito obrigada, Senador Mão Santa.

            Concedo o aparte ao Senador Sérgio Guerra.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Ministra, Senadora Marina Silva, temos, há algum tempo, uma certa convicção aqui: a de que a questão ambiental é a questão relevante do Brasil hoje. De todas, é a questão que mais sintoniza, do ponto de vista geral, o caminho do País. O país que tem auto-estima, que valoriza seu povo, necessariamente tem de valorizar o meio ambiente. Fora disso, o que se pode denominar política progressista, ou política de esquerda, se preferirem, não tem conteúdo, porque é exatamente o equilíbrio com os recursos naturais do desenvolvimento econômico que pode produzir, da perspectiva moderna, verdadeira justiça social e programas de desenvolvimento sustentáveis. Sempre tivemos a certeza de que, do ponto de vista do Governo, essas políticas estavam sob comando responsável, comando honesto, comando seguro, comando firme, comando pautado pela convicção e pelo interesse do povo e do País. Então, sentimos, refletimos muitas vezes sobre a sua participação no Governo, e sempre compreendemos que, concordando ou não com todas as ações que foram desenvolvidas no seu Ministério, do ponto de vista da confiança no País, o Brasil estava seguro com a sua manutenção e a sua posição no Ministério do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, V. Exª volta ao Senado em um momento crítico para o País, especialmente nesse ambiente da discussão da questão ambiental e da Amazônia em particular. A nossa convicção - eu já ouvi isso de alguns companheiros Senadores hoje - é que, se tivermos juízo - e teremos -, em uma questão que está acima dos partidos, rigorosamente estaremos sob a orientação, sob a inspiração do seu trabalho de líder, no Brasil, da defesa de interesses verdadeiros do País e do seu povo. Por isso, e por outras razões, seguramente, terá a nossa compreensão e a nossa solidariedade.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senadora Marina Silva, com a permissão de V. Exª, quero fazer um apelo as Srªs e aos Srs. Senadores, para que possamos iniciar a Ordem do Dia dentro de mais 15 minutos. Será possível isso? Com a permissão de V. Exª, é claro.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Estamos manejando. Muito grata pela sua compreensão, Sr. Presidente, e pelo seu esforço de podermos viver esse momento.

            Concedo o aparte ao Senador Valter Pereira.

            O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Senadora Marina Silva, tenho, aqui, uma dúvida: não sei se o Presidente Lula perdeu ou se foi o Senado que ganhou. Talvez tenha sido as duas coisas; é o mais provável. A verdade é que, no tempo em que V. Exª esteve frente ao Ministério, era quase unanimidade a convicção de que V. Exª estava exercendo a sua função com a maior autenticidade, com o maior amor à causa que sempre abraçou. Portanto, o que tenho a lhe dizer? Tenho a lhe dizer que V. Exª vem aqui para a alegria de todos. V. Exª esteve bem representada durante a sua ausência. O Senador Sibá Machado exerceu com brilho a suplência do Senado Federal na ausência de V. Exª. Mas, V. Exª, no momento em que volta com toda a autoridade, que se ampliou durante o período em que exerceu com autenticidade o Ministério, é motivo de grande alegria o seu retorno a esta Casa. Tenho a certeza de que contribuirá para a causa que abraçou com tanto entusiasmo, que é a causa de todos nós: a causa ambiental. Bem-vinda a sua Casa; bem-vinda ao Senado Federal, Ministra!

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador.

            Ouço o Senador Geraldo Mesquita.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Querida amiga Senadora Marina, Ministra Marina, o Senador Arthur Virgílio estava coberto de razão: V. Exª merece que fiquemos aqui horas e horas saudando V. Exª, e o retorno de V. Exª ao Senado. Até porque Senadora, ao interrompermos as nossas falas de saudação a V. Exª, vamos nos debruçar e apreciar medidas provisórias nesta Casa, que é um assunto que ninguém mais suporta no Senado Federal. Tem razão também a Senadora Lúcia Vânia quando exalta o espírito democrático de V. Exª. V. Exª tem a firmeza daqueles que têm o efetivo espírito democrático, ao contrário de alguns que tentam exalar essa concepção, mas, na verdade, chegam a ser truculentos porque se acham donos da verdade. V. Exª é muito diferente, não se enquadra nesse perfil. Estamos aqui saudando V. Exª e, por mim, entraríamos noite adentro, porque é algo de fundamental importância saudarmos alguém que marcou presença neste governo ao de expandir o seu reconhecimento nacional e mundial, o que V. Exª já tinha. Mas com sua atuação no Ministério do Presidente Lula, V. Exª levou essas fronteiras para muito longe do nosso País. É com legítima alegria, pode crer, Senadora Marina Silva, que passo a conviver com V. Exª nessa Casa. Não sei se V. Exª se recorda, mas logo que assumimos e V. Exª foi para o Ministério, pedi uma audiência a V. Exª. Seu pessoal me perguntou qual era o assunto, e eu disse que era pessoal. E, ao chegar no Ministério, vi a sua fisionomia querendo saber o que eu tinha ido ali tratar, qual era o assunto. E eu disse: Ministra Marina, vim aqui apenas lhe dar um abraço. Lembra? Portanto, manifesto a minha alegria em saber que, agora, ao querer lhe dar um abraço, é só me movimentar poucos passos e estarei ao seu alcance. Seja bem-vinda, Deus a abençoe e que faça com que V. Exª continue a brilhar nessa Casa, no País e no mundo. Meus parabéns.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Geraldo Mesquita.

            Concedo um aparte ao Senador Alvaro Dias e, depois, ao Senador Flávio Arns.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senadora Marina Silva, também estou na fila.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senadora Marina Silva, também quero saudar o retorno de V. Exª, manifestar a satisfação de tê-la outra vez nessa Casa e dizer que o tema da preservação ambiental certamente pode estabelecer uma convergência de muita eficiência entre oposição e governo, porque a preservação ambiental é uma necessidade inadiável. Quem preserva o meio ambiente oferece uma permanente lição de amor à vida. E o difícil, Senadora Marina Silva, é exatamente compatibilizar os interesses do progresso econômico com a inadiável necessidade da preservação ambiental. E, pela experiência adquirida do outro lado do balcão no Poder Executivo, certamente V. Exª agrega valor essencial para sua atuação parlamentar doravante nessa área e no debate desse tema e, sobretudo, na análise de proposituras que dormitam no Congresso Nacional há tanto tempo e que procuram buscar uma legislação competente capaz de eliminar as dúvidas que perduram e os impasses que prevalecem entre aqueles que querem produzir, a qualquer preço, e aqueles que querem preservar também a qualquer preço. Portanto, a presença de V. Exª aqui no Congresso Nacional, especialmente no Senado, é da maior importância.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Obrigada, Senador Alvaro Dias.

            Concedo um aparte ao Senador Flávio Arns.

            O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Senadora Marina Silva, também quero me associar a todos e todas quantos já se manifestaram para lhe dar as boas-vindas ao Senado Federal. O Senado Federal ganha, sem dúvida alguma, o Executivo perde, também com certeza, mas de qualquer forma o Brasil, a Amazônia, o debate sobre meio ambiente sai sempre ganhando com a sua presença. O que eu acho que é importante observar é que as manifestações que estão sendo externadas são de todos os Senadores e Senadoras dos vários partidos políticos, e isso indica também que quando a gente tem essa possibilidade de respeito, de diálogo, de entendimento, as soluções surgem com muito mais naturalidade, porque, quando todos pensamos no bem do Brasil, surgem com mais eficiência, com mais naturalidade todas as soluções. Então, esse é o exemplo que V. Exª continua dando para o Brasil, com a sua presença aqui que faz com que todos se unam para dizer: olhem, que bom, que trajetória bonita, que figura importante para o Brasil, que trabalho belo que foi desempenhado! Que respeito grande que todos nós temos pela sua trajetória e que continuemos assim, a favor do Brasil, a favor das boas causas, com muita união, com muito respeito, com muito diálogo. Parabéns a V. Exª.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Flávio Arns.

            Senador Marconi Perillo.

            O Sr. Inácio Arruda (Bloco/PCdoB - CE) - Senadora Marina, V. Exª poderia me escrever também para fazer aqui a saudação em nome do PCdoB?

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Está bom, Senador.

            O Sr. Marconi Perillo (PSDB - GO) - Senadora Marina Silva, há uma semana, o Senado chorava e lamentava o passamento do nosso querido Senador Jefferson Péres. Hoje, nós todos, suprapartidariamente, festejamos a sua volta a esta Casa. Se há uma palavra dentre tantas outras que possa simbolizar a atuação de V. Exª, quer no Parlamento, quer no Poder Executivo, quer no movimento sindical, no movimento popular, essa palavra é a coerência. V. Exª sempre foi uma ativista coerente. A maioria das pessoas fala muito, prega muito, mas pratica pouco, e V. Exª, ao longo de toda a sua trajetória de vida, sempre nos deu os melhores exemplos de coerência em relação aos fatos, às atitudes e especialmente em relação às idéias que V. Exª sempre defendeu e representou. Eu a admiro há muito tempo e tive o privilégio de ter sido Governador quando V. Exª Ministra do Meio Ambiente quando pude assistir, na prática, essas atitudes de V. Exª. Por exemplo, quando aquiesceu a um convite nosso para comparecer à abertura do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental na cidade de Vila Boa, em Goiás, e lá foi aplaudida de pé, porque mais uma vez V. Exª manifestava a convicção em relação às suas idéias, e demonstrava especialmente que praticava aquilo que sempre pensou e sempre defendeu. V. Exª colaborou com o nosso Governo, V. Exª foi intransigente na defesa dessas idéias, dialogou muito - sou testemunha disso -, não deixou de ser flexível naquilo que pudesse ser flexível, mas manteve-se firme em relação às suas convicções. O Brasil precisa de homens e mulheres na vida pública com o estilo de V. Exª, com a maturidade, a compreensão e, especialmente, repito, com a coerência e a altivez que V. Exª tão bem representa na atividade pública brasileira. Meus parabéns e minhas boas-vindas.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Marconi Perillo.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senadora Marina, com a permissão de V. Exª, eu quero avisar que faltam apenas três minutos para iniciar a Ordem do Dia.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Temos, ainda, o Senador José Nery, o Senador João Pedro, o Senador Magno Malta, o Senador Valadares.

            Senador José Nery.

            O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senadora Marina Silva, eu me associo a todos os nossos colegas que, nesta tarde, param o Senado Federal para prestar uma homenagem de reconhecimento pelo trabalho realizado à frente do Ministério do Meio Ambiente, mas uma homenagem também à sua vitoriosa trajetória, de menina seringueira do Acre, professora, militante das mais brilhantes das lutas sociais das duas últimas décadas. Lamentamos o fato de que alguns setores do Governo Federal não tenham compreendido na plenitude o sentido e a importância de suas idéias e de seus projetos. Perde o Governo; ganha o Senado Federal, o Parlamento e as entidades dos movimentos sociais ambientalistas, que agora poderão tê-la com menos impedimentos, com muito mais liberdade para a aliança em defesa do desenvolvimento sustentável, de um novo modelo de desenvolvimento para o País e para a nossa querida e amada Amazônia. Em meu nome, em nome do PSOL, em nome dos amazônidas, ribeirinhos, quilombolas, índios, pequenos agricultores, seringueiros, todos e todas que naquela grande região se sintonizam com a trajetória de vida e com a luta de V. Exª, parabéns. Presidente Garibaldi, há pouco presenciei o lançamento da Frente Nacional contra o Trabalho Escravo e em defesa da aprovação da PEC que expropria propriedades em que seja constatada a prática de trabalho escravo. Na Amazônia, desmatamento e crime ambiental associam-se com a prática criminosa do trabalho escravo. No retorno de V. Exª a esta Casa, sua Casa, saiba que, no período em que esteve no Ministério, V. Exª foi aqui muito bem representada, como foi bem representado o povo do Acre, pelo brilhante companheiro Senador Sibá Machado. Receba de todos nós a homenagem, o reconhecimento e a certeza de que seu retorno ao Senado fortalecerá a luta, no campo do Legislativo, em prol de um projeto de mudanças efetivas para o País e, principalmente, em defesa de um projeto de desenvolvimento sustentado para a Amazônia e para o Brasil. Parabéns! Muita vida, muita luta, muita vitória! Por toda sua trajetória, se existe uma palavra que simboliza essa caminhada é a vitória de uma militante social, com a mais completa consciência de humanismo e de...

(Interrupção do som.)

            O Sr. José Nery (PSOL - PA) - (...) de compromisso com a transformação. Parabéns. Estar ao seu lado nesta Casa é uma honra e um orgulho para o Senado Federal e para o Brasil. Muito obrigado.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Obrigada, Senador.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senadora Marina, com a permissão de V. Exª, lembro que V. Exª, para alegria nossa, está chegando, não está se despedindo. Muitos Senadores estão pensando que a Senadora Marina está se despedindo. É hoje ou nunca.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, um minuto para cada orador, e pronto. Ninguém é discriminado. Um minuto para cada orador, e ela responde de maneira breve.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Um minuto para cada orador, a partir de agora.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Está certo.

            Ouço o Senador João Pedro. Depois, Senadores Magno Malta, Antonio Carlos Valadares e Inácio Arruda.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senadora Marina, tem festa, principalmente lá no meu Município...

(Interrupção do som.)

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - No Estado do Amazonas, em meu pequeno município, Parintins, tem festa longa de despedida e tem festa longa de chegada, de boas-vindas. Eu me associo aos vários Senadores que registram seu regresso, sua volta ao Senado da República. V. Exª é uma Senadora que, nos últimos quatro, quase cinco anos, exerceu uma atividade no Poder Executivo, representando o Estado brasileiro. Exerceu com muita eficiência, com muito simbolismo a função de Ministra de Estado. V. Exª cumpriu um grande papel para o Governo Lula, para a sociedade brasileira, para o debate ambiental. Agora, V. Exª volta para o Senado e vai continuar travando grandes batalhas. É evidente que o Poder Executivo tem uma lógica, um timing, e o Senado tem outra lógica, outro timing, uma função específica, fundamental do Senado da República, mas a dureza do debate continuará.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador João Pedro...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Ganha o Senado, porque V. Exª é uma grande guerreira, tem um conhecimento acumulado, representa a nossa Amazônia, é uma das principais interlocutoras da Amazônia. E quando falo da Amazônia, estou falando dos povos indígenas, que, em muitos debates, não são compreendidos, não recebem a solidariedade...

(Interrupção do som.)

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - (...) que devem merecer. No Senado, V. Exª vai continuar travando o bom combate. E este é um combate duríssimo: defender os interesses nacionais, defender os povos da Amazônia, os ribeirinhos da Amazônia, defender essa grande biomassa, as potencialidades da Amazônia, esse imenso território que compõe o País. Seja bem-vinda! Digo o que é óbvio: V. Exª sabe da dureza de enfrentar e construir o debate ambiental, o debate territorial, o debate fundiário. Enfim, V. Exª é uma grande conhecedora do tema e orgulha o povo brasileiro, a Bancada do PT e os povos da Amazônia. Muito obrigado.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador João Pedro.

            Senador Magno Malta. Em seguida, os Senadores Antonio Carlos Valadares e Inácio Arruda.

            Sr. Presidente, estamos concluindo.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Senadora Marina, minha irmã Marina. Na verdade, não tenho por que me prolongar. Até porque a guerreira da Amazônia, a guerreira da defesa dos interesses do meio ambiente não só deste País, mas do mundo, já foi cantada, decantada e descrita por todos aqui. Mas guerreira também de outras lutas. Eu era Deputado Federal, lembro-me de V. Exª na sua luta por sua saúde. Hoje, V. Exª está bem forte. Naquela época, bem magrinha, naquela luta, ia todo dia à Câmara, buscando a liberdade do seu Acre, oprimido pelo crime organizado. Tive o prazer de constatar sua coragem para fazer aquele enfrentamento, naquele momento tão grave da vida do seu Acre querido. E tive o prazer de...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Foi quando pude conviver mais de perto e travar esta amizade forte, duradoura e significativa com V. Exª. Naquele momento, pude contribuir, e penso que aquilo selou a nossa amizade; foi um elo de confiança. Há também a fé que nos une e que tem pautado e fortalecido a nossa amizade. Estou feliz com sua volta a esta Casa. Sei que ainda há tempo para conviver mais de perto e aprender com sua sapiência, sua humildade, sua capacidade e sua simplicidade em saber tocar a vida. Seja feliz de volta à sua Casa! Estamos de braços abertos para caminharmos juntos.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Magno Malta.

            Senador Antonio Carlos Valadares.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senadora Marina, gostaria apenas de dizer que a presença de V. Exª no Ministério do Meio Ambiente...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - (...) levou, sem dúvida alguma, grandeza e dimensão ao Governo do Presidente Lula. E seu retorno ao Senado nos traz luzes, beleza e equilíbrio. Esta é a homenagem que quero fazer a V. Exª , com grande alegria pelo seu retorno.

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Antonio Carlos Valadares.

            Senador Inácio Arruda.

            O Sr. Inácio Arruda (Bloco/PCdoB - CE) - Senadora, somos quase conterrâneos, digamos. Esta é a turma do Ceará: com Inácio, já falou o Tasso, a Patrícia está aqui, está aqui o Geraldo. V. Exª também tem as raízes assentadas naquele torrão semi-árido. Mas o que quero destacar da atuação de V. Exª é que ela se dará em qualquer lugar, em Xapuri, em Rio Branco, no Acre, na Amazônia, no semi-árido, em qualquer região do Brasil, com as responsabilidades que hoje, querendo ou não, estão sobre os ombros de V. Exª. V. Exª é uma personalidade do Brasil, da América do Sul e do mundo. Essa é a responsabilidade. Às vezes, não temos como escolher; vamos cumprindo um papel. É isto que V. Exª cumpre hoje no nosso País e também, posso afirmar, no mundo: a responsabilidade de buscar o equilíbrio entre o desejo enorme de todos nós de fazer os nossos países se desenvolverem e de o povo ter qualidade de vida com a preservação da natureza, que é a supridora dessa qualidade de vida. O homem é parte dela; ele não tem como se separar. Acho que V. Exª tem essa simbologia forte, que se transforma em coisas concretas. Quero dar um único exemplo, para poder concluir. São dezenas deles: eu poderia argüir a questão da pesca no litoral nordestino, do norte brasileiro, que foi tratado com tanto zelo por V. Exª, mas quero tratar de uma luta histórica do povo nordestino, do povo potiguar, do povo alencarino, do povo pernambucano, do povo paraibano, especialmente do povo dessas regiões do Nordeste setentrional. Trata-se da famosa transposição do rio São Francisco, que nada mais era que a interligação de bacias. Íamos para o Ministério da Integração Nacional, e a turma dizia: depende do Meio Ambiente. E dependeu mesmo do Meio Ambiente. Foi o Ministério do Meio Ambiente que permitiu que se chegasse a um equilíbrio que permitisse o licenciamento e, assim, que uma obra que vem sendo reivindicada desde 1847 se transformasse em realidade. O bom senso, a tranqüilidade e a firmeza permitiram que aquele objetivo pudesse começar a ser alcançado. Acho que V. Exª tranqüilamente vai cumprir esta missão, junto com todos nós, de garantir desenvolvimento em equilíbrio com a natureza. Acho que esse é o caminho para nós brasileiros, para a América do Sul e mesmo para aqueles que devastaram todo o seu território e que hoje só reclamam que os outros devem preservar, como os europeus, os americanos e outros, principalmente. Parabéns! Bom regresso! V. Exª deixou aqui um grande líder da sua região, que foi Sibá Machado, que ajudou a todos nós em muitas tarefas, em muitas responsabilidades e também com muita firmeza na defesa das posições e do enfrentamento político aqui na Casa. V. Exª vem aqui, e todos a recebemos de braços abertos, sabendo que V. Exª vai ajudar-nos a cumprir as nossas responsabilidades aqui no Senado Federal. Muito obrigado.

            O Sr. Efraim Morais (DEM - PB) - Senadora Marina, só para também desejar a V. Exª as boas-vindas. Sabemos que a senhora não fez tudo o que queria, mas fez o que era possível no Ministério. Seja bem-vinda! O Senado ganha muito com a volta de V. Exª. Boa sorte!

            A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigada, Senador Efraim.

            Muito obrigada, Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves. De fato me penitencio, porque sei que V. Exª tem de zelar pelo cumprimento da pauta, das votações importantes que temos aqui. Não vou mais me alongar. Apenas quero agradecer à Casa a forma acolhedora com que sou recebida.

             Sei que esse acolhimento não significa a diluição das nossas diferenças, mas também sei que não significa a diluição daquilo que nos pode levar a convergências importantes em benefício do Brasil, do desenvolvimento sustentável. Não tenho dúvida de que a política é, cada vez mais, a arte de buscar aquilo que é o interesse comum, sem que isso signifique a diluição das diferenças, nem a fusão dos sonhos. As diferenças são muito boas e importantes; são elas que nos fazem crescer nesta capacidade que temos de democraticamente agir.

            Volto para esta Casa não com tristeza, mas com alegria de saber que aqui será um outro endereço para a mesma frente de batalha, para a realização do bom combate e da manutenção da fé na política, que deve ter, em primeiro lugar, como ponto de referência, uma ética que oriente a nossa prática e não apenas a idéia da prática, que muitas vezes nos leva a fazer com que o sonho seja diluído em pragmatismos. Os pragmatismos não são orientadores dos grandes projetos; são necessários do ponto de vista da realização das coisas, mas não somos as coisas; somos muito mais do que isso. E mesmo as coisas precisam ser feitas orientadas por valores. As coisas podem ser feitas orientadas por princípios. E, quando feitas assim, já não serão mais coisas; serão valores, princípios e terão muito mais da nossa identidade; terão a inscrição do nosso caráter cultural, civilizatório, político e ético.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2008 - Página 18219