Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação sobre a entrevista concedida pelo Senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja desta semana.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Manifestação sobre a entrevista concedida pelo Senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja desta semana.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 17/02/2009 - Página 1833
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, JARBAS VASCONCELOS, SENADOR, DEFESA, DEMOCRACIA, ANALISE, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, MUNDO, DIFERENÇA, BRASIL, OCORRENCIA, IMPUNIDADE, JUSTIFICAÇÃO, ENTREVISTA, CONGRESSISTA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, SITUAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • DETALHAMENTO, IRREGULARIDADE, HISTORIA, POLITICA NACIONAL, PARTICIPAÇÃO, DIVERSIDADE, PARTIDO POLITICO, ESPECIFICAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), APROVAÇÃO, EMENDA CONSTITUCIONAL, REELEIÇÃO.
  • COMENTARIO, VITORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÃO MUNICIPAL, MAIORIA, DEPUTADOS, SENADOR, GOVERNADOR, DEFESA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AMPLIAÇÃO, DEMOCRACIA, ESCOLHA, CANDIDATO, DIVERGENCIA, ORADOR, OPINIÃO, JARBAS VASCONCELOS, CONGRESSISTA.
  • CRITICA, NOTA OFICIAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), RESPOSTA, ENTREVISTA, JARBAS VASCONCELOS, SENADOR, COBRANÇA, ORADOR, LUTA, COMBATE, IMPUNIDADE, REFORÇO, IDEOLOGIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, VALORIZAÇÃO, MEMBROS, HISTORIA, REDEMOCRATIZAÇÃO, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, DIRETORIA.
  • IMPORTANCIA, ENTREVISTA, OPORTUNIDADE, BALANÇO, REGISTRO, EXISTENCIA, IDONEIDADE, ELEITOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CONCLAMAÇÃO, JARBAS VASCONCELOS, SENADOR, BUSCA, INDEPENDENCIA, DEMOCRACIA, EVOLUÇÃO, POLITICA PARTIDARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, a rigor, eu não deveria falar agora; deveria esperar o Senador Jarbas Vasconcelos terminar a entrevista coletiva que está dando. Mas pretendo falar agora sobre a primeira entrevista e, se for o caso, falar de novo sobre o que ele está dizendo agora.

Olha, esse foi um fim de semana que eu passei aqui em Brasília que eu não precisava ter passado. Não havia mais ninguém em Brasília, Sr. Presidente; acho que eu era o único Senador em Brasília. Então era televisão, era rádio, era jornal, era todo mundo: “Senador Pedro Simon, o senhor está aqui; por amor de Deus, só o senhor está aqui”. O Jarbas falou e desapareceu, e eu tive de falar o tempo todo.

Em primeiro lugar, vou dizer quem é o Jarbas. O Jarbas é o grande e extraordinário lutador da política brasileira. Ele é um homem rústico, duro.

Outro dia, numa reunião da Bancada, ele disse que eu era uma pessoa muito complicada. Eu me assustei e perguntei para a Bancada: “Vocês acham que o Jarbas pode dizer que eu, Pedro Simon, sou complicado?”. Porque para mim não há pessoa mais complicada do que ele, Jarbas Vasconcelos. Mas é um homem de posições. Na história da luta da democracia neste País, está lá o Jarbas.

Sobre a entrevista dele, acho que tenho de interpretar da maneira que eu penso: a corrupção é um fato dramático na vida brasileira de hoje. Não é que o Brasil seja mais corrupto do que os Estados Unidos, a Argentina, a Europa, a França, a China, e o Japão. Não! Lá e aqui há corrupção. A diferença, Sr. Presidente, é que, nesses outros países, existe a corrupção mas também, a punição. A justiça funciona.

Em uma época, houve um levantamento no Japão: três Primeiros Ministros, três ex-Primeiros Ministros foram ao suicídio de vergonha do processo que apontava a corrupção que eles tinham praticado. No célebre caso da Itália, na Operação Mãos Limpas, o Presidente da Fiat, a maior empresa da Itália, foi parar na cadeia por corrupção, dois Primeiros-Ministros foram parar na cadeia por corrupção, mais de cem Parlamentares e mais de trinta Ministros dos Tribunais foram parar na cadeia por corrupção. Esses são os fatos.

E no Brasil? No Brasil...

Já falei na sexta-feira. Lá nos Estados Unidos, o Obama é manchete nos jornais, porque a mulher que ele indicou para ser Secretária não pôde sê-lo, pelo escândalo de ela não ter pago US$900.00 de contribuição social de uma empregada doméstica, que era uma estrangeira e não tinha situação regularizada. Ela não pôde ser Secretária. O outro não pôde ser Ministro por uma sonegação de US$15 mil. No Brasil, meu Deus do céu, no Brasil...

Então, o Jarbas fala que existe corrupção, e a manchete da Veja é: “O PMDB é corrupto”. Não mais do que o PT e não mais do que o PSDB. Não mais até porque o PMDB não chegou ao Governo; o PSDB chegou e o PT também chegou.

Existe algum escândalo maior na história deste País do que a privatização da Vale? Três bilhões e quinhentos milhões de dólares! E hoje ela vale US$200 bilhões. E esses US$3,5 bilhões foi o BNDES que deu. Maior escândalo que esse? No PSDB do Sr. Fernando Henrique!

Maior escândalo do que a votação da emenda da reeleição no Congresso? Com os nomes dos Parlamentares, a notícia que foi feita para que fosse aprovada a emenda? No PSDB do Sr. Fernando Henrique!

Naquela época, o PT era o grande Partido. Ah, o PT histórico e extraordinário na Oposição! Pareciam os cristãos cruzados lutando pela moral, pela dignidade e pela seriedade... até chegarem ao Governo. Não há nada mais parecido com o PSDB no governo do que o PT no governo. Então, não dá para dizer “o PMDB é corrupto; o PMDB quer cargo; o PMDB quer favores...” Mas o PT também, o PSDB também e os outros Partidos também. Aliás, isso o Jarbas diz na entrevista dele. A política como um todo está nessa dura realidade. E é tão dura a realidade, é tão triste a hora em que estamos vivendo, é tão complicada a situação que estamos vivendo que, no meio disso tudo - Obama, pacote, economia mundial, o Brasil, as demissões, “para onde vamos?”, “para onde não vamos?” -, chega ao Congresso um projeto do Supremo Tribunal para aumentar o vencimento dos Ministros de R$23 mil para R$26 mil! Eu acho que para os Ministros poderia ser R$26 mil, R$27 mil, R$28 mil ou R$30 mil; não estou discutindo isso, mas que é inoportuno é inoportuno! Em uma hora como esta, abrir o debate o Supremo Tribunal Federal com uma petição dessa natureza?! A situação é de uma anormalidade dentro do seu contexto geral!

Olha, o PMDB foi o Partido que ganhou com o maior número de Deputados Estaduais, maior número de Deputados Federais, maior número de Senadores e maior número de Governadores, na última eleição. E olha que fizemos uma prévia entre o Garotinho e o Rigotto, mas, depois, o PMDB não fez mais convenção. O PMDB se negou a fazer convenção. Os espaços de Presidente da República, nós não podemos usar, porque está a metade de um lado e a metade do outro. Alguns estavam com o PSDB e outros, com o PT; não sabiam quem ia ganhar. Então, uns foram para cá e outros, para lá, para ver, depois, para onde iam. Mesmo assim, fomos o maior Partido.

Na eleição do ano passado, fez o maior número de Vereadores, o maior número de Prefeitos, seis milhões de votos a mais do que está em segundo lugar. E esse Partido é a noiva, está a se oferecer para quem dá mais: PT, PSDB, ou seja lá quem for. Não! Por isso, eu acho um equívoco do Jarbas quando ele diz que o candidato dele é o Serra. Pode até vir a ser. Mas, hoje, nós tínhamos que estar lutando por candidatura própria do PMDB. Inclusive a proposta que eu fiz. Por que não vamos fazer uma legislação e votar? Primeiro, nós vamos escolher as legendas e, depois, os candidatos dentro da legenda. O PSDB e o antigo PFL, o Democratas, estão de um lado; o PT e o PDT estão do outro lado; o PP está de um lado... Vamos escolher as legendas. Depois essas legendas fazem que nem os Estados Unidos fizeram: uma primária, primária que Obama entrou sem nenhuma chance e terminou derrotando a Primeira-Dama, depois o candidato do Partido Republicando.

Eu acho que nós tínhamos condições de ter um candidato próprio. E isto é que eu acho feio: depois de duas vitórias espetaculares... Está certo que o MDB lutou, ganhou a Presidência da Câmara, ganhou a Presidência do Senado, mas acabar aí, não. Nós temos que lutar para ter uma candidatura própria nossa. E o comando partidário não tem a dignidade necessária para fazer essa exigência.

Então, a gente está assim naquela história: se o Lula transferir os 85% do prestígio dele para a D. Dilma, a gente vai de Dilma. Se ele não conseguir transferir os 85% do prestígio dele para a D. Dilma e o Serra mantiver os 45% do prestígio dele, a gente vai de Serra. O MDB fazer isso?! O MDB se limitou. A nossa história, Presidente, a nossa biografia nos limitar a um papel dessa natureza?! Esse é que é o aspecto sério. Por isso que eu acho que o meu querido Jarbas, ao já se colocar de um lado e abandonar a luta da candidatura própria, comete um equívoco.

Eu estou na luta da candidatura própria e acho que é a grande tese.

Quando tinha sublegenda, quando fizemos a discussão de como é que faríamos na democracia, na Constituinte, quando nós fomos dizer para o Dr. Tancredo que a nossa tese, a nossa bandeira, era terminar com a sublegenda, o Dr. Tancredo disse o seguinte: “Olha, Simon, a ditadura militar, os generais criaram a sublegenda no Brasil para se manterem no Poder.” Como a Arena estava implodindo com as várias alas do coronel fulano, beltrano, beltrano, eles criaram a sublegenda para somarem os votos. Isso é um escândalo. Mas lá no Uruguai, do lado da tua casa, ali no Rio Grande do Sul, a sublegenda é o maior exemplo de democracia. A sublegenda no Uruguai, cada partido, as minorias do partido podem ter o seu candidato. E o povo vai escolher. Então, dizia o Dr. Tancredo: “A eleição não é entre dois: ou é o Juscelino, ou é o Jânio Quadros; é o Jânio Quadros ou é o fulano de tal. Não, a democracia o povo vai escolher entre os vários candidatos.” Nós podemos fazer isto. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, não foi o Obama e a Srª Clinton; foi o Obama e a Srª Clinton mais dez candidatos no partido democrata. E mais dez candidatos no partido republicano. E aí, dentro dos partidos, houve o debate até um ganhar e aí foi para a votação. E por que não fazer isso no Brasil? O MDB apresenta o seu candidato, o PT apresenta o seu candidato, o PSDB apresenta o seu candidato. Os vários Partidos se integram e fazem a frente e cada frente debate suas candidaturas.

Agora, para mim, o que considero muito importante - muito, muito importante - é que somos obrigados a reconhecer que a situação como está não pode continuar. O Brasil não pode ser o país da impunidade. O Brasil não pode ser o país onde só ladrão de galinha vai para cadeia. O Brasil não pode ser um lugar em que falar em ética é ridículo, em que falar em seriedade não tem maior consistência.

Eu acho que a entrevista do Jarbas... O PMDB deu uma nota, Sr. Presidente, de seis linhas, dizendo nada com nada. Interessante. “Ademais, lança a pecha de corrupção a todo sistema partidário quando diz ‘a corrupção está impregnada em todos os partidos’. Trata-se de um desabafo ao qual a Executiva Nacional do Partido não dará maior relevo”. Então, como o Jarbas disse que a corrupção está em tudo que é lugar... Se o Jarbas tivesse dito que a corrupção era só no MDB, aí, a Executiva daria uma nota dura, respondendo! Mas, como disse que é todo mundo... Ah, então, podemos ser! A nota não disse nada com nada, Sr. Presidente.

A nota não disse nada com nada, Sr. Presidente. Mas eu acho que, mesmo a nota não dizendo nada com nada, a gente deve conversar, a gente deve se sentar à mesa e discutir. Eu chamaria o Jarbas e vamos conversar, vamos analisar, vamos ver se não é importante o MDB ter uma candidatura própria. Vamos ver se está certo isto de nós nomearmos um Ministro aqui, um Ministro lá, o Sr. Líder indicar aqui, outro indicar lá, e nós não temos a mínima idéia do que cada um desses Ministros pensa ou deixa de pensar, porque o Partido não tem ideologia, o Partido não tem conteúdo. Nós não nos reunimos para dizer o que nós queremos.

Temos seis Ministros, alguns até muito bons. Eu acho Jobim muito bom, o Ministro da Saúde muito bom, eu acho os Ministros do MDB muito bons, mas cada um por conta própria, porque o MDB nunca se reuniu para dizer “não, a nossa política de governo é essa, o que nós queremos é isso, é por aqui que nós vamos”. Isso precisa ser feito, é necessário que isso seja feito. O PT está indo nesse caminho e está certo. Está exagerando com a candidatura da Drª Dilma, mas acho que está certo. Apresentou uma candidatura, que todo mundo levava no ridículo, e agora está provado que é um... Aliás, eu gosto muito da Ministra. Acho ela uma pessoa muito competente e muito séria. O PSDB está lá com o Serra. Alguém tem dúvida da capacidade do Serra, da sua inteligência, da sua competência? E estão avançando.

Mas será que o MDB é só isso? Serra e Dª Dilma? PT e PSDB? E o MDB vai se reduzir a isso, a essa posição? Quando vierem me perguntar, hoje, eu faço questão de dizer que o MDB tem uma história. Nós temos uma história. E não é só a reconstrução deste País, da democracia. Houve um momento em que se quis terminar com a Petrobras, e foi o MDB, aqui, que resistiu e não deixou terminarem com a Petrobras. Houve momento em que queriam terminar com o Banco do Brasil, federal, privatizar o Banco do Brasil, e nós não deixamos que isso acontecesse.

O MDB tem um papel importante na história deste País, na história dos direitos humanos, na história social. O MDB não é só essa gente que está no comando, não.

(O Sr. Presidente faz soar a campanhia.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não é só essa gente que está no comando. O MDB tem uma história mais profunda. Quando perguntam o que estou fazendo do MDB, eu digo que estou no Partido que eu criei e que lutei muito para chegar onde nós chegamos. Alguns estão chegando. Podem até estar no comando, mas não têm a história e não têm a biografia que nós temos dentro do MDB.

Eu acho que o furacão da entrevista do Senador Jarbas Vasconcellos deve servir para a gente parar para pensar. Vamos parar para pensar. Vamos analisar: será que não era hora de o MDB fazer um grande congresso, um grande debate em torno da nossa posição nos dias que estamos vivendo? Será que, depois de duas vitórias espetaculares, em que o povo, na sua esmagadora maioria, disse que o MDB era o Partido, embora não tivesse candidato a Presidente...?

Tem uma coisa, meu amigo Jarbas... Falo pelo meu Rio Grande do Sul e falo por muitos lugares do Brasil por onde andei. Corrupção, sim. Muita? Muita. Mas lá no meu Rio Grande, as velhas bases do MDB continuam as velhas bases do MDB. Fomos três vezes Governo do Estado e temos o nosso nome, a nossa biografia e a nossa história, temos o respeito da opinião pública do Rio Grande do Sul. Estou falando aqui pela TV Senado, sei que muitos me veem agora ou me verão à noite, e, como sempre, receberei a manifestação das bases, porque essa TV é muito assistida no Rio Grande do Sul. E posso lhe dizer que a imensa maioria das bases do meu Partido no Rio Grande do Sul é de gente séria, digna e correta. E eu, o velho Pedro Simon, com oitenta anos, sessenta de vida pública, continuo o mesmo: simples, modesto, pobre, mãos vazias, sem cargos e honrarias, mas com o mesmo respeito da sociedade. No meu Estado, meus amigos, meus companheiros, meus adversários, por mais radicais que possam ser, respeitam a mim e a meu Partido, graças a Deus!

         O Brasil é um País que não tem história partidária, mas a do MDB ainda é a melhor de todas. Era a do PT, até chegar ao Governo. Lamentavelmente, no Governo, esqueceram o breviário pelo caminho e ficaram apenas com a caneta de ser uma vantagem. Esqueceram as lutas e o sofrimento.

Perguntaram-me - a imprensa tem insistido com essa entrevista do Jarbas - como vai ser a saída. Para onde vamos sair? Repito: não acredito em saída que venha deste Congresso Nacional. Não acredito! Não acredito em saída que venha do Lula ou do Governo Federal. Não acredito! E não acredito em saída que venha do Judiciário. Para isso, essa entrevista do Jarbas surte um efeito importante.

De hoje até a eleição temos um ano e oito meses. Um ano e oito meses antes da eleição do Tancredo, nós vivíamos uma ditadura total. Ninguém imaginava que nós teríamos uma oposição que elegeria o Presidente da República. O povo foi para a rua, os jovens foram para a rua, a sociedade foi para a rua - não como queriam o Brizola e tantos outros, na guerra civil, na luta armada, na luta, na guerrilha -, mas, como queríamos nós.

Fomos ridicularizados: “Ah, esse Simon, esses caras aí querem resistir, querem terminar com a ditadura. Cinco generais presidentes, os tanques nas ruas, o poder militar total, o poder financeiro, o poder econômico, a Igreja, a imprensa, todo mundo de um lado, e esses caras aí, essa “gentezinha” aí está achando que vai mudar isso e vai transformar numa democracia. Eles querem ficar até o último guichê, ficar acomodados”. Isso é o que a gente ouvia naquela época.

Pois depois da maior derrota, quando o povo foi para a rua, milhões de pessoas na rua exigindo diretas já, quando o Congresso foi cercado pelas baionetas, a Emenda pelas Diretas Já foi derrotada e parecia que não sobrava mais nada, veio a democracia e veio a eleição do Tancredo e veio a Constituinte, do povo. O povo na rua, os jovens de caras pintadas... Os jovens nos levaram atrás... Qual é a diferença entre a candidatura do Dr. Ulysses, que foi de mentirinha, a anticandidatura do General Euler, que também foi de mentirinha, e a candidatura do Tancredo, que foi de verdade? O povo na rua! O povo na rua, os jovens exigindo a transformação.

         É o que tem que ser feito. É o que tem que ser feito. É o que precisa ser feito.

Para isso convoco o companheiro Jarbas Vasconcelos: meu irmão Jarbas, para isso eu te convoco. Vale a pena. É difícil? É. Mas é a fórmula. Vale a pena nós traçarmos esse caminho. Vale a pena nós buscarmos essa caminhada e não nos dois blocos, que se assemelham. Nada mais comparável ao Fernando Henrique e ao PSDB no Governo do que o Lula com o PT. É a mesma coisa, a mesma coisa. O MDB é a mesma coisa. Há os Ministros do lado de lá, e há os Ministros do lado de cá. A mesma coisa.

Vamos criar a independência, vamos criar condições de avançar. Isso é que é importante. Alguém me perguntou...

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Pedro Simon, me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Eu quero concordar com esta parte importante do pronunciamento de V. Exª. É realmente incompreensível um partido com a história e com o tamanho do PMDB que não tenha uma candidatura própria a Presidente da República, que não aspire ter uma candidatura própria a Presidente da República. Eu realmente fico sem entender o porquê disso. Por isso, quero cumprimentar V. Exª por esse chamamento que faz para uma mobilização do PMDB nesse sentido. E eu gostaria de dizer que, quanto a esse papel de noiva, acho que, para os padrões brasileiros, não é bem noiva, porque noiva nenhuma brasileira fica paquerando de um lado e paquerando de outro. Estou vendo agora nessa novela que, na Índia, realmente são os pais que decidem o futuro da noiva, dependendo de quem dá mais pela noiva que vai casar. No Brasil, o nome é bem outro. Espero, portanto, que V. Exª tenha êxito nesse chamamento que faz, que o PMDB realmente faça jus à história e ao tamanho que tem e tenha uma candidatura própria.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª o aparte.

Com relação a mim, continuo o mesmo. Várias vezes tenho vindo a esta Casa, a esta tribuna e várias vezes tenho discordado do meu partido. Mas isso não quer dizer que eu ainda não tenha a grande esperança de que podemos chegar lá.

Na primeira vez que o Lula foi candidato a Presidente da República, eu fechei com o Lula no segundo turno, contra o Collor. Eu era Governador do Rio Grande do Sul. Todas as promessas me foram feitas, mas eu e meu Governo subimos na tribuna do Lula. Quando o Lula foi eleito Presidente da República, eu subi na tribuna do Lula, achei que ele era o candidato. Até me convidaram para participar do Governo. Não aceitei porque eu dizia que nós devíamos participar do Governo, mas sem fazer parte do Governo. Eu achava que nós devíamos apoiar o Lula, mas sem fazer parte do Governo Lula. Depois, mudou. Mas eu acho que nós devíamos meditar com mais calma a entrevista do Jarbas. Não é o estilo que eu adotaria, mas reconheço que é o conteúdo que eu diria, com respeito para onde temos que chegar.

Possamos nós encontrar esse caminho, possamos nós encontrar o caminho realmente tão necessário.

Sexta-feira passada eu propus aqui que conversassem o Sarney, Presidente do Senado, o Presidente da Câmara e o Presidente do Supremo sobre algumas decisões como essa de que só fique preso o condenado em definitivo, mesmo em caso de assassinato, de violência, de estupro e tanta coisa igual. Eu dizia “vamos conversar, vamos reunir e vamos encontrar um caminho”. A verdade é que ainda não nos damos conta. A nossa Constituição foi feita numa hora, numa época em que nós todos vínhamos da ditadura, tínhamos ódio a qualquer tipo de violência praticada por quem quer que fosse. Então, nós botamos na Constituição espetacular defesa da cidadania e do cidadão. Mas hoje nós temos de analisar não apenas pelo lado da defesa da cidadania e do cidadão - que eu continuo com a mesma posição -, mas nós temos de ver a corrupção, a violência, as coisas da quadrilha organizada, que, hoje, praticamente, não se pode condenar.

Vamos ver o que nosso amigo Jarbas está falando hoje. Queira Deus que possa haver o que eu espero, um debate, ao menos entre a nossa Bancada aqui no Senado, para a gente conversar, debater, analisar e aproveitar o lado positivo. O lado positivo é o que fazer para nosso Partido e para nosso País nesta hora em que estamos vivendo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/02/2009 - Página 1833