Discurso durante a 106ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Esclarecimentos sobre a inclusão do nome de S.Exa. na lista dos atos secretos do Senado.

Autor
Wellington Salgado (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Wellington Salgado de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Esclarecimentos sobre a inclusão do nome de S.Exa. na lista dos atos secretos do Senado.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/2009 - Página 27771
Assunto
Outros > SENADO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, AUTOR, BENEFICIARIO, ATO ADMINISTRATIVO, CARATER SECRETO, SENADO, JUSTIFICAÇÃO, CRIAÇÃO, COMISSÃO ESPECIAL, PESQUISA, DIAGNOSTICO, APRESENTAÇÃO, SUGESTÃO, PUBLICAÇÃO, DECISÃO ADMINISTRATIVA, LEVANTAMENTO, BOLETIM DE SERVIÇO, ANTERIORIDADE, EDIÇÃO.
  • DETALHAMENTO, TRABALHO, COMISSÃO ESPECIAL, CONCLUSÃO, AUSENCIA, PUBLICAÇÃO, ATO, MOTIVO, ERRO, DEFICIENCIA, TRANSMISSÃO, RECONHECIMENTO, INDICIO, FALTA, DIVULGAÇÃO, RECOMENDAÇÃO, ABERTURA, SINDICANCIA, APURAÇÃO, RESPONSAVEL, CONFIRMAÇÃO, INEXISTENCIA, IRREGULARIDADE, ATO ADMINISTRATIVO, BOLETIM DE SERVIÇO, RESPONSABILIDADE, ORADOR.
  • SOLICITAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, CORREÇÃO, ERRO, INCLUSÃO, NOME, ORADOR, RELAÇÃO, BENEFICIARIO, ATO, CARATER SECRETO.
  • ESCLARECIMENTOS, MANUTENÇÃO, ETICA, CONDUTA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR.
  • SOLIDARIEDADE, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, Srs. Senadores, espectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, todos aqueles veículos de comunicação criados pelo Presidente Sarney para tornar o Senado o mais transparente possível, V. Exª tocou num assunto que muitas vezes é discutido: a questão da suplência no Senado. Algumas vezes, em discussões importantes, quando não se tem argumentos, discutem que o Senador Wellington ou demais Senadores suplentes nesta Casa não têm voto. Mas já passei dessa fase, estou nesta Casa há quatro anos, participei de momentos importantes, e, quando eu voto, eu voto por Minas, não voto como o Senador Wellington ou o Ministro Hélio Costa. Eu voto por Minas Gerais.

Para mim, sendo suplente, neste momento em que o Senado está vivendo, seria a melhor coisa do mundo falar: “Não, eu sou suplente, eu não tenho nada a ver com essa crise administrativa. Eu não decido nada, não participo de nada”. O que seria uma grande mentira. Participo sim, decido, tenho 1/81 de responsabilidade sobre tudo que acontece nesta Casa, não posso tirar essa responsabilidade das minhas costas.

Ao assumir este Senado, lembro-me que eu vivia um momento maravilhoso. Tenho ao meu lado um ex-Prefeito, um ex-Governador, Azeredo; tenho do lado esquerdo o Eliseu Resende, um autêntico político mineiro, três vezes ministro, e sou suplente do Ministro Hélio Costa, que hoje está em primeiro lugar nas pesquisas para Governador de Minas, alguém experiente, originário do seio da política mineira, que é a cidade de Barbacena. Então, eu lembrava sempre daquela frase que diz que o Senado é uma maravilha porque você não precisa morrer para ir para o céu. Eu acho que depois que vim para cá já morri umas mil vezes. Morro numa charge, morro numa matéria, morro numa discussão... Realmente, fui enganado nessa história, Senador. Fui enganado. Já morri umas mil vezes aqui neste Senado.

           E, em função das mortes que acontecem com os políticos - político morre mais de uma vez -, vim hoje à tribuna porque, em função deste momento que estamos vivendo, as coisas acontecem, são publicadas e, da mesma maneira que aparecem, destroem a imagem do Senado, elas se vão, e ninguém fala no assunto.

Este é momento que o Senado está vivendo: outro dia, falaram que existia uma conta fantasma de R$3 milhões. Vai-se para o jornal, todo mundo aparece num jornal importante do Brasil, àquela hora, 8 horas, 70 milhões de telespectadores, e se fala: “Não, existe uma conta de R$3 milhões”. No dia seguinte, descobre-se que a conta está no Siafi, está contabilizada, está tornada aberta, e ninguém fala mais nisso, Senador. Ninguém fala mais nisso.

Muito bem. Outro dia, saiu uma lista em que o Senador Wellington constava como um dos beneficiários de atos secretos. Isso, para alguns, virou até... Você ter ato secreto é sinal de que você está em alto nível neste Senado. Você sai na rua: “Lá vai o Senador que tem um ato secreto”. Isso vira, nesse jogo político que nós estamos vivendo... Alguns, fora do Senado Federal, acham que é importante ter um ato secreto, que você faz parte da grande cúpula deste Senado.

Eu falei: “Mas, meu Deus do céu, eu vou ter ato secreto? Onde é que eu vou ser beneficiado por ato um secreto?”. Liguei para o meu chefe de departamento, o Sr. João, doutor em constitucional, alguém que me assessora, alguém que muitas vezes tem ponto em discussão, quando vamos preparar um relatório, e falei: “Meu Secretário João, prepare, veja todos os atos que eu fiz nesta Casa desde que entrei, há quatro anos, e veja se alguma coisa está errada”. O João, junto com outros assessores, trabalhou três dias, e foi o que deu origem a este pronunciamento que vou fazer neste momento.

Srs. Senadores e Srªs Senadoras, na esteira das revelações promovidas pela imprensa nacional que envolvem o nome de quase a maioria dos membros desta Casa da Federação, devo utilizar-me desta tribuna para trazer os esclarecimentos necessários, uma vez que considero não ter qualquer participação como autor ou beneficiário de quaisquer dos atos praticados pelas administrações anteriores do Senado, situação esta que teria motivado a constituição da Comissão Especial, instituída pelo Ato do Primeiro Secretário nº 27, de 28/05/2009, composta por servidores qualificados.

Devo salientar, em primeiro plano, que a Comissão teve como finalidade geral promover pesquisa, diagnóstico e apresentação de sugestões sobre a publicação das decisões administrativas no âmbito do Senado Federal e, em espécie, no prazo de 15 dias, deveria efetuar o levantamento de todos os Boletins de Pessoal publicados a partir de 1995, incluindo edições regulamentares e suplementares”.

São entendidos como Boletins Regulamentares aqueles gerados e publicados no momento da feitura dos atos administrativos. Por outro lado, os Boletins Suplementares contemplam atos administrativos gerados e publicados no momento da feitura, mas que não couberam na edição dos Boletins Regulamentares. Os suplementares não têm caráter de reformulação, revisão ou de correção daquilo que já se encontra publicado nos Boletins Regulamentares, porém, têm caráter de adicionar ou acrescentar outras matérias (atos novos) que ainda não hajam sido objeto de publicação. A confecção de Boletins Suplementares ocorre em caráter excepcional.

Aqui, eu apresento os principais pontos constantes do trabalho da Comissão Especial, que resultou na confecção de um CD-ROM, em 12 de junho de 2009, “contendo todos os Boletins Administrativos do Pessoal desde 1995, que possibilitará à Administração verificar qualquer inserção de BAP com data retroativa. Ademais, com o levantamento dos BAPs editados anteriormente a 1º de fevereiro de 2009 e disponibilizados na rede depois dessa data, é possível saber quais e quantos BAPs não haviam sido disponibilizados na rede”.

A partir de agosto de 1996 (Ato da Comissão Diretora nº 13, de 1996), a responsabilidade pela edição do BAP é da Diretoria-Geral do Senado, mesmo que inexista qualquer autorização formal para transformar o BAP impresso em BAP eletrônico. Presumidamente, o fato deve ter se dado entre o BAP nº 2.131, de 8 de junho de 2000, e o BAP nº 2.132, de 9 de junho de 2000.

Constatou a Comissão, inclusive, no que toca à edição de  
BAPs Suplementares - ou seja, Boletins Suplementares -, inexiste norma disciplinadora.

O cerne do relatório da Comissão indica a existência de 312 boletins suplementares, com data de edição (geração) anterior a 1/2/2009, disponibilizados na rede após essa data...

Veja bem, vou repetir: o cerne do relatório da comissão indica a existência de 312 boletins suplementares com data de edição (geração) anterior a 01/2/2009, disponibilizados na rede após essa data, contendo - esses 312 boletins - 663 atos. Foram detectados, ainda, 118 Boletins Regulamentares, editados (gerados) até 01/2/2009 e publicados após essa data.

A conclusão do trabalho presume que a ausência de publicação pode ter ocorrido por simples falha humana, erros operacionais, deficiências na transmissão e na publicação dos atos, reconhecendo indícios de que tenha havido deliberada falta de publicidade, o que recomenda abertura de sindicância para apuração de responsabilidades.

A despeito do noticiado na grande imprensa e na blogosfera, em que consta o nome do Senador Wellington Salgado no contexto dos atos não publicados, necessário se faz estabelecer a verdade.

As conclusões da Comissão, postas à disposição no formato de um CD-ROM, em 22/6/2099, por volta das 18h30min, têm o seguinte conteúdo: uma pasta de arquivos contendo todos os Boletins Administrativos de 1995 a 12 de junho de 2009; o relatório final da Comissão; e um arquivo do Excel com planilha contendo 312 atos suplementares e 118 atos regulamentares, editados com anterioridade a 01/12/2009 e publicados após essa data.

No que diz respeito aos Boletins Administrativos de 1995 a 12 de junho de 2009, consta o nome do Senador Wellington Salgado em 59 boletins, ou seja, todos os atos que pratiquei. Todas as vezes em que ocorre publicação, ela se dá em razão de meros atos administrativos, burocráticos, tais como nomeação, exoneração, movimentação de servidores. E conste-se que todos os atos estão publicados no momento em que ocorreu a tramitação regular do procedimento administrativo, nenhum com publicação posterior. Não existe nenhum ato praticado por minha pessoa, pelo Senador Wellington Salgado, que tenha sido praticado e depois tenha tido efeito retroativo, nenhum, ou seja, o ato é regular, e a publicação também o foi.

No que se refere aos 312 Boletins Suplementares e aos 118 Boletins Regulamentares, constantes da Planilha Excel elaborada pela Comissão, que contêm aqueles atos gerados antes de 01/02/2009 e publicados posteriormente, que alcançam 663 atos nessa situação, em nenhum deles consta o nome do Senador Wellington Salgado.

Um dado merece ser traduzido à luz, uma vez que pode aclarar o fato de o nome do Senador Wellington Salgado ter sido veiculado como interessado dos chamados “atos secretos” (por definição, atos gerados, criados, originados antes de 01/02/2009, porém publicados posteriormente).

Segundo os arquivos disponíveis no CD-ROM, pode-se detectar a existência de seis boletins, todos suplementares, ou seja, com um “S” (nº 3453-S, 4105-S1, 3663-S1, 3678-S1; 3494-S, 3365-S), cuja numeração coincide com os Boletins Regulamentares (nº 3453-S - o regulamentar; quando é suplementar, botam-se o tracinho e o “S”, Senador Geraldo); nº 4105 sem o “S”; nº 3363 sem o “S”; nº 3678 sem o “S”; nº 3494 sem o ”S”; e nº 3365 sem o “S”), sendo que nesses últimos constava a rotina administrativa do gabinete parlamentar (nomeação, exoneração e movimentação de pessoal).

De certo, é possível afirmar que atos foram criados, sem que hajam sido publicados pelo setor competente no momento devido, mas que vieram à publicação após 1º de fevereiro de 2009, utilizando-se a mesma numeração dos órgãos regulamentares acrescida de um “S” de suplementar e cuja interpretação não foi atenta, o que ocasionou a inclusão equivocada do nome do Parlamentar Wellington Salgado, visto que cuidam de assuntos sem qualquer relação com o Senador.

Em suma, não há, em nenhum dos Boletins Administrativos do Pessoal, desde julho de 2005, mês da posse do Senador Wellington Salgado, qualquer irregularidade nos atos administrativos praticados por este Parlamentar. Os únicos atos praticados pelo Senador Wellington Salgado, ao todo, 59, estão revestidos da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, princípios concernentes à Administração Pública, exigidos pela Constituição da República.

Por fim, considero salutar, até mesmo indispensável, seja corrigido o equívoco levado a efeito pelos órgãos de veiculação de notícias, uma vez que meu nome parlamentar não tem qualquer vinculação a qualquer ato que atente contra o exercício contra o exercício do mandato que me foi conferido na chapa eleita por Minas Gerais, o que me faz rogar, inclusive, pela inserção de eventual correção a ser publicada pela imprensa nos Anais desta Casa.

Senador Geraldo, o que acontece nesta Casa é isso. Nós, como Senadores, não fazemos um trabalho como foi feito este. Meu Chefe de Gabinete, pessoa qualificada - funcionário do Senado Federal que requisitamos para Chefe de Gabinete -, pesquisou todos os atos, checou tudo, e não havia um ato meu no chamado Boletim “S” - Suplementar. No entanto, a imprensa solta uma lista, coloca o nome dos Senadores; qualifica-nos, como se estivéssemos fazendo atos escondidos, por baixo do pano e expõe o nosso nome, o meu nome, como estou representando o Estado de Minas Gerais, sendo Suplente do Ministro Hélio Costa. Em tudo há alguma jogada política. Agora, o que acontece? Para cada denúncia, nós fazemos uma pesquisa, mostramos toda a verdade. Não vai sair em imprensa nenhuma.

O único veículo que temos, Senador Mão Santa, é aqui: a televisão do Senado, a Rádio Senado e as publicações do Senado, que V. Exª utiliza muito bem nesta Casa. V. Exª sabe mostrar à população como esta Casa funciona.

Então, Senador Geraldo Mesquita, V. Exª, que é um independente nesta Casa, que coloca seu posicionamento da maneira que manda sua consciência, fruto de sua formação psicológica, profissional, de caráter, admiro muito V. Exª por isso. Não há como chegar ao Senado Federal, e aqui haver uma briga administrativa, transformada em política, para poder expor o nome dos Senadores - Senadores que representam seus Estados. Nunca vi aqui, Senador Geraldo, algum Senador praticar um ato, para se dar bem em função da representação do Estado. Eu nunca vi, nunca presenciei!

Como disse no início do meu pronunciamento, acho que já morri mil vezes, depois que assumi o Senado Federal - político morre mais de uma vez. Esse é o preço que pago, por estar ao lado de V. Exª, por estar ao lado do Senador Mão Santa...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Pediria permissão...

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Pois não. Ouço V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª tem a sabedoria mineira e é dedicado à educação brasileira, à educação universitária. Mas Winston Churchill - para encaixar aí - tem um pensamento que diz que a política é igual à guerra, com a diferença de que, na guerra, só se morre uma vez e, na política, várias vezes. Então, V. Exª sintetizou, à sua maneira, esse pensamento filosófico de Winston Churchill, que venceu a guerra como comandante e que foi o grande político da democracia.

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Senador Mão Santa e Senador Geraldo Mesquita, vejam bem, vim de uma geração que cresceu - estou com 50 anos de idade -, vendo o Brasil de duas maneiras: aqueles que implantaram a ditadura e aqueles que lutaram contra a ditadura. Eu tinha polarização.

Aí aparece o MDB, a Arena, e vem-se criando a questão do bipartidarismo. Muito bem. Tivemos a ditadura no poder, depois vieram aqueles que foram exilados, que voltaram e foram eleitos - voltaram à vida pública. De repente, aparece um líder que não praticou a ditadura, que não pegou em armas, mas que lutava por salário; que lutava por emprego; que lutava por casa própria. Perdeu eleições e chega ao Poder - não sou do PT e estive poucas vezes com o Presidente Lula - um homem que fala com o coração, um homem que luta por coisas do dia a dia, sem questões ideológicas, mas puramente práticas. E o povo apaixona-se por esse líder, a verdade é essa. Eu não vou viver 100 anos, talvez o Senador Mão Santa viva 100 anos, mas não vai aparecer um líder como esse nos próximos 100 anos.

Agora, interessante é que esse Presidente já está no poder há sete anos e tem uma aprovação de 80%. Quero ver se o Obama, depois de sete anos, vai ter uma aprovação de 80%. Acho muito difícil ter uma aprovação de 80%.

Senador Geraldo Mesquita, V. Exª sabe que está sendo difícil ser Senador da República. Difícil! Sinto também que há Senadores que são eleitos por sua base eleitoral e, qualquer atitude que venham a tomar, sua base acredita. O Senador Mão Santa, tenho certeza de que os votos que ele tem no Piauí, independentemente da decisão que tomar, não serão afetados, porque o eleitor vai falar: “É o Senador Mão Santa, eu confio nele; ele deve ter um motivo para decidir assim”. E, no momento em que estiver com o líder, vai falar: “Senador Mão Santa, por que V. Exª decidiu assim?”.

Hoje estamos vivendo um momento em que há uma série de políticos que não têm essa base eleitoral e que, ao mesmo tempo, não formam uma personalidade política. Esses políticos mudam, moldam-se plasticamente à notícia do dia, ao que vem no clipping, em diário que recebemos.

Quando cheguei a esta Casa, optei por ser um político que, na hora em que algo estivesse em votação, desse conhecimento do seu voto. Tanto os telespectadores da TV Senado quanto os outros Senadores sabem o que o Wellington vai votar, porque, com certeza, o seu voto não vai prejudicar Minas; já que representa Minas, vai ter uma posição definida. É assim, Senador Mão Santa, que quero passar por esta Casa: quero passar por aqui com uma imagem constituída para todos os telespectadores e para todos os Senadores. Não quero passar por aqui como um Senador de personalidade plástica, que muda como um camaleão: à medida que você chega ao azul, fica azul; se você estiver no marrom, você fica marrom, e, de repente, você fala contra esse e, no dia seguinte, contra aquele. Não!

Já tive momentos de vitória nesta Casa; já tive momentos de derrota nesta Casa; já expus minha família com posições políticas. Muitas vezes, os veículos de comunicação não conseguem separar o que é posição política do que é posição individual. Família tem de ser protegida. Em alguns países, você não pode tocar na família. Aqui, a todo momento, se você tem algum problema na família, trazem-no para a questão política. Estamos vivendo isso agora com o Presidente Sarney. Ontem, tive oportunidade de ler um manifesto do Banco HSBC. A imprensa não publicou o que o banco falou. Vi o menino que está citado nessas matérias sobre o Presidente Sarney. Tenho seis filhos, três no Rio e três em Minas Gerais. Acho que esse menino, com a educação que teve, com título da Sorbonne, com título de Harvard, não vai se sujeitar a qualquer atitude para ganhar R$100 mil, R$150 mil. E, na conta apresentada pelo HSBC, mostrou-se que foram R$10 mil por mês, para serem divididos entre os sócios ainda. Quero dizer aqui para os senhores telespectadores, para o pai desse menino e para o avô dele que é uma covardia o que fizeram. Eu, se fosse pai desse menino, teria o maior orgulho dele, pois ele, com essa pouca idade, obteve títulos. E valores, com certeza, foram constituídos no seio da família do Presidente Sarney e de seu pai, que também é parlamentar. Mas é como eu disse: a política faz você morrer mil vezes. Acho que o Presidente Sarney já deve ter morrido umas dez mil vezes, e esse é o preço que você paga por ocupar a cadeira do Senado e por conduzir parte deste País numa direção.

Ouvirei atentamente o Senador Geraldo Mesquita, um independente nesta Casa. Tem o aparte V. Exª.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Wellington, muito obrigado. Queria apenas felicitar V. Exª por trazer para a população de Minas Gerais e do Brasil, que está muito atenta ao que está acontecendo nesta Casa, as devidas explicações com relação ao fato de V. Exª figurar numa lista de parlamentares que supostamente se teriam beneficiado de algum ato secreto. Isso aqui virou piada.

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - É ato secreto daquele Agente 86. Não sei se o senhor lembra que, na nossa época, havia o Agente 86, que fazia tudo errado. Então, é um ato secreto do Agente 86.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Pois é. A grande questão que sempre apresento, respeitosamente, é que o fato negativo tem ampla repercussão neste País, é manchete em jornal. Mas as devidas explicações levariam à conclusão de que V. Exª não tem absolutamente nada a ver com uma situação como essa. Vou dizer o que eu disse em relação à minha pessoa quando vim aqui também, em respeito aos meus eleitores, à população brasileira...

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Eu ouvi V. Exª.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Quero falar também sobre meu nome nessa lista. Eu disse: quem dera que, amanhã, os jornais, pelo menos, publicassem alguma coisa dizendo que, documentalmente, mostrei que absolutamente nada havia que significasse reparo à minha atuação! Nada houve, nenhuma linha, nesse sentido. Entendeu, Senador Wellington? É de se lastimar! O fato negativo é manchete, mas a retificação seria um ato de grandeza da imprensa brasileira e, diga-se de passagem, não diminuiria uma vírgula do papel da imprensa brasileira. Essa é uma crítica que faço. Esse é um direito nosso. A gente vive numa democracia. V. Exª, o Senador Mão Santa, a Senadora Marina, eu, enfim todos os que estão nesta Casa admiram a imprensa e, talvez, morram defendendo o direito da imprensa de dizer o que quiser, mas tenho cobrado, como digo, respeitosamente, da imprensa brasileira que estabeleça o contraditório. Não diminui, não desmerece a imprensa brasileira a publicação, em seguida à publicação do fato negativo, da retificação. O Senador Mão Santa provou que não é assim. Por que não publica? Fico impressionado com isso! Entendeu, Senador Wellington? Portanto, eu queria só parabenizar V. Exª, que, em respeito às pessoas que o conhecem, em respeito à Casa a que V. Exª pertence, vem aqui, em uma postura democrática, elegante, para, minuciosamente, tratar da questão, demonstrando, cabalmente, que não existe qualquer motivo que possa ensejar a ilação de que V. Exª estaria envolvido com alguma coisa atrapalhada nesta Casa - vamos falar o português claro. E, a par de felicitá-lo, quero aqui, publicamente, renovar a admiração, o apreço, a amizade que tenho por V. Exª. O conhecimento que tive de V. Exª nesta Casa e a relação que tenho com V. Exª nesta Casa são coisas boas que vou levar para o resto da minha vida.

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Assim como com V. Exª, também com outros companheiros tive o privilégio de, amiúde, conversar, trocar ideias, para tocar o barco nesta Casa. Meus parabéns! Conte com a amizade e com o apreço deste seu velho amigo para sempre!

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Geraldo. V. Exª sabe que, nestes momentos conturbados que o Senado está vivendo, sempre sento ao lado da cadeira de V. Exª, sempre conversamos, para ver a melhor interpretação. Este é o melhor momento: o momento em que os parlamentares se encontram, conversam, discutem ideias, para poder chegar a uma conclusão.

Ao lado de V. Exª, está o Senador Mão Santa. Conheço o Piauí. O Senador Mão Santa tem o mesmo coração desses líderes que pensam no povo. Eu não poderia, amanhã, batizar o Senador Wellington de “Perna Santa”. O Senador Mão Santa é Mão Santa por que operava os mais necessitados por noites a fio. Já tive oportunidade de conversar com S. Exª sobre isso. É assim que se faz história.

V. Exª também representa muito bem o Estado de V. Exª aqui. Seu Estado é representado nesta Casa por alguém com posições bem definidas, pensando sempre nos mais necessitados. Penso que é isto que faz um Senador ser eleito: pensar nos mais necessitados. Hoje, o País vive disso. Você tem de ajudar aqueles que necessitam. Muitos pensam: “Vou ter R$10 milhões, R$20 milhões, R$30 milhões, R$50 milhões, R$1 bilhão”. Não vai levar isso para o caixão! Não é possível! Tem R$1 bilhão e quer R$2 bilhões! Parece aquele jogo Banco Imobiliário: compra aqui, bota hotel. É uma loucura! Chega-se a um limite em que não se tem como gastar numa vida o acúmulo de riqueza que se consegue fazer.

Era essa a declaração que eu queria fazer.

Senador Mão Santa; Senador Mozarildo, que também representa muito bem seu Estado e que, agora, está como Presidente; Senadora Marina Silva, essa lutadora pela defesa da floresta, que luta sozinha muitas vezes - temos de respeitá-la, porque S. Exª acredita nos seus ideais e representa seus eleitores, o povo do seu Estado -, neste Senado, muitas vezes, são tantas as legislações, que a gente deveria chegar como Senador e receber um manual com tudo o que pode ou não pode fazer.

Em relação a esse exemplo que aconteceu, do caso das passagens, esta foi a primeira pergunta que fiz: “Como se usam essas passagens?”. Disseram-me: “Senador, como você bem quiser”. Perguntei: “Como eu bem quiser?”. “A passagem é sua, pode dar...” Acho isso interessante, Senador Geraldo. Como é que se traz alguém necessitado do seu Estado, que de repente trouxe uma situação para ser discutida nesta Casa, para o local de maior enriquecimento cultural desta Casa, que são as audiências públicas? Como se vai pagar a passagem dessa pessoa para que ela venha para cá? Você não pode mais pagá-la. Vai ter de tirar do seu bolso, do seu salário. Daquela verba indenizatória, você não pode mais pegar. Acho isso injusto. Decisões precipitadas são tomadas em momento de pressão da mídia, que está fazendo sua parte, mas achando que hoje o preço da democracia tem de ser mais barato. Quando há democracia demais, você acha que o dinheiro gasto para tê-la não vale a pena. Então, é isto que estamos vivendo hoje no Brasil: tem de baixar o preço da democracia; está se gastando muito.

Outro dia, disseram que o Senador ganha R$120 mil. Imaginem o problema para quem tem ex-esposa, para aquele que paga pensão, Senador Mozarildo: “Mas estás ganhando R$120 mil?” Falei: “Eu ganhando R$120 mil? Aí fui olhar lá: somaram selo, xerox, telefone. Vou ter de abrir uma venda de selo: “Tire aqui xerox com preço mais barato, porque o Senador é do outro partido! Para o PMDB, são R$0,15! Ó com R$0,20 faz o DEM. Vamos fazer mais barato!”. E aí o dinheiro vai pra mim? Isso é um absurdo, Senador Mozarildo! V. Exª sabe qual é o nosso salário. Depois, tiram 27,5% de Imposto de Renda. E é com isso que a gente vai vivendo, nesta Casa. Não consigo entender.

Às vezes, analiso, penso e vejo assim: será que alguns querem falar do Governo e não têm o que falar do Governo? Esse Governo está num momento que está dando certo, e para nós isso é ótimo! Aí entram num processo de autoflagelação. E é o que acontece nesta Casa. É o que está acontecendo. Aqui, há uma discussão para ver quem é o mais puro. Quem for o mais puro vai vencer.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Fora do microfone.) - O ético.

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - O ético, não é? Penso que, aqui, criaram aquelas castas, segundo a novela. O suplente é um dalit, não é? Sou um dalit, um intocável. Suplente é um dalit. É o pior na escala. Só que meu voto é igual ao outro. Há aquele que se acha da casta mais alta. Como é o nome da casta mais alta na Índia? É o brâmane. Mas meu votinho de dalit é igual ao do brâmane na hora de apertar o botãozinho. Está enganado quem pensa que aqui há casta, porque, de repente, você sobe à tribuna, fala o tempo que quiser, é líder, a mídia lhe dá mais espaço, você virou o brâmane! Eu, como sou um dalit, sou um intocável. Não é isso, Senador Mozarildo? Mas, na hora, meu votinho é igual. Meu Partido tem 20% daqui, 25% do Senado.

Então, essa autoflagelação do Senado vai ter de acabar uma hora, porque, se alguém achar que vai sair com vantagem destruindo o Senado, não dá. Eu estava na Bahia e vinha para cá. Quando cheguei lá para comprar a passagem, alguém me disse assim: “Senador, nessa confusão, você está bem, não é? Você é suplente.” Falei: “Pelo amor de Deus, sou 1/81 dessa confusão. A responsabilidade também é minha”. Estou aqui, no meio dessa confusão.

Então, era esse o recado que eu queria dar. Quero que fique registrado nos Anais que o Senador Wellington, que representa Minas Gerais e que se senta na cadeira que um dia foi de Tancredo Neves - assim me disse Aécio Neves, um líder da minha geração, que não é do meu Partido, mas não há por que não respeitá-lo -, não tem ato secreto, embora muitos achem que, tendo um ato secreto, você vira um brâmane. É isso que eu queria declarar.

Agradeço a todos pela audiência da TV Senado.


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