Discurso durante a 24ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do comparecimento do Presidente do Banco Central norte-americano ao Congresso daquele País para debater a crise econômica mundial. Importância do debate sobre a crise econômica mundial nas comissões do Senado Federal. (como Líder)

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Registro do comparecimento do Presidente do Banco Central norte-americano ao Congresso daquele País para debater a crise econômica mundial. Importância do debate sobre a crise econômica mundial nas comissões do Senado Federal. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2009 - Página 4570
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, PRESENÇA, PARLAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PRESIDENTE, BANCO OFICIAL, CRITICA, INEFICACIA, AUXILIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, EMPRESA DE SEGUROS, IMPOSSIBILIDADE, RECUPERAÇÃO, SITUAÇÃO, FALENCIA, AGRAVAÇÃO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.
  • APREENSÃO, MANUTENÇÃO, DIFICULDADE, ECONOMIA INTERNACIONAL, AUMENTO, DESEMPREGO, MUNDO, POSSIBILIDADE, AMPLIAÇÃO, PROTECIONISMO, PREJUIZO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, GAZETA MERCANTIL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AVALIAÇÃO, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA (CNI), REDUÇÃO, ATIVIDADE INDUSTRIAL, AMPLIAÇÃO, DIVIDA INTERNA, PREVISÃO, AUSENCIA, CRESCIMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), DEFESA, ORADOR, COMPARECIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, ESCLARECIMENTOS, DADOS, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA.
  • REGISTRO, AUSENCIA, CREDITOS, INCENTIVO, ECONOMIA, AUMENTO, JUROS, PREJUIZO, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA.
  • APOIO, GOVERNO FEDERAL, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, PRIORIDADE, CRIAÇÃO, EMPREGO, MELHORIA, SAUDE, EDUCAÇÃO, COMBATE, POBREZA, BRASIL, DEFESA, NECESSIDADE, CONTROLE, DIVIDA INTERNA, REDUÇÃO, CARGA, TRIBUTOS, TAXAS, JUROS.
  • EXPECTATIVA, TRABALHO, COMISSÃO ESPECIAL, ACOMPANHAMENTO, CRISE, INICIATIVA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, CONVOCAÇÃO, AUTORIDADE, DEBATE, BUSCA, SOLUÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.

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O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, terei 10 minutos?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - É a nota que V. Exª merece.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Obrigado.

Sr. Presidente, os últimos dados da economia mundial e, notadamente, os oferecidos pela imprensa nacional a respeito da economia do nosso País têm suscitado comentários, os mais diversos, aqui desta Casa. E, considerando o teor dos debates, verificamos que há uma preocupação de que a crise internacional, a crise financeira, realmente invadiu os mercados emergentes e, como não podia deixar, está invadindo o Brasil, mas não na proporção tão apregoada por aqueles que, do ponto de vista político, criticam, de forma a mais radical possível, a política monetária e econômica do Governo do Presidente Lula.

Mas o que eu queria falar, Sr. Presidente, é que, na última semana, chamou a atenção da imprensa do mundo inteiro uma reação inusitada de parte do presidente do Banco Central norte-americano.

Na verdade, a reação do presidente do Banco Central dos Estados Unidos, o Sr. Ben Bernanke, foi furiosa: no Senado Federal dos Estados Unidos, ele esbravejou para quem quisesse ouvir, que, após enterrar centenas de bilhões de dólares do contribuinte em companhias financeiras falidas - como é o caso da AIG e outras - sem conseguir recuperá-las, tudo o que a equipe econômica consegue propor é entregar mais dinheiro aos executivos, aos grupos financeiros.

Em audiência no Comitê de Orçamento do Congresso do Senado, o Presidente do Banco Central norte-americano se confessou furioso com a seguradora AIG, que já recebeu ajuda de 180 bilhões de dólares e não saiu do vermelho.

Segundo suas palavras: “Não consigo pensar em nada que tenha me deixado mais furioso nos últimos 18 meses do que as apostas irresponsáveis da AIG. Mas a quebra da maior seguradora do mundo seria catastrófica para a estabilidade do sistema financeiro mundial. Nós realmente não tínhamos opção a não ser resgatá-la”, disse ele em resposta a Senadores insatisfeitos com o novo programa de socorro.

Como se sabe, em 2008, o governo deu 150 bilhões de dólares para a AIG e assumiu 80% do seu capital, o que não foi suficiente para evitar que a empresa tivesse perdas de quase 100 bilhões no ano, o maior prejuízo registrado na história das corporações dos Estados Unidos. No dia anterior, o Tesouro anunciou que doaria mais 30 bilhões à companhia.

Todos nós que temos acompanhado essa crise histórica da economia mundial, sabemos que, no conceito do mercado, a seguradora AIG está na lista de companhias que “são grandes demais para quebrar”, pelo potencial que carregam de arrastar todo o sistema financeiro se vierem a ruir. O Bank of América e o Citigroup - que já receberam 45 bilhões de dólares cada um - também fazem parte dessa lista.

Uma das coisas que mais chama a atenção nesse fato é que estamos diante do presidente do mais poderoso banco central do mundo, da nação mais rica do mundo, e o que se vê é que estão completamente enredados, reféns quase, dessa verdadeira montanha-russa em que os grandes especuladores transformaram a economia mundial, notadamente a economia produtiva.

É uma crise histórica do capitalismo. Por conta do cassino global, por conta das montanhas de empréstimos, de financiamentos de toda uma cascata de financiamentos, de empréstimos que levam a empréstimos sem nenhuma finalidade, sem nenhum lastro, de papéis ancorados em papéis, o resultado final é que os maus negócios do sistema financeiro, dos bancos, emprestando trilhões para quem não pode pagar, chegou-se a este ponto: as companhias conhecidas como peso pesados da economia global, a exemplo daquelas que mencionei mais atrás, mostraram que estavam montadas em bolhas, em bolhas que estão implodindo uma após a outra, enquanto verdadeiras instituições-zumbis continuam de pé, funcionando como esponjas que absorvem centenas e centenas de bilhões de dólares do contribuinte.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que o governo norte-americano pensa se assume ou não o controle dessas caixas-pretas que, quanto mais sugam, menos mostram solidez, a economia não para de nos brindar com más notícias: recessão no Japão, na Inglaterra, recessão na Europa Oriental, na Espanha e em vários cantos do mundo. E o crédito não aparece. Mesmo baixando os juros a zero ou a quase zero, continua a seca creditícia na Europa e nos Estados Unidos.

A economia não tem dado sinais de superação da crise e, pelo contrário, cresce o desemprego global, o mundo parece marchar para uma nova onda de protecionismo, contra a qual o Presidente Lula já protestou. A sensação que nós temos aqui é como se a economia global estivesse marchando para a desglobalização.

Nosso País ainda não se encontra no olho da crise, mas é preciso que fiquemos atentos.

Segundo a Gazeta Mercantil de ontem, a Confederação Nacional da Indústria - CNI avalia que a atividade industrial tende a apresentar queda em 2009. Em duas semanas, a CNI divulgará novas projeções para a economia brasileira. A indústria caiu a sua atividade industrial cerca de 17%. “Deveremos revisar o crescimento do PIB para algo perto de zero”, disse o economista-chefe da entidade Flávio Castelo Branco.

Crescimento perto de zero! Portanto, por mais que estejamos ainda não completamente impactados pela crise global, não sairemos imunes ou ilesos dela; nossa economia ainda é vulnerável, basta que se considere neste sentido o crescimento da dívida interna. O tamanho da dívida interna já chega próximo do tamanho do próprio PIB brasileiro e não para de crescer. O Brasil está inegavelmente inserido nos fluxos financeiros internacionais.

É por isso, Sr. Presidente, que a presença aqui na Comissão de Assuntos Econômicos e em outras comissões instaladas no Senado Federal é da maior importância, bem como o Sr. Ministro da Economia para explicar esses dados últimos que foram divulgados recentemente.

Não podemos ignorar nem os juros altos e nem a questão da valorização da moeda. Seis meses após o acirramento da crise internacional, as torneiras do crédito continuam emperradas no mercado brasileiro. O prazo médio do capital de giro em janeiro encolheu em quase um quarto, para 384 dias, o último dado disponível. O juro médio subiu 3,2 pontos percentuais, para 36,8% ao ano, afetando pequenas e médias empresas.

Praticamente secou o crédito mais longo e barato para as pessoas físicas, como o financiamento de veículos e o consignado. As pessoas estão se socorrendo do cheque especial, que apresenta taxas de 172%. Quase seis vezes maior do que com desconto em folha. Esta é a situação atual.

E nos Estados Unidos nem se fala. Estamos assistindo, como citei acima, o próprio Ben Bernanke em estado de perplexidade diante do poder do capital especulativo e do hot money sobre o mais poderosa economia do mundo.

No caso do Brasil, temos que agir. Nós, todos os políticos, todos os que nos preocupamos com o nosso povo, temos que ter propostas claras, discuti-las democraticamente.

Estamos de acordo com a estratégia do Governo em investir em infraestrutura, em especial para as regiões mais pobres, em particular o meu Nordeste.

Estamos de acordo em que o Governo abra uma prioridade total para emprego, frentes de trabalho, para colocar a saúde e o sistema escolar no nível que a população precisa, ainda mais agora que a renda popular diminui. Muito mais saúde, muito mais educação temos que agir nesta direção. Estou convencido, diante da crise que não para de crescer, que o Governo ponha todo o foco na produção, desonerando-a e reduzindo a carga tributária e, também, a pesada incidência dos juros sobre ela.

Se é verdade que países como os Estados Unidos consumiram demais e consumiram além da sua capacidade, é também um fato que nós, o povo brasileiro, consumimos de menos, produzimos alimentos, víveres e bens essenciais de menos. Com essa carga tributária e o peso dos juros (dos ganhos financeiros sobre os produtivos) a nossa produção industrial ficou em desvantagem em relação aos ganhos da agiotagem. Temos que ter isto bem claro. O produtor está em desvantagem em relação ao agiota.

É preciso reverter essa situação o mais rapidamente possível e mudar as nossas políticas públicas antes que a crise global nos pegue no contrapé. Essa é a nossa urgência.

Faço minha a analogia do Presidente Lula: jogar mais e mais dinheiro no Sistema Financeiro é como colocar água em panela quente. Quanto mais se põe água, mais ela evapora. No caso dos Estados Unidos, foi como argumentou Lula, é preciso uma mão firme do Estado. No caso brasileiro, precisamos de menos tributos, menos juros, prioridade total para a geração de empregos, frentes de trabalho, escola e assistência sanitária.

Junto com isso precisamos do PAC na construção de casas populares, estradas e saneamento básico para todos. A prioridade nacional tem que ser o combate à pobreza e não o resgate de quem não apenas lucrou...

(Interrupção do som.)

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Mais um parágrafo e termino.

... e engordou enormemente com a crise, antes da crise, mas está também por trás da própria crise.

Nos jornais de ontem, dia 9 de março, o ex-Presidente do Banco Central, Armínio Fraga, defendeu que a taxa de juros Selic pode ficar entre 2 e 4% em 2009. Tudo bem. Temos, então, que promover um grande debate nacional em torno dessas e de outras questões.

Por isso, Sr. Presidente, louvo a Comissão do Senado, instituída pelo Presidente José Sarney, para avaliar a crise, como também a Comissão de Assuntos Econômicos, ambas vão ouvir as autoridades responsáveis pelo setor de crescimento da economia e do combate a essa crise avassaladora que invadiu o mundo e o Brasil.

Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2009 - Página 4570