Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cumprimentos a todos os vereadores do país, presentes em Brasília e no Plenário do Senado. Relato de visita feita a Cuba, a convite do Partido Comunista de Cuba e do Governo cubano.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Cumprimentos a todos os vereadores do país, presentes em Brasília e no Plenário do Senado. Relato de visita feita a Cuba, a convite do Partido Comunista de Cuba e do Governo cubano.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Cristovam Buarque, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2009 - Página 20055
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, VEREADOR, SENADO, ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, PARNAIBA (PI), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, DEPUTADO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, DEMONSTRAÇÃO, ABERTURA, DIALOGO, OCORRENCIA, CONFERENCIA, PROFESSOR, ECONOMISTA, ANALISE, ECONOMIA, EXCESSO, INVESTIMENTO, POLITICA SOCIAL, AUSENCIA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DEPENDENCIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, UNIÃO DAS REPUBLICAS SOCIALISTAS SOVIETICAS (URSS), VENEZUELA.
  • COMENTARIO, AMPLIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, APRESENTAÇÃO, DADOS, SUPERIORIDADE, INVESTIMENTO, GOVERNO ESTRANGEIRO, EDUCAÇÃO, SAUDE, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, COMPARAÇÃO, BRASIL, IMPORTANCIA, PARCERIA, EXPERIENCIA, ESPECIFICAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada Sr. Presidente.

Eu queria aqui cumprimentar, primeiro, todos os Vereadores que vieram de todo o País para visitar esta Casa.

Serão sempre bem recebidos. Esta é a Casa do povo. E queria cumprimentá-los em nome dos Vereadores de Paranaíba, do meu Estado - Mato Grosso do Sul -, que estão aqui.

Queria dizer que na semana passada eu, o Deputado Pannunzio, de São Paulo, que está aqui presente, junto com o Deputado Chucre, a quem agradecemos a visita, o Deputado Bruno Araújo, de Pernambuco, e o Secretário-Geral do nosso Partido, Deputado Rodrigo de Castro, estivemos em Cuba a convite do Partido Comunista de Cuba e do Governo cubano. É claro e evidente que as pessoas poderão perguntar o que elementos dirigentes de um partido social democrata de oposição ao Governo Lula foi fazer em Cuba.

É importante dizer que fomos lá não só pela gentileza do convite do partido cubano e do Governo de Cuba, mas muito mais do que isso; acreditamos que o convite foi feito porque há interesse de estreitar relações com o Partido Social Democrata, o maior da América Latina, que tem perspectiva, e sentimos isso, de, em uma alternância de poder em 2010, estar no Governo do País. Acredito que foram essas as razões que levaram o Partido Comunista de Cuba nos convidar, e foi importante para o PSDB participar porque mostramos a Cuba, e podemos mostrar ao mundo todo, que estamos prontos a dialogar com qualquer partido, com qualquer governo, sem em nenhum momento deixar de lado nossas convicções ideológicas.

A visita foi muito boa, porque discutimos assuntos importantíssimos. Ouvimos de um professor de economia de uma das universidades de Cuba uma aula sobre economia cubana. Segundo ele, Cuba cresceu muito na área social, na educação, na saúde, mas não se desenvolveu na economia. Primeiro, porque, durante muito tempo, desde a época da revolução, que está completando cinqüenta anos, Cuba não se abriu para o mundo. Primeiro, ficou atrelada à Rússia, à economia da Rússia e aos subsídios que a Rússia dava a tudo aquilo que exportava para Cuba. Depois disso, com a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o que aconteceu? Cuba teve de se atrelar a outro país e se uniu à Venezuela, para que a Venezuela lhe ofertasse aquilo de que ela mais precisava e aquilo que ela não produzia.

E hoje Cuba, economicamente, depende da Venezuela para importar o petróleo de que necessita e, com esse petróleo, poder negociar com outros países. O suporte que Cuba oferece à Venezuela é justamente na área de serviços; vinte e cinco mil médicos cubanos estão na Venezuela. E olha, Presidente Sarney, 25 mil médicos cubanos na Venezuela como contrapartida para insumos de que Cuba necessita, como o petróleo, é algo muito grande e muito perigoso.

A partir do momento em que a Venezuela ofertar aquilo de que Cuba necessita, ela vai ter muita dificuldade em continuar caminhando.

Como meu tempo vai ser muito curto, por ser a última oradora da tarde, quero abordar algumas questões que acredito fundamentais.

O que sentimos em Cuba foi que eles estão prontos para uma abertura muito maior com todos os países. Eles não querem mais depender de um único país. Estão dispostos a negociar mais estreitamente com o Brasil, não só na área farmacológica, como estão fazendo, por meio de Manguinhos, da Fundação Fiocruz, mas também em todas as outras áreas, seja na área de prospecção do petróleo, seja em tudo aquilo que for importante.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senadora Marisa Serrano?

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Ouço o aparte do Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Fiquei muito positivamente impressionado com os relatos que V. Exª trouxe de Cuba, porque começa a soprar um vento democrático na cabeça das pessoas com as quais V. Exª manteve intercâmbio. Impressionou-me, sobremaneira, a condenação que fizeram da política de cotas do Brasil. Disseram a V. Exª que considerava uma atitude da qual o Governo brasileiro poderia se arrepender, porque era algo que poderia dividir o Brasil, ao invés de uni-lo. E essa condenação vinda de Cuba, levando-se em conta que Cuba é uma referência tão forte pelo regime atual do ponto de vista com que encara Cuba o Governo brasileiro, devia levá-lo a refletir.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - E temos de refletir muito seriamente, Senador Arthur Virgílio, porque eles foram peremptórios: são contra qualquer tipo de cota. Em que eles apostam e apostaram há cinquenta anos? Na educação pública universal, de boa qualidade. E é isto que importa: dar educação boa para todos, não dividir o País em cotas. Isso eles enfatizaram mesmo; acham um absurdo pensarmos em cotas, dividindo o País.

Mas não é só isso. Cuba está, hoje, aplicando, Senador Sarney, 7% do Produto Interno Bruto (PIB) na educação, e, aqui, estamos aplicando 4%.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senadora Marisa...

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Ouço V. Exª, Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senadora Marisa, eu já estava aflito, porque V. Exª não me dava a menor atenção.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Desculpe-me.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - O pronunciamento que V. Exª faz é dos mais oportunos que tenho ouvido ultimamente nesta Casa. Na verdade, essa divisão maniqueísta de mundo - regime bom, regime ruim; mais Estado, menos Estado; capitalismo, comunismo -, essa é uma discussão completamente ultrapassada. Cuba, com certeza, depois de anos e anos de experiência no comunismo, procura a construção de uma nova sociedade com base em novos modelos, uma sociedade que, com certeza, não será fundamentada no comunismo que os guiou durante os últimos anos. Ao mesmo tempo, o Brasil faz parte dos chamados países emergentes, e também estamos procurando e temos a obrigação de procurar - é isso que nosso Partido faz - abrir novos caminhos, sem ficarmos restritos a essa coisa pequena de dizer “você é neoliberal ou é neossocial; você é comunista ou é isso ou aquilo”. O diálogo para a troca de experiências - falo, principalmente, de duas experiências na América Latina, uma muito bem-sucedida no aspecto social da educação e da saúde e outra que se torna cada vez mais bem-sucedida no aspecto econômico -, realmente, pode levar à construção de novos caminhos extremamente importantes não só para os dois países, mas para a humanidade de modo geral, que, hoje em dia, está estarrecida com a crise econômica. A viagem que V. Exª fez a Cuba - e V. Exª trouxe a esta Casa não aquela visão que todos que vão lá trazem, a favor ou contra, mas, sim, uma nova perspectiva, abrindo um novo diálogo - foi uma oportunidade extraordinária. Parabenizo V. Exª. Ao lado de V. Exª, quero me interessar mais por essa construção.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Tasso.

Senador Cristovam, ouço V. Exª.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora, fiquei muito feliz quando tomei conhecimento de sua viagem. Creio que Cuba é um país que merece ser visitado, sobretudo com fins de estudo. Com fins de turismo, aquele é um bom país, e muitos vão para lá. Mas é importante estudar, ver a realidade com olhos críticos, não com olhos dogmáticos a favor, nem com olhos dogmáticos contra.

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - É verdade.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Creio que a gente sai de Cuba melhor do que entrou. Saímos com uma postura diante do mundo melhor do que a que adquirimos quando vamos lá, tanto porque perdemos alguns dogmatismos favoráveis - isso enriquece a visão crítica -, como porque perdemos alguns dogmatismos contrários, o que também a enriquece. Não tenho dúvida de que V. Exª pôde olhar, como a gente viu pelo seu discurso, as coisas como elas são, não como alguns gostariam que fossem, olhando o lado ruim, não como outros gostariam que fossem, olhando só o lado bom. Pelo que vi nas três ou quatro vezes em que fui a Cuba - desde 1982, quando para lá era proibido ir -, Cuba é um país que resiste - isso é importante e é um lado que a gente esquece - às pressões externas e procura seu próprio caminho, mesmo que não seja o que a gente deseja. É um país que soube investir em educação e em saúde. Eu lhe digo que, em uma das vezes que fui lá, quando eu era Governador, tive oportunidade de conversar longamente, até às cinco horas da manhã, com o Presidente Fidel Castro. O jantar começou a uma hora da manhã e terminou às cinco horas. No outro dia, às 10h, eu já estava visitando um centro de pesquisas. Um senhor que estava no jantar me disse: “O Presidente [não sei se chamou de Presidente ou de Fidel ou de Comandante] mandou para você um recado. Gostou muito da sua conversa, mas pediu que você não falasse só em educação, mas também em saúde, de vez em quando”. Esse é um país que mostra que educação e saúde podem ser feitos realmente, ainda que as condições econômicas sejam tão frágeis como, muitas vezes, terminam sendo em Cuba. Parabéns pela visita, parabéns pelo discurso!

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada.

Para terminar minha fala, quero só dizer que, independentemente do sistema de Governo, Cuba é um país que aposta em educação e em biotecnologia. Eles estão apostando em ciência e em tecnologia 1,7% do PIB; aqui, no Brasil, esse percentual é de 0,95%. Investimos aqui 4% do PIB em educação; eles estão apostando 7%. Há uma diferença muito grande: aquele é um país que acredita naquilo que é prioritário e investe, e não estamos fazendo isso no nosso País.

Quero dizer que o Presidente da Assembléia cubana, Deputado Alarcón, conversou muito conosco, agradeceu a nossa visita e expôs a necessidade de estreitarmos relações. Foi muito importante trazermos - eu, o Deputado Pannunzio, o Deputado Bruno, que está aqui, e o Deputado Rodrigo de Castro - a ideia de que é importante continuarmos conversando, de que é importante avançarmos, como avançamos, discutindo economia, educação e saúde.

Foram visitas altamente produtivas, para ver aquilo que há de bom, que podemos aperfeiçoar, haja vista...

(Interrupção do som.)

A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Já estou terminando, Sr. Presidente.

O Governador de São Paulo, José Serra, inspirado em Cuba, trouxe o Programa Saúde da Família (PSF), quando ele era Ministro da Saúde, para implantar em todo o País. Temos muito o que aprender, mas também temos muito o que ensinar. Tenho certeza de que essa troca será produtiva para os dois países.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2009 - Página 20055