Discurso durante a 193ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao Estado do Piauí, pelo seu dia, comemorado em 19 de outubro. Cobrança de obras públicas e investimentos para o Estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Homenagem ao Estado do Piauí, pelo seu dia, comemorado em 19 de outubro. Cobrança de obras públicas e investimentos para o Estado do Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2008 - Página 40733
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), ANALISE, HISTORIA, ELOGIO, BRAVURA, POPULAÇÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, PETRONIO PORTELLA, EX SENADOR, EVANDRO LINS E SILVA, JURISTA, CARLOS CASTELLO BRANCO, JORNALISTA.
  • ADVERTENCIA, SITUAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), INFERIORIDADE, INDICE, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, CRITICA, DISTRIBUIÇÃO, BOLSA FAMILIA, RETIRADA, INTERESSE, POVO, TRABALHO, IMPEDIMENTO, CRESCIMENTO ECONOMICO, QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, CONCLUSÃO, OBRAS, INFRAESTRUTURA, AMBITO REGIONAL, CRIAÇÃO, ZONA DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO (ZPE), CONSTRUÇÃO, FERROVIA, AEROPORTO, ECLUSA, USINA HIDROELETRICA, DEFESA, OBRA PUBLICA, UNIVERSIDADE, HOSPITAL ESCOLA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Wellington Salgado, que preside esta sessão, Parlamentares aqui presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem aqui e os que estão ligados pelo Sistema de Comunicação do Senado.

Senador Wellington Salgado, quis Deus ter V. Exª na Presidência, porque V. Exª é Minas. Minas é a própria história do nosso Brasil. Quero lhe dizer que venho aqui trazido por um movimento histórico. E quis Deus que o Professor Cristovam Buarque, que representa o saber hoje no Brasil, aqui estivesse.

Com muito orgulho, somos do Piauí. O Hino do Piauí, pelo poeta Da Costa e Silva, diz: “Piauí, terra querida, Filha do sol do Equador...”. Na luta, é o primeiro que chega.

Wellington Salgado, este “brasilzão” é grande, grande, grande, e deve muito ao Piauí. Acontece que o Piauí é novo.

 Houve essa história dos territórios que vieram depois, que foram transformados em Estados, e os dois recém-criados: Mato Grosso e Tocantins. O Piauí, no tempo da Colônia e das Sesmarias, pertenceu primeiramente a Pernambuco. Por duzentos anos, fomos dependentes de Pernambuco. Quando nos livramos de Pernambuco, Senador Cristovam Buarque, do seu Pernambuco, de história bela, de cultura holandesa e francesa, passamos a ser dependentes do Maranhão. Na realidade, é um Estado novo, de duzentos anos, e temos avançado.

O importante é que o dia 19 de outubro é o dia do nosso Piauí. E por quê?

Esse desejo que V. Exª representa, o Libertas quae sera tamem, simbolizado pela bravura, o estoicismo e o sacrifício de Tiradentes, esse desejo libertário que nasceu nas Minas Gerais e foi abortado, é muito atual, porque veio, vamos dizer, de uma exacerbação de impostos. Naquele tempo, o governo português cobrava um quinto - daí a novela da Globo: O Quinto dos Infernos. Era a derrama. Então, os mineiros aproveitaram a cobrança para fazer aquele movimento. E o sacrifício de Minas foi simbolizado pelo estoicismo de Tiradentes. Mas acontece que continuaram as idéias libertárias, e foi no Piauí o primeiro.

A história verdadeira é que Dom João VI, que trouxe o progresso para cá - daí haver aquele livro muito bom: 1808 -, quando queria voltar a Portugal, Cristovam, disse: “Filho, fica com o sul [instalou a burocracia, as riquezas, trouxe o dinheiro dos ingleses para lá], e eu vou ficar com o norte para Portugal”. E o norte seria o país Maranhão, Cristovam. Ele mandou um tio, um sobrinho dele, afilhado, General Fidié, bravo general português, a se sediar no Piauí, em Oeiras, para consolidar esse território do norte do Brasil, o país Maranhão, leal a Portugal. Mas fomos nós. Esse comandante português a primeira coisa que fez, ô Cristovam, foi, em agosto - agosto é antes de setembro, daí a bravura da gente do Piauí -, sabendo que a minha cidade, o litoral, tinha comércio direto com Portugal - havia os grandes empresários da época; um rico português, Domingo Dias da Silva, tinha cinco navios e exportava charque -, sabendo das riquezas, mandou demitir o delegado da cidade de Parnaíba, Joaquim Timóteo. Isso, em agosto - agosto é antes de setembro.

Nós somos os mais bravos brasileiros; daí a nossa coragem, daí o nosso entusiasmo. Nesta Casa, ô Wellington Salgado de Oliveira, é preciso que se saiba que, em 183 anos, nenhum superou a bravura, a inteligência e a coragem de Petrônio Portella. Eu estava ao lado dele, quando os canhões fecharam este Congresso, porque aqui ele deixou votar uma reforma do Judiciário. Eu estava ao lado dele, e mandaram fechar o Congresso. A imprensa correu, ele respondeu, quando lhe perguntaram o que achava: “Este é o dia mais triste da minha vida.” Aí, eu vi a autoridade e a moral. Essa frase voltou aos militares do período revolucionário, e Geisel recuou: mandou reabrir, e nós estamos aqui. Nenhum é tão bravo. Foi ele que fez a Anistia.

Eu vi a sua trama política. Ele ia ser Presidente da República. Tancredo Neves - olhe para cá, ô mineiro Wellington Salgado de Oliveira - tinha sede de ser o seu vice. Nós somos a gente do Piauí. Então, João Figueiredo - eles o chamavam de Super-João - já tinha aceitado a coragem e a pureza de Petrônio Portella. Naquele tempo, iam para o Colégio Eleitoral; era o PDS e o PP. Iam engolir o PMDB. Mas Deus não quis. Deus o chamou, e Petrônio...

Mas esta é a nossa história do Piauí. E a história dos homens? Eu digo aqui que o melhor Ministro do Planejamento deste País foi João Paulo dos Reis Velloso.

Dez anos sendo a luz e um farol do modelo revolucionário, nenhuma indignidade, nenhuma corrupção. João Paulo dos Reis Velloso fez o primeiro e o segundo PND.

Eu diria que é o único que se iguala a Rui Barbosa e ao ensino atual para a Justiça - feliz do País que não precisa buscar ensino na história de outros países. A justiça: Evandro Lins e Silva. É lá do nosso Piauí, nasceu na Ilha do Delta Santa Isabel. Foi ele, foi ele, somente ele. Nenhum na história do Supremo Tribunal Federal teve tanta altivez. Foi ele que libertou todos os presos políticos. Miguel Arraes contou que já estava aceitando ser devorado pelos jacarés, preso em Fernando de Noronha, quando chegou o habeas corpus. Evandro Lins e Silva trazendo justiça no período mais negro da ditadura.

O maior jornalista da história deste País foi do Piauí: Carlos Castello Branco, Castelinho. Aqui não se falava, existia o medo de ser cassado, e como cassavam, e como cassaram. Até Juscelino Kubitscheck, a honra, a glória, Wellington Salgado, das Minas, humilhado, exilado, saído daqui, bem daqui, ele representava Goiás. A sua origem, a grandeza, o trabalho, a capacidade é mineira, mas estava aí.

Pois só um jornalista - não havia dois, não -, Carlos Castello Branco. É do Piauí, que, morto, os jornais ainda reproduzem a sua coluna. Castelinho.

V. Exª o conheceu, Cristovam Buarque?

Carlos Castello Branco. E essa é a grandeza.

Pois essa gente não aceitou, na minha cidade de Parnaíba, na Câmara Municipal, mudar o delegado brasileiro por um português. E, no dia 19 de outubro - naquele tempo não havia comunicação, já tinham visto o grito, o grito do Ipiranga, hoje aí pitoresco -, eles se reuniram na Câmara e promoveram a independência do Piauí. O Fidié, comandante português, afilhado e sobrinho de João VI, sai lá de Oeiras, sua capital, e vai à nossa cidade, para invadi-la militarmente. E teve o apoio do Maranhão. O Governo do Maranhão era solidário ao país do Maranhão. Invadiram dois navios. E havia um rico, Simplício Dias da Silva, o Simplição, que estudara na Europa e tivera contato com as idéias libertárias da Europa, com as idéias de Simon Bolívar. E ele recuou, com muito dinheiro que tinha, e foi ao Ceará; em Viçosa, pegou homens, pagou-lhes.

Enquanto isso, em 24 de janeiro, o povo do Piauí toma o palácio português de Oeiras. Evidentemente, nós fizemos, em 13 de março de 1923, a batalha mais gloriosa da história deste País, do Jenipapo, em Campo Maior. Perdemos a batalha para o exército português.

E adentra Heráclito, esse filho heróico do Piauí, cujos descendentes são da região. Perdemos, mas o português não pôde voltar para o seu palácio em Oeiras, porque o povo o tinha tomado em 24 de janeiro. Treze de março, aí ele foi para o Maranhão, para Caxias, para São Luís, depois não ficou, depois voltou a Portugal e foi comandante da Escola Militar.

Nós perdemos a batalha, mas expulsamos os portugueses do Piauí e do Brasil, e, graças a isso, o Brasil é grandão e tem essa unidade. Então, foi em 19 de outubro a heróica Câmara Municipal da história da Parnaíba. E essa mesma Câmara, quis os destinos da ironia, hoje é a mais vergonhosa: fecha em período eleitoral, impede reunião de ZPEs e dá posse a Vereadores ilegais. Mas fica a história de grandeza com a qual nós podemos nos regozijar.

Nós estamos aqui, para reviver e mostrar ao País a grandeza da nossa gente.

Aqui adentrou Heráclito Fortes, esse herói, maior líder municipalista do nosso Estado.

Eu estava lendo o livro sobre Juscelino, de Affonso Heliodoro, da Polícia Militar. Atentai bem, Wellington Salgado: ele retrata a grandeza de Minas, simbolizada por Juscelino, o maior dos brasileiros. Ele diz que Diamantina perdeu o ouro, perdeu os diamantes, mas a sua gente era a riqueza maior, como o filósofo Sofócles dissera no passado que muitas são as maravilhas da natureza, mas que a mais maravilhosa é o homem. Em Diamantina - está lá no livro do Heliodoro -ninguém ficava à toa; todo mundo estudava e trabalhava. Até as figuras folclóricas, Wellington Salgado, que existem em toda cidade, ele demonstra que trabalhavam.

Infelizmente, hoje, o Governo não entende isso. O povo do Piauí está à toa. Eu sei que talvez nós sejamos - nós ou o Maranhão e, por coincidência, são os dois dos piores índices de desenvolvimento e das menores rendas per capita - os campeões dessa Bolsa, dessa Bolsa que tem aí, que ganha eleição. E o povo fica à toa. O povo fica distante do estudo e do trabalho. Isso é que nós queremos para nossa gente.

E estou aqui porque eu represento essa gente de grandeza, que fez a nossa Batalha do Jenipapo, continuada pelos baianos em 2 de julho, que vem depois de 13 de março. Foram as duas guerras necessárias para o Brasil se tornar uno e livre dos portugueses.

Mas eu queria dizer, Heráclito Fortes, que lamento. Em 1994, eu votei no Presidente Luiz Inácio. A esperança é a última que morre, mas está para morrer.

Ernest Hemingway, ô Professor Cristovam, em seu livro O Velho e o Mar, diz: “A maior estupidez é perder a esperança”. O homem não é para ser derrotado. Ele pode ser até destruído, mas o que vejo é um povo destruído ficando à toa.

Se nós não temos mais dívida externa, se pagaram o Bird e o Banco Mundial, a dívida interna é a maior, a dívida com os velhinhos aposentados, a dívida com a saúde, a dívida com a educação e a dívida com a segurança. É isso que venho reclamar neste dia do Piauí, quando Sua Excelência, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva... Que nos leve obras, que nos dê a grandeza.

Essa coisa só dá certo, Cristovam Buarque, se tivermos sensibilidade política. Pode ser até que o Presidente a tenha. Responsabilidade administrativa, não sei. E visão de futuro, essa gente que está aí não é míope, não; é cega.

Eu acredito em Deus. Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. É uma mensagem clara aos governantes de que é através do trabalho...

Eu creio é no amor, que consolida a família. Eu creio é no estudo e no trabalho. E cheguei aqui, Professor Cristovam, estudando e trabalhando; trabalhando e estudando. Esses foram os passos. E o povo do Piauí me trouxe até aqui.

Isso eu não vejo no Piauí. Eu vejo, como V. Exª, a dívida interna com a educação e a saúde. E a segurança? A segurança... Isso é uma molecagem.

Olha, Norberto Bobbio, o mais sábio. E lá, lá, lá na Itália do Renascimento; lá na Itália de Cícero, quando falava lá, ele dizia: “O Senado e o povo de Roma”. E eu posso dizer: O Senado e o povo do Brasil estão decepcionados. Essa Itália do Renascimento, essa Itália do Renascimento, em que Cícero bravejou e bravejaria aqui: “Pares cum paribus facillime congregantur”!

Ô, Wellington Salgado, violência traz violência. Esse é o nosso País. Era o que faltava agora: polícia contra polícia. Polícia como bandido. Se assaltar por um tênis; por matar, agora. Pares cum paribus facillime congregantur! E Norberto Bobbio, o mais sábio dos teóricos da política, professor de Direito, quando o mundo enterrava o fascismo de Mussolini...

Ô, Professor Cristovam Buarque, a Itália tem cinco Senadores, que são vitalícios, que entram e adentram por mérito e competência. Eu acho que nós estamos errados. Eu acho que esse Fernando Henrique Cardoso deveria estar sentado aqui. É um estadista!

Eu nunca votei nele não. Eu votei no Quércia, do PMDB.

Mas, na Itália, tem isso, e o último deles, Noberto Bobbio, o mais dos sábios, não é eleito pelo povo não; por mérito.O que ele disse eu passaria ao nosso Presidente da República; é um grande presente que eu dou a ele em troca dos grandes presentes que vou pedir para o Piauí. Norberto Bobbio disse que o mínimo que se tem de exigir de um governo é segurança à vida, à liberdade e à propriedade. Brasileiras e brasileiros, quanto vale a segurança aqui no nosso País? Isso é uma barbárie. Isso é uma barbárie. É uma barbárie.

Eu não vou falar no Primeiro Mundo, que Cristovam, Wellington...e Heráclito é o Presidente da Comissão de Relações Exteriores, mas eu falava que bem aí, na Argentina e no Uruguai, eu pego a Adalgisinha e saio de madrugada namorando. E parei para ver nas praças velhinhos, às quatro horas da manhã, namorando. Velhinhos. Com jóias. E eu imaginava aquele casal de velhinhos namorando na Rua do Ouvidor, na Cinelândia, na Praça Pedro II do Piauí. Nem no Piauí tem mais; estão assaltando até nos velórios.

Então, é isso. Mas o que nós viemos pedir - e quis Deus estar Heráclito aqui - ao Presidente da República, em respeito a nós, que construímos a unidade deste País, aos que se sacrificaram e morreram no Jenipapo; aos serviços prestados por Petrônio Portela, por Evandro Lins e Silva, por Reis Velloso, por Carlos Castello Branco, viemos pedir, ô, Heráclito, obras que nos garantam o futuro: o Porto do Piauí, a estrada-de-ferro, a Transcerrado, obras que nos garantam a riqueza, como a ZPE. Agora, o que nos oferece o Presidente da República?

Ô, Heráclito, obras que nos garantam o futuro: o Porto do Piauí, a estrada-de-ferro, a Transcerrado, obras que nos garantam a riqueza, como a ZPE. Agora, o que nos oferece o Presidente da República?

Shakespeare, Hamlet. Professor Cristovam, você já leu Hamlet? Aí, ele diz: “Palavras, palavras, palavras” - Shakespeare. “Há algo de podre no Reino da Dinamarca”. E eu diria que aqui é pior. Se o Shakespeare fosse escrever no Brasil, ele diria: Mentiras, mentiras e mentiras! Não há algo de podre, não; está tudo podre.

Essa é a verdade. Então, nós queríamos essas obras, as ZPEs, Heráclito; a recuperação da estrada de ferro. E o Heráclito, que entende de avião, gosta da aviação... É bacana mesmo. Olha, Heráclito, outro dia o Lucídio Portella me perguntou qual era a maior invenção. Aí, eu parei, assim, pensei e disse o seguinte: avião, porque computador... eu não entendo daquilo. Avião. Quando vai uma mulher bonita, diz-se: “lá vai um avião”. Avião. Pois é, mas eu queria falar em avião, Heráclito, comumente.

Nós temos uma hidrelétrica que Juscelino sonhou; Castelo com César Cals terminou - falta a eclusa, para navegabilidade. Nas manchetes dos jornais, esse Governo vai fazer cinco hidroelétricas. Como se mente, assim, descaradamente? Ô Heráclito, cinco! Se não terminam a eclusa da que tem!

Aeroporto internacional, o Rio de Janeiro tem um; São Paulo tem um, mas, lá no Piauí, eles dizem que há dois. O da minha cidade, que eles falam - está no jornal, está na imprensa -, não tem nem teco-teco, aquele avião pequeno.

O de São Raimundo Nonato, podem ir lá ver: tem é jumento na pista! Esta é a verdade: é só mentira, mentira! Nós queremos a conclusão.

Ô, Wellington Salgado, precisamos do desenvolvimento real, não temos de ser medalha de ouro em Bolsa - em Bolsa que o povo fica à toa.

Ô, Cristovam, atentai bem V. Exª, que é um estudioso. Eles são míopes. Ô Cristovam, sabe o que acho mais grave nisso tudo? Atentai bem! Heráclito, encontrei uma gestante no nosso Piauí no período eleitoral. Olhei, conheci a família, vi um bocado de menino, uns oito ou dez. Aí disse: “Olha, eu vou lhe arrumar um médico, Dr. Francisco Pinto, na Santa Casa, para ligar as suas trompas”. A mulher olhou e disse: “O que Senador? Ligar as minha trompas? Você está vendo aquela televisão? Aquela televisão, comprei com esse meninozinho aqui, esse pequeno. Agora, este que está aqui vai nascer, e eu vou pegar o dinheiro para comprar uma moto para o meu marido”. Isso é contra o estudo, a ciência, o planejamento familiar, a maternidade responsável. Tão pegando aí, e ganham quatro salários mínimos.

Sou médico, fiz milhares de partos. Na hora do nascer, não se preocupam, Cristovam, se as crianças serão educadas. Não me preocupo com os que estão a receber, porque eles merecem, eles precisam de uma caridade. Fé, esperança e caridade, não sou contra; caridade é o amor da solidariedade. Mas me preocupo com os filhos dessa gente, que vê seus pais à-toa, sem a luz do estudo e o caminho do trabalho.

Rui Barbosa disse que, antes do trabalho, vem o trabalhador; ele é que faz a riqueza.

Então, Heráclito Fortes, nós dois vamos esbravejar e agradecer se o nosso Presidente da República executar essas obras que citamos aqui, obras estruturantes. A refinaria de petróleo que há em Paulistana, Heráclito, tem estudo, é lógica. O Norte e o Nordeste é que têm deficiências. Olhe no mapa: Paulistana fica eqüidistante de Boa Vista, eqüidistante de Belém, de Macapá, de Fortaleza, de São Luís, de João Pessoa, de Aracaju e de Recife, mas é no interior, sai mais caro. Sai, Luiz Inácio, sai, sai. Feliz de Vossa Excelência, que teve um Presidente como Juscelino. Brasília saiu mais cara. Como saiu mais cara Brasília! Podiam tirar do Rio de Janeiro e botar em qualquer outra cidade, mas, devido à coragem de construir Brasília, houve essa integração do Brasil, essa distribuição de riquezas. Então, é um projeto bom.

Por que não uma indústria automobilística, Heráclito? A Toyota está procurando um lugar. Tanta terra, tanta gente, nós queremos obras grandes: o Hospital Universitário, a Universidade do Delta, a Universidade do CEU.

Olha, nós não estamos satisfeitos, Luiz Inácio, com essa Bolsa e com o fato de o nosso pessoal ficar à-toa.

Juscelino Kubitschek deu o exemplo. Disse que lá acabou o ouro e a prata, mas ninguém ficava à-toa, estudava ou trabalhava. E é isso que queremos. Vamos - eu e o Heráclito - juntos hastear para o Brasil o Dia do Piauí, 19 de outubro.

Ô, Heráclito Fortes, não sei se você conheceu o José Auto de Abreu, Deputado Federal. Foi ele que instituiu o dia 19 de outubro. E ele disse, o filósofo disse, ô, Cristovam Buarque, que a morte seria um naufrágio. Ele disse que aceitava, mas, nesse naufrágio, ô Wellington Salgado, ele queria e iria fazer um esforço para voltar à tona na hora de sua morte para poder olhar acesas as luzes do porto de Luís Correia. Há cem anos se começou um porto. Eu vi Getúlio Vargas, em agosto de 1950, dizer que iria concluí-lo.

Então, Luiz Inácio, é isto: a sua gentalha lá é míope, é cega. Queremos oferecer e trazer aqui a reivindicação do valoroso povo do Piauí, um povo que luta e que acredita que a prosperidade chega através do estudo e do trabalho.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2008 - Página 40733