Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Decepção pela falta de apoio dos quatro senhores senadores que retiraram suas assinaturas para a criação da CPI do Departamento Nacional de Infraestrura de Transportes - DNIT, proposta por S.Exa. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Decepção pela falta de apoio dos quatro senhores senadores que retiraram suas assinaturas para a criação da CPI do Departamento Nacional de Infraestrura de Transportes - DNIT, proposta por S.Exa. (como Líder)
Aparteantes
João Tenório.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2009 - Página 6891
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, RETIRADA, ASSINATURA, GRUPO, SENADOR, IMPEDIMENTO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES (DNIT), APURAÇÃO, DESVIO, VERBA, DENUNCIA, DEMORA, RECUPERAÇÃO, CONCLUSÃO, RODOVIA TRANSAMAZONICA, INICIO, OBRAS, RODOVIA, LIGAÇÃO, MUNICIPIO, SANTAREM (PA), ESTADO DO PARA (PA), CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ANULAÇÃO, LICITAÇÃO, MOTIVO, IRREGULARIDADE, CRITICA, FALTA, POSSIBILIDADE, FISCALIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem dizia da minha alegria de vir a esta tribuna, Presidente, anunciar à Nação a abertura de uma CPI, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para apurar irregularidades no Dnit.

Dois anos! Dois anos passei para que o Presidente Sarney ontem pudesse dizer à Nação que a CPI seria instalada neste Poder.

Cheguei na minha casa, Senador Wellington Salgado, certo de que poderia eu - e outros membros desta Casa - dizer à Nação o nosso papel aqui neste Senado. Em dois anos como Senador da República, não tive uma decepção tão grande como esta, uma decepção de saber que nós estamos amarrados, que nenhum Senador de Oposição nesta Casa é capaz de fiscalizar o Governo Federal! Decepção que me causa mal-estar! Decepção que, se fosse eu homem fraco de espírito, estaria hoje renunciando ao meu mandato.

Sinto a sensação, Srªs e Srs. Senadores, que nada temos mais a fazer nesta Casa, que esta Casa perdeu a sua finalidade, que a imprensa tem razão, que a imprensa tem razão de dizer que este Senado está no fundo do poço. O Senador Jarbas Vasconcelos tem razão de dizer que esta é uma Casa desmoralizada.

O Presidente Sarney, que entra agora para assumir os trabalhos desta Casa, ontem, com muita dignidade, deu liberdade para a Oposição, como homem íntegro, como homem democrata, apurar os bilhões desviados no Dnit. Fiz isso em nome de uma população, Senadores. Não fiz isso para aparecer. Fiz isso para cumprir meu mandato. Fiz isso para defender a Transamazônica no meu Estado. Fiz isso para defender a Santarém-Cuiabá, no meu Estado, pois já foram abertas três licitações, todas anuladas pelo Tribunal de Contas da União por irregularidades.

Estamos desmoralizados. Minha família me perguntou hoje o que eu ainda vinha fazer aqui nesta Casa, Senador. Meus filhos e minha mulher perguntaram a mim o que eu ainda vinha fazer aqui neste Senado se eu não poderia fiscalizar o Governo.

Disseram que eu precisava catalogar 27 assinaturas. Fui além, Brasil. Fui além, Brasil. Consegui 32 assinaturas, Brasil. Um Senador faleceu.

Eu duvido que este retiraria sua assinatura. Em hipótese alguma este Senador retiraria sua assinatura. Ele não retiraria por interesse, não retiraria por pedidos, não retiraria por amizade, porque respeitava o País, respeitava o povo brasileiro. Senadores, era isto que eu queria fazer: simplesmente mostrar ao povo brasileiro o que existe dentro do podre Dnit, do incapaz Dnit. Era só isso que eu queria mostrar à população.

Ontem, depois de dois anos... Tiveram dois anos para retirar assinaturas e não retiraram. Vieram retirar ontem, na calada da noite. Retiraram suas assinaturas Senadores que, inclusive, respeito, Senadores que jamais me passaria pela cabeça que pudessem retirar as suas assinaturas, Senadores amigos, Senadores que parece a mim estarem comprometidos com a sociedade. Que decepção! Que decepção! Que explicação poderá dar um Senador que teve dois anos para retirar a sua assinatura de um documento que quer mostrar ao povo brasileiro as irregularidades dentro do Dnit e o fez somente ontem? Que explicação deve à Nação um Senador que teve dois anos para retirar e não retirou e só veio retirar ontem, exatamente depois que a CPI foi anunciada? Algum pedido, alguma orientação, e eles fizeram sem pensar na Nação. Eles fizeram sem pensar naqueles sofridos que estão precisando de estradas, que estão precisando de pontes, que não sabem o que passa por trás de tudo isso, essa sujeira, essa lama de corrupção com que o Brasil precisaria acabar. Não vai acabar nunca, porque nem CPI se pode instalar no Senado Federal. Não vai acabar nunca. Isso aí é dizer ao Governo: faz que nós aqui te amparamos. Isso aí é dizer ao Governo: os órgãos do Governo podem agir como quiserem porque aqui, no Senado, não deixamos fazer investigação.

Senadores, aqueles que retiraram... Senador Tenório, devo uma consideração imensa a V. Exª... Senador Valter Pereira, devo uma consideração imensa a V. Exª... Não dormi, Senadores, não dormi, tive insônia à noite ao pensar em V. Exªs. Não entendi de forma nenhuma. A angústia foi muito grande, Senadores, muito grande, por ver um amigo, um homem sincero, como é caso do Senador Tuma, retirar sua assinatura. A decepção é muito grande. Em troca disso, a desmoralização. Vou ler como este Senado está desmoralizado.

            Presidente Sarney, depois de dois anos, V. Exª teve a dignidade de ler a CPI do Dnit, porque, pela sua experiência, sua capacidade, seu amor à Nação, mostra que quem não deve não teme. Apure! Se tem irregularidade, mostre! Se não tem, era meu dever pesquisar. V. Exª entendeu...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - ... de fazer a abertura da CPI. Eu vibrei, eu pensei que este Senado ainda era sério naquele momento, Senador. Se eu fosse um homem fraco de espírito, hoje eu renunciaria. Eu pensei no milhão e meio de votos que tive dos companheiros que acreditaram em mim, que me deram essa obrigação de vir para cá lutar pelo País e pelo meu Estado, pelo meu querido Estado do Pará.

            Olhe, Senador Marconi, aonde nós chegamos. Olhe o que diz o Pagot deste Senado. Olhe o que diz o Diretor-Geral do Dnit, sabendo, antecipadamente, que conseguiria anular a minha CPI. Olhe como um Senador é humilhado pelo diretor de um órgão.

Pagot, tu não vais ser fiscalizado nunca! Faz o que tu quiseres! Rouba Pagot! Rouba o dinheiro público, Pagot! Mete a mão nos cofres do Dnit! Nada vai te acontecer, Pagot! Tu estás altamente protegido aqui nesta Casa, Pagot! Tu és um herói!

Olha o que diz ele:

            Sobre as costumeiras críticas do Senador do PSDB Mário Couto, Pagot preferiu ser cauteloso: “Está claro que o Senador Mário Couto está agindo com fins políticos e demonstra claramente o objetivo de denegrir a imagem do Dnit. Mas acho que uma CPI vai ser ótima para que ele saiba das coisas que envolvem os Senadores e o Partido dele.

Que moral nós temos para um homem desse? Pagot, tu vais ter que dizer os nomes dos Senadores do PSDB! Os Senadores do PSDB são sérios. Tu és um irresponsável! Tu vais ter que dizer! Agora vai ser pior para ti. Hoje mesmo eu vou entrar, novamente, pedindo a CPI do Dnit. Agora vai pegar a tua administração. Aquela, Senadores, não pegava a administração do Sr. Pagot; esta vai pegar a administração do Sr. Pagot. Eu não vou desistir, Pagot. Eu vou mostrar à Nação quantas irregularidades há na administração do teu órgão. E não adianta por a culpa em ninguém.

Pois não, Senador João Tenório.

Senador Sarney, já vou descer; só vou dar o aparte e desço.

O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Senador Mário Couto, gostaria de registrar, primeiro, a minha admiração pela sua coragem, veemência e contundência na defesa de coisas que V. Exª entende ser importantes. Gostaria de tentar justificar a minha posição de uma revisão no que diz respeito à minha presença no pedido da CPI, em função, primeiro, de que houve uma mudança expressiva de situação política no País, situação deste Senado no País, desde aquele momento em que se criou a CPI, e que eu tive a honra e orgulho de assinar em apoio à sua iniciativa. Nós vivemos, no Senado, momentos de purificações; é a grande verdade. Acho que, por si só, o Senado já está realizando um trabalho de purificação importante e que precisa ter, digamos assim, força e concentração suficiente para que esse trabalho importante, que está sendo feito pelo Presidente José Sarney, pelo nosso Vice-Presidente e por toda Mesa Diretora, possa se dedicar com exclusividade, ou pelo menos com atenção, com um foco maior possível, para que o resultado desse trabalho seja profícuo. Quero lhe dizer, então, que, na verdade, a minha posição, a minha avaliação, a minha reflexão, ao retirar a assinatura, a pedido da nossa Comissão, é no sentido de que seja dado a este Senado, seja dado a esta Mesa a oportunidade de fazer esse trabalho sem desviar a atenção. Nós temos experiências muito recentes do que aconteceu com algumas CPIs, que transtornaram demais a vida do Senado. Então, eu acho que neste momento em que o Senado volta os olhos para dentro de si, de um trabalho magnífico que está sendo feito pelo seu Presidente e por toda Mesa Diretora, eu acho que haveria necessidade de um tempo para que nós nos dedicássemos exclusivamente a esse tema. Daí por que, concordei que fosse feita uma reflexão sobre o momento inoportuno para que essa Comissão de Inquérito viesse a ser instalada. Repito: quero fazer referência a V. Exª pelo trabalho, pelo empenho e pelo entendimento de que o seu direito de buscar a verdade é absolutamente coerente e certo. Diria apenas que a razão pela qual eu fui levado, ou pelo menos fui refletir no sentido de retirar, porque acho que o Senado está vivendo um momento de reflexão interna, de uma purificação interna e, para isso, acho que o Senado deve concentrar todos os seus esforços no sentido de que essa tarefa seja realizada. Muito obrigado.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Sr. Presidente, já vou descer; já vou descer Presidente Sarney.

Senador Tenório, V. Exª não calcula o quando lhe aprecio. Senador, quanto mais tempo, mais roubo; quanto mais roubo, mais prejuízo à Nação. As pessoas não podem ser lesadas.

Nós temos a obrigação, Senador, a obrigação Senador - ponha na sua cabeça isso -, de defender o povo, principalmente o povo dos nossos Estados, Senador! É nossa obrigação!

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Nós temos de defender o dinheiro público. É nossa obrigação.

Por isso, Senador, vou descer desta tribuna, mas lhe confesso: para mim, os Senadores que assinaram essa retirada de assinaturas causaram-me uma decepção profunda. Estou dizendo do meu sentimento, Senador. Eu não sei esconder. Desculpe-me. Eu só assim mesmo. Eu não sei esconder. É um sentimento muito profundo de angústia. V. Exª não calcula, quando me entregaram a lista e eu li os nomes nela, a noite que passei! A noite de angústia e de insônia que passei, Senador! Porque esses quatro Senadores que retiraram as suas assinaturas da CPI do Dnit, para mim, eram muito respeitados.

Por isso, Senador Presidente Sarney, obrigado por sua postura em ter lido a CPI.

Eu quero falar para a Nação, eu quero falar para o meu Estado: julguem, julguem. Eu não quero, aqui, criticar mais ninguém. Julguem, cada um de vocês, homens e mulheres deste País, julguem aqueles que retiraram a assinatura da CPI do Dnit.

Muito obrigado.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Permita-me, Senador Mário Couto, um aparte?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Pois não.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2009 - Página 6891