Discurso durante a 13ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a crise financeira mundial e críticas ao Governo do Presidente Lula pela maneira como a tem enfrentado.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com a crise financeira mundial e críticas ao Governo do Presidente Lula pela maneira como a tem enfrentado.
Publicação
Publicação no DSF de 26/02/2009 - Página 3171
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVERSIDADE, COMEMORAÇÃO, CARNAVAL, SIMBOLO, CULTURA, BRASIL.
  • APREENSÃO, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, APRESENTAÇÃO, DADOS, CADASTRO, AMBITO NACIONAL, EMPREGADO, DESEMPREGADO, AUMENTO, NUMERO, DESEMPREGO, BRASIL, REDUÇÃO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, COMENTARIO, Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), DESACELERAÇÃO, PRODUÇÃO, ALGODÃO, ARROZ, MILHO, SOJA, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), RESULTADO, INSUFICIENCIA, UTILIZAÇÃO, TECNOLOGIA, AUSENCIA, SEGURO AGRARIO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PREJUIZO, SETOR, PRODUÇÃO, CANA DE AÇUCAR, AUSENCIA, AUMENTO, FATURAMENTO, BAIXA, PREÇO, REGISTRO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, POLITICA, INVESTIMENTO.
  • QUESTIONAMENTO, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, AREA, SAUDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, RECESSÃO.
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, BARACK OBAMA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EMPENHO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, IMPORTANCIA, AUMENTO, NUMERO, EMPREGO, AREA, MEIO AMBIENTE, PRIORIDADE, SETOR, ENERGIA, EDUCAÇÃO, SAUDE, AMPLIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO.
  • EXIGENCIA, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, REPUDIO, ANTECIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LANÇAMENTO, CANDIDATURA, DILMA ROUSSEFF, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • NECESSIDADE, URGENCIA, VOTAÇÃO, PROJETO, BENEFICIO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª. MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Obrigada, Presidenta. É um prazer enorme tê-la presidindo esta Casa hoje.

Gosto muito de estar aqui na tarde de hoje, porque há um ditado que diz que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval. É bom lembrar as festas brasileiras, principalmente uma festa coletiva que atrai multidões, desde o Carnaboi, em Manaus, passando pelo Farol da Barra, em Salvador, por aqueles bonecos gigantes, lindos, de Olinda, sem esquecer - é claro - o Sambódromo, de São Paulo, e da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Também é bom a gente se lembrar do Carnaval e pensar que a cultura popular é tão rica. Vêem-se, no interior de Minas Gerais, as festas maravilhosas; em Pernambuco, o Maracatu; não se esquecendo, evidentemente, da minha Corumbá, cidade de Mato Grosso do Sul, que faz um Carnaval belíssimo.

Essa é uma festa que representa a riqueza cultural nacional nas suas mais variadas formas. Por meio dos seus trajes e das suas alegorias, vamos ver as facetas daqueles sonhos e daquelas esperanças que o povo brasileiro carrega. Para muitos é o contrário: o Carnaval é o momento para recarregar as baterias, criando força, esperança e fé para enfrentar um ano que já começou.

         Hoje é Quarta-Feira de Cinzas. Sai o Brasil da fantasia e entra o Brasil real. E tudo indica que o ano de 2009 será diferente, com uma crise econômica que está varrendo o mundo, cortando lá fora e aqui milhares e milhares de postos de trabalho e gerando um clima de intranquilidade no seio da família brasileira.

Tenho acompanhado os números pela imprensa e pelos relatórios do Caged, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados no País. Só no mês de dezembro, houve um aumento assustador do desemprego em todas as regiões do País. As demissões, em janeiro, atingiram cerca de dois milhões de brasileiros. O desemprego cresceu 20,6% em relação a dezembro, indicando que estamos começando a viver um processo extremamente danoso dos impactos dessa crise mundial.

Além do desemprego, as perspectivas da produção agropecuária, âncora nacional do País, para se falar só em Mato Grosso do Sul, são extremamente desanimadoras. Os números do Conab mostram que vamos ter uma redução da produção do algodão, no meu Estado, em torno de quinze por cento; do arroz, em torno de 5,7%; do milho, de 6%, e da soja, de mais do que 7%. Eu não sei no seu Estado, Mato Grosso, Senadora Serys, mas não deve ser muito diferente.

Qual a razão disso? Diminuição do uso de tecnologia, a estiagem incomum e a falta do seguro agrícola, que é fundamental para equilibrar as incertezas da produção.

Na agrofolha, da Folha de S. Paulo de ontem, há um título “A cadeia da cana perde dez bi em dois anos”. A matéria diz que, apesar da moagem de 83 milhões de toneladas, usinas do setor mantém o mesmo faturamento de 2006 e 2007 e coloca que a queda dos preços expõe a fragilidade do setor, que precisa de mudanças na comercialização e na política de investimentos. Quer dizer, precisamos de políticas novas e de cuidados para o setor da comercialização.

Some-se a isso as medidas protecionistas que vários países vêm adotando e teremos um quadro nebuloso. Eu falei aqui do desemprego, da produção e das medidas protecionistas. Ora vejam: vamos exportar menos, gerar menos empregos e crescer quase nada. Essa realidade para um Estado como o meu Mato Grosso do Sul indica problemas graves para as contas dos Municípios, dos Estados e também para as contas federais.

Eu fico imaginando quais serão os reais impactos que essa crise causará nos setores da saúde, da educação, da segurança pública e me pergunto: o Governo terá instrumentos mais eficazes do que a retórica de palanque para garantir o essencial para os trabalhadores brasileiros? Será que a fantasia do PAC será suficiente para manter o clima de alegria que vimos durante o Carnaval?

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou ontem à nação americana. Interessante, Senadora Serys, que nunca vi, em dois mandatos, como Deputada Federal e, agora, como Senadora, o Presidente vir aqui defender suas idéias e apresentar sua proposta de trabalho para o ano. Não sei porque não há esse hábito no País. Mas o Presidente Barack Obama foi lá. Toda a Suprema Corte presente, a Câmara, o Senado e as mais altas figuras do país, para ouvir o que tinha a dizer o Presidente, cuja obrigação é garantir o rumo ao país. E ele começou dizendo que o Governo tem a obrigação de salvar pessoas, empregos, para que elas tenham mais dinheiro no bolso. Começou falando das pessoas. E é essa a obrigação dos Governos, cuidar das pessoas. Uma coisa tão simples, tão óbvia, mas, às vezes, a gente esquece disso.

Como fazer isso? Ele destaca: construindo um novo modelo de economia, gerando empregos na área verde, meio-ambiente, energias limpas. Mas não qualquer emprego, e sim aqueles oriundos de um planejamento que inclua o que é necessário para o desenvolvimento do país, conhecendo o país, sabendo onde estão os óbices, aquilo que é importante fazer para garantir o emprego e a felicidade da sua população.

O que eu acredito ter sido o mais importante no longo discurso, interrompido 37 vezes por aplausos, de pé, de toda a platéia, inclusive pelo Senador que foi seu adversário, foi que o Presidente precisa assumir a tarefa de conduzir o país de maneira séria e consequente. Falou em assumir as responsabilidades do futuro, em garantir as ações corretas, em ter uma visão moderna e competente e agir com coragem e sabedoria. Enfim, governar com senso de responsabilidade para garantir também a vida das futuras gerações e, principalmente, agarrar as oportunidades que surgem dos desafios. E os Estados Unidos estão enfrentando um grande desafio. E elegeu a energia, a saúde e a educação como o tripé do desenvolvimento. E olha, Senador Geraldo Mesquita, que é difícil um presidente da maior potência do mundo colocar educação e saúde como fundamentais no desenvolvimento.

E o que vemos aqui, no Brasil? Podemos não perceber a crise como os americanos a veem, mas todos percebemos que o Governo vem se debatendo consigo mesmo, adotando a famosa agenda de falar por todos, inclusive fazendo oposição a si próprio. É incrível como o Presidente da República consegue criar cortinas de fumaça dando a entender que a melhor forma de se livrar das responsabilidades reais é utilizando a tática da confusão e da fantasia. Se os juros estão altos, o Presidente Lula está lá para criticar os banqueiros. Se as empresas demitem, a culpa é dos empresários, que são insensíveis. Se caem as exportações, a culpa é atribuída aos países desenvolvidos. Se as obras não saem do papel, a culpa é da burocracia e da Justiça. Enfim, ninguém é responsável por nada, os culpados são as elites desumanas, e tudo fica por isso mesmo, como se vivêssemos um eterno carnaval.

Acho que o Governo, a partir de hoje, Quarta-Feira de Cinzas, deve começar a tratar o povo brasileiro com mais seriedade. Temos que colocar os pingos nos “is”. Não dá mais para viver de fantasia. O momento exige medidas efetivas, menos discursos, menos palanque e mais realismo. O mundo está perplexo, contendo despesas e elegendo prioridades.

Aqui, no Brasil, o Governo Lula não pode ser impulsionado pelas eleições de 2010. Não pode fazer ações para perpetuar seu nome na História, não pode deixar de governar com austeridade e competência só porque tem que plantar um candidato que lhe interessa na sua sucessão. A impressão que temos é que, para fazer sua candidata subir nas pesquisas, vale a pena largar tudo para ir até o interior do Rio Grande do Norte, como denunciou aqui o Senador Agripino, inaugurar tanque e criar peixes. Mas nós aqui, o Senado, temos que fazer a nossa parte, independentemente da coloração partidária. Temos que exigir trabalho, seriedade e visão de futuro do Governo Federal, mas também precisamos dar o exemplo, fazer também aqui a nossa parte com decência e honradez.

Os Srs. Senadores Jarbas, Pedro Simon, Arthur Virgílio e Mesquita não estão sós. Somos muitos que vamos continuar bradando contra os desmandos e a corrupção, onde estiverem. Mais do que isso: fiscalizar e controlar. Essas são as nossas atribuições.

Temos, nesta Casa, uma Comissão de Fiscalização e Controle. É necessário, Senadora Serys, que cumpramos a nossa obrigação. É constitucional. É obrigação nossa, independentemente de partido político. Temos, sim, que fiscalizar e controlar, porque é um dever que o povo nos legou quando nos deu o seu voto.

Temos também, Senador Geraldo Mesquita, que selecionar projetos que interessem ao País, que interessem aos seus cidadãos, que sejam corretos e votá-los com urgência. É fazer a nossa obrigação. É exigir do Governo Federal que ele faça a dele.

Que a Quaresma, que se inicia hoje para todos os cristãos, seja um tempo de orações e sacrifícios, mas também seja tempo de paz, harmonia e esperança para todo o povo brasileiro.

Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/02/2009 - Página 3171