Discurso durante a 119ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o enfrentamento da crise internacional pelo Brasil.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre o enfrentamento da crise internacional pelo Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 14/07/2009 - Página 32040
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APREENSÃO, DADOS, REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), TRIMESTRE, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), DIFICULDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, ANO, ANALISE, DIFERENÇA, BRASIL, VANTAGENS, CONJUNTURA ECONOMICA, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, PRODUÇÃO, AUXILIO, RECUPERAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO, MUNICIPIO, PRESIDENTE KENNEDY (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), AREA, MINERAÇÃO, SIDERURGIA, EXPORTAÇÃO, DETALHAMENTO, PROTOCOLO, PREVISÃO, DESENVOLVIMENTO.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não há motivo algum para comemoração com o recuo de 0,8 por cento do Produto Interno Bruto brasileiro no primeiro trimestre deste ano, contra os últimos 3 meses de 2008, anunciado nesta terça-feira. O próprio ministro Guido Mantega admite que não será uma tarefa fácil alcançar um crescimento do PIB da ordem de 1 por cento em 2009.

            A economia brasileira está em recessão técnica, mas tem a seu favor um cenário diferenciado do que enfrentam alguns dos países emergentes. Uma prova disso são os indicadores de investimentos externos. Só em maio, recebemos 2 bilhões e 750 milhões de dólares em investimento estrangeiro direto, valor mais de 2 vezes superior ao de maio do ano passado.

            Este ano, o resultado acumulado até o mês passado chega a 11 bilhões e 200 milhões de dólares. É dinheiro que vai ser empregado no setor produtivo, não na especulação financeira, ou seja, vai ajudar na recuperação.

            No Espírito Santo, um exemplo de investimento produtivo está sendo proporcionado pela Ferrous do Brasil, um grupo que reúne investidores da Inglaterra, Austrália, Estados Unidos e Brasil. A empresa já confirmou sua decisão de se instalar no Estado, no município de Presidente Kennedy, criando um grande complexo minerador, siderúrgico e exportador na região Sul do Estado.

            O investimento previsto no protocolo de intenções assinado com a prefeitura e governo do Estado é de 2 bilhões e 700 milhões de dólares, e deve gerar, no próximo ano, 5 mil empregos diretos e indiretos, preferencialmente com a contratação de mão-de-obra local. Caso se concretize a intenção de construir mais pelotizadoras e uma siderúrgica, o valor investido poderá chegar a 11 bilhões de reais.

            Para transportar o minério de ferro das minas que adquiriu em Minas Gerais, a empresa construirá um mineroduto de 420 quilômetros, com 36 polegadas de diâmetro, o maior do Brasil e um dos maiores do mundo em capacidade de transporte. O terminal portuário será erguido numa área de 15 milhões de metros quadrados, em Presidente Kennedy, situado no extremo Sul do Espírito Santo, na divisa com o Rio de Janeiro.

            Outro forte indício da resistência do Brasil ao vendaval econômico é o nível das reservas internacionais. Quando a crise estava em seu auge, em setembro do ano passado, tínhamos 207 bilhões de dólares em reservas. Hoje, elas são de 205 bilhões e 500 milhões de dólares, um valor quase igual ao do período em que se temia o completo colapso da economia mundial.

            Comparando-se com outro país latino-americano, o México, que perdeu 9 bilhões de dólares, quase um quarto de suas reservas, nossa situação é muito boa. Basta lembrar os exemplos da Coréia do Sul, que perdeu 27 bilhões de dólares até abril, e da Rússia, onde sumiu uma quantia superior a 100 bilhões de dólares.

            Quanto ao chamado “risco Brasil”, há quase 2 anos ele caiu para um patamar inferior ao da média apresentada pelos países emergentes. Está em torno de 150 pontos abaixo da média desses países. Se levarmos em conta o passado da nossa economia, que inclui alta vulnerabilidade externa, câmbio sujeito a oscilações constantes, inflação incontrolável e moratórias, fatores que nos proporcionaram a fama de um dos emergentes com maior nível de risco para investimentos, alcançamos um progresso consistente.

            Esses dados são significativos por demonstrarem que, pela primeira vez em nossa história, estamos enfrentando uma crise internacional sem as desastrosas conseqüências a que já tínhamos nos acostumado ao longo de décadas.

            O teste a que esta crise está nos submetendo não poderia ser mais severo. Vivemos uma recessão técnica, a primeira desde 2003. O setor industrial caiu 9,3 por cento em comparação com o primeiro trimestre de 2008. Já o consumo das famílias sofreu desaceleração no mesmo período, embora tenha registrado um incremento de 1,3 por cento em relação ao mesmo período de 2008.

            Não soa despropositada, portanto, a previsão de Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. Para ele, o Brasil sairá da atual crise econômica antes e melhor do que os outros países, e fará parte de um seleto grupo de nações que, na próxima década, voltará a crescer em um ritmo próximo daquele exibido antes do colapso do sistema financeiro americano. No longo prazo, Rogoff acredita que o País pode avançar a uma taxa anual de 5 por cento.

            O grande Mário Henrique Simonsen dizia que “economistas procuram explicar no presente por que motivo suas previsões para o futuro deram errado no passado”. Rogoff, um economista de credenciais impecáveis, sem dúvida baseou sua previsão para o Brasil em fundamentos sólidos - para que o ditado de Simonsen não se cumpra...


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/07/2009 - Página 32040