Discurso durante a 58ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cumprimentos ao Senador José Sarney pelo transcurso, hoje, do seu aniversário. Exaltação às propostas de incentivo a literatura por ocasião do Dia Mundial do Livro, transcorrido ontem. Apresentação de projeto de resolução que institui o "Diploma Monteiro Lobato" no âmbito do Senado.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Cumprimentos ao Senador José Sarney pelo transcurso, hoje, do seu aniversário. Exaltação às propostas de incentivo a literatura por ocasião do Dia Mundial do Livro, transcorrido ontem. Apresentação de projeto de resolução que institui o "Diploma Monteiro Lobato" no âmbito do Senado.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2009 - Página 13010
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, LIVRO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, POPULAÇÃO, REGISTRO, DIVULGAÇÃO, LITERATURA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, TELEVISÃO, CINEMA, MUSICA, ELOGIO, INICIATIVA, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), UNIÃO, DIVERSIDADE, CULTURA, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, JOÃO GUIMARÃES ROSA, ESCRITOR.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, LIVRO, LIBERDADE, POPULAÇÃO, CONHECIMENTO, HISTORIA, REGISTRO, COMPETENCIA, ORADOR, MEMBROS, PARLAMENTO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), DIVULGAÇÃO, ESCRITOR, AMERICA LATINA, DEFESA, INCENTIVO, LEITURA.
  • DETALHAMENTO, DADOS, DEMONSTRAÇÃO, INFERIORIDADE, QUANTIDADE, COMERCIO, LIVRO, PRECARIEDADE, BIBLIOTECA, AMBITO NACIONAL, CRITICA, SUPERIORIDADE, ANALFABETISMO, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, ESFORÇO, MELHORIA, EDUCAÇÃO.
  • DEFESA, PROJETO DE RESOLUÇÃO, AUTORIA, ORADOR, CONCESSÃO, SENADO, DIPLOMA, MONTEIRO LOBATO (SP), ESCRITOR, HOMENAGEM, PESSOAS, CONTRIBUIÇÃO, EDIÇÃO, PUBLICAÇÃO, DIVULGAÇÃO, PROMOÇÃO, ACESSO, LIVRO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, COMERCIANTE, DISTRITO FEDERAL (DF), INCENTIVO, DIVULGAÇÃO, CULTURA, LIVRO, AÇOUGUE, LOCAL, ACESSO, ONIBUS, DISPONIBILIDADE, OBRA LITERARIA, UTILIZAÇÃO, EXPERIENCIA, PREFEITURA, CAMPO GRANDE (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), DEFESA, AMPLIAÇÃO, PROJETO, AMBITO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso) - Obrigada, Sr. Presidente, quero fazer minhas as suas palavras e cumprimentar o Presidente Sarney, que faz aniversário hoje, estendendo estes cumprimentos a todos os brasileiros que aniversariam no dia de hoje.

Quero aqui falar de um aniversário, de um aniversário diferente. Ontem, no dia 23 de abril, nós comemoramos o dia de São Jorge, o Dia do Livro e o Dia da Flor. Na Catalunha, na Espanha, há uma tradição de que, neste dia, eles festejam o culto religioso, o dia do amor (aí simbolizado pela flor) e o dia da cultura (simbolizado pelo livro). Eu achei muito bonito isso que se faz na Catalunha: o livro, a flor e São Jorge (a religião).

Aqui no Brasil, milhares de pessoas, sejam do Candomblé ou da Igreja Católica, foram orar por São Jorge. Eu queria que esses milhares de pessoas fossem unir-se ao redor dos livros. E é essa a razão da minha fala de hoje. Muitos poderão dizer: “Mas em uma época de crise, em uma época difícil, lá vem a Marisa, outro dia, falando de cultura e, hoje, falando de livro”. Eu quero dizer a todos que é justamente, em épocas difíceis, em épocas de crise, que nós precisamos de toda nossa inteligência, de todo nosso conhecimento para mudar essa página do País e do mundo.

E nada mais importante do que o conhecimento, e nada mais importante do que o livro. Então, se justifica e muito, eu acredito, esta minha fala, relembrando hoje um dia tão importante: o dia 23 de abril.

Essa é a garantia de que nós podemos sair dessa crise muito maior do que entramos, se nós realmente apostarmos em tudo aquilo que pode assegurar que o povo brasileiro, através da cultura, da educação, do conhecimento, possa mostrar a saída. A saída não virá por decreto, a saída não virá por uma lei, a saída dessa crise virá pelo trabalho de todos os brasileiros e o trabalho de todos os brasileiros, a sua autonomia, a promoção do conhecimento, reinventando cada minuto de nossa vida. É isso que vai fazer com que este País se torne cada vez maior.

Quero dizer que a minha vida toda dedicada à educação me traz hoje aqui para falar, como disse, do livro. E nada mais importante do que o mês de abril. Queria dizer que, no dia 2 de abril, nós celebramos o Dia Mundial da Literatura Infantil. E por que isso? Porque é uma homenagem a Hans Christian Andersen, que é o pai das nossas histórias infantis. Duvido que haja um Senador que não tenha lido algum livro do Andersen na sua infância. E no dia 18 de abril, agora também neste mês, dia do nascimento de Monteiro Lobato, nós aqui no Brasil festejamos o Dia Nacional Livro Infantil.

Dia de Monteiro Lobato: 18 de abril. E o dia 23, que foi ontem, é o Dia Mundial do Livro e dos direitos do autor. Sr. Presidente, este mês de abril, portanto, é muito importante para todos aqueles amam o livro. Vejo aqui que é difícil o Senador Mão Santa vir para este plenário sem trazer um livro, sem estar lendo. Não sei nem qual é o livro de hoje.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Tenho três, sendo um deles do Senador Paulo Duque, um sobre o Presidente Sarney e o terceiro é sobre o rei Davi. Estou aguardando o que a senhora está fazendo para eu ler.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Então, aquilo que estamos falando - e o Senador Mão Santa dá um exemplo disso nesta Casa - é justamente sobre formar cidadãos autônomos, livres, competentes, esclarecidos. Para isso, o livro é fundamental.

Quero também dizer, Senador Mão Santa, que às vezes as pessoas que estão me ouvindo dizem assim: “Livro? - um lê, outro não lê - Ah, eu não leio livros”. Mas eu queria dizer que o livro serve a diversos tipos de linguagem. E o livro é transformado em diversos tipos de linguagem. Às vezes, quem está me ouvindo e fala que não lê livros está lendo um livro por uma outra forma de linguagem. Por exemplo, a televisão. A televisão é potente. A nossa TV Senado nos leva a cada rincão do País por meio das parabólicas e da linha direta. Mas a televisão é tão potente que transforma livros em novelas, em minisséries, em tudo aquilo que o brasileiro vê. Às vezes ele nem sabe que está lendo um livro por meio de uma novela, que ele está lendo um livro por meio de uma minissérie, que ele está lendo um livro a partir de um relato. 

Então, na televisão, por exemplo, eu queria lembrar aqui A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, que escreveu o livro em 1875. A Escrava Isaura foi uma das novelas mais vistas no mundo e saiu de um livro de Bernardo Guimarães. Quem não viu A Casa das Sete Mulheres, que retrata o Rio Grande do Sul, do Senador Paim? Hoje, vi aqui alguns gaúchos que estão nos visitando, com chimarrão e cuia. Mas quem é que não viu Os Maias na televisão? Grande Sertão: Veredas? Meu Deus, quanta coisa nós vimos de livros por meio da televisão, nas grandes minisséries - A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz. Foi lindíssima essa minissérie, extraída de livros de grandes autores nacionais. E nem sempre aquele que é aficionado por novelas, nas minisséries, percebe que está lendo um livro por meio de outra linguagem.

Aí se pergunta: mas é só a televisão que transforma o livro e mostra para o povo brasileiro? Não. Há uma arte que é importantíssima e que se utiliza muitíssimo de livros, quase todos ou praticamente todos, que é o cinema, a chamada de sétima arte.

As telas do cinema têm exibido inúmeros filmes. Na área internacional, então, nem se fala. Aquele bruxinho que as nossas crianças viram na televisão, filas e filas no mundo todo para saber como ia se dar e todo mundo comprando os livros.... Meu Deus do céu, isso foi ótimo. É a forma de atrair a criança para o livro. Mas e os adultos? Será que também são atraídos pelos livros por causa da televisão?

É claro que são. Acabam de ver o filme na televisão e vão ler o livro. E se lêem o livro: “Ah, está passando agora na televisão, está passando agora no cinema! Vou lá ver o filme”.

Por exemplo, só de Machado de Assis, aqui no Brasil, Dom Casmurro, A Cartomante, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e O Alienista foram transformados em filme.

E um pouco mais no meio desta nossa história: O Homem Nu, de Fernando Sabino; e Os Sertões, de Euclides da Cunha? E não preciso nem falar de Vidas Secas, do Graciliano Ramos.

Mas agora, recentemente, do ano passado para cá, dois filmes explodiram nas telinhas de todo o País, aliás, nas telonas de todo País. Um deles é “Meu Nome não é Johnny” e, o outro, “Tropa de Elite”. Pelo Brasil todo, filas e filas nos cinemas para ver esses dois filmes.

Meu nome não é Johnny é um livro de Guilherme Fiúza, e Elite da Tropa, um livro de Luiz Eduardo Soares, ambos os livros foram transpostos para o cinema. E muita gente que viu o filme não tem nem idéia de que esses filmes só foram possíveis porque escritores colocaram “no bico da pena”, como se dizia antigamente, a sua história.

Mas quero falar também que não são apenas essas duas linguagens, a televisão e o cinema, que podem mostrar o livro para todo o povo brasileiro. Não! Também a música E aqui eu quero dizer que a música é sempre influenciada pela boa literatura.

E quero citar um exemplo. Em 2008, no ano passado, no Festival de Inverno, de Campos do Jordão, Estado de São Paulo, as obras de Dom Casmurro, Romeu e Julieta e Dom Quixote serviram de inspiração para as apresentações de música clássica. É a música se servindo da literatura para poder transmitir a sua linguagem para a população. E ainda quero dar outro exemplo de como a literatura se transforma em diversas linguagens.

Por iniciativa da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, no ano passado aconteceu uma coisa incrível. Sabe o que tinha em uma Assembléia Legislativa de um Estado de Minas? Reuniram-se artesanato, teatro, artes plásticas, dança, música, literatura e gastronomia da região numa grande mostra a que se chamou “O Sertão de Guimarães Rosa - tudo é e não é”. Isso é próprio de Guimarães. E para comemorar o centenário de Guimarães Rosa, que se deu no ano passado.

Uma assembléia legislativa serviu para enfeixar tudo que é cultura por intermédio da linguagem de um grande escritor brasileiro e mineiro, que é Guimarães Rosa. Essa data mundial do livro que celebramos ontem foi escolhida pela Unesco em 15 de novembro de 1995, portanto há quase 14 ou 15 anos. Foi editada para homenagear dois grandes escritores mundiais: William Shakespeare, um inglês que escreveu muitíssimo para o teatro, uma pessoa incrível, que inspirou muitos escritores no mundo todo e até hoje celebradíssimo como um dos grandes do mundo; e Miguel de Cervantes, um espanhol, outro que todo mundo já ouviu falar. Quem é que não ouviu falar de Dom Quixote? Ambos, tanto William Shakespeare, como Miguel de Cervantes, faleceram no dia 23 de abril. E é por isso que a Unesco revolveu, homenageando esses dois grandes escritores mundiais, estabelecer esse dia como o Dia Mundial do Livro.

Na hora em que resolveu homenagear esses dois escritores, a Unesco não fez isso apenas pelos dois grandes escritores, mas, sim, porque queria mostrar o quanto o livro é instrumento de libertação, o quanto o livro é potente para a difusão do conhecimento, o quanto o livro é importante para a construção interna e para o enriquecimento cultural de cada pessoa.

Essa foi a maior justificativa e essa é a garantia - vendo o dia 23 de abril, Dia de Cervantes, Dia de Shakespeare - de mostrar que é o nosso dia, o dia de todas as pessoas que acreditam na educação, na cultura, no conhecimento.

Falamos sempre que os livros alimentam a alma. Eu me lembro da história de uma menina - que inclusive serviu para a televisão e não me lembro muito bem se era apenas um marketing - que dizia que, por intermédio do livro, ela saía da terra e criava outros mundos, conhecia outros mundos, inventava outros mundos. Por meio do livro, choramos, rimos, aprendemos e nos emocionamos.

E não só os livros de romances, não só os livros de poesia, mas livros também que, às vezes, contam histórias que a gente não viveu, mas que ficamos conhecendo por intermédio desses livros. Às vezes, são livros de reportagens, são biografias importantes e, principalmente, são ensaios históricos que nos legam momentos da história importantes para nós. E temos inúmeros livros que nos remetem à nossa história. Sem eles, talvez, não ficássemos conhecendo cada espaço da vida dos brasileiros naquele contexto histórico.

Mas não quero falar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apenas dos nossos autores nacionais, que são muitos; de cada Estado brasileiro há grandes representantes. Já falei dos nossos autores nacionais. Mas também queria falar um pouquinho dos autores latino-americanos, pelo menos mencionar, porque não daria, aqui da tribuna, para discorrer sobre as obras de cada um.

Já que sou Parlamentar do Mercosul e trabalho tanto pela integração latino-americana, não quero deixar de mencionar grandes autores, dentre tantos grandes, alguns grandes. Queria falar de Mario Vargas Llosa, um peruano que hoje é um cidadão do mundo. Julio Cortázar e Jorge Luis Borges, dois argentinos magníficos. Gabriel García Márquez, quem não conhece e não ouviu falar? Um colombiano que foi, é e continuará sendo sempre um marco na tradição cultural latino-americana. E queria falar de uma pessoa que é um referencial e um farol pra mim e, tenho certeza, para muitos. É o Pablo Neruda, cuja casa tive oportunidade de conhecer lá no Chile, em Isla Negra. São pessoas que enriquecem a vida de cada latino-americano não só dos países em que eles nasceram, mas de todos que moramos na América Latina.

           Eu quero dizer, Sr. Presidente, que muitos dizem que os livros vão acabar, porque, com a chegada da Internet, com a chegada da informática em geral, os livros vão ficar obsoletos. Não ficam. Eles podem mudar de espaço, podem talvez deixar de ser a brochura que nós temos hoje; podem, futuramente, talvez daqui, sei lá, a 50 anos, a 100 anos, ser lidos por meio da telinha de um computador ou de um outro tipo de instrumento que o futuro pode nos legar. Mas o livro será sempre o livro! Será sempre um libelo da cultura, da tradição e da vida de viver de cada povo.

Eu quero também aqui dizer que a gente pode imaginar que o brasileiro lê muito. Mas o livro em si, a brochura, não é lido por muitos brasileiros, não. As pesquisas indicam que poucos brasileiros leem. E, desses poucos brasileiros que leem - de 2000 mil para cá, nós praticamente triplicamos o número de brasileiros que estão lendo -, em geral, as escolas indicam livros para os nossos estudantes, e eles leem porque têm que fazer um trabalho escolar, eles leem porque têm que passar num exame final, eles leem porque têm que fazer o vestibular, mas leem. A questão toda é garantir o hábito da leitura. E aquelas pessoas que não leem, que não têm o hábito dessa leitura têm que começar. Comecem a ler! Não importa o quê! Comecem a ler a revista, o jornal, uma pequena história... Leiam um conto! Leiam um conto! A partir daí, você vai acreditando que é importante a leitura e vai começar a ler sempre, cada vez mais. Quem começa a ler não para nunca. Esse é um enriquecimento pessoal que ninguém deixa de ter.

Mas eu quero dizer aqui também que há casas do livro, as livrarias, por exemplo. E eu queria aqui contar uma coisa para vocês. Eu não sei se vocês sabem, mas 90% dos Municípios brasileiros não têm livraria. Quer dizer, a livraria, Senador Paulo Paim, é a casa do livro. Se 90% dos Municípios brasileiros não têm uma livraria e se V. Exª pensar no seu Rio Grande do Sul, eu tenho certeza de que o senhor vai começar a contar aí a quantidade de cidades em que o senhor não viu uma livraria. E não são cidades “pequetitinhas”; cidades de médio porte também não têm livraria. Falando nas livrarias, o Brasil só tem 1.500 livrarias; e, dessas 1.500, metade delas, 2/3 delas estão localizadas no Sudeste. No Norte e Nordeste, é uma dificuldade se ver uma livraria.

Mas há outra casa do livro que não é só a livraria, é a biblioteca. E como será que nós estamos de bibliotecas no nosso País? Eu acho que essa é outra questão que nós temos que discutir. As nossas bibliotecas hoje nem sempre são atraentes para o leitor, nem sempre são bonitas; são pobres, têm pouco acervo,

às vezes não têm pessoas habilitadas para cuidar dos seus livros, não atraem o leitor, não estão colocadas em local de fácil acesso. Tudo isso para dizer que nós precisaríamos muito cuidar das nossas casas dos livros, tanto as livrarias, como as nossas bibliotecas.

           E eu queria falar de alguma coisa que acho fundamental. É claro que eu vim falar do mês de abril, de três grandes datas: dia 2, que é o Dia Internacional do Livro Infantil; dia 18, que é o nascimento de Monteiro Lobato, o Dia Nacional da Literatura Infantil; e o dia 23, que é o Dia Mundial do Livro. Só por essas datas, já bastaria a minha vinda aqui. Mas eu tenho mais uma razão por estar aqui nesta manhã. Eu apresentei um projeto de resolução, que já está aqui nesta Casa, para criar, Senador Mão Santa, o Diploma Monteiro Lobato, no âmbito da nossa Casa. A idéia veio do diploma que é conferido anualmente, o Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz, que esta Casa instituiu.

Então, anualmente, a idéia é que possamos homenagear cinco personalidades que tenham contribuído para edição, publicação, divulgação e promoção do acesso ao livro. Que esta Casa aqui possa contribuir para que a gente homenageie aqueles que acreditam na leitura e que fazem da leitura a razão da sua vida. Essa tem que ser a contribuição deste Plenário. Entre tudo aquilo que temos feito aqui no Senado Brasileiro, vale a pena termos um dia para lembrar que isso é importante.

Portanto, o diploma que estou propondo chama-se Monteiro Lobato, até para homenagear esse grande escritor brasileiro que esteve à frente do seu tempo. Ele falava, discutia e lutava pelo meio ambiente lá atrás. As questões maiores no Brasil... Quem não ouviu falar do Jeca Tatu? Todo o mundo. Mas também tenho certeza de que todo o mundo ouviu falar do Sítio do Pica-pau Amarelo. Só para falar de duas partes do Monteiro Lobato, de duas propostas do Monteiro Lobato que fizeram e fazem a história.

Eu acredito que isso será muito importante, porque, afinal de contas, Monteiro Lobato criou a primeira editora nacional de livros. Isso é algo que garantiu ao Brasil hoje um número tão grande de livros que edita.

Mas eu não queria terminar minha fala sem deixar algumas sugestões para todo o País, para todos aqueles que estão nos vendo e ouvindo, mas principalmente para esta Casa. Uma delas é o que o Senador Mão Santa faz aqui. Ele, trazendo o livro, falando de livro, comentando o livro, está sempre dizendo ao povo que está ouvindo, ao povo brasileiro, que o livro é importante. Essa é uma forma de fazer.

Mas ainda há outras sugestões que eu queria dar para estimular a leitura. Por exemplo: ofertar bons livros. É aniversário de alguém? Dê um bom livro. É uma data comemorativa? Ofereça um bom livro. Coloque um livro como um presente para aquelas pessoas que você ama. Faça uma boa dedicatória e ofereça um livro às pessoas. Faça com que as pessoas também comecem a ter o hábito da leitura. Criar o círculo do livro. Cada um pode trocar livros com seus amigos. Isso é muito importante também. Comentar sobre o livro. Ler os livros que deram origem aos filmes ou às novelas é uma forma de reviver aquilo que se viu na tela. Além disso, criar roda de leitura para discutir os livros lidos, como discutimos as novelas a que assistimos.

E mais ainda. Eu queria falar aqui de um personagem de Brasília. Fiquei encantada com a história dele. Eu queria transpor essa história para o Brasil, para aqueles que não o conhecem. Aqui em Brasília, há um senhor chamado Luiz Amorim. Esse Sr. Luiz Amorim tem um açougue na 312 Norte, aqui em Brasília, que se chama T-Bone, que é um corte de carne. E esse açougue ele transformou no Açougue Cultural T-Bone.

As pessoas podem achar incrível - os gaúchos que gostam tanto de um bom churrasco - imaginar que um açougue se transforme num açougue cultural, mas o Luiz Amorim fez isso em Brasília. O açougue dele tem livros, troca livros, oferece livros, mas ele extrapolou a ideia de fazer do seu estabelecimento comercial um ponto de cultura. Ao extrapolar, ele fez algo que, hoje, está sendo modelo para o País: ele criou a parada cultural. A parada cultural é um projeto do Luiz. A parada cultural fica nos pontos de ônibus, na parada de ônibus. E, na parada de ônibus, ele colocou um pequeno gradil com livros. E todo mundo disse: “Imagine! Vão roubar os livros todos que ele colocou na parada de ônibus! Imagine alguém pegar um ônibus e levar um livro! Nunca mais vai trazer; vai sumir!” Para surpresa de todos - tenho certeza de que do Luiz também -, o povo foi levando um livro e trazendo outros. E as paradas culturais estão trocando livros.

Isso, Senador Mão Santa, deu ideia para que a gente pudesse levar a proposta do Luiz para Campo Grande, Mato Grosso do Sul, capital do meu Estado. A Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Educação, Senador Paim, está fazendo bancas de livros. Temos lá o que a gente chama de terminais de ônibus. Todos os ônibus vão para os terminais, que são 12. Em cada terminal, estamos colocando banca de livros e revistas, para que o trabalhador brasileiro, para aquele que está ali, esperando o ônibus, tenha condições de folhear uma revista, de ler um jornal ou um livro. Não interessa, Senador Mão Santa, o tipo de livro; que seja até O Coyote, um livretinho que a juventude lê e que muitos gostam; mas um livro da literatura nacional, latino-americana ou internacional.

Essa é uma forma. Por que, Senador Paim, o trabalhador brasileiro que fica esperando seu ônibus não pode pegar um livro e levar para casa? Por que ele não pode ler uma revista e um jornal num ponto de ônibus?

Essa ideia do Luiz, que Campo Grande, meu Estado, está colocando em prática nos terminais de ônibus, deveria ser levada para todo o País. Onde houver uma aglomeração de gente, que aí esteja o livro, que aí esteja a revista, que aí esteja o jornal.

Quero terminar a minha fala, Sr. Presidente, dizendo que, desta tribuna, o que eu queria mesmo, hoje, era saudar, nessas três comemorações de abril, todos aqueles que fazem da leitura, do livro, do conhecimento, o seu enriquecimento pessoal, a sua forma de vida; e fazer com que todas as pessoas que se dedicam à arte de escrever sejam homenageadas aqui, no Senado Federal, e saibam que esta Casa é também a casa do livro.

Temos aqui uma grande, bonita e vasta biblioteca, com acervo magnífico, com excelentes profissionais. Temos aqui contribuído para que o Brasil tenha oportunidade de ter bons livros.

Mas precisamos fazer muito mais, Senador Mão Santa, Senador Paim. Acredito que, se todos fizermos um pouquinho, como o Luiz Amorim fez aqui em Brasília, estaremos contribuindo para ter um País mais educado e mais culto. Aí, sim, Senador Mão Santa, nunca dantes, como V. Exª gosta de relembrar aqui a fala do Presidente Lula - aliás, ele até parou de falar isso, se não me engano, Senador Mão Santa -, neste País, vamos ter oportunidade de oferecer a todos os brasileiros uma condição mais digna de vida, através de uma educação melhor do seu povo.

Deixo aqui meus agradecimentos pelo tempo que extrapolei, mas digo que saio daqui hoje feliz, porque tive oportunidade de relembrar, a tantas pessoas que nos veem e nos ouvem, os livros, de falar da sua importância, da sua beleza, da sua poesia, e aquecer o coração de tanta gente que tem no livro uma forma de conhecer o mundo. Através do livro, muitos conhecem o que fisicamente não podem conhecer, mas, pelo espírito, podem conhecer tantas coisas belas que contribuem para seu engrandecimento.

Portanto, Senador Mão Santa, obrigada pelo tempo, mas também quero homenagear V. Exª hoje, porque é o grande incentivador, para todo o País, da importância de ler um bom livro.

Muito obrigada.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora, por favor! Permite-me um aparte?

O SR. MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Senador Cristovam Buarque, se o Presidente me permite.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora, fico feliz, em uma sexta-feira, de começarmos com discurso sobre leitura, depois de tantos outros assuntos que a gente ouve aqui todos os dias - eu diria: tantos assuntos que a gente não ouve todos os dias. Fico muito feliz. Fico feliz também de ver sua referência a uma experiência tão formidável aqui de Brasília, que é a experiência das bibliotecas nas paradas de ônibus, por iniciativa de um pequeno, muito pequeno empresário, que transformou seu açougue em um centro cultural e levou isso às paradas de ônibus. Frequento, de vez em quando, essas bibliotecas, para ver como funcionam. E há algo, Senadora, emocionante: vê-se 1.000, 2.000 mil livros - contei, pelo menos em uma - abertos, sem portas, sem ninguém tomando conta. Apenas um caderno em uma mesa com um lápis. E as pessoas anotam: levei tal livro. E, até hoje, nem esse lápis desapareceu, e os livros voltam. Vi uma Enciclopédia Britânica. Está lá. Então, é algo que a gente está fazendo aqui e que está sendo feito, provavelmente, em outros lugares.

O SR. MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Dei o exemplo de Campo Grande, que já adotou isso.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Campo Grande, é claro. Isso que eu ia falar. Aqui, nós tivemos uma experiência formidável, no Governo 1995/98, que foram as malas do livro. Escolhia-se uma casa numa rua, e essa casa virava biblioteca. Com 300 livros apenas, mas esses 300 livros se somavam aos 300 livros de outras 500, que trocavam os livros. Fechava a caixa, a estante, levava, trazia outros. E a verdade é que as pessoas passaram a ler. É como futebol, se não tiver uma bola, você não começa a jogar bola; se não tiver um livro, não se começa a ler. Daí a ideia desse projeto, que já passou pela Comissão de Educação. Houve resistência, no início, de criar a cesta do livro. Tem a cesta de comida. Um animal comum só precisa de comida. Os seres humanos, não; comida e espírito: precisa do padre, precisa da Bíblia, precisa dos livros, precisa de teatro, de cinema. Eu não tive a ousadia de colocar ingressos para teatro, cinema, mas, pelo menos, livros. E está na Câmara, hoje, esse projeto. Também foi sancionada, pelo Presidente, a lei que cria o Dia Nacional da Leitura, dia 12 de outubro, como tentativa de trazer à população o gosto pela leitura. Sem isso a gente não forma um país. V. Exª, como eu, que somos do Mercosul, estamos vendo o Uruguai iniciando o ensino do Português nas suas escolas. E me perguntavam, hoje, o que eu acho. Eu disse: “Estou fascinado!” E disseram: “E aqui, a gente precisa ensinar espanhol?” Eu disse: “Aqui a gente precisa ensinar português.” A gente não está ensinando português ainda nas escolas. As crianças ficam duas horas por dia nas escolas. Em uma boa parte das nossas escolas, as crianças vão apenas pela merenda. Não vão pelo estudo. Vão pela merenda, como se a escola fosse um restaurante mirim apenas. Tem que ser também. Merenda é uma das grandes coisas que este País criou, creio que ainda na época do regime militar. Então, não leem, não há biblioteca, não há incentivo à leitura. Fico feliz de ver um discurso, aqui no Senado, falando nisso. Pena que, hoje em dia, a paixão sadomasoquista entre nós, Parlamentares e jornalistas, faça com que notícias carinhosas como essa sua, sobre leitura, termine ficando desaparecida no meio das matérias que interessam mais nessa relação sadomasoquista, que hoje existe entre a política e a mídia. Mas eu lhe parabenizo e espero que voltemos a esse assunto, muitas vezes, tentando incentivar a leitura. Realmente, quero fazer a mesma referência que V. Exª fez ao Mão Santa, porque é um dos que trazem livros aqui e recomenda livros para que as pessoas leiam. Uma coisa que me impressionou muito na Venezuela foi ver o Presidente Chávez recomendando livros nos seus discursos. Ele carrega livros e diz: “Leia esse livro aqui, tem tais e tais vantagens. Leia esse outro.” Acho que essa liderança carismática, incentivando as pessoas a ler, terá, sem dúvida alguma, um efeito, sobretudo quando junta com dois programas que ele fez: o programa de erradicação do analfabetismo - que, de fato, conseguiu; hoje, o analfabetismo na Venezuela é marginal - e, segundo, o programa de biblioteca doméstica. É uma caixa de livros que todas as casas receberam com, se não me engano, 12 obras fundamentais da literatura. Então, havendo uma liderança carismática e um país que queira, o país vira um país de leitores. E V. Exª está fazendo um pouco desse trabalho carismático de falar de leitura e tentar convencer o povo brasileiro a ler. Parabéns!

O SR. MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Cristovam. Oxalá o nosso Presidente siga esse bom exemplo do Chávez de poder indicar livros para o povo brasileiro.

E eu queria também comentar uma outra vertente da sua fala e dizer que realmente nesta Casa todo mundo acha que o importante é discutir economia, o importante é discutir como estamos fazendo a fusão ou não do Banco do Brasil, como é que estamos discutindo a incorporação de bancos... Isso é importante. Agora, quando a gente fala de cultura, de livro e de educação, em geral, todos - e aí não digo só esta Casa -, mas, em geral, o brasileiro acha que isso é de somenos importância. Oxalá um dia vai chegar em que todos vão saber que é por meio da educação e do conhecimento que nós vamos fazer com que as coisas possam melhorar neste País. Nós temos de inverter isso. Agora, não é fácil, em um País que tem um alto índice de analfabetos como nós temos, um dos maiores da América Latina. Eu estava lendo ontem que é maior do que o do Paraguai. Às vezes, as pessoas falam do Paraguai. O Brasil tem mais analfabetos do que o Paraguai, em proporção. Então, nós temos de pensar nisto: um País continental como o nosso é batido pelo Paraguai na questão da alfabetização.

Portanto, quero aqui cumprimentá-lo e dizer que V. Exª também é uma referência para nós nessa luta que a gente empreende nesta Casa para mudar um pouquinho o foco da importância que é a educação e o conhecimento para todo o povo brasileiro.

Muito obrigada.

Obrigada, Senador Mão Santa.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2009 - Página 13010