Pronunciamento de Flávio Torres em 12/08/2009
Discurso durante a 130ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Retrospecto da biografia política de S.Exa. e explanação das diretrizes que deverão nortear o exercício de seu mandato no Senado Federal.
- Autor
- Flávio Torres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/CE)
- Nome completo: Flávio Torres
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SENADO.:
- Retrospecto da biografia política de S.Exa. e explanação das diretrizes que deverão nortear o exercício de seu mandato no Senado Federal.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque, Inácio Arruda, José Nery, João Pedro, Osmar Dias, Paulo Paim, Roberto Cavalcanti, Valter Pereira.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/08/2009 - Página 35587
- Assunto
- Outros > SENADO.
- Indexação
-
- REGISTRO, POSSE, MANDATO PARLAMENTAR, SUPLENCIA, PATRICIA SABOYA, SENADOR, PERIODO, LICENÇA, ANALISE, CRISE, SENADO, NECESSIDADE, RESPOSTA, OPINIÃO PUBLICA, COBRANÇA, PROVIDENCIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, INVESTIGAÇÃO, PUNIÇÃO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, AGRADECIMENTO, APOIO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT).
- COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL, SAUDAÇÃO, LIDERANÇA, LEONEL BRIZOLA, POLITICO, APOIO, CRIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ESTADO DO CEARA (CE), OPORTUNIDADE, ORADOR, EXERCICIO, PRESIDENCIA, DIRETORIO ESTADUAL.
- PARTICIPAÇÃO, BANCADA, GOVERNO, RECONHECIMENTO, EVOLUÇÃO, POLITICA SOCIAL, POLITICA, CIENCIA E TECNOLOGIA, GESTÃO, MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE), AVALIAÇÃO, CRITICA, FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, REVOLUÇÃO, SISTEMA, EDUCAÇÃO, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA, COBRANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.
- APRESENTAÇÃO, COMPROMISSO, DEFESA, INTERESSE, ESTADO DO CEARA (CE), COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL, RESPEITO, DIRETRIZ, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), PRIORIDADE, MORAL, ETICA, VIDA PUBLICA.
| SENADO FEDERAL SF -
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O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Srªs e Srs. Senadores, chego ao Senado em um momento muito delicado da política brasileira. Claro é que preferia ter chegado a um Plenário que estivesse discutindo e pensando o Brasil. No entanto, as circunstâncias da minha posse não me permitiram escolher.
Tomado pelo espírito de modéstia de quem chega, a prudência e a intuição aconselham-me a, neste momento, adotar uma postura de ouvir mais do que falar. Isso não me impede de ter de expressar livremente a minha opinião sobre os fatos.
Considero lamentável o que vinha ocorrendo na condução administrativa do Senado. Por isso mesmo, acompanhando meu Partido, acho indispensável que se tomem todas as medidas, duras que sejam, para carimbar com o selo da lisura os resultados das investigações que se fizeram e que se venham a fazer.
Devemos uma explicação à opinião pública brasileira. Devemos estar atentos ao que pensam de nós os brasileiros. Não quero ser Senador e ter de esconder um emblema, que me puseram no peito, toda vez que sair às ruas.
Muitos, ao comentarem os descaminhos do Senado Federal, abrem sempre as suas exceções. Eu, que sou do PDT, penso logo na nossa Bancada.
Manifesto minha convicção de que, entre muitos outros Senadores que abrilhantam o Congresso, estão os meus companheiros de Bancada, competentemente liderados pelo Senador Osmar Dias. Orgulho-me de estar, mais uma vez, ao lado do Senador Cristovam Buarque, meu companheiro de lutas acadêmicas e políticas. Juntos, contribuímos com o programa de governo de Leonel Brizola na campanha de 1989. Temos ainda nesta Bancada de peso os Senadores João Durval, ex-Governador da Bahia; e Jefferson Praia, que sucede com talento o grande Jefferson Péres. Eu não poderia deixar de mencionar a Senadora Patrícia Saboya. Seu espírito de luta me inspira, e a suas bandeiras progressistas desejo dar prosseguimento.
Outro Senador que sempre está nas listas das ressalvas é o Senador Pedro Simon, de quem eu tenho uma grande mágoa. Tenho mágoa, Senador, mas é uma mágoa das boas. É que passei todos esses anos de vida partidária desejando vê-lo nas fileiras do PDT, somando-se a Leonel Brizola no esforço de construir um partido comprometido com os trabalhadores - eu que sempre considerei esse passo uma extensão natural da sua biografia.
Já que falamos de Brizola, preciso confessar que carrego, e vou carregar pelo resto dos meus dias, uma enorme frustração de não ter visto Brizola na Presidência do Brasil. Com ele, que não temia os “moinhos de vento”, seria outra a história brasileira.
Ainda menino, nos meus 16 anos, já ouvia com emoção, nas rádios da Campanha da Legalidade, as palavras daquele que, com uma metralhadora debaixo do braço, arriscava a vida na defesa da Constituição, que preconizava a posse de João Goulart na Presidência da República.
Por isso e por sua opção pela resistência ao golpe de 64, Brizola foi o único líder político nacional cassado que não saiu do País na condição de exilado. Seu visto de permanência no Uruguai, Sr. Presidente, foi dado na condição de confinado, o que permitia oficialmente que Brizola e sua família tivessem os passos seguidos por agentes brasileiros, mesmo nas atividades mais rotineiras como ir às compras, ao dentista ou simplesmente passear.
Dois dias depois da chegada de Brizola ao Brasil, eu e Moema Santiago já estávamos reunidos com ele, que ainda morava em um hotel, tratando da fundação do PTB do Ceará. Com a perda da legenda do PTB, que é um episódio já por todos sabido, tivemos de inventar o PDT. Aí, muito menos pelos meus méritos, mas pela ausência de uma liderança política de mais visibilidade, virei Presidente da Comissão Provisória do PDT e, em seguida, o primeiro Presidente do Estado, cargo este que ocupei em duas outras oportunidades.
Pelas mãos de Brizola aqui estou. Foi dele a ideia e até a imposição de me colocar na chapa da Senadora Patrícia Saboya, como primeiro suplente.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na tarefa de apresentar-me, gostaria de afirmar que tenho um lado, o que se costumava chamar de lado esquerdo. Admito que, nos tempos atuais, essa divisão em lados perdeu a nitidez de outrora. De qualquer forma, pertenço a um grupo de pessoas que, abrigadas em vários partidos, não só no PDT, não perderam a capacidade de se indignar com a condição e a perspectiva de vida da grande maioria dos brasileiros. Apesar de ter e assumir um lado do ponto de vista político e ideológico, quero andar por todos os lados do Senado: conviver com todas as tendências, de maneira democrática, certo de que não tenho a prerrogativa da verdade.
O PDT faz parte da Base Aliada do Governo do Presidente Lula e participa do Governo ocupando a Pasta do Trabalho com o Presidente licenciado Carlos Lupi. Além da amizade pessoal que me liga a Lupi, pois temos uma larga convivência, desde os tempos de fundação de PDT, sou um disciplinado membro de Partido e saberei respeitar esses condicionamentos nas minhas votações, mesmo no conflito com as minhas opiniões pessoais.
No entanto, sinto-me na obrigação de confessar uma certa frustração com o Governo Lula. Não pretendo fazer uma análise exaustiva do Governo Lula.
Não sou daqueles que minimizam os efeitos do programa Bolsa Família. Acho que, se há alguém com fome, este é um problema do Governo e tem que ser resolvido mesmo de imediato, como faz o programa. Não é um problema que pode esperar soluções mais elaboradas, de longo prazo. Muito bem, mas e o passo seguinte? O que é que estamos fazendo para que as próximas gerações não precisem mais do programa Bolsa Família?
São inegáveis os avanços do Governo Lula na condução das políticas de ciência e tecnologia e no trato com as universidades federais, de onde eu venho, estas sucatedas até limites insuportáveis em governos anteriores.
Eu, que me opus à aceitação por parte do PDT, do Ministério do Trabalho, reconheço, com humildade, os avanços conseguidos, a firmeza de postura na condução das políticas por parte da equipe do Ministério.
No entanto, falta-nos realizar aquilo por que o PDT se bate há tanto tempo, desde os tempos em que Darcy Ribeiro respirava os ares deste Senado. Está-nos faltando promover uma revolução no sistema educacional brasileiro. A vida não pode ser resolvida em uma loteria, em um jogo de azar. Uma criança que tenha a má sorte de nascer em um lar pobre, hoje, se sobreviver, está condenada a se perpetuar nessa condição, pois o Estado não lhe garante um ensino de qualidade. Como a fome, este é um problema de governo e tem que ser resolvido imediatamente. Não se pode esperar. Uma criança que não se alimenta de saber, de conhecimento, assim como de proteínas, Sr. Presidente, terá sua vida comprometida pelo resto dos seus dias.
Na saúde, a situação é ainda mais explícita. Quem pode escapa pagando um plano de saúde privado. Quem não tem condições padece nas longas filas e na ausência de recursos públicos e acaba não sendo atendido adequadamente.
O Sr. Inácio Arruda (Bloco/PCdoB - CE) - V. Exª me concede um aparte?
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Sim, senhor, Senador Inácio Arruda.
O Sr. Inácio Arruda (Bloco/PCdoB - CE) - Senador Flávio Torres, primeiro, é uma alegria muito grande poder contar com V. Exª no plenário do Senado. V. Exª assumir, mesmo que temporariamente, por um período de quatro meses, considero que será muito importante para o Ceará, assim como contar com V. Exª, uma pessoa que vem da academia, mas ligado aos sentimentos do povo brasileiro. V. Exª não é o acadêmico, não é o físico. V. Exª é a pessoa que se entrelaçou com o movimento social. Eu lembro que, quando pouca gente no Brasil, pouquíssimas organizações tratavam de uma questão hoje considerada estratégica em qualquer governo e em qualquer plano de Governo, V. Exª já era fundador da Sociedade Cearense em Defesa do Meio Ambiente, da Socema, lá atrás, quando poucos falavam do assunto. V. Exª participou dos congressos da sociedade brasileira para o progresso da ciência, sendo membro dessa sociedade. V. Exª esteve na Pró-Reitoria da Universidade Federal e ocupou, digamos assim, na academia, quase que todas as funções. Muitos acadêmicos, às vezes, examinam a realidade brasileira, a partir daquele espaço, digamos assim, importantíssimo, mas reduzido da realidade brasileira. V. Exª não fez isso. V. Exª buscou se entrelaçar com a vida, com o Partido, com a política, com o movimento, com as questões estratégicas do País. Nós, cearenses, nos sentimos orgulhosos por termos V. Exª assumindo uma cadeira de Senador da República. Tenho certeza de que vai ser muito positivo para o Estado do Ceará e para o Brasil porque, V. Exª está dizendo, respeitoso com o Partido, porque participa da sua direção - é dirigente do Partido -, mas homem de opinião, que coloca as suas opiniões de forma livre para que os outros possam dialogar com o sentimento de V. Exª. Como V. Exª falou, com humildade, quer ouvir, ver, examinar essa realidade que o Senado vive e que, com certeza, é parte importante do Brasil. Então, dou os parabéns ao povo do Ceará, que tem V. Exª agora como Senador da República.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado, Senador, por suas palavras carinhosas, que só atribuo à nossa longa amizade.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Flávio Torres, V. Exª me concede um aparte?
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Sim, senhor.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Estou pedindo, mas me parece que há aqui alguns colegas na minha frente.
O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Este microfone está com problemas.
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - O Senador Osmar Dias está se queixando... Manda o técnico ver o microfone dele.
O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Senador Flávio Torres, antes que V. Exª chegasse a esta Casa, conversei muito com a titular da vaga que V. Exª ocupa hoje, a Senadora Patrícia Gomes. Ela me fez as referências mais positivas a respeito da sua carreira de acadêmico, de professor, mas, sobretudo, de sua pessoa. Eu já conhecia, portanto, V. Exª pelas referências da Senadora Patrícia. E depois que V. Exª chegou, pude perceber que o interesse de V. Exª nesta Casa é contribuir primeiro para que este Senado tome um rumo diferente daquele que estamos vivendo aqui nos últimos meses; segundo, contribuir com a inteligência, o conhecimento, a sensibilidade de V. Exª para que este País possa adotar políticas públicas capazes de melhorar a vida das pessoas. Quando faz a crítica aos programas do Governo Lula, mostra mais uma característica do PDT. Somos da base do Governo, sim, mas não nos negamos nunca a dar apoio quando achamos que aquela política pública é de interesse da sociedade brasileira, mas jamais deixamos de ser contrários àquilo que entendemos não trazer benefícios à população. V. Exª tem o espírito do PDT porque pertence ao partido, ajudou a fundar o partido, e chega aqui sem nenhuma necessidade de conversarmos para nos entendermos sobre quais teses vamos defender em conjunto, porque V. Exª já chega com o sentimento que hoje caracteriza o PDT. O Ministro Lupi está no governo, sim, mas jamais tivemos aqui no Senado Federal a pressão de não podermos dar a nossa opinião ou o nosso voto da forma que desejarmos. Assim continuará sendo e assim V. Exª terá toda a liberdade para, juntamente com a nossa Bancada, fazer do seu mandato aqui um instrumento para melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro. Parabéns e principalmente muito sucesso aqui nesta sua estada.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado.
Concedo o aparte ao Senador João Pedro.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Peço desculpa ao meu querido companheiro Paulo Paim para fazer o aparte porque V. Exª, com certeza, vai ficar por mais tempo na tribuna e eu vou sair para participar da posse da União Nacional dos Estudantes, que V. Exª conhece, pois é da academia, é membro de uma universidade e conhece a história da UNE. A posse vai se dar na Câmara, e eu vou lá prestigiar a nova diretoria. Eu quero me associar aos outros colegas Senadores e desejar a V. Exª um mandato exitoso, um mandato que possa contribuir com o Brasil, que possa trazer sentimentos, ideias, da Universidade Federal, do povo do Ceará, do Nordeste brasileiro, para o Senado e construir no debate político, que é o papel desta Casa, um Brasil melhor. É um processo. Eu não tenho nenhuma dúvida de que este, do Presidente Lula, é o melhor Governo da história da República. Aceito perfeitamente a crítica que V. Exª faz, porque é uma experiência, uma experiência de seis anos. Nós vamos ter oito anos de experiência. V. Exª, que vem da universidade, é já mencionou, conhece o tratamento dado pelo Governo Fernando Henrique Cardoso à universidade brasileira. V. Exª sabe...
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Sei.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - ... da penúria, do castigo que impôs à universidade brasileira. V. Exª sabe que o Governo Fernando Henrique baixou um decreto proibindo a ampliação das nossas escolas técnicas. E, hoje, nós temos os institutos tecnológicos. É um processo que não é simples o de superarmos as diferenças, as indiferenças regionais, o desemprego, a miséria. Eu considero a melhor obra do nosso Governo, do Governo do Presidente Lula, a diminuição da pobreza. Mais de vinte milhões de brasileiros saíram da faixa da pobreza. Essa é a grande obra. Então, espero que V. Exª, que pertence a um Partido importante do Brasil, histórico, o PDT, una-se aos seus companheiros e a esse processo e dê contribuições para que o povo brasileiro - e vai além do Senado - viva melhor. V. Exª tem uma vida. Não chega aqui assim, não é um suplente, é um cidadão que participou de uma aliança, de um processo, que tem uma história como militante do PDT, como amigo desse brasileiro que foi Leonel Brizola, que faz parte da história popular, democrática, da esquerda brasileira. V. Exª tem militância no Estado, na sua universidade, na sua instituição, e, com certeza, essa vida, essa experiência vai dar um amálgama, vai dar consistência a um mandato que, com certeza, será importante e histórico para o povo do Ceará, para este Senado e para o povo brasileiro. Parabéns! Muito obrigado.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado, Senador.
Senador Paulo Paim.
O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Flávio Torres, primeiro, quero cumprimentá-lo e, ao mesmo tempo, fazer uma homenagem também à Senadora Patrícia Saboya, uma Senadora comprometida, que tem lado nessa história, que sempre se posicionou, no Congresso, ao lado dos trabalhadores, do campo, da cidade, das crianças, dos adolescentes, dos aposentados e pensionistas... Enfim, fez um belo trabalho. Tenho certeza, nobre Senador Flávio Torres, que V. Exª há de continuar nessa mesma linha, até porque foi muito prazeroso para mim ouvir V. Exª iniciar seu pronunciamento falando do inesquecível e, para mim, sempre líder Leonel Brizola, que foi Governador do Rio Grande do Sul, gaúcho de quatro costados, homem que não dobra a esquina e também não dobra a coluna. E essa marca do inesquecível Leonel Brizola é algo que guia também os nossos passos. Não foi de graça que ele foi cassado, perseguido pela ditadura no Rio Grande do Sul, por causa da chamada Cruzada da Legalidade. Meus cumprimentos a V. Exª. Sei que V. Exª fará aqui um grande trabalho como Senador da República. Infelizmente, o tempo é curto e são muitos os oradores... Seja bem-vindo! Sei que esta fala que estamos fazendo aqui é de todos os Senadores. Claro que eu entendo também a posição firme de V. Exª em relação ao Governo Lula. Alguns às vezes confundem, pensando que a gente, tendo uma posição firme em exigir mais, está contra o Governo. Não, ninguém que é firme e quer mais está contra o Governo Lula, como faz muito bem o Ministro Lupi. Para mim, o Ministro Carlos Lupi é um dos melhores Ministros que eu conheci naquela pasta do Ministério do Trabalho. Tenho com ele uma política de entendimento, de cordialidade e de fazer com que as questões avancem. Cumprimento V. Exª e quero cumprimentar aqui também o Ministro Carlos Lupi. Parabéns a V. Exª!
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado, Senador.
O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador, pela ordem.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Eu acho que o Senador Roberto Cavalcanti pediu primeiro, Senador José Nery.
O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Com a permissão do Líder... Senador Flávio Torres, V. Exª é testemunha das confidências, da forma como o trato e do registro da postura de veterano com que V. Exª chega aqui nesta Casa. Hoje mesmo, em uma audiência pública, V. Exª se posicionava, com muita altivez, com muita elegância, com o registro do passado e da história de V. Exª, em contraponto ao que um palestrante se referia. Um ponto que eu gostaria de registrar é que, na verdade, eu estive, em 2006, na situação em que V. Exª se encontra. Cheguei aqui na qualidade de suplente, fiquei por 121 dias, em razão do afastamento do Senador titular, que estava em campanha à época, e passei pelos mesmos momentos que V. Exª está passando. V. Exª, com muita singeleza, ontem, registrava que tinha até dificuldade de apertar os botões. É isso mesmo, os nossos códigos, os nossos botões, isso, na verdade, é um traquejo que o tempo traz. Mas o importante é que o Senador tenha o talento, tenha a história pessoal que V. Exª tem. Outro ponto que eu gostaria de registrar é que V. Exª chega aqui da forma como eu cheguei, como suplente, mas baseado na lei. Existe uma lei que lhe confere a estatura de Senador e a estatura física que, inclusive, V. Exª tem, de chegar aqui de cabeça erguida, porque muitas vezes são atiradas pedras em Senadores suplentes de forma extremamente indevida e indelicada. Então, eu gostaria que V. Exª recebesse as boas-vindas, pelo menos dos Senadores suplentes, e dizer que, neste momento, V. Exª é um Senador da República, com muita honra desta Casa. Meu muito obrigado.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado, Senador.
Concedo o aparte ao Senador José Nery, que foi delicado e me concedeu o seu lugar para que eu pudesse falar hoje.
Muito obrigado, Senador.
O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador Flávio Torres, fazer permuta para que V. Exª fizesse a estreia na tribuna deste Senado Federal na tarde de hoje, para mim, é uma honra e uma satisfação. E é uma honra e uma satisfação cumprimentá-lo por sua trajetória acadêmica, política e social. Um professor da Universidade Federal do Ceará, da UnB, como pesquisador do CNPq, como militante e construtor do Partido Democrático Trabalhista no Ceará e no Brasil, destacando-se como um dos seus primeiros membros no Estado do Ceará, ao lado de Leonel Brizola, caminhou para contribuir nesse processo de redemocratização do País e, sobretudo, de sedimentar os princípios da justiça social na busca de um Brasil mais justo, ao qual o PDT tem se integrado ao longo da nossa história política dos últimos anos.
(Interrupção do som.)
O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Com satisfação, também saúdo V. Exª por sua participação no movimento em defesa da causa ambiental, tendo sido V. Exª um dos articuladores da Sociedade Cearense de Defesa da Cultura e do Meio Ambiente (Socema), razão pela qual merece os nossos cumprimentos. E quero desejar-lhe, na sua passagem pelo Senado Federal, uma atuação muito coerente, como é da sua história, dos seus princípios, em defesa de um Brasil mais justo, em defesa do querido Estado do Ceará, no qual tenho minha origem, mas aqui represento, com muito orgulho e satisfação, o Estado do Pará. Quero dizer a V. Exª, sobretudo, que, além das causas sociais e políticas relevantes que precisamos defender - os projetos, as iniciativas, inclusive votações no Congresso e no Senado Federal -, V. Exª chega numa hora de muita turbulência nesta Casa por causa dos desmandos que têm marcado várias gestões no Senado Federal. Mas isso deve ser não um desestímulo, mas um estímulo, para afirmar a luta pela ética na política, a luta em defesa da ética no Senado Federal, tarefa da qual V. Exª participará com muita dedicação e com muita determinação. Por isso, cumprimento V. Exª, Senador Flávio Torres, e o povo do Ceará, por terem escolhido a chapa em que V. Exª e a Senadora Patrícia Saboya disputaram o Senado em 2002. Desejo-lhe sucesso, êxito e uma atividade legislativa que marque sua presença e a presença do Ceará nesta Casa, o Senado Federal. Um abraço e cumprimentos, com todo o desejo de que sua atuação seja marcante e relevante para o Senado e para o Brasil. Muito obrigado.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado, Senador.
Senador Cristovam Buarque.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Flávio Torres, quero, em primeiro lugar, parabenizar a Senadora Patrícia, não apenas pelo trabalho que fez aqui, mas pelo suplente que ela escolheu. Creio que uma das coisas boas de um Senador - passei por isto - é ser substituído por um suplente de que ele diga que tem orgulho, como tenho orgulho de ter, como meu suplente, o Senador Eurípedes, que, durante um ano, me substituiu, período em que fiquei absolutamente tranquilo. Parabenizo a Senadora por tê-lo escolhido, porque conheço sua trajetória intelectual, como meu colega professor, e conheço sua trajetória política, como brizolista, e pela participação que tivemos juntos, em 2006, na campanha presidencial, que tinha por objetivo fazer aquilo que V. Exª falou há pouco, essa revolução educacional de que o Brasil precisa. Fico feliz de ter no meu Partido, como disse o Senador Osmar, nosso Líder, um Senador que chega com sua estatura e que centra seu discurso ao dizer que é preciso acabar com a loteria da vida que o Brasil tem. O Brasil, como V. Exª disse, é uma loteria: alguns nascem num lar que vai permitir-lhes dar educação; outros nascem num lar que não vai permitir isso, e o futuro todo depende dessa chance de onde a pessoa nasceu. O Brasil precisa fazer a revolução e acabar com a loteria da vida. E acabar com a loteria da vida é fazer com que todas as escolas sejam boas. O que o Brasil já fez com o futebol, porque todas as bolas são redondas para ricos e pobres. Por isso, os pobres chegam à seleção brasileira de futebol. Mas, na escola, há quadradas e redondas; e, lá em cima, entre os doutores, chegam sempre os filhos dos ricos - ou quase sempre. Por isso, tenho a satisfação de tê-lo aqui, ao lado, como Senador, mas como companheiro do PDT. E tenho certeza de que vamos estar juntos em muitas batalhas, começando por essa da moralização do Senado, mas não parando aí, levando o Senado a cumprir sua obrigação de mudar o Brasil, através do caminho que, como V. Exª citou,...
(Interrupção do som.)
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - ...traçado pelo Darcy Ribeiro e por Brizola, será feito pela escola de qualidade a todos. Muito obrigado por estar aqui conosco. Que esses meses sejam meses de intensas e boas lutas pelo Ceará e pelo Brasil.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado.
Senador.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Senador Flávio Torres, quero apenas desejar a V. Exª que seja bem-vindo a esta Casa. Já pude perceber, não só por informações, mas pelos seus primeiros passos caminhados nesta Casa, que a Senadora Patrícia Saboya deixou um suplente à altura para substituí-la durante esse período em que se ausenta do Senado Federal.
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Competência não lhe falta; biografia também não é problema, porque a sua é exemplar. De sorte que o Senado Federal pode comemorar sua ascensão como mais uma contribuição do Ceará para o Brasil. Que seja muito feliz na sua estada, nesse período em que V. Exª vai substituir a Senadora Saboya; e que, durante esse período, V. Exª possa produzir tanto quanto a Senadora Patrícia produzia e com a mesma qualidade que ela procurava resguardar no exercício do seu mandato. Que seja muito feliz!
O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE) - Muito obrigado, Senador.
Saberei guardar, dentro da minha alma, as palavras carinhosas com as quais fui recebido aqui neste Senado.
Concluindo, Sr. Presidente, quero deixar bem claro que não faço discurso de oposição ao Governo Lula. Faço um discurso em benefício do povo brasileiro, porque acho que foi pouco. Ainda é pouco. Não podemos nos ufanar de que está tudo bem. Não está tudo bem.
Mantenho um pé fincado na realidade brasileira por conviver com uma população rural de um distrito de Juatama, no Município de Quixadá, em pleno sertão central do Ceará. É um distrito onde até hoje não tem água encanada. Tem mais de mil casas, e as pessoas pegam água em jumentos e carroças, de uma cacimba poluída e com lama.
Felizmente, fizeram lá uma usina de biodiesel, e, para botar água para a usina, não podiam fazê-lo, passando pelo distrito sem botar água no distrito. Então, vão pôr água no distrito, o que é uma boa coisa para Juatama.
Sei como é o atendimento à saúde em Juatama. Há 27 anos que vou quase semanalmente a esse distrito. E vejo pessoas que moraram comigo, gente humilde, que têm problema de próstata, vão ao médico, fazem a operação, e a biópsia nunca volta! O exame de biópsia nunca volta! Os que são benignos escapam; quando não são benignos, morrem, e morrem à míngua. E assisto a isso com pessoas que posso nominar, como Seu Caetano. São pessoas com quem vivi e convivi, e não posso chegar aqui ao Senado e fingir que não sei disso.
Então, acho que o Governo tem que ir um pouco mais fundo nisso. Se o Bolsa Família foi feito, muito bem que o seja, mas precisamos ir além disso para o povo brasileiro.
Eu fui Professor da Universidade de Brasília, sou Professor de Física aposentado da Universidade Federal do Ceará. Pretendo contribuir com o Senado, discutindo e apresentando propostas nas áreas em que venho atuando ao longo da minha carreira: ciência, tecnologia, energia, meio ambiente e educação.
Vou encerrar dizendo que vou exercer meu mandato obedecendo a três lealdades. A primeira é com o meu Estado, junto com os Senadores Tasso Jereissati e Inácio Arruda, com os quais me dou perfeitamente bem. Trabalharei pelos pleitos do Estado, do Governador e dos Prefeitos, e dos Municípios, colocando o gabinete a serviço de suas necessidades. Atuarei também em plenário, discutindo políticas que alavanquem o desenvolvimento do Estado do Ceará e quebrem o desequilíbrio entre as regiões Nordeste e Sudeste.
A segunda lealdade é com o meu Partido, que ajudei a fundar e cujo programa e estatuto ajudei a escrever.
A terceira lealdade, que governa as duas lealdades anteriores, são os meus princípios morais e éticos que construí ao longo da minha vida. Não há Ceará e não há Partido que me façam contrariar esses princípios.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
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