Discurso durante a 34ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 45 anos da Campanha da Fraternidade.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Comemoração dos 45 anos da Campanha da Fraternidade.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2009 - Página 6577
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONTRIBUIÇÃO, INCENTIVO, SOLIDARIEDADE, BUSCA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
  • ANALISE, INJUSTIÇA, DESIGUALDADE SOCIAL, MUNDO, INEFICACIA, LIBERALISMO, ECONOMIA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, OMISSÃO, FOME, MISERIA, NECESSIDADE, RESGATE, SOLIDARIEDADE, RECUPERAÇÃO, VALOR, FAMILIA, EDUCAÇÃO, RELIGIÃO, CONCLAMAÇÃO, OPORTUNIDADE, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, RESPONSABILIDADE, ESPECIFICAÇÃO, DEBATE, SEGURANÇA PUBLICA, PAZ, VINCULAÇÃO, JUSTIÇA.
  • DEFESA, COMBATE, CORRUPÇÃO, DESVIO, RECURSOS, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, REPUDIO, IMPUNIDADE, CRIME DO COLARINHO BRANCO, CONCLAMAÇÃO, LEITURA, DOCUMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, ORIENTAÇÃO, ELABORAÇÃO, POLITICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Peço, primeiro, desculpas ao nosso ilustre representante do Papa e ao nosso Secretário-Geral pelos exageros do Mão Santa.

O nome dele, Mão Santa, é realmente importante. A mãe dele era franciscana, e ele, um grande médico que operava praticamente de graça no interior do Maranhão, ou melhor, no interior do Piauí - é que agora ele está na Mesa ao lado do Sarney e eu termino me atrapalhando! Ele operava e fazia milagres, realmente salvou muita gente. Este é o Mão Santa, que mostra essa piedade que mostrou comigo agora.

Senhor Núncio, Sr. Secretário-Geral da CNBB, senhoras e senhores, peço desculpas por falar agora - é uma covardia falar a esta hora, quando todo mundo está com fome -, mas eu realmente não poderia deixar de fazê-lo.

Nós estamos aqui para refletir sobre um sentimento que se constituirá, com certeza, na tão desejada redenção da humanidade. Enquanto projeto idealizado por Deus, a fraternidade será, e disso não tenho dúvida, o caminho da verdade e da vida.

Aliás, é uma pena que ainda tenhamos que fazer campanhas pela fraternidade, fraternidade entre os povos. A fraternidade deveria se constituir na essência da própria vida humana. Eu não posso conceber a ideia de semelhante ou, mais, de imagem e semelhança de Deus sem o verdadeiro sentimento de fraternidade. Se somos todos filhos de Deus, então somos também todos irmãos fraternos.

Eu louvo a iniciativa da CNBB. Lá se vão 45 anos de sua atuação na Campanha da Fraternidade, uma das iniciativas mais importantes no resgate da nossa sociedade, mas eu também sinto que essa mesma campanha se torna, cada vez mais, pela fraternidade. Nós não comemoramos nem louvamos, anualmente, a fraternidade entre os povos. Ao contrário, suplicamos para que também, cada vez mais, essa mesma fraternidade seja praticada. Bem que eu gostaria que a Campanha da Fraternidade fosse um verdadeiro ato de louvor. O que constato é que a Campanha da Fraternidade se torna cada vez mais necessária, exatamente porque esse é um sentimento que se esvai na violência, na corrupção e na perda dos nossos maiores valores e referências.

Eu não acredito que as forças do mercado vão tirar da miséria os bilhões que se arrastam pelas ruas, muito longe das passarelas e das luzes dos nossos grandes centros consumidores, não do supérfluo, mas do necessário. Ao contrário, a exclusão é a responsável por tantos irmãos que se estendem, nas procissões das nossas ruas, das nossas praças e de todos os nossos relentos.

Eu não concebo a verdadeira idéia de humanidade nem de fraternidade enquanto um bilhão de pessoas ainda passa fome no mundo. A dor da fome vem da espada que cravamos nas costas, pela nossa omissão, de quem dizemos iguais, irmãos, semelhantes e fraternos.

A verdadeira humanidade virá, portanto, quando resgatarmos de fato o sentimento da fraternidade. A CNBB, nas campanhas da fraternidade, nesses 45 anos, na verdade está resgatando o verdadeiro conceito de humanidade. Um resgate da humanidade tal qual a imaginada no projeto do Criador.

Que bom! E que esse dia seja breve, quando as campanhas da fraternidade se transformem em um ato de louvor ao verdadeiro sentimento de irmandade e de humanidade. Dia virá em que não necessitaremos lembrar aos seres criados por Deus que eles são irmãos, fraternos.

Eu já disse, um dia, que, se nos inspirássemos em todas as campanhas da fraternidade, nesses 45 anos, teríamos, então, o melhor dos programas de governo. De todos os governos, para todos os povos.

Para todos, e não apenas para uma parte dos homens que se acham únicos, que se julgam, quem sabe, o próprio Deus, ou que não são tementes a esse mesmo Deus.

Eu acho que os documentos que fundamentam as campanhas da fraternidade deveriam ser leitura obrigatória em todos os gabinetes, em todos os níveis de governo. Se praticadas todas as propostas, nem mesmo sei se precisaríamos de tantas novas leis, de tantos programas compensatórios, até mesmo de outras campanhas pela fraternidade. Seriam, então, verdadeiramente, não campanhas pela fraternidade, mas campanhas da fraternidade.

Cada ano, um tema. Mas esses mesmos temas nas campanhas da fraternidade são contextualizados numa realidade que teima ser integrada e horizontal, de causas e de efeitos.

Eu também já disse, reiteradas vezes, tenho repetido quase que à exaustão, os nossos melhores valores de humanidade, de solidariedade e fraternidade só serão recuperados se olharmos pelo retrovisor da nossa história. Quando resgatarmos, tenho dito e repetido, os três pilares de sustentação de nossa formação enquanto seres verdadeiramente humanos: a família, a escola e a igreja. Hoje, esses três mesmos pilares, tenho repetido mil vezes, foram substituídos pela televisão. O grande círculo que reunia pais, mestres e pastores foi substituído pelo semicírculo da tevê. As crianças de hoje passam mais tempo diante dos aparelhos de televisão que nos bancos escolares. O pai, o mestre, o pastor foram substituídos por outros atores que simulam e que dissimulam, que informam, mas que nem sempre formam.

Os melhores valores nem sempre são aqueles que reafirmam o verdadeiro sentido da humanidade. A tevê se tornou, por excelência, uma grande passarela para os incluídos. Deixou de fora aqueles para quem a grife é inalcançável.

De nada adiantará, portanto, uma cerimônia especial como esta se sairmos aqui de alma lavada, imaginando que cumprimos uma obrigação regimental, uma folha a mais no calendário legislativo, uma página a mais nos nossos Anais. É preciso que a campanha da fraternidade, para todos nós, principalmente para aqueles responsáveis pelo bem comum, não se restrinja aos gabinetes frios da burocracia, mas que se coloque como essência de vida nas nossas cabeceiras.

Neste ano, a campanha da fraternidade trata do tema: “Fraternidade e Segurança Pública”. O lema: “A Paz é Fruto da Justiça”. O objetivo geral é “suscitar o debate sobre a segurança pública e contribuir para a promoção da cultura da paz nas pessoas, na família, na comunidade e na sociedade, a fim de que todos se empenhem, efetivamente, na construção da justiça social que seja garantia de segurança para todos”.

A paz a que se refere a campanha é aquela “orientada por valores humanos, como a solidariedade, a fraternidade, o respeito ao outro e a mediação pacífica dos conflitos; e não a orientada pelo uso da força das armas, da intolerância com os ‘diferentes’ e tendo como foco (apenas) os bens materiais”.

Eu não posso conceber essa paz como fruto da justiça enquanto o dinheiro para calar a dor nos hospitais, para acender uma luz na escuridão do analfabetismo e para silenciar o ronco dos estômagos vazios continuar se esvaindo pelos ralos da corrupção.

Eu não consigo imaginar essa mesma justiça enquanto permanecer a impunidade. Enquanto se considere violência apenas quando praticada muitas vezes por mãos calejadas e não para os que se escondem atrás de colarinhos brancos. Enquanto se faz justiça para uns poucos e se manda a polícia para os muitos.

Eu não posso ver justiça enquanto o meu irmão é olhado apenas como concorrente e não como semelhante. Que aquele outro, embora eu não o conheça pessoalmente, não virá me dar um abraço fraterno, mas que poderá, na paranoia coletiva que construímos, me lançar a bala perdida.

Como ver justiça na fome que ronda tantos irmãos?

A Campanha da Fraternidade deste ano, em boa hora, e acertadamente, não vê a violência apenas (se é que se pode dizer “apenas”) nos quase cinquenta mil irmãos assassinados a cada ano. Quinhentos mil morreram assassinados na última década! É como que se uma [cidade] Niterói sumisse do nosso mapa a cada dez anos! Uma Bento Gonçalves a cada dois anos. Mais que muitas guerras declaradas, igualmente sangrentas.

A Campanha da Fraternidade vê a violência também na fome, na miséria, no abandono, na indiferença, na corrupção, na discriminação e na paranoia das nossas esquinas.

É preciso também que a comunicação com os nossos irmãos, embora necessária, não seja apenas informativa. É preciso que as novas gerações sejam formadas na cultura da paz, na cultura da justiça como bem almeja a Campanha da Fraternidade deste ano.

A propósito, a CNBB junto com os bispos e equipes de comunicação das 17 dioceses do Rio Grande do Sul vão promover, em julho próximo, o “Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe.” O objeto é “promover espaços de diálogo sobre os processos de comunicação à luz da cultura solidária, na construção de uma sociedade comprometida com a justiça, a liberdade e a paz”.

Segundo os idealizadores, “os países da América Latina e do Caribe vivem, atualmente, um profunda mudança de época. Passam por transformações políticas e econômicas que, por um lado, geram oportunidades e desafios, mas, por outro, não se mostram eficazes na diminuição das profundas diferenças sociais dessas regiões e na inclusão daqueles que, hoje, não têm mais o sentimento de pertencer à sociedade”.

Será uma bela oportunidade, portanto, para discutirmos os pilares da formação dos nossos melhores valores; de voltarmos a olhar os nossos semelhantes como verdadeiros irmãos solidários e fraternos.

Eu não peço, nesta oportunidade, como de praxe, a transcrição, nos nossos Anais do Senado Federal, dos documentos de base da Campanha da Fraternidade deste ano. Seriam apenas novos papeis e tintas a dormitar nos nossos arquivos. Além disso, eles estarão em todas as bibliotecas do País à disposição das melhores consciências.

Eu conclamo que todos leiam como atividade obrigatória, Sr. Presidente, estes documentos. E que os assimilem. E que eles sirvam de orientação para as nossas atividades de formuladores de opinião e formuladores da política.

Quem sabe as gerações que virão comemorem outras campanhas da fraternidade como louvor à verdadeira fraternidade entre os povos. Quem sabe também que todos estes documentos sirvam apenas para os historiadores do amanhã, para que eles conheçam o quanto a justiça hoje está tão longe da maioria.

Mas que eles também reconheçam a nossa luta, nestes nossos dias, por uma paz que seja fruto da Justiça. Tal e qual nos ensina a Campanha da Fraternidade.

Sr. Presidente, era o que tinha a dizer. Muito obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2009 - Página 6577