Discurso durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relatório sobre missão parlamentar desempenhada por S.Exa. nos Estados Unidos da América, a fim de acompanhar as primárias na Pensilvânia, entrando em contato direto com o processo eleitoral dos EUA.

Autor
Virginio de Carvalho (PSC - Partido Social Cristão/SE)
Nome completo: Virginio José de Carvalho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Relatório sobre missão parlamentar desempenhada por S.Exa. nos Estados Unidos da América, a fim de acompanhar as primárias na Pensilvânia, entrando em contato direto com o processo eleitoral dos EUA.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2008 - Página 18557
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • BALANÇO, PARTICIPAÇÃO, DELEGAÇÃO, SENADOR, MISSÃO OFICIAL, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CONHECIMENTO, PROCESSO ELEITORAL, ENCONTRO, AUTORIDADE, REPRESENTANTE, PARTIDO POLITICO, JORNALISTA, ACOMPANHAMENTO, COMICIO, VISITA, COMITE, COMENTARIO, LEGISLAÇÃO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, CONTROLE, DIVULGAÇÃO, INTERNET, APLICAÇÃO DE RECURSOS, REGISTRO, OCORRENCIA, DEBATE, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, AMERICA LATINA, BRASIL.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, LEGISLATIVO, POLITICA EXTERNA, BRASIL.

O SR. VIRGÍNIO DE CARVALHO (PSC - SE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre os dias 19 e 25 de abril de 2008, integrei delegação do Senado Federal aos Estados Unidos da América. A missão foi composta, além de mim, pelos Senadores Arthur Virgílio e Adelmir Santana, e liderada pelo Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Senador Heráclito Fortes. Contamos com a preciosa colaboração do Consultor Legislativo Joanisval Brito Gonçalves. É desnecessário frisar a importância geopolítica e econômica dos Estados Unidos em contexto global, assim como a relação bilateral entre o nosso País e o gigante do norte. De outro lado, é reconhecido o caráter modelar das instituições democráticas estadunidenses. Assim, nada mais natural que se procure conhecer em profundidade o processo eleitoral norte-americano, neste momento determinante -- e talvez único! -- de sua história político-eleitoral. Em particular, interessa a nós a maneira como lá transcorrem as eleições primárias.

Cumprimos, Sr. Presidente, uma agenda intensa, coincidente com a realização das primárias na Pensilvânia, envolvendo a ida a quatro cidades em apenas cinco dias. Houve encontros com autoridades federais, estaduais e municipais, com representantes dos partidos e das campanhas, com analistas, jornalistas, professores e pessoas com interesse e conhecimento sobre o processo eleitoral.

Gostaria, portanto, Srªs e Srs. Senadores, de ofertar-lhes um modesto resumo dessas atividades em solo norte-americano.

Os primeiros dias da missão foram passados em Harrisburg, capital da Pensilvânia. A delegação pôde acompanhar um comício da pré-candidata democrata, Senadora Hillary Clinton, a qual recebeu os Senadores brasileiros com muita cordialidade, destacando a importância de nosso País no Hemisfério Sul. Relato que o Senador Heráclito Fortes convidou-a para voltar ao Brasil e visitar o Congresso e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal.

Em seguida, visitamos o comitê de campanha do pré-candidato Senador Barack Obama. A delegação reuniu-se com os Senadores Ted Kennedy e Bob Casey, ambos do Partido Democrata. O primeiro está no Senado desde 1962, um feito somente superado por outros dois Parlamentares na história do Senado norte-americano. É uma das principais forças políticas de seu partido e apóia a candidatura do Senador Obama. O segundo divide as forças democratas do Estado com o Governador Ed Rendell, que apóia Hillary Clinton.

No dia 21 de abril, nos encontramos com Abe Amoros, Diretor-Executivo do Partido Democrata da Pensilvânia. Foi-nos informado o temor pelo prolongamento da disputa interna. Já o ex-Governador da Pensilvânia Tom Ridge, cotado para vice do candidato republicano John McCain, ponderou que a disputa nas eleições gerais de novembro estará concentrada nos chamados swing states, Estados onde o voto para um determinado partido não está definido.

Em relação aos candidatos democratas, Ridge avaliou que Barack Obama dispõe de mais dinheiro, além de uma excelente oratória, mas seria inexperiente e excessivamente liberal. Hillary Clinton, ao contrário, seria mais experiente e moderada, com maior apoio ao centro do eleitorado. A impressão é a de que os republicanos prefeririam tê-la como adversária em novembro.

Um momento especial foi acompanhar o último comício da campanha da Senhora Clinton em Harrisburg, na véspera das primárias. A oportunidade foi única: acompanhar um evento dessa monta, avaliando a participação popular e o envolvimento dos políticos locais nos pleitos.

Em 22 de abril, a delegação seguiu para Pittsburgh. O primeiro encontro do dia foi com o jornalista Jon Delano, analista político da rede CBS. Delano recordou que a Pensilvânia é o Estado que envia a quarta maior delegação à convenção nacional democrata. Desde Abraham Lincoln, apenas dois republicanos ganharam as eleições gerais sem terem vencido no Estado.

Estimou que Hillary Clinton venceria na Pensilvânia por margem entre 5 e 8 pontos percentuais, mas afirmou que a Senadora não desistiria da campanha, independentemente do resultado. Segundo ele, nenhum dos pré-candidatos conseguirá os 2.025 delegados necessários para a indicação democrata até o final das primárias, dia 3 de junho, restando a decisão para os superdelegados.

Delano ressaltou que John McCain tem boas chances em novembro: é herói de guerra e tem reputação de político honesto. O problema são suas posições sobre a guerra no Iraque, economia e impostos. Considera que a eleição está aberta. Acha difícil uma chapa Clinton/Obama ou vice-versa, pois a escolha do vice-presidente nos EUA é prerrogativa do candidato. Em sua opinião, Obama precisa buscar alguém forte em política externa e defesa.

Respondendo a perguntas sobre financiamento de campanha, Delano afirmou que a legislação sobre “sobras de campanha” é muito rígida. Recursos arrecadados para eleição federal só podem ser utilizados em outra eleição federal. Arrecadação e gastos têm de ser publicados na Internet. Não há limite sobre quanto cada candidato pode arrecadar, mas há um limite para contribuições individuais. Destacou que Obama conta com base de doadores pela Internet de 1,2 milhão de pessoas. Perguntado sobre o colégio eleitoral, afirmou que as regras das eleições gerais só fazem sentido quando se tem em mente a própria história dos EUA.

À tarde, houve encontro com Jim Roddey, Presidente do Comitê Republicano do Condado de Allegheny. Roddey recordou que, até setembro, Clinton era a escolha óbvia, mas Obama, carismático e articulado, atraiu o eleitorado jovem. Em sua avaliação, caso Hillary Clinton perdesse na Pensilvânia, poderia ser forçada a se retirar da disputa. Caso ganhasse, prosseguiria até a convenção nacional, com o argumento de que saiu vencedora nos Estados grandes: Nova Iorque, Flórida, Califórnia, Texas, Ohio e Pensilvânia. O republicano foi franco ao afirmar que seus pares preferem enfrentar Hillary, mas acredita que o Partido terá um bom resultado também contra Barack Obama.

A delegação se encontrou, mais tarde, com Leslie Gromis Baker. Estrategista política e arrecadadora de fundos para o Partido Republicano, ela foi assessora para assuntos políticos do Presidente George W. Bush. Baker esclareceu questões sobre o processo eleitoral e a arrecadação de fundos para campanha.

Houve visita ao escritório de campanha de Barack Obama, em Pittsburgh. Foi possível ter a experiência do processo eleitoral a partir da perspectiva de um comitê local em um dia de eleição, com o engajamento dos eleitores e o vai-e-vem das lideranças do comitê.

Em 23 de abril, a delegação seguiu para a Filadélfia. O primeiro evento foi uma recepção que reuniu cerca de 50 convidados, entre representantes da comunidade brasileira e indivíduos e entidades com vínculos e/ou interesses no Brasil. Foi um momento de contato entre os Parlamentares e a comunidade brasileira da região, no efetivo exercício do que vimos chamando de “diplomacia parlamentar”.

Outro evento importante foi a mesa redonda com os senhores Joe Watkins, ex-integrante da Administração Bush; Joe Hoeffel, Vice-Presidente do Conselho de Comissários de Montgomery; Chris Sheridan, integrante da campanha da Senadora Clinton na Pensilvânia; e o Dr. Ted Goertzel, da Rutgers University. O debate se deu em torno de perspectivas democratas e republicanas. Tratou-se do futuro do país, das relações com o Brasil e dos cenários com a eleição de cada candidato. Os Senadores também puderam apresentar suas considerações sobre os destinos dos EUA e das relações com a América Latina e com o Brasil. Ficou clara a preocupação com o fenômeno do populismo e do autoritarismo no continente americano, além das relações de alguns desses países com nações tidas como “ameaças” pelos EUA.

A programação de 24 de abril, em Washington, D.C., foi marcada pelo encontro com o presidente do Comitê Nacional do Partido Democrata, Howard Dean. Acompanhou o evento o Embaixador brasileiro nos EUA, Antonio Patriota.

O último dia da viagem começou com uma reunião com o Senador Richard Lugar, líder da minoria na comissão de Relações Exteriores do Senado, uma das principais lideranças republicanas. Lugar assinalou as vantagens de John McCain para ocupar o cargo de Supremo Mandatário. Também contrapôs essa experiência no Senado e na política às lacunas de Barack Obama. O Senador demonstrou significativo conhecimento sobre o Brasil, a ponto de discorrer sobre questões pontuais nas relações entre nosso País e os EUA.

Falamos, também, com o analista político Michael Barone, do American Enterprise Institute. Profundo conhecedor do ambiente político estadunidense, Barone respondeu a questões apresentadas pelos Senadores e fez sua análise do processo eleitoral e das primárias.

Para encerrar a programação, foi oferecido almoço pelo Embaixador Antonio Patriota, na missão brasileira em Washington. O evento reuniu brasilianistas e autoridades estadunidenses. Houve interessante discussão não só sobre os destinos políticos dos EUA como também sobre as relações daquele país com o Brasil.

Sr. Presidente, o nobre Senador Heráclito Fortes tem usado, com freqüência -- e apropriadamente, a meu ver --, a expressão diplomacia parlamentar, a qual reputo como um conceito de grande relevância para o Poder Legislativo em suas relações com os pares de outros países. Penso que tais relações internacionais não podem ficar adstritas ao âmbito do Poder Executivo; ao contrário: a crescente integração entre os países exige que o Parlamento seja cada vez mais atuante em nossa Política Externa!

Em conclusão, Sr. Presidente, a viagem para acompanhamento das primárias na Pensilvânia foi bastante produtiva. Foi possível entrar em contato direto com o processo eleitoral dos EUA, com o dia-a-dia de uma campanha acirrada, em um sistema cuja complexidade é admitida pelos próprios americanos.

Por fim, nobres colegas, além da maior compreensão do processo político-eleitoral estadunidense, discutimos assuntos importantes sobre a relação dos EUA com a América Latina e o Brasil, questões de segurança regional e, naturalmente, os desdobramentos das eleições norte-americanas, com a projeção de cenários em caso de vitória de cada candidato e seus efeitos domésticos e internacionais.

Era esse o relato que gostaria de fazer nesta oportunidade, Senhor Presidente!

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2008 - Página 18557