Discurso durante a 209ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentário a matéria publicada na imprensa sobre segurança pública. Preocupação com a crise econômica que assola o mundo e seus reflexos no Brasil. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Comentário a matéria publicada na imprensa sobre segurança pública. Preocupação com a crise econômica que assola o mundo e seus reflexos no Brasil. (como Líder)
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 11/11/2008 - Página 44685
Assunto
Outros > SENADO. SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, CANDIDATO ELEITO, PREFEITO, MUNICIPIO, ANORI (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), DEPUTADO FEDERAL, SUPLENTE, VICE-PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DENUNCIA, VIOLENCIA, HOMICIDIO, BRASIL, APREENSÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, EFEITO, ECONOMIA NACIONAL, PREVISÃO, AMPLIAÇÃO, PROBLEMA, SEGURANÇA PUBLICA, CRITICA, TENTATIVA, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, OCULTAÇÃO, PERDA, RESERVAS CAMBIAIS, OBJETIVO, AUXILIO FINANCEIRO, BANCOS, APRESENTAÇÃO, DADOS, INDICE, RECESSÃO, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente. V. Exª é sempre muito generoso e fraterno com este seu amigo, companheiro e colega de tantas lutas.

Agradeço ao Senador Alvaro Dias pela generosidade com que permutou o tempo comigo.

Antes, Sr. Presidente, de fazer algumas considerações desta tribuna, eu registro aqui duas presenças muito ilustres: a Prefeita do Município de Anori, no Estado do Amazonas, Srª Sansuray Xavier, e seu esposo, Elci Câmara. Sansuray foi eleita com apenas 30 anos de idade, para fazer uma belíssima gestão, depois de ter derrotado todas as oligarquias do Município e se colocar como a esperança efetiva de justiça, de boa gestão, de honradez no trato com a coisa pública. E também a presença neste plenário do Deputado Ari Moutinho Filho, que assume o seu mandato, como primeiro suplente que é da Bancada do PMDB, figura muito ligada pessoalmente e politicamente a mim, e eu a ele. Assume o mandato na vaga do Deputado Carlos Souza, que se elegeu Vice-Prefeito de Manaus. O Deputado Ari Moutinho haverá, pela sua cultura, pelo seu espírito público, pela sua tradição de família, de realizar um mandato à altura da grandeza do Estado que para cá o enviou.

Sr. Presidente, antes de falar de economia, eu chamo a atenção para o fato de que nós todos estamos embrutecidos. Nós não nos espantamos com mais nada. Há uma coluna, Senador Alvaro Dias, no jornal O Globo, todos os dias. Eu até “estranhei”, coloco aspas nesse estranhei porque hoje não teve. É assim “O Nome da Morte”. São três, quatro, cinco, seis assassinatos, todos os dias, que o jornal O Globo registra. Hoje não teve a coluna “O Nome da Morte”.

Em compensação, trago aqui algumas notícias.

Tiroteio na saída do Santa Bárbara.

Motoristas dão ré para fugir de fogo cruzado durante perseguição no Catumbi.

É matéria da jornalista Melina Amaral.

Aí, na outra página está:

Idoso é espancado em casa por assaltantes.

Quase cego, o aposentado ouviu o barulho do invasor. Com os gritos, os vizinhos chamaram a polícia, mas o ladrão fugiu.

É matéria do jornalista Mário Campagnani, que é do jornal Extra, do mesmo complexo jornalístico liderado pelo jornal O Globo.

Outra matéria, do jornalista Aloysio Balbi:

        Empresários são executados a tiros em Campos. Segundo a polícia, o crime pode ter sido motivado por vingança.

Já nos acostumamos a ler. Ninguém se espanta, isso já faz parte do cotidiano. É como se a vida fosse isso, como se os austríacos vivessem a mesma coisa, como se os suecos vivessem a mesma coisa, como se os chilenos vivessem a mesma coisa. Mas não é assim. O Brasil é um país anormal, um país atípico e tudo o que se falou de esforço nacional por uma política decente e rígida de segurança pública não se realizou, e já estamos indo para o sexto ano do mandato do atual Presidente.

Sr. Presidente, o IPCA de outubro apresentou taxa de inflação de 0,45%, evidenciando preocupante aceleração em relação a setembro, que apresentou uma taxa de 0,26%. Isso se deve à nova pressão dos alimentos, reforçando a previsão de rompimento da parte superior da meta anual de inflação, que é de 6,5%, porque o acumulado dos últimos 12 meses já está em 6,41% e o acumulado do ano está em 5,23%.

O preocupante é que nos Estados Unidos saiu o indicador da semana, mostrando queda de 240 mil empregos. No ano, nos Estados Unidos, já desapareceram, Deputado Ari Moutinho, um milhão e duzentos mil empregos.

A taxa de desemprego já foi para 6,5%. Estava em 6,3%, foi para 6,5%, Senador Paim, e ameaça ultrapassar os 8%, mostrando números piores do que os da recessão dos anos 80, quando chegou a 10%. Esperamos que não chegue a pior do que aquilo, que é uma verdadeira catástrofe para um país como os Estados Unidos.

Em relação ao Brasil, temos algumas coisas para dizer.

Há uma maquiagem, o Governo maquia um dado. Ele diz que as reservas ainda estão acima de US$200 bilhões, o que não é verdade. Todo mundo sabe, o mercado inteiro sabe, os agentes econômicos todos sabem que o Banco Central está queimando reservas. E quando o Banco Central anunciou que haviam sido liberados US$50 bilhões para o sistema financeiro, nós sabemos que o dinheiro sai de algum lugar. O dinheiro não cai do céu, ele sai de algum lugar. Então, vamos dizer de onde ele saiu. Ele saiu, em parte, dos depósitos compulsórios que foram liberados nos últimos dias, é verdade, mas saiu também das reservas. Portanto, não há mais US$200 bilhões de reservas. É bom que a gente anote isso para que ninguém se engane e nós não enganemos ninguém.

Muito bem, o que sai da reserva de maneira indireta sai através dos leilões de venda de dólares com compromisso de recompra futura. São os chamados swaps cambiais e os leilões compromissados. Como há o compromisso de recompra futura no leilão compromissado e de venda futura nos leilões de swap, então isso não aparece agora como buraco nas reservas. Ou seja, não causa impacto contábil, embora, de fato, haja menos dinheiro nas mãos do Governo para enfrentar a crise. Mas lá na frente pode aparecer o buraco, sim, se o Banco Central não recomprar os dólares, porque a crise continua muito pesada e o dólar ainda está com pouca liquidez. Lembro e advirto que essas operações vencem em 30, 60 e 90 dias.

Uma advertência: o Banco Central não vai poder recomprar esses dólares sem pressionar a taxa. Portanto, o Banco Central fica, ele próprio, em cheque. Vamos observar os movimentos nos próximos momentos.

Ainda tenho, Sr. Presidente, alguns dados a ressaltar. A agência Fitch de classificação de risco rebaixou hoje o rating de quatro países emergentes: Coréia do Sul, México, Rússia e África do Sul. Esses países, que eram considerados estáveis, caíram para negativo. Felizmente, o Brasil se manteve como estava: país estável. O Chile - vejam como a crise é feia, séria -, que era considerado positivo, está estável e a Malásia também foi revisada de positivo para estável.

O mercado amanheceu muito otimista, hoje, em função desse ainda desconhecido pacote chinês de enfrentamento à crise, mas, ao longo do dia, as notícias ruins vindas dos Estados Unidos quebraram o otimismo, porque temos dados gravíssimos de lá. As ações da General Motors, que está virtualmente quebrada, estão sendo cotadas a valor praticamente zero. Valor zero para as ações da outrora poderosa, outrora líquida e outrora sólida General Motors.

Podem ser fechados mais 70 mil empregos ainda em 2009 no mercado americano. Uma das maiores empresas varejistas de produtos eletrônicos nos Estados Unidos pediu concordata no dia de hoje.

Em relação ao Brasil, num quadro em que a economia americana desacelera e entra em recessão virtualmente, num quadro que é de recessão na Europa, num quadro em que há diminuição no crescimento chinês, os analistas estão cada vez olhando com mais preocupação a cena brasileira.

Primeiro, a perspectiva inflacionária. A inflação cresce, e percebemos já uma clara intromissão política nesse quadro. Ou seja, é muito difícil, por exemplo, o Banco Central aumentar juros se achar que precisa em função da pressão política sobre ele hoje.

O Banco Central, desmentindo o Ministro Mantega, que diz que o Brasil cresce 4%... E eu adoraria concordar com o Ministro Mantega, mas não sei, Deputado Ari Moutinho, nem se concordo com o Presidente Meirelles, que diz que o Brasil cresce 3%. Eu não sei. Um crescimento de 5,2% transfere uma inércia, o carry over transfere essa inércia de 1,7% mais ou menos para o outro ano. Então, se não fizermos nada, cresce, no ano que vem, 1,7%. Se acrescentarmos a esse número 0,3%, teremos 2%. Se acrescentarmos 1%, teremos 2,7%. Crescer 3% já será uma proeza. Mas o Ministro Mantega, otimista, panglossiano, diz que o Brasil cresce 4%. Tenho a impressão de que é preciso não confundirmos o papel do agente econômico, do agente público, que não pode ser pessimista, muito menos deve criar pânico, mas ele deve ser realista. Se não for realista, ele desaba em torno da sua própria credibilidade.

Então, o Banco Central está revisando para 3% o crescimento em 2009. Temo que eles possam estar revisando para mais baixo ainda nos próximos boletins.

Concedo o aparte ao Senador Alvaro Dias, com muita honra.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, inicialmente, eu gostaria de cumprimentá-lo pelo discurso de profundidade que V. Exª pronuncia, como sempre, de muito mais conteúdo do que de palavras vazias, como ocorre normalmente quando se pronunciam as lideranças ou autoridades governamentais a respeito dessa crise econômica que assola o mundo. V. Exª tem razão: o Governo brasileiro, nos últimos dias, faz um discurso mais forte admitindo a existência de uma crise grave, mas há uma distância grande entre as providências administrativas adotadas e o discurso do próprio Presidente. O Presidente defende um pacto entre governos e está certo ao fazê-lo. A crise é mundial, as soluções são, portanto, globais e não podemos prescindir de pactos entre os governos. O egoísmo, neste momento, deve ser deixado de lado; o “salve-se quem puder” não tem lugar neste momento. É preciso adotar medidas que administrem e compatibilizem a eficiência do sistema financeiro com o programa de desenvolvimento econômico. A China libera US$680 bilhões para estimular as iniciativas que promovem desenvolvimento, e este me parece ser o caminho, porque o que há é a ameaça da recessão, mais do que da inflação. A ameaça, neste momento, é mais de recessão do que de inflação, e, portanto, elevar taxas de juros é uma loucura. Há necessidade, isto sim, de reduzir taxas de juros para estimular o desenvolvimento e combater a ameaça de recessão. V. Exª aborda, com muita lucidez, todas essas questões e certamente o faz com o propósito cívico de alertar o Governo para a fragilidade das ações que vem desenvolvendo até este momento.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Alvaro Dias, concluo, respondendo a V. Exª, dizendo que V. Exª tem razão. O momento hoje, eu o olharia com cuidado, quem sabe até manteria a taxa de juros como está. Mas o fato é que a tão propalada independência do Banco Central cai por terra, na medida em que hoje, ainda que pudesse, considero impossível o Banco Central aumentar a taxa de juros, ainda que precisasse ou que pudesse, porque há uma pressão política de tal sorte sobre ele que vejo ameaçada essa independência, que foi um passo civilizatório importante.

Agora, V. Exª tem absoluta razão quando diz que temos um problema de desaceleração em muitos Países, um problema de grave desaceleração na média do crescimento mundial, recessão na Europa e nos Estados Unidos, crescimento a menor num País como a China, que era o grande propulsor da nossa balança comercial positiva porque eles compravam tudo o que nós vendíamos.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se formos esmiuçar o volume das vendas brasileiras, vai diferir pouco de um período de tantas crises vivido pelo Presidente Fernando Henrique no passado. Os preços é que foram alterados, os preços é que subiram. As commodities ficaram super valorizadas. Os preços estão necessariamente caindo. Compram menos e, portanto, o preço das commodities cai, dos produtos primários, os produtos de base desabam.

Senador Alvaro Dias - estou tentando passar tranqüilidade até no tom de voz, porque daqui a pouco o Presidente dirá que estamos torcendo contra -, estou tentando ser realista, estou tentando mostrar com dados, com números, que é uma crise que precisa ser olhada com mais seriedade, com menos palanque, com menos adjetivos, com menos “empurração” dos problemas para adiante. É uma crise grave que repercute, sim, sobre as nossas vidas.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Vejam, o Banco Central já revisa de 4% para 3% o crescimento. Não sei se 3%; temo que seja menos do que 3%. O Banco Central já revisa o saldo de balança comercial, que previa para este ano em 23 bilhões, foi caindo, foi caindo, e de 24 bilhões a previsão dele já passou para 23,82 bilhões. Não sei se este ano teremos sequer saldo de balança comercial em 2009. Não sei se sequer teremos saldo positivo de balança comercial. Se tivermos, será um saldo, com certeza, menor do que os 26 bilhões que o Banco Central está prevendo. Então, ainda há uma certa luta pelo otimismo, mesmo na análise mais fria do Banco Central. Na verdade, não é bem do Banco Central. Eles colecionam opiniões de bancos, de empresas e, no final, apresentam esse dado.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Mas, do jeito que as coisas estão indo, com certeza, não me surpreenderia se tivéssemos um saldo positivo de balança comercial abaixo de US$10 bilhões ano que vem. E, se as coisas ficarem graves, poderá ser um saldo zero. Já há analistas - aí sim, os mais pessimistas - que prevêem crescimento zero do PIB brasileiro ano que vem, porque, no nível em que estamos fazendo...

Senador, peço a V. Exª mais um minuto.

         Com os dados que temos hoje para analisar, podemos pensar em 3%, um pouco menos de 3%, mas não sabemos a que ponto vai este quadro que faz o mercado mundial amanhecer feliz com o pacote chinês, que está indefinido, e, de repente, infeliz e agitado com a notícia da quase falência da General Motors e do desemprego em massa nos Estados Unidos.

         Essa volatilidade não vai parar tão cedo. Todas as medidas, por enquanto, são paliativas, são medidas atenuadoras, mas é uma crise grande, grave, uma crise, sob alguns aspectos, maior do que a de 1929, até porque as comunicações espalham essa notícia, e o contágio é mais fácil. Enfim, é preciso atitude de governos, é preciso que cada governo dê o máximo. E é preciso que o Governo brasileiro aja com o máximo de sobriedade para enfrentar esta crise, sem pensar em popularidade, sem pensar na próxima eleição. Tem de pensar nas medidas justas e sérias que o credenciem à liderança na Nação neste momento. É o que espero do nosso Presidente da República, eleito de maneira tão expressiva. Meu adversário, mas meu Presidente - estou repetindo aqui John McCain, que disse que Obama é adversário dele, mas é presidente dele. Lula é meu adversário, mas é meu Presidente.

Torço para que ele seja corajoso. E ser corajoso agora não é bravatear; ser corajoso agora é enfrentar a crise, atacar de frente a questão, ainda que, porventura, com perda de popularidade. O Presidente não é candidato a “miss simpatia”. Pelo que eu saiba, não é candidato a mais nada. Então, ele não tem que ser candidato a “miss simpatia”; tem que simplesmente se mostrar um estadista que lidere a Nação como um todo, para nós sofrermos o menos possível com uma crise que é de contornos ainda não de todo previsíveis, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

Era o que tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/11/2008 - Página 44685