Discurso durante a 223ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos dez anos de atuação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários - CONAJE.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Comemoração dos dez anos de atuação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários - CONAJE.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2008 - Página 47657
Assunto
Outros > HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, JUVENTUDE, EMPENHO, TRABALHO, EMPRESARIO, ANIVERSARIO, CONFEDERAÇÃO, SETOR, REGISTRO, HISTORIA, ASSOCIAÇÕES, ESTADO DO CEARA (CE), SAUDAÇÃO, LIDERANÇA, ESPECIFICAÇÃO, MULHER, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • SOLIDARIEDADE, POVO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), VITIMA, CALAMIDADE PUBLICA, INUNDAÇÃO.
  • ANALISE, HISTORIA, BRASIL, NECESSIDADE, PLANEJAMENTO, PROJETO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, EVOLUÇÃO, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, INICIATIVA PRIVADA, CONCLAMAÇÃO, CONTINUAÇÃO, COLABORAÇÃO, JUVENTUDE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Cafeteira, que bem representa a jovialidade deste Parlamento nesta sessão de homenagem à Conaje; nosso Vice-Governador do Estado do Ceará, Professor Francisco Pinheiro, Mestre em História da nossa Universidade Federal do Ceará, que dá sua grande contribuição ao nosso Estado, ao lado de Cid Gomes, o nosso Governador; meu caro Senador Marconi Perillo, que tomou a iniciativa para a realização dessa bela e justa homenagem a Conaje; o nosso Líder do PSDB, Senador Arthur Virgílio, já à Mesa, que, no momento, troca idéias com o nosso Senador Marconi Perillo; nosso representante de todos os homenageados que estão aqui na tarde de hoje, Sr. Marcelo Azevedo dos Santos, Presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários do nosso País, fiz questão de estar presente a esta sessão.

Hoje, bem cedo, na companhia do Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Sr. Roberto Macedo, saímos na madrugada, mais ou menos às 4 horas da manhã, cada um partiu de sua casa, nos dirigimos ao aeroporto com destino a esta Capital. Aqui chegando, ele foi direto para uma reunião, e eu vim para o Senado Federal. Portanto, fiz questão de aqui estar porque, há 19 anos, se não estou enganado, Marcelo, há mais ou menos isto, nascia talvez a primeira Associação de Jovens Empresários do nosso País, lá no Ceará, em Fortaleza. Esta Associação ofereceu-nos inúmeras lideranças homens, muitas mulheres - algumas que aqui estão já dirigiram a AJE, depois foram para a Federação Estadual, que se organizou no Estado do Ceará; alguns já vieram presidir a Conaje, acho que já tivemos dois presidentes da Conaje, o Diogo e o Pedro Fiúza, e quem sabe não teremos, mais adiante, mais presidentes oriundos do Estado do Ceará, homens e mulheres, porque temos muitos bem preparados.

Faço essa referência, nessa homenagem à Conaje e aos seus 10 anos, também à AJE, Marcelo, estendendo aos nossos amigos que aqui estão do Estado do Ceará, Leonardo Bayma, que é vice-Presidente da Conaje, que também esteve na AJE; a Caroline, que está aqui conosco, Presidente da AJE de Fortaleza; a Suemy, que além de ser Diretora da Conaje, também roda mil mundos buscando eventos para o Brasil no exterior, especialmente para o Ceará, evidente, nossa casa, uma batalhadora, que busca reforçar os negócios do nosso Estado, porque a cadeia produtiva com a qual ela trabalha tem uma rede muito ampla. Então, cada evento não gera empregos apenas naquela empresa, mas gera e garante milhares de empregos no nosso Estado, na cadeia do turismo no nosso País, especialmente ali no Ceará, onde temos essa responsabilidade. Então, quero homenagear também as mulheres em nome dessas mulheres cearenses que aqui estão; Rodrigo Bittar, que tem ampla família - no Pará, Minas, Ceará -, empresários que também trabalham com grande denodo em defesa dos interesses maiores do nosso País; o João Rafael Furtado; Ricardo Santos e o Carlos Ernesto, cearenses que estão acompanhando a essa manifestação do Senado Federal em homenagem aos jovens empresários.

Sr. Presidente, fiz questão de me pronunciar porque, ali, naquele nascedouro da AJE, e nove anos depois da Conaje, sempre olhei a nossa juventude, com a qual caminhei muito - aliás, hoje, participei de um debate intenso sobre a meia entrada estudantil nas salas de cinemas, de onde vieram todos os que estão aqui: das universidades, das escolas brasileiras -, sempre examinei aquela vontade dos jovens empresários do Ceará de discutirem a grande política nos nossos negócios, dos nossos pais, dos negócios que alguns já dirigem, no nosso Estado e no Brasil, no cotidiano, no dia-a-dia temos dezenas de problemas nas nossas empresas. Problemas com o Governo Municipal; problemas com o Governo Estadual; problemas com o Governo Federal; legislação tributária; legislação trabalhista; legislação social; amparo aos idosos; aposentadoria; amparo aos programas juvenis para as pessoas mais carentes; Bolsa Escola, quer dizer, é um conjunto de necessidades que se tem de responder e de atender a toda hora. E a isto o nosso País tem respondido.

Onde é que está, então, a questão, que considero central, e que a AJE - tive a oportunidade de assistir ali todas as correntes de opinião se manifestarem a convite da AJE, porque a juventude queria a opinião de todas as correntes - onde é que estava aquele problema central da nossa Nação, do nosso País?

         Faço aqui um parêntese para, olhando aqui os nossos dois Senadores catarinenses, prestar a nossa solidariedade ao povo catarinense. Temos recebido, sistematicamente, a solidariedade dos catarinenses e do povo do Sul nas grandes estiagens que o Nordeste enfrenta. Então, percebendo o semblante já tenso dos senhores, que fazem a homenagem justa aqui aos jovens empresários, mas que estão preocupados com o seu Estado, inclusive o Marcelo, eleito para a Conaje por outro Estado, mas um catarinense de quatro costados. Então, nossa solidariedade ao povo de Santa Catarina, faremos tudo o que pudermos para ajudar aquele povo que é um povo timoneiro do desenvolvimento na agroindústria, na indústria, no serviço e no turismo, a que me referi agora. Então, o Senador Raimundo Colombo, o Senador Neuto de Conto, que não está presente, e a Senadora Ideli Salvatti recebam a nossa solidariedade do povo cearense, do povo nordestino, a todo o povo catarinense.

         Então, a grande questão que examino eu comentava com o Marcelo. Desde que José Bonifácio, aos 57 anos de idade, resolveu se aposentar em Portugal, porque já tinha cumprido uma jornada de mais de 40 anos de serviço à Coroa e já era reconhecido por todas as academias de ciências da Europa - todas - como o grande pesquisador, como um cientista e um desbravador, ele resolveu voltar ao Brasil porque considerava que o centro do reino não era mais Portugal, e sim o Brasil.

         Em 1821, na proposta à Assembléia Constituinte, ele propôs que o reino tivesse como centro o Brasil. Os Deputados eleitos, brasileiros, que foram até Lisboa, levaram uma proposta de constituinte, primeiro, avançada, democrática e voltada para o desenvolvimento nacional, de que o Brasil precisava se desenvolver. E se era o centro do reino, mais razão teria para ter um projeto grandioso de desenvolvimento que pudesse alavancar a economia da nossa Nação e colocá-la à altura do que acontecia naquele mundo, daquela época, quando a tecnologia também era o centro e o motor do desenvolvimento.

Veio de lá para cá, resultou na Independência. Sete meses depois da Independência, ele já estava expulso do País, como degredado. O principal pecado de José Bonifácio, naquele momento histórico, era exatamente o enfrentamento da necessidade do projeto nacional de desenvolvimento; o Brasil precisava de um projeto próprio e tinha condições grandiosas para desenvolvê-lo. Ele convocava a juventude.

Rui Barbosa foi citado aqui inúmeras vezes. Talvez não tenham mencionado até agora nas citações que a grande preocupação de Rui Barbosa também era o potencial, a capacidade, as condições que o Brasil tinha de manter um projeto altivo, de ter um projeto próprio nacional.

Isso atravessou todo o século XX com fortíssimas batalhas do povo brasileiro. Tivemos a Coluna, que ficou conhecida por Domingos Meirelles em seu livro fabuloso como a “Coluna Invicta”. Eram os jovens oficiais, tenentes, sargentos, capitães, que percorreram os quatro cantos do Brasil numa marcha maior que a de Mao Tsé-Tung. Passaram a conhecer a realidade do Brasil e fortaleceram ainda mais a convicção de que precisavam de um projeto nacional, um projeto soberano, capaz de desenvolver a nossa Nação, de investimento na ciência, na tecnologia, na educação, para fortalecer um projeto nacional.

Veio Getúlio, criaram-se condições para a industrialização, mas também veio um estado de arbítrio. Veio um processo democrático, ampliaram-se as condições favoráveis do Brasil. Veio o Banco do Nordeste, veio a Eletrobrás, veio a Petrobras, veio a Telebrás, veio o BNDES. Essas instituições todas são desse período, com o objetivo de amparar o desenvolvimento do Brasil para garantir à juventude que ia se formando e se urbanizando que ela teria condições empreendedoras, que ela teria condições de trabalho, que ela teria condições de renda, porque só assim nós poderíamos crescer e efetivamente nos desenvolver.

Depois vem o golpe. Não quero passar por Celso Furtado - e estamos fazendo um debate no Banco do Nordeste sobre o pensamento dele, por meio do BNDES, que tem um instituto ligado a Celso Furtado -, que também buscou dar idéias fabulosas sobre a integração regional do nosso País.

Passou-se o regime militar, situações mais difíceis, embora com grandes empreendimentos também que levaram ao desenvolvimento do nosso País, mas também com momentos de arbítrio muito forte, até chegarmos ao período que estamos vivendo, o momento contemporâneo da história brasileira.

E eu vejo assim: também há uma batalha no Brasil, que é a batalha maior. Nós temos problemas, denúncias, os métodos, o sistema presidencialista. Está tudo em discussão sempre: por que tem que ter medida provisória; por que não tem que ter; por que teve o decreto-lei; por que acabou o decreto-lei; como se governa o País; quais os métodos para se governar uma Nação continental; as denúncias seguidas de corrupção; a força, às vezes, monstruosa da mídia nacional, principalmente de condenar governos, instituições, pessoas, etc. Tudo isso é discutido, tudo isso nós podemos discutir; uma hora um pega um tema, outro pega outro. Mas o ponto central é a batalha entre os que querem um projeto mais sustentável de desenvolvimento nacional e os que trabalham com a idéia de que nós podemos deixar essa atividade de desenhar um projeto de País exclusivamente com as forças do mercado, abrindo normalmente todas as fronteiras da proteção nacional ao mercado; o mercado seria a salvação de tudo. E agora diante de uma crise que atinge não um elo frágil do sistema em voga no mundo atual, do sistema capitalista que se desenvolve no mundo. A crise não é na Coréia, não é em Cingapura, cujo Presidente acabou de nos visitar, não é na Rússia, não é no México, não é na Argentina, a crise não é no Brasil, a crise é no centro do sistema; e na hora em que a crise é no centro do sistema, o apelo é fortíssimo, mas muito, muito forte, que se use exatamente o Estado Nacional para a proteção global do sistema. Então, o Estado nessa hora passa a ter um grande significado, passa a ter uma grande importância, passa a ter um grande papel.

Foi feita uma referência há pouco ao Muro de Berlim, que caiu. Eu acho que desabou muito mais coisa com o Muro de Berlim. Acho que também desaba essa idéia de que nós temos uma mão única, que a história acabou, que não existe mais história. Eu exatamente coloco sempre nas mãos da juventude brasileira, especialmente da juventude empreendedora. Talvez tivéssemos que argüir, saindo lá do Ceará, o espírito de Delmiro Gouveia, um grande desbravador. Aqui já foi citado Mauá, mas vamos citar o Delmiro Gouveia, que é mais próximo de nós, do Nordeste e, no meu caso, muito mais próximo, porque sou do Ceará. Mas seus empreendimentos não eram no Ceará, eram no Nordeste brasileiro, estavam ligados à energia, estavam ligados à produção, estavam ligados à indústria, estavam ligados ao desenvolvimento, de que nós tínhamos condições, sim, que o nosso País podia se desenvolver, que a nossa elite econômica podia se unir para um grande projeto de Nação e que esse projeto seria próspero e garantiria emprego, renda e melhoria das condições de vida do povo brasileiro.

Eu tenho esta idéia de que a juventude empreendedora, a juventude que eu conheci na AJE, Associação dos Jovens Empresários do Estado do Ceará, de Fortaleza, tinha esta disposição: nós queremos debater as questões centrais do nosso País, do nosso desenvolvimento. Nós não queremos discutir a periferia dos problemas; nós não queremos discutir os problemas secundários. Nós queremos saber onde estão os entraves que impedem o nosso País de se desenvolver.

Qual o caminho mais eficaz para nós sairmos da ciranda financeira, para nós sairmos do cassino permanente em que foi jogada a economia do nosso País e do mundo? Tem saída esse cassino? É possível resistir à jogatina nacional e estrangeira, que destrói trilhões em poucos dias, em poucas semanas? Para onde vai essa crise? Cai nas costas de quem? Será que vamos assistir ao mesmo filme de sempre, que a crise será paga pelos trabalhadores, pelos que ajudam os empreendedores a produzir a riqueza do Brasil e do mundo? Quem constrói essa riqueza? São esses trabalhadores, em cima das costas desses trabalhadores. Então, esse debate está posto.

A nossa juventude, a juventude brasileira, a juventude empreendedora, a juventude de Delmiro Gouveia, de um José Bonifácio, de figuras da história do Brasil, é como se elas estivessem hoje depositadas nas mãos de cada um de vocês. São vocês mesmos, a juventude empreendedora brasileira, que têm que tocar o debate maior, o debate grandioso, para podermos sair, fugir do secundário, fugir da paralela, e dizer: “Não, o Brasil pode”.

Nós temos como contribuir para um grande debate nacional que permita não que a crise vá embora do nosso País, não que saia fugindo - porque uma crise no centro do sistema jamais deixará de atingir uma Nação como a nossa, que está interligada com todo esse conjunto de ações -, não que ela vá embora, não que saia correndo, mas que tenhamos condições de enfrentá-la com a vontade e a determinação de um povo.

Parabéns à Conaje.

Parabéns à AJE do Ceará, que, no próximo ano, chegará a seus vinte anos de existência.

Parabéns a essa juventude que põe à frente o debate sobre o crescimento, sobre o desenvolvimento e sobre o futuro da nossa Nação.

Um abraço a todos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2008 - Página 47657